Espero que os leitores que comemoram o natal tenham tido um ótimo jantar na segunda e almoço na terça. Aqui na França profunda foi tudo tranquilo, apesar do vírus malvado que fica passando de lá pra cá entre os membros da família.
Natal na casa do meu sogro é extremamente tradicional e a organização das refeições, com seu desfile interminável de pratos, é bem estressante. E a obrigação (que imponho a mim mesma) de criar um menu vegano paralelo tão apetitoso quando o menu onívoro degustado pelos outros membros da família multiplica o estresse por dez. Juntou-se a isso tudo o cansaço dos últimos meses de 2012, que foram intensos na casa Papacapim, e no dia 23 eu estava à beira de um ataque de nervos. Foi quando me dei conta que a única maneira de sobreviver a esse fim de ano com a minha sanidade mental intacta seria simplificando ao máximo o nosso menu. De que vale ter uma ceia espetacular se, depois de passar horas e horas na cozinha, eu estarei cansada demais pra aproveitar? Então nossas refeições foram menos elaboradas do que eu queria, mas pelo menos eu tive mais tempo pra aproveitar a companhia da família e até pude dar um cochilo entre o almoço de natal e o jantar. Por mais que eu adore impressionar a família francesa com pratos veganos ultra deliciosos, dar descanso pro meu corpo cansado é mais importante nesse momento.
Então nossa ceia foi assim. Toda refeição especial na casa do meu sogro começa com uma garrafa de champanhe e petiscos. Nós, Anne e eu, comemos torradinhas com patê trufa-champanhe (da marca “Tartex”, o meu preferido no mundo inteiro, vendido nas lojas de produtos orgânicos aqui na França) e canapés ultra chiques de pepino com caviar vegetal e endro (aneto). O caviar vegetal veio da Alemanha (presente da minha concunhada alemã) e tem exatamente a aparência e textura de ovos de peixe, mas é feito com algas marinhas. O sabor é levemente iodado e salgado, exatamente como a água do mar. Só comi caviar uma vez e achei o sabor muito parecido (os membros carnívoros da família provaram e concordaram). É gostoso, porém não exatamente inesquecível, mas é bem divertido estourar as bolhinhas no céu da boca. Nossos petiscos foram ultra sofisticados, mas como o patê e o caviar foram comprados prontos, o único trabalho que tive foi torrar o pão e cortar rodelas de pepino.
A entrada foi a parte mais ousada do nosso menu, pois improvisei um ceviche vegano, inspirado de algumas receitas de ceviche tradicional que vi na internet. Usei palmito no lugar do peixe, temperei com flocos de alga nori tostada, pimenta, limão verde e coentro e incluí abacate e os legumes crus típicos (tomate, cebola…). O resultado me deixou tão impressionada que esqueci completamente a crise de nervos da véspera. Prometo postar a receita em breve, quando refizer o ceviche na minha cozinha (com certeza vou fazer esse prato muitas outras vezes).
Fiz um prato principal quase idêntico ao do natal passado, só mudei a massa (veja a receita aqui). Pra simplificar a receita e diminuir o meu trabalho usei uma massa folhada pronta (vegana, claro). Fiz duas mini tortas e servi nas cumbucas onde elas foram assadas. Os acompanhamentos, divididos com os membros onívoros da família, foram arroz selvagem, alho-poró refogado e cogumelos salteados.
E pra simplificar ainda mais a minha vida deixei de lado a ideia de fazer uma sobremesa super elaborado (estava pensando em um pavê ou mousse com coco, limão verde e framboesa) e optei por uma receita simples que faço sempre lá em casa: salada de laranja e toranja, com hortelã fresca e pedacinhos de tâmaras. Depois de tanta comida, uma sobremesa leve e fresca foi muito bem-vinda.
No almoço do dia seguinte repetimos os petiscos (e o champanhe) e comemos o resto da entrada e do prato da noite anterior. Claro que minha intenção era fazer pratos diferentes, como o resto da família, mas a essa altura do campeonato eu já tinha jogado a vontade de impressionar onívoros com minhas super receitas no lixo e só queria sossego. De todo jeito eles não iam provar meus quitutes, ocupados que estavam comendo o banquete que tinham preparado, e Anne estava mais do que feliz em comer a torta folhada de cogumelo e espinafre novamente. Os acompanhamentos, mais uma vez divididos com os membros onívoros da família, foram: batatas assadas com azeite e ervas finas e harricots verts (um tipo de vagem bem fininha) salteados. Enquanto a família terminava o almoço com o tradicional tronco de natal (uma espécie de rocambole gigante recheado com creme e coberto com chocolate), Anne e eu degustamos uma torta de chocolate, café e caramelo. Mais uma vez usei uma massa pronta, pois na França é fácil encontrar massas veganas (folhadas ou não) nos supermercados. A receita da torta também merece aparecer aqui…
As comemorações aqui terminam na noite do dia 25, quando toda a família se reúne na casa de uma das tias de Anne e cada um leva os restos do almoço. Como nosso almoço tinha sido o resto do jantar do dia 24, não tinha mais nada pra levar pra casa da tia, mas tínhamos comido tanto à tarde que Anne e eu não estávamos com vontade nenhuma de preparar algo. Levamos tapenade e mais patê de trufa e champanhe (Papai Noel trouxe várias latinhas pra nós esse ano), que degustamos com um maravilhoso pão com fermento natural (“pain au levain”, como eles dizem aqui) e uma salada verde com nozes e tomate cereja, feita pela anfitriã. E enquanto o pessoal enchia o prato com inúmeras sobremesas (todas carregadas de creme, ovos e manteiga, como manda a tradição francesa), nos deliciamos com humildes mexericas. Mais uma vez, depois de dias e dias de orgia gastronômica, tudo que o meu corpo queria era a simplicidade de uma fruta fresquinha, ao invés de mais farinha, gordura e açúcar.
Espero que vocês tenham degustado muitas delícias e que minhas dicas de como ter um natal vegano com a família onívora tenham sido úteis. Deixo vocês com uma figura ilustre que apareceu na nossa ceia de natal.
Pois é, mestre Yoda em pessoa, digo, em pelúcia, nos deu a honra da sua presença e até dividiu um pouco da sua sabedoria conosco. Enquanto eu comia o meu saboroso, e surpreendente, ceviche vegetal ele me disse: “Não tente. Faça ou não faça. Tentativa não há.” E essa vai ser a mensagem que levarei comigo em 2013.
Olá Sandra!
Passei o Natal com meus pais (onívoros), e para minha surpresa e alegria, tivemos uma ceia vegana (algo inédito), pois quem estava cansada demais pra cozinhar era minha mãe…rs… Fiz seu assado de lentilhas, um arroz de cenoura e uma torta de batata com palmito (que inventei na hora mas ficou muito boa), e todos adoraram, até meu pai! Num outro dia fiz a salada de lentilha com molho de laranja, e tb fez sucesso (comeram tudo). Muito obrigada e parabéns pelo seu blog, ele tem sido uma constante inspiração no meu dia-a-dia.
Bjs e Feliz 2013!
Fico muito feliz em saber que algumas das minhas receitas apareceram na sua ceia e mais ainda em descobrir que seus pais onívoros aprovaram! Desejo um 2013 maravilhoso pra você e toda a sua família, cheio de alegria e delícias vegetais:)
Oi Sandra! Passei para desejar boas festas! Por um 2013 cheio de receitas e filosofias… Abraços!
Obrigada, Alba. Que 2013 te trate com muito amor e que você continue aparecendo por aqui pra que eu possa continuar dividindo minhas receitas (e filosofias:) com você:) Abraços.
Olá Sandra!
Neste natal fiz minha primeira ceia vegetariana para a família. Comemos palmito pupunha á gomes de sá( palmito, batatas, azeitonas pretas, pimentões coloridos picados, bastante cheiro verde e bastante azeite). Ficou muito bom mas não cozinhei o pupunha o suficiente então ele ficou meio duro, estragou o prato 🙁
Porém nem tudo estava perdido, inventei um bobó de grão de bico com castanhas de caju de caju que ficou DIVINO, não devendo em nada para o bobó de camarão, todo mundo amou repetiu e nem se lembraram do fracasso do pupunha.
Fiz um salpicão vegetariano com tofu defumado em tirinhas bem finas, cenoura, abacaix em calda, milho e um molho especial da minha mãe que não é vegano( mas tenho certeza que dá certo veganizar). Para mim já foi uma conquista porque foi nossa primeira ceia sem peru e tender( eu já não comia) pois na última que passamos juntos ainda tinha bichinho na mesa 🙁
Meus pais viraram vegetarianos e meu irmão está com pezinho lá, só falta um empurrãozinho.
Minha ceia completa foi: a falsa bacalhoada com pupunha( não gosto de associar nome de prato onívoro com vegetariano, mas neste caso foi a forma mais próxima que encontrei para descrever o aspecto do prato), arroz com açafrão e alho poró, salpicão, bobó de palmito e arroz branco, pensei em fazer uma farofa que fiz outro dia com gengibre, pimenta dedo-de-moça, castanha de caju, açafrão , cebola, alho e farinha de mandioca mas achei que já tinha muita comida e desisti.
O cardápio agradou e tirando o imprevisto do palmito achei que ficou tudo muito bom.
A receita do bobó eu mando depois. É que fiz de cabeça no improviso e não anotei as medidas, mas irei repetir e depois te mando.
Fiquei muito feliz porque apesar de existirem muitas versões de bobós vegetarianos não achei nenhuma com grão de bico então creio que esta invenção é minha rs( olha o ego..)
Em geral usam palmito, tofu ou legumes e tenho que dizer que o grão de bico ficou sensacional.
Definitivamente grão debico nasceu para bobó 🙂
Sua pasta de azeitonas pretas e o molho de beringelas com tomate( que servi como antepasto) foram um sucesso absoluto.
Obrigada por tudo e queria lhe desejar um ótimo ano novo.
Muita paz, saúde e que 2013 seja um ano pleno de realizações
bjs para vc e para Anne
Sua ceia parece ter sido maravilhosa! Não me surpreende que seus pais tenhas se tornado vegetarianos: com tantas delícias vegetais, fica fácil mudar de regime:) Você precisa me mandar a receita do bobó, Suzana. Vou ficar esperando ansiosamente por ela. Te desejo tudo me dobro e que 2013 te traga muitas surpresas boas (comestíveis ou não). Beijos (meus e de Anne).
Olá Sandra, estou sempre acompanhando o seu blog que acho uma maravilha. Gosto muito de grão de bico, sempre faço um patê de grão de bico com cenoura, azeite e limão, muito bom. Mas estou precisando diversificar. Quando você receber a receita do bobó de grão de bico da Suzana, pode disponibilizar para nós no blog? Um feliz Ano Novo para você e sua Anne!
Claro, Zilda. Assim que Susana me passar a receita dividirei com você (e os outros leitores). Um ótimo 2013 pra você e toda a sua família.
Amo o Mestre Yoda kkkkk bj pra ele :*
Mestre Yoda é o cara:)
Sandra eu desejo para vocês um 2013 cheio de deliciosas inspiracoes e muita Saúde para poder aproveitá-las.
Beijos grandes.
Muito obrigada, Helvia. Que 2013 também seja maravilhoso pra você. Beijos
Colega, mesa linda! Feliz fim de ano pra vcs. Bjs!
A decoração da mesa fui feita por uma das minhas cunhadas, que tem muito talento pra isso. Um ótimo fim de ano pra você também, colega. E pro bubo e pro marido também:)
Sandra,
Conheci seu blog através da revita Vegetarianos, entrei , li, amei…andei copiando umas receitas suas no meu blog, afinal tenho o meu como um caderno de receitas e não posso perder a oportunidade para aprender mais, deixei o seu endereço claro!
Postei umas receitas do livro “Lugar de médico é na cozinha” Dr Alberto Peribanez Gonzalez, acho que vc pode gostar…sobre cura e saúde pela alimentação viva.
Comecei no vegetarianismo por conta da saúde e da religião. Minha saúde melhorou muito e aprendi que a comida simples é a melhor; quanto menos elaborada a receita melhor para o organismo, pois ela será melhor aproveitada pelas células.
Espero contato…Gostei de conhecer um pouco da sua história.
Sandra
Bem-vinda ao blog, Sandra:) Li o livro do dr Gonzales alguns anos atrás e adorei. Falei sobre isso no primeiríssimo post que escrevei aqui e até publiquei uma receita de espaguete de abobrinha cru (http://papacapim.org/2010/02/13/revolucao-crua/) Obrigada pela dica, mesmo assim. Espero que você descubra muitas delícias vegetais ao seu gosto aqui no Papacapim.
PS Acabo de conferir o seu blog. Vou só te pedir pra colocar um link pro meu blog (não só o endereço) se você publicar minhas receitas por lá.
Bom dia, dona Papacapim.
Que bom que passou dias agradáveis.
Gosto de massa folhada, mas ultimamente coisas gordurosas não me caem bem. Então este ano passei a usar a massa filo. Se não me engano, no Brasil vende-se massa filo congelada nos mercados. Como não vão ovos ou manteiga, acho que seria uma boa opção para veganos ou pessoas com problema de lactose.
Um ótimo 2013!
Yoko, você adivinhou! A massa que usei nas tortinhas é massa filo:) É extremamente leve e folhada, sem ser muito gordurosa (na verdade a que usei não tinha gordura nenhuma, era preciso untar cada folha com um pouco de azeite senão parecia a hóstia:) Um ótimo 2013 pra você também.
Coincidência mesmo!
Estou pensando em fazer mais testes com a massa filo.
Vi num blog de uma turca (que mora no Japão) que ela faz enroladinhos de tabule com essa massa e frita. Não gostamos de fazer fritura em casa, mas acho que daria certo untar a massa com azeite e assar no forno. E acho que dá para inventar bastante no recheio: antepasto de berinjela, cogumelos refogados, maçã cozida no vinho branco… fica a dica para os colegas veganos.
feliz ano novo beijoa
Feliz ano novo, Cecilia.