Faz tempo que meus amigos francófonos e minha família francesa pedem pra eu fazer a versão em Francês do Papacapim. Ainda não consegui arrumar tempo pra isso e, sinceramente, acho que não acontecerá tão cedo, mas queria muito que eles tivessem acesso às minhas receitas. Então durante as últimas semanas, quando não tinha ninguém olhando, traduzi quarenta e três receitas que apareceram aqui no blog e criei um e-book em Francês. Fiz uma seleção de receitas fáceis de preparar e que foram aprovadas por onívoros, afinal o grupo francófono citado acima é composto exclusivamente de onívoros. O nome do e-book é Plaisir Végétal e se vocês também têm amigos que falam a língua de Molière, ficaria muito grata se recomendassem meu livro pra eles. Estou vendendo Plaisir Végétal no mesmo esquema do Guia do Herbívoro Feliz, ou seja, cada um escolhe o quanto quer pagar por ele.
Passemos então ao arroz verde. Faz algum tempo que penso em saladas de arroz. A temperatura aqui está cada dia mais alta e no verão gosto de saladas de grão frias. É extremamente prático e o resultado é sempre nutritivo: misturo algum resto de arroz ou quinoa cozido que dormia na geladeira com os legumes que encontrar na cozinha, faço um molho rápido e o almoço está pronto em minutos. Fiz algumas saladas de arroz nas últimas semanas, mas nada que merecesse aparecer por aqui. Foi então que vi essa receita e o nome me inspirou. Digo que a inspiração veio do nome, e não da receita em si, pois o meu arroz verde é completamente diferente. Às vezes a inspiração vem de um ingrediente, outras vezes de uma receita, de uma imagem… Dessa vez foi de um nome.
Minha ideia era usar legumes verdes, arroz integral, um resto de ervilhas congeladas (compro ervilhas frescas, debulho e congelo) e, já que o tema era a cor verde, queria testar um molho pra salada à base de abacate. Apesar de adorar colocar abacate nas saladas, nunca tinha experimentado fazer molho com ele. Sua textura é ideal pra fazer molhos cremosos sem precisar de óleo e do ponto de vista nutricional a troca é mais que interessante, pois além de ser rico em vitaminas e gorduras boas, ele tem muita fibra (no post sobre fibras expliquei que uma xícara de abacate tem 10g de fibras).
Não segui uma receita em especial, fui misturando o que tinha na cozinha, provando e colocando mais um pouquinho disso ou aquilo, até me dar por satisfeita. O resultado se afastou um pouco da minha ideia original, que era fazer um molho fluido, mas fiquei muito feliz com o resultado. O molho que criei é tão cremoso quanto uma maionese (confesso que nunca, nunca, jamais fui fã desse condimento), mas o sabor é totalmente diferente, muito mais fresco e vibrante. Ficou perfeito nessa salada de arroz, mas minha maionese verde também vai maravilhosamente bem com saladas de macarrão, de legumes cozidos e em sanduíches. Se você não gosta de abacate nada tema! O manjericão acaba dominando o sabor da maionese, que tem notas de alho e limão ao fundo. Digamos que é um cruzamento de pesto (sabor) com maionese (textura).
Por ser composto de um cereal integral, um legume e uma leguminosa (ervilha) esse arroz verde é um prato completo e pode ser servido sozinho. Se quiser um acompanhamento, aconselho uma salada verde (pra manter a refeição monocromática) ou uma salada com alface, tomate e cenoura ralada (pra, ao contrário, colorir o seu prato). E pros amigos procurando inspiração pra marmita, essa é mais uma receita marmita-friendly. Diferente das saladas completas que postei até então, sugiro que você misture o molho aos outros ingredientes em casa e mantenha o prato na geladeira. Os sabores ficam ainda mais apurados depois de repousar no frio. Retire o arroz verde da geladeira uma hora antes de comer pra que ela fique em temperatura ambiente ou coma gelado, mesmo, se gostar desse tipo de salada fria.
Arroz verde com maionese de abacate e manjericão
Se você tiver acesso a aspargos, um punhado desse legume grelhado deve transformar essa salada, que já é ótima, em algo de outro mundo! Se alguém tentar, me conte como ficou. A receita da maionese faz mais molho do que você precisa aqui, mas é mais fácil liquidificar uma quantidade maior de ingredientes (tente colocar um tiquinho de abacate mais umas folhinhas de manjericão no liquidificador e veja se funciona!). O resto da maionese pode ser guardada na geladeira durante dois, três dias. Usei uma colher de sopa de azeite aqui porque acho que ele enriquece o sabor, mas se quiser um molho totalmente sem óleo deixe-o de fora.
