Morar em um país estrangeiro tem várias vantagens e uma das minhas preferidas é poder descobrir alimentos novos. Entre a primavera e o verão o número de vegetais encontrado nas feiras dobra: uma verdadeira explosão de cores, aromas e sabores. Minhas descobertas gastronômicas aqui foram muitas, mas hoje vou mostrar alguns vegetais que só aparecem entre a primavera e o começo do verão e que eu nunca tinha provado até me mudar pra Palestina. Comecemos pelas nésperas da foto acima. Essa fruta suculenta e de sabor suave é uma delícia. Eu já tinha espiado nésperas nos supermercados franceses, mas por ser um produto importado o preço alto me manteve longe delas. Hoje tenho um pé de néspera no jardim e posso desgustar a frutinha de graça. Pena que a safra só dura algumas semanas.
Alho fresco. Durante minha vida inteira achei que alho era naturalmente branquinho e com aquela casquinha parecida com papel de seda. No início da primavera é possível encontrar alho fresco e só então descobri que alho de supermecado é seco. Recém tirado da terra o alho é lilás pálido, tem uma casca espessa e flexível (que ao secar fica branca, fina e quebradiça, como o alho que conhecemos bem) e tem folhinhas, que são como as folhas da cebolinha. O sabor é mais suave do que a versão seca.
Grão de bico verde. Os palestinos são grande apreciadores de grão de bico, que eles transformam nos mundialmente famosos (e amados) hummus e falafel. Mas o que pouca gente sabe é que grão de bico também é consumido verde aqui. No final da primavera encontramos vendedores ambulantes oferecendo pequenas montanhas de grão de bico verde em vários lugares da cidade. Ele é preparado assado, com casca e tudo, temperado somente com sal e degustado como lanche ou aperitivo (no hora de comer descartamos a casca).
Acelga verde. Eu só conhecia acelga branca, mas acabei descobrindo que existem vários tipos dessa hortaliça. A verde tem um sabor mais forte que a branca e é ligeiramente amarga. Aqui ela é preparada como couve, refogada com azeite e alho, mas eu prefiro comê-la crua na salada ou no meu suco verde matinal.
Damascos frescos. Eu já tinha provado damascos antes, mas não era nem um pouco fã da textura meio pastosa da variedade encontrada na Europa. Os damascos daqui são bem menores e muito mais suculentos e perfumados. Além de serem mais bonitos também, com a casca manchada de vermelho.
Mini beringelas. Além da beringela comum, no verão é possível encontrar beringelas pequeninas (algumas menores que a palma da minha mão) e rajadas de branco. O sabor é praticamente o mesmo, mas os palestinos gostam de usar as beringelas baby pra preparar uma conserva típica. Eles cozinham as beringelinhas inteiras, cortam o cabo, retiram uma parte da polpa e recheam com uma mistura de nozes, alho e pimenta. As beringelas recheadas são cobertas com azeite e conservadas em potes de vidro bem fechados por vários meses.
Trigo verde fresco. “Frika”, como é chamado aqui, é um trigo colhido ainda verde e tostado a seco, em um grande tacho de ferro, antes de ser vendido. Ele é produzido em Jenine, no norte da Palestina, e a versão seca (como o trigo em grãos comum que encontramos no supermercado) é encontrada nas lojas daqui o ano inteiro. Mas no meio da primavera, durante duas ou três semanas, é possível encontrar trigo verde fresco, recém colhido-tostado. O frika fresco deve ser guardado na geladeira e preparado rapidamente, como um legume. A versão fresca cozinha mais rápido, mas seco ou fresco ele tem um delicioso sabor defumado, graças ao processo de “tostagem” (não sei se essa palavra existe, mas não achei outra melhor).
Ervilha fresca. Certo, eu também já tinha provado ervilha fresca algumas vezes antes de vir pra cá, mas não pude deixá-la de fora da lista. Ervilha fresca é tão mais gostosa do que as ridículas ervilhas em conserva que poderia ser considerada um legume completamente diferente. É sempre uma alegria pra mim descobrir os montinhos de ervilhas na feira e como a safra também é curta, compro quilos e mais quilos, debulho e congelo pra degustar durante os outros meses.
