Sei que falar de creme de feijão branco somente três dias depois de ter publicado uma salada de feijão vermelho pode parecer repetitivo (pelo menos eu vario as cores!), e que alguns vão sugerir que eu troque o nome do blog pra “papafeijão”, mas tenho bons motivos pra dividir a receita de hoje com vocês. Primeiro: esse creme consegue a proeza de misturar ingredientes absolutamente banais e transformá-los em algo muitíssimo saboroso. Segundo: no Brasil não usamos muito feijão branco, mas ele é uma delícia e deveria ser consumido com mais frequência. Esqueça essa bobagem fazer dieta com extrato de feijão branco. Aproveite o grão na forma natural que faz mais sentido e é muito mais gostoso. Terceiro: receitas de cremes, pastas e patês veganos nunca são demais. Assim, da próxima vez que perguntarem “Você não come queijo?!” você pode responder “E você só come queijo?! No meu pão eu passo isso, isso, mais isso, mais isso…”
Dias atrás encontrei um saquinho de feijão branco dando sopa no congelador e lembrei da receita de um creme de feijão branco do livro “Eat, drink and be vegan”, escrito pela canadense Dreena Burton, que já fiz (com algumas modificações) dezenas de vezes. Aqui em casa nós adoramos a receita, mas dessa vez quis fazer algo ligeiramente diferente: mais leve, mais primaveril (a receita original é pra mim bastante invernal) e sem levedo de cerveja maltado, já que esse produto não é vendido no Brasil (se estou errada, alguém me corrija). Ao ver uma receita na internet que misturava feijão branco com alecrim, a inspiração surgiu. Usando minha adaptação da receita de Dreena como base, diminuí a quantidade de castanhas, tirei o levedo e outros ingredientes supérfluos, usei mais limão e mais alho e, o principal, acrescentei alecrim. O alecrim foi o toque primaveril que faltava e que fez esse creme brilhar. Eu sempre achei que feijão branco casava perfeitamente com sálvia, mas agora sei que o casamento com o alecrim também é sublime.
Essa bigamia gastronômica foi uma revelação pra mim e o resultado final ultrapassou as expectativas. A textura é ultra cremosa e leve, quase aerada (algo entre um hummus e uma maionese sem óleo). Acredito que os longos minutos que passei triturando o creme no liquidificador foram responsáveis pelo sucesso da textura. O sabor é marcante, mas ao mesmo tempo delicado. O alho, quando frito, fica mansinho e pra ter um gosto de alecrim intenso, mas educado (e pra não pintar o creme de verde), usei azeite perfumado. É simples e você pode fazer o mesmo com outra erva fresca: aqueça o azeite, junte o alecrim e deixe macerar alguns minutos (fora do fogo). Depois é só retirar a erva e usar o azeite deliciosamente perfumado.
Prometo deixar minha obsessão com feijão de lado durante, no mínimo, algumas semanas (sabiam que já fiz até brownie com feijão preto?), mas por enquanto experimentem esse creme e me digam se eu não tinha bons motivos pra publicar a receita.
Creme de feijão branco com alho e alecrim
Alecrim fresco é a estrela da receita, então nem pense em usar alecrim desidratado. Ervas desidratadas têm um sabor menos intenso e (sei que não vou surpreender ninguém com essa afirmação) menos “vivo”.
2x de feijão branco cozido (sem tempero e escorrido)
1/2x de castanhas de caju (de molho por 6 horas)
3 dentes de alho picados
1 galhinho* de alecrim fresco
4cs de suco de limão
1/4x de água
4cs de azeite
sal e pimenta do reino a gosto
Em uma panela ou frigideira pequena aqueça o azeite. Quando estiver quente, mas não fervente, junte o ramo de alecrim, desligue o fogo e deixe descansar 10 minutos. Descarte o alecrim (se algumas folhinhas ficarem na panela não tem problema), aqueça o azeite novamente em fogo baixo e frite o alho até ficar bem dourado. Alho queima fácil então fique de olho na panela o tempo todo. Desligue o fogo, junte o feijão branco e mexa bem pra incorporar todo o azeite (assim o feijão “limpa” a panela e nem uma gotinha de azeite é desperdiçada). Transfira tudo pro liquidificador, acrescente as castanhas escorridas, o suco de limão, a água, uma dose generosa de sal (usei quase 1cc) e pimenta do reino a gosto. Triture até as castanhas se desfazerem completamente e a mistura ficar super cremosa. À partir daí, bata mais 1 minuto (30 segundos-pausa-30 segundos) pra incorporar ar no creme e deixar a textura mais leve. Prove e corrija o tempero, se necessário. Sirva em temperatura ambiente, com pão, torradinhas ou palitos de legumes crus. Se conserva 4 dias na geladeira (talvez mais, mas sempre como tudo antes). Rende um pouco mais de 2x.
* Um galhinho de cerca de 5cm é suficiente.
Biito…
receitas de cremes e patês sao sempre bem-vindas 🙂 e esse está muito bonito.
