A dica do Guia Papacapim de alimentação saudável desse mês é “Faça do feijão uma presença obrigatória no seu cardápio diário”, por isso decidi postar mais receitas que incluam leguminosas por aqui durante as próximas semanas. Não que o blog não esteja recheado de receitas com feijões, grão de bico e lentilha, basta espiar a página ‘Receitas’ pra se dar conta disso, mas acho essa categoria de alimentos tão essencial que estou sempre procurando maneiras criativas de prepara-los pra que eles apareçam ainda mais na minha mesa.
Dentre as leguminosas a lentilha é provavelmente a mais prática, pois não precisa ficar de molho antes de ser preparada e não precisa da panela de pressão pra cozinhar. Eu sempre fui fã de lentilha, mas desde que me tornei vegana e, principalmente, desde que me mudei pra Palestina, meu consumo de lentilha quadruplicou. Conheço muitas famílias no campo que comem lentilha com muito mais frequência do que carne, pois o quilo da carne vermelha aqui custa em torno de 35 reais, enquanto um quilo de lentilha custa 4 reais. Por aqui a lentilha é chamada de ‘a carne do pobre’ e isso sempre me faz pensar no mito de que ser vegetariano é mais caro, o que tanta gente repete por aí…
Muitas luas atrás preparei um prato (de inspiração holandesa) com repolho roxo, maçã e vinho tinto. Achei o prato gostoso, mas como ele não fez muito sucesso com a outra moradora daqui de casa, nunca repeti a receita. Porém fiz a seguinte anotação mental: repolho e maçã cozidos + uma ponta de acidez = ótima ideia. Precisei de alguns anos pra utilizar a combinação novamente, mas essa salada de lentilha ficou tão boa que fiquei um pouco aborrecida comigo mesma por não ter colocado a ideia em prática mais cedo.
Essa salada usa ingredientes simples, mas o que a torna realmente especial é a quantidade ligeiramente elevada de vinagre. Por isso é extremamente importante usar um vinagre de boa qualidade aqui. Ela consegue misturar os sabores doce, salgado e ácido de maneira harmoniosa e foi um sucesso imediato com as minhas papilas. Mas um aviso: se agridoce não é a sua praia, talvez essa receita não seja pra você. Mas dessa vez todos os habitantes da minha casa aprovaram o prato…
Salada agridoce de lentilha, repolho roxo e maçã (vegana, sem glúten)
1/2x (120g) de lentilha crua
1-2 folhas de louro
1 1/2x (120g) de repolho roxo, cortado em fatias finíssimas
1 cebola, picada
1 maçã, picada em cubos médios (com a casca)
2-3 dentes de alho, amassados/ralados
1cs de passas
4cs de azeite
3cs de vinagre de maçã ou vinho (de boa qualidade)
Sal (de preferência esse sal com salsão) e pimenta do reino a gosto
2cs de cebolinha verde picada (só o verde, opcional)
Em uma panela média cubra a lentilha com 3x de água fria. Junte as folhas de louro, sal (uso aproximadamente 1/2cc rasa) e leve ao fogo alto. Quando começar a ferver baixe o fogo e deixe cozinhar semi-coberto até a lentilha ficar macia, mas ainda al dente. Cuidado pra não cozinhar demais, senão a lentilha vai se desintegrar na salada. Escorra (descarte as folhas de louro) e reserve.
Enquanto a lentilha cozinha, prepare o resto dos ingredientes da salada. Em uma frigideira grande e funda aqueça 1cs de azeite e doure a cebola. Junte a maçã e o alho e cozinhe 2 minutos em fogo alto, mexendo uma ou duas vezes, pra que a maçã comece a dourar. Junte o repolho, baixe o fogo e cozinhe coberto até a maçã amolecer um pouco.
Quando a maçã e o repolho estiverem macios junte as passas, tempere com sal com salsão (ou sal comum), uma pitada generosa de pimenta do reino, regue tudo com 2cs de vinagre e cubra a frigideira (o vapor do vinagre vai irritar os seus olhos, então se afaste um pouco). Espere o vinagre evaporar completamente (alguns segundos são suficientes) e desligue o fogo.
Despeje a lentilha cozida e escorrida na frigideira, regue com 3cs de azeite, mais 1cs de vinagre e misture bem. Prove e corrija o sal e a pimenta do reino, se achar necessário. O sabor deve ser ligeiramente ácido, mas não muito, e bem marcante, então ajuste o tempero de acordo com o seu gosto. Polvilhe com a cebolinha picada, se estiver usando, e sirva a salada ainda morna. Rende 2 porções como prato principal ou 4 porções como acompanhamento