Figos. Não lembro se tinha provado figo antes, mas de todo jeito os figos daqui são diferentes dos que eu via na Europa. Os figos palestinos são verdes, mesmo quando maduros, e as sementes são mais molinhas (a variedade de figo mais comum, de casca arroxeada, tem sementes ligeiramente crocantes).
E pra terminar, dois pratos que preparei usando alguns dos vegetais acima. São pratos facílimos de fazer e como a idéia é que eles sirvam de inspiração, não vou especificar a quantidade de cada ingrediente.
Salada de trigo verde com ervilha fresca e passas. Cozinhe o trigo em água salgada e quando estiver quase pronto junte um punhado de ervilha fresca. Quando a ervilha estiver bem macia e o trigo cozido desligue o fogo e escorra. Junte um punhadinho de passas, mexa e deixe esfriar (as passas vão amolecer graças ao calor e ficar deliciosamente suculentas). Junte tomates em cubinhos e salsinha fresca a gosto. Faça uma vinagrete com azeite, vinagre balsâmico (ou suco de limão), uma pitada de sal e pimenta do reino (um pouco de mostarda de dijon deixa tudo ainda mais gostoso). Despeje a vinagrete sobre a salada, mexa bem e sirva em temperatura ambiente. Simples, saboroso e nutritivo. O trigo verde pode ser substituído por trigo comum, ou até mesmo arroz integral.
Salada de acelga verde, maçã e nozes. Minha maneira preferida de preparar esse tipo de acelga. Rasgo as folhas com as mãos e misturo com cubinhos de maçã (com casca) e nozes picadas grosseiramente. Tempero com suco de limão e azeite (você pode colocar sal também, se quiser) e degusto imediatamente. A maçã equilibra o sabor ligeiramente amargo da acelga e as nozes combinam muito bem com o resto. Se não tiver acelga verde onde você mora, use a branca.
Quanta lindeza, colega…
… que “inveja” … isso sim 🙂
Beijinhos …
menina, achar esse blog foi uma festa tão festa que preciso compartilhar!
tava eu aqui me deliciando com a sua sopa de cebola (http://papacapimveg.wordpress.com/2010/05/31/meu-passado-negro/), com o orgulho pelo sucesso da receita, com tanta inspiração genial pros próximos dias de fogão, quando ainda acho de ler esse “sobre”. aí descubro por trás da bruxinha da cozinha – uma linguista! eu que, depois de cinco anos de abandonado o curso de ciências da linguagem também na frança, retomei por esses tempos o tesão pelo assunto que me levou pra lá.
um tim tim de pratinhos de sopa de cebola por essa. muito charmoso tudo por aqui. adorei, adorei, adorei.
Pois é, você descobriu mais um pouco do meu passado negro, Cibele. Seja bem vinda por aqui e espero que o sucesso da sopa de cebola se repita com outras receitas.
hahah, não fale assim… a linguística também enegrece o meu passado mas só na parte em que eu achei que seria boa ideia produzir academicamente.
mas me diga outra coisa: qual é esse projeto que vc coordena e onde tem informações sobre ele na internet?
beijo, moça.
Cibele, ainda não temos um site pro projeto (eu fui encarregada de criar um ha meses, mas ainda não tive tempo nem coragem), mas você pode ler mais sobre meu trabalho nos campos de refugiados nas duas entrevistas que dei esse ano. A primeira foi pra um site natalense chamado “Obvio e Atual” e você pode conferir aqui: http://www.obvioeatual.com/2011/01/e-obvio-que.html A outra foi no ViSta-se: http://vista-se.com.br/redesocial/sandra-guimaraes-duas-bandeiras-pela-paz/ Se tiver duvidas depois é so me perguntar. Um abraço
Sandra,
Senti todos os cheiros e gostos, juro!
Putz ja tô ficando chata de tão repetitiva… que fotos LINDAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Shukran :))