Eu ADORO feijão branco!
Feijão branco com batata e pimenta…Nossa, dá até água na boca de pensar, hehe!
Na verdade eu gosto mesmo do tradicional, mas o branco e o preto também são ótimos.
E esse patê deve ser divino…
Fora que as fotos que vc tira das comidas ficam ótimas 🙂
Feijão com batata e pimenta… preciso experimentar! Quanto às fotos, graças ao blog acabei desenvolvendo mais uma paixão: fotografar comida. Se as pessoas soubessem o tempo que passo fazendo retratos de vegetais desconfiariam da minha sanidade mental.
Experimente! É ótimoooo! Mas sou suspeita, pq eu adoro feijão, batata e principalmente, pimenta, hehe!
Toda vez que eu cozinho algo eu tiro foto, pode ser o que for! Adoro fotos de comida…rs.
Aproveitando…
EU sou vegetariana há 3 anos. Sei que é uma vergonha não ter mudada para dietana vegan ainda. Confesso que é uma mistura de falta de vergonha na cara com preguiça, mas principalmente, falta de vergonha na cara e um pouco de falta de força de vontade.
Sempre penso “Semana que vem eu começo” e to nessas há pelo menos 1 ano.
Por exemplo, em 3 anos de vegetarianismo, eu nunca comi tofu. Nem fiz receita com tofu, nada.
Eu detesto “leite” de soja, principalmente aquele que é mais doce, pq não gosto de baunilha. E eu adoro queijo.
Por esses motivos, acabo arrumando uma desculpa para cada alimento que como e sei que tem algum tipo de exploração animal.
Fiquei na dieta vegan 1 mês e pouco e parei. Depois disso, tudo que eu como que tenha derivados do leite me faz mal. E também tem o fator saúde, meu colesterol anda bem alto.
Tudo já impulsionava para eu tomar uma atitude logo.
Eu queria até fazer um blog, contando sobre essa mudança do vegetarianismo para o veganismo, de tudo: alimentos, produtos de vestimenta, de uso para higiene pessoal…mas tb fui “empurrando com a barriga”.
Quando eu li sua matéria no Vista-se foi um CLICK! comecei a pensar mais no assunto (tb nesse meio tempo assisti The Cove e me fez pensar mais ainda) e eu to tentando mudar. Não será do dia pra noite, mas dessa vez, creio que estou com o pensamento certo.
Bom que tem tb seu blog, com as receitas, que já ajuda MUITO.
(Nossa, ficou uma redação esse meu comentário, hehe).
Não to conseguindo encontrar castanhas ao natural na minha cidade. Tem algum problema se eu utilizá-las torradas?
Acho que não, mas nunca testei. Se experimentar diga como ficou.
Adoro feijão branco! Fica uma delícia com tomate, cenoura, batata… hehehe!
Como ficou essa receita de brownie de feijão??
Só tenho uma palavra para definir esta receita: SUBLIME!
Gente do céu, que delícia de patê. É tudo o que você disse e mais um pouco.
Não tinha botado muita fé nesta pastinha e estava enrolando para fazer , não sabia eu o que estava perdendo.
Uma ótima opção para se ter na geladeira para quando der vontade de beliscar.
O meu só não ficou tão bonito quanto o seu. (:
Ficou meio bege, tipo o queijo de castanha, deve ser porque meu feijão branco já estava congelado há algum tempo e estava mais para feijão amarelo do que branco. 🙂
Obrigada por dividir esta maravilha.
bjs
Susana
Que ótimo que você gostou, Susana. Não é uma maravilha que ingredientes tão humildes possam se transformar em receitas tão saborosas?
Já pensou em vender e enviar para o Brasil o levedo de cerveja maltado? Seria tão bom!
Eu tenho uma relação emocional muito forte com ensopadinho de feijão branco, lentilha e quinoa, muito bem cozidos, quase desmanchando. Como quase sem tempero nenhum, só com um pouquinho de sal. Acredito que esse prato seja pra mim o correspondente comestível do acolhimento de mãe, como a papa de aveia é pra você.
Que bom que você também tem a sua versão comestível do abraço de mãe, Marina:)
olá sandra, eu aqui de novo, hehehe, amei a receita, deliciosa, valeu por compartilhar, suas receitas estão mudando meu conceito de comida vegana, tudo muito bom, eu adoraria saber como vc faz aquelas batatas assadas do post do molho pesto, achei lindas e tentei fazer, mas ficaram um pouco cruas, como vc faz?
Eu corto em pedaços médios (não descasco), rego com azeite e polvilho com sal, depois deixo assar descoberto até ficar dourado por fora e macio por dentro. Se sua batata ficou crua, tente cozinha-la antes na água, até começar a ficar macia, e termine no forno. Boa sorte.
Porque meu feijão branco ficou escuro depois de cozido ?
Eu só posso agradecer por essa maravilha de receita. Maravilhosa! E eu não tinha alecrim fresco, então usei seco mesmo e ficou divino. Imagina isso com alecrim fresco? ❤️
<3