Quando viajo sempre faço uma pesquisa detalhada pra saber quais são os pratos típicos do local. Antes mesmo de entrar no avião eu já sei exatamente o que quero comer durante a viagem. Minhas últimas férias, há exatamente um ano, foram na Toscana. Essa região da Itália é de tirar o fôlego, com campos de girassóis a perder de vista e uma luz belíssima que deixa tudo com cara de conto de fadas. Porém, mais do que qualquer outra coisa, eu estava interessada na comida que iria encontrar por lá.
Pra uma pessoa apaixonada por comida como eu, essa é a melhor parte do passeio. Eu entro em um supermercado estrangeiro e ao ver todas aquelas delícias desconhecidas começo a pular, bater palmas e a dar gritinhos de alegria, deixando a pobre criatura que estiver me acompanhando totalmente sem graça. Como explicar a excitação que me causa a visão de todos aqueles produtos que ainda não provei? Me sinto na Disneylandia, mas uma Disneylandia mil vezes melhor porque tudo é de comer.
Nessa viagem, além das tradicionais massas e espetaculares gelati italianos, comi risotto ao vinho tinto, ribollita (um ensopado de legumes e pão) e macarrão com creme de trufas e sálvia, este último preparada por mim, com a sálvia do jardim da casa que alugamos. Mas ficou faltando algo na minha lista, uma especialidade toscana que não achei no menu de restaurante algum: pappa al pomodoro (“papa de tomate”). Uma amiga italiana me explicou que esse prato é sempre feito em casa e que nenhum chef gostaria de servir algo tão humilde em seu restaurente.
Desde então a tal pappa al pomodoro não saiu da minha cabeça. Quando, semanas atrás, achei a receita da tão desejada papa nesse blog de culinária corri pra cozinha. Depois de uma rápida inspeção, descobri um buquê de mangerição e uns tomates estupidamente maduros implorando pra serem usados e pensei que aquilo só podia ser um sinal. Já que era pra fazer o prato em casa, eu ia fazer a tal pappa al pomodoro eu mesma e ia deixar minha nona italiana orgulhosa (caso eu tivesse uma).
A idéia de comer uma papa salgada pode parecer estranha, mas analisando bem o prato não passa de uma variação da clássica combinação de massa com molho de tomate. Só que aqui o macarrão foi substituído por pão. Ficou menos estranho? Sabe quando você pega um pedacinho de pão e mergulha no resto do molho que ficou no prato? Não é delicioso? Agora imagine um prato cheio desses pedacinhos de pão mergulhados em um molho de tomate fresco, com muito mangericão, temperado com alho, cebola e azeite. Não parece divino? Uma garfada e você sentirá uma verdadeira explosão de sabores na boca, sabores intensos mas vivos, frescos e honestos. Algo bem longe da pizza afogada em queijo gorduroso, embutidos e legumes enlatados que muitos associam à comida italiana (quem já esteve na Itália sabe que pizza lá é tudo menos isso). Pode até ser que o prato seja humilde, mas pra mim ele prova mais uma vez que os cozinheiros italianos (em casa ou nos restaurantes) são gênios!
Quando você tiver tomates maduros e mangericão fresco, não deixe de prepara esse prato. Você só vai precisar cortar uma cebola, picar uns tomates, rasgar uns pedaços de pão e todo o sabor da Toscana, o verdadeiro, vai estar esperando por você dentro de um prato. Com a vantagem de custar bem menos que uma passagem de avião.
Pappa al pomodoro
Se seus tomates não estiverem estupidamente maduros, espere alguns dias antes de fazer a receita. Parece desnecessário dizer como reconhecer um tomate maduro, mas pelo menos na minha região os tomates são vendidos tão verdes que quando eles ganham uma leve coloração alaranjada o pessoal pensa que eles estão maduros. Tomates maduros são como os da foto: vermelho intenso, sem manchas alaranjadas e ligeiramente moles quando pressionados entre os dedos. O sabor do prato depende totalmente da qualidade dos tomates utilisados e se você tentar fazê-lo com tomates “meio maduros” o resultado vai ser decepcionante. Use um pão italiano rústico, como ciabatta (encontrado na parte “panificadora” dos grandes supermercados). O pão tem que ser encorpado o suficiente pra não se desintegrar quando misturado ao molho de tomate.
1 cebola picada
3 dentes de alho picados
5x de tomates bem maduros, em pedaços (com pele e sementes)
2x (bem cheias) de pão italiano (ciabatta), rasgado em pedaços pequenos
2 punhados de folhinhas de mangericão fresco (se as suas folhas forem grandes, rasgue-as em pedaços menores)
4cs de azeite de oliva
sal e pimenta do reino a gosto
Refogue a cebola picada em duas colheres de sopa de azeite. Enquanto as cebolas cozinham, coloque os tomates no liquidificador e aperte o botão “pulsar” algumas vezes, até ficar tudo triturado (pare antes que vire suco). Quando a cebola estiver translúcida, junte o alho, mexa bem e cozinhe mais um minuto. Despeje os tomates triturados, tempere com sal e deixe cozinhar tampado, em fogo baixo, até os tomates se desintegrarem completamente e o líquido reduzir um pouco (mais ou menos 30 minutos). Junte o pão em pedacinhos, mexa bem, tampe e desligue o fogo. Deixe repousar 5 minutos. O pão vai absorver uma parte do molho e ficar macio. Acrescente o mangericão, prove o sal e divida a papa em dois pratos fundos. Regue cada prato com uma colher de sopa de azeite e polvilhe com pimenta do reino. Serve 2 porções generosas.
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Suas receitas, inclusive o modo como são escritas, são realmente sedutoras. Adorei conhecer o seu blog e estou louca para apreciá-las.
Obrigada, Cecília.
Acabei de fazer. Muito obrigada por me proporcionar este prazer!
Conheci a Toscana sem sair de casa.
Amei a papa , o sabor é leve e ao mesmo tempo marcante.
Parabéns pela maravilhosa receita!
Eu adoro essa papa com o pão que minha amiga Draguitsa faz (rústico e elástico, nem um pouco esponjoso). Fica parecendo gnocchi quando misturado ao tomate. Acho até que gosto mais dessa papa do que de gnocchi porque é tão mais fácil e rápido de fazer.