Algumas semanas atrás falei do meu patê preferido. Na verdade eu tenho dois patês preferidos: mutabal e guacamole.
Eu nasci em uma cidade pobre em diversidade gastronômica. Tirando os restaurantes italianos (e dezenas de pizzarias), e alguns restaurantes chineses e japoneses, a Natal onde cresci só oferecia comida regional e muito, muito churrasco. Hoje a cidade conta com mais opções de comida estrangeira, incluindo um ótimo restaurante tailandês, mas quando, aos vinte anos, arrumei as malas e fui estudar na Europa, eu não tinha provado muita coisa além de tapioca, cuscuz e umas comidas pseudo-italianas que prefiro não comentar. A comida do nordeste, principalmente macaxeira, ainda tem um lugar especial no meu coração, mas confesso que depois de ter descoberto delícias de outras cozinhas senti um pouco por ter sido privada delas por tanto tempo. Comida mexicana, por exemplo. Como pude ter vivido tantos anos sem guacamole?
A idéia de comer abacate salgado pode ser muito comum no México, e em vários outros países, mas pra mim abacate só se consumia de um jeito: misturado com leite, açúcar e transformado em vitamina. Mas assim que a primeira colherada de guacamole entrou na minha boca me arrependi imediatamente de todos os anos que passei comendo o bichinho com açúcar. Não me entendam errado, ainda adoro vitamina de abacate. Mas um prato de abacate amassado, misturado com sal, suco de limão e muito molho de pimenta, é pra mim a visão do paraíso.
Guacamole é facílimo de fazer e acho que cada pessoa tem uma maneira preferida de prepará-lo. Eu sou adepta do “quanto mais simples melhor”. Talvez essa receita já seja conhecida por todos (principalmente os sortudos que moram em cidades grandes onde restaurantes mexicanos são abundantes) mas gostaria de apresentar minha humilde inovação, não no preparo, mas na arte de comer guacamole. Esqueça as tortilhas e chips de milho: use finas fatias de maçã como veículo pra transportar o guacamole do prato pra boca e ele ganhará uma nova dimensão.
Minha amiga Mona, que sempre passa aqui pelo blog, anda assustada com meu comportamento estranho com comida (veja meu post sobre a feira de Belém). Mesmo correndo o risco de assustá-la ainda mais, queria dizer que eu gosto tanto de guacamole, tanto, que às vezes tenho vontade de… espalhar o abacate pelo rosto e corpo inteiro. Pronto, eu disse! Espero que ninguém deixe de visitar o blog por causa das minhas esquisitices.
Guacamole
Isso não é exatamente uma receita, é mais um guia pros noviços em guacamole. As proporções dependem do gosto de cada um. Aconselho que você siga minhas instruções, prove o produto final e junte mais um pouco do que achar necessário. Eu uso avocados, um tipo de abacate bem pequeno, porque é o único que tem por aqui. Como abacates variam enormemente no tamanho, adapte a quantidade dos outros ingredientes de acordo com o tamanho do seu.
1 abacate maduro (mais ou menos 1x de abacate amassado)
2cs de cebola picada o mais fino possível
2 a 3cs de suco de limão
sal e molho de pimenta (tipo tabasco) a gosto
Pra servir
Fatias de maçã (com casca)
Suco de limão
Amasse o abacate com um garfo, deixando alguns pedacinhos inteiros pra textura ficar mais interessante. Junte os outros ingredientes, mexa bem e sirva com fatias de maçã regadas com suco de limão (o limão impede a oxidação da maçã mas também realça a doçura da fruta). Se quiser junte um pouco de coentro picado, como na foto. Rende uma xícara.
Hmmm… Acho que esse aí até eu consigo fazer!
Como eu sei se o abacate está maduro?
Sandrinha, vc é mesmo exagerada! Mas eu acho que espalhar guacamole no rosto nao é uma ma ideia nao… ja ouvi dizer que abacate é excelente pra hidratar a pele e os cabelos… Porem, o sal e a pimenta … 🙂 bjs
Mona, você esta querendo desvendar um dos grandes mistérios da humanidade. Apalpe levemente o abacate, principalmente na parte onde ele é mais estreito, e se a polpa ceder um pouco à pressão o abacate esta maduro. Um abacate perfeito é pesado e não tem manchas escuras ou depressões na casca. O tipo de abacate que compro aqui fica completamente preto quando maduro, o que facilita bastante as coisas. Você vai precisar de uma certa pratica, mas com o tempo sera capaz de gritar “maduro!” assim que encostar um dedo em um abacate.
Lilian, é verdade que abacate, graças à grande concentração de oleo, é um otimo hidratante. Esse verão esta sendo tão quente (não é raro o termometro mostrar 43°) e minha pele anda tão seca que acho que devia mesmo sucumbir às minhas idéias loucas e espalhar abacate no corpo todo. Mas você tem razão, é melhor deixar o sal, limao e pimenta de lado.
Agora que eu estou iniciada nos mistérios da história humana, acho que posso me aventurar na cozinha e fazer essa receitinha… Depois te conto!
Ficou DELICIOSO! Comi com maçãs como tu sugeriu, e também com abacaxi. Hummmmmm.
Que bom que você experimentou com as maçãs. Parece uma idéia louca, mas é uma delicia (e muito mais saudavel do que os “doritos” que o pessoal costuma comer com guacamole). Vou testar com abacaxi.
Quando era adolescente, aprendi com uma amiga a fazer hidratação nos cabelos com abacate. Comprei um grandão há alguns dias pra experimentar seu chocolate (aquele que vai tâmaras e laranja) e a outra metade do abacate estava estragando na geladeira. Já ia passar nos cabelos novamente, como fazia dez anos atrás, quando lembrei de guacamole e vim ver se você tinha alguma receita.
Aí decidi ficar desgrenhada por mais um tempo.
=)
Mas você gostou do guacamole? Conta!
Então… como sou aprendiz de Sandra Guimarães mas acho mais interessante entender o conceito da receita e tentar desenvolvê-lo com a minha própria sensibilidade do que simplesmente copiar o que você faz, subverti um pouco a sua receita. Não coloquei o limão porque não estava afim de colocar o limão e adicionei um tomate picado em quadradinhos, pra dar um sabor e uma textura diferentes (tenho um negócio com texturas), e ficou muuuuuuuuuito bom. Aí comi com um pão sueco industrializado mais durinho (não tinha maçã em casa) e passei a refeição toda soltando huuuuum’s e pensando em como os veganos são infelizes por comer só alface, coitadinhos.
Eu também adapto todas as receitas que entram na minha cozinha, então entendo perfeitamente sua atitude, Marina. E também junto tomate picado ao meu guacabmole de vez em quando. Só não deixaria nunca o limão de fora, pois a acidez realça muito a cremosidade do abacate e acho que os dois se completam.
Combinado. O próximo abacate que cruzar o meu caminho vai virar guacamole com limão.
Faz muito pouco tempo que leio seus posts e gosto do seu jeito de dizer o que pensa e o modo como argumenta os temas que defende. Posso dizer que amo Papacapim, Ok?