1 cebola, picada
2-3 dentes de alho, ralados/amassados
2x de arroz integral cozido
2x de brócolis, em pedaços pequenos (buquês e talos)
1x de ervilha, fresca ou congelada
Azeite, sal e pimenta do reino
Maionese de abacate e manjericão
1x de abacate
2x de manjericão picado
Suco de um limão pequeno, ou a gosto
1 dente de alho pequeno
1cs de azeite (opcional, mas recomendado)
1/4x de água
Sal e pimenta do reino
Cozinhe a ervilha em bastante água salgada até ficar macia (15-20 minutos). Aqueça 1cs de azeite em uma frigideira grande e funda e doure a cebola. Junte o alho e o brócolis, mexa bem e deixe cozinhar coberto, em fogo baixo, até o brócolis ficar macio, mas ainda al dente. Não precisa acrescentar água, o legume cozinhar no vapor do líquido que ele próprio solta. Tempere com sal e junte o arroz cozido e as ervilhas cozidas e escorridas. Bata todos os ingredientes da maionese no liquidificador, prove e corrija o tempero (talvez você queira usar um pouco mais de suco de limão também). Se a consistência estiver espessa demais, junte um pouco mais de água, mas lembre que esse molho deve ter a textura de uma maionese. Coloque 2 colheres de sopa bem cheias da maionese na mistura de arroz e legumes, mexa bem, prove e decida se precisa de mais maionese ou não (eu só coloquei 2cs, pois acho que mais do que isso deixaria o prato pesado e gorduroso). Sirva morno, em temperatura ambiente ou gelado, de acordo com suas preferências. Rende 2 porções como prato único.
Eu tenho um certo receio de comer abacate salgado, uma vez eu fiz um guacamole que eu não sei se deu muito certo, mas sei que eu não gostei nenhum pouquinho. Quem comeu foi a minha filha de 5 anos, amou! Isso depende muito da pessoa, e olha que eu não sou nenhum pouco chata pra comida, mas tá bem na época do abacate aqui no sul, não custa experimentar!!!! Ah, gostaria de te pedir uma dica de como usar o pinhão em alguma receita, sabe o pinhão né? Aqui nós costumamos comê-lo cozido na água com sal, é ótimo mas umas variações caem bem. Um bjo pra vocês e eu quero dizer que estou viciada no seu blog, bjo!
Gosto é algo tão pessoal, Fran… Mas acho que nossos hábitos acabam determinando nossos gostos também. No Brasil a gente só tem costume de comer abacate doce e na primeira vez que vi europeus comendo abacate salgado foi quase um insulto! Depois descobri que na maior parte dos países do mundo abacate é sempre preparado salgado. Meus amigos franceses acham estranhíssimo comer abacate doce e tenho um amigo israelense que declarou aqui em casa que só existe uma maneira de comer abacate (salgado) e que abacate doce era um crime contra a gastronomia! Cada povo com seus costumes, mas acho interessante expandir nosso horizontes gastronômicos (embora você tenha o direito de não gostar de abacate salgado, claro). Acho que você deveria tentar mais uma vez. Parece que é preciso provar uma comida nova várias vezes (pras papilas se acostumarem) antes de declarar se gostamos ou não.
Infelizmente não posso te ajudar com o pinhão. Acredita que nunca comi isso na vida? La no RN não tem (se tem nunca vi) e aqui também não, então vou ficar devendo a receita.
Não tem problema não…… quem sabe eu mando uns pinhões (será que é assim o plural?) pra ti experimentar…kkkkk Ou quem sabe tu vem comer pinhão e tomar chimarrão com nós!!!! hehehehehe Bjo Sandra!
O abacate salgado para nós brasileiros é culturalmente complicado, mas outro dia achei bem divertido, o chef Andrew Zimmern estava gravando um programa num país árabe e ele provou uma vitamina de abacate com leite bem aos moldes do nosso e disse que sem dúvida foi uma das piores coisas que ele já comeu na vida: ABACATE DOCE! rssssss…
Adorei esse creme de abacate ! já pensei em fazer algo do género para barrar no pão, mas acho que preferia adicioná-lo à massa, cereais ou quinoa como se faz com o pesto… Tal como fizeste 😉
A textura é tão rica que acho pesado demais pra comer com pão, mas fica perfeito em pratos que você usaria maionese, como salada de massas e grãos. Acho que o cereal e alguns legumes crocantes são essenciais pra equilibrar a “cremosidade” extrema do molho. Se testar o molho em casa não esqueça de me dizer se gostou (e como usou);-)
Claro , este fim de semana vou comprar abacates e testo a receita 🙂
Já experimentei! Ficou óptimo numa salada de espelta! Segui a receita do molho de abacate excepto no manjericão porque não tinha 2 chávenas de folhas em casa (a planta está um bocado despida neste momento, coitada), por isso usei salsa e ficou mesmo bom!
Olá, Sandra!Estamos sintonizadas na cor verde!Estou participando de uma coletiva em que cada mês postamos um prato de cada cor. Eu estou na onda das saladas, já publiquei uma salada branca e uma vermelha. Desta vez fui contemplada para escolher a próxima cor e ontem publiquei a minha escolha:o verde!Escolhi esta cor para simbolizar a felicidade que sinto pela opção pelo vegetarianismo. Engraçado que estava a pensar fazer uma salada verde com grãos: ervilhas, favas ou feijão mung e agora vi esta tua salada genial e muito original!Adorei!Fiquei curiosa para experimentar esta maionese verde e não vou demorar muito para matar a curiosidade…
Parabéns pelo livro em francês, divulgarei por aqui. Um dia destes O Guia do Herbivoro Feliz vai vir parar aqui em casa. Vou ler as instruções e quando tiver um tempinho vou fazer a transferência. Depois mando uma mensagem.
Acho que a primavera chegou ao mesmo tempo pra nós;-) Vi o dente de leão no seu blog e fiquei com água na boca. Descobri essa folha faz pouco tempo e fiquei encantada. Pensei em fazer pesto com ela, mas a estação é curta e antes que eu pudesse colocar meus planos em ação o dente de leão desapareceu da feira…
Também descobri o dente-de-leão(na comida)há pouco tempo pelo blogue da Sammy. Este ano a primavera foi um pouco seca por aqui e as ervas estão muito amargas e duras. Até a azeda(rumex acetosa) que gosto também muito foi difícil de encontrar. São os caprichos da natureza…em compensação as cerejas estão uma delícia e com um preço camarada!
O engraçado é que só no brasil se come abacate doce, aparentemente… Você descreve à qualquer outro latino-americano nossa “vitamina de abacate” e eles querem morrer, haudfhudas. E o segredo da guacamole é o coentro!
A Luciana já providenciou um abacate pra testar essa receita.
Parece que em alguns países da Ásia também se come abacate doce. Vi uma vez uma receita de vitamina de abacate com leite condensado, uma sobremesa típica de um país de lá, que se eu não fosse vegana provava na hora! Mas acho bacana aproveitar da versatilidade dessa fruta e explorar o lado doce e salgado. Quanto ao guacamole concordo com você: coentro é indispensável. E suco de limão e uma pimentinha de cheiro também.
Uma vez eu vi receita de um molho tipo pesto com abacate também, usado com spaguete! Parecia muito bom! Adoro guacamole, então esse prato aqui está praticamente pré aprovado!
Morei na infância em uma cidade serrana que chama-se Ubajara, o nosso quintal era todo arborizado por abacateiros; então nasci comendo abacate na salada verde, abacate com feijão (combina tanto quanto o arroz do baião), abacate amassado com farinha de mandioca (êta comida indígena! rsrs), e acho interessante como não tínhamos o hábito de usá-lo misturado ao coentro que sempre foi tão abundate por aqui, tudo é cultural, realmente.
Tenho sempre abacate em casa, mas confesso que continuo muito restrita no seu uso.
O Papacapim me dá criatividade e mais ainda, me dá um super estímulo para enfrentar minha cozinha e foi grande responsável pelo fortalecimento dos meus laços com a abstinência da carne.
Enquanto lia este post pensava “Como seria se o Papacapim não fosse editado em português?!?!” Ainda bem que vc primeiro premiou a terra nativa com seus escritos, Mas o mundo precisa conhecer você!
Muito legal a iniciativa do eBook. Não tinha conhecimento sobre o “Guia do Herbívero Feliz”, vou verificar.
Estou muito desatualizada dos seus posts, abri hj a minha caixa e puxei logo o mais recente, porém vi que tem mais histórias Palestinas; Sobre a soja… Degustarei logo que estiver com um pouquinho mais de tempo, saboreando cada imagem e palavra.
A receita acima será degustada ainda esta semana. As fotos, para variar estão….nhamnhamnham
Beijos *)
Apareça mais vezes, moça. Sinto falta dos seus comentários.
Olá Sandra! Venho dando várias olhadelas no seu blog, ele me foi indicado pela Fabiolla Duarte, de São Paulo. Sou mãe de um bebê de 9 meses e tô super envolvida com a culinária vegetariana por causa dele, e também por mim, claro, mudando hábitos, adorando! Fiz essa receita e tinha que vir comentar porque achei verdadeiramente deliciosa! Tive que modificar ingredientes da maionese, não tinha manjericão, então usei sálvia e hortelã, e digo-lhe que ficou divino!!!Obrigada e parabéns pelo blog!!
Querida Sandra, essa é a 4º receita sua que me aventuro. Já fiz: grão -de-bico catalão(de comer rezando), salada de feijão e milho (delícia), super papa de banana ( alegra minha manhã) e hoje fui de arroz verde, me animei pois amo abacate e manjericão! Amei, amei muito! Além de ser deliciosa, é linda, dá vontade de tirar foto!! Muito boa, comi como prato principal com salada e nem lembrei que carne existe! Aliás, esse é meu propósito, me encantar cada vez mais com o mundo dos vegetais pra nunca mais comer carne! Obrigada pelas receitas e pelo jeito maravilhoso que vc escreve! Minha próxima aventura serão os bagels!! 😀
O prazer te apresentar pratos vegetais deliciosos é todo meu, Raquel 🙂
Fiz a “maionese” (coisa que nunca gostei também) e ficou uma delícia! Comemos com pãezinhos de linhaça feitos na hora e com uma beterraba crua cortada em rodelas fininhas. Suas receitas têm incrementado muito nossas refeições! 😀 thanks thanks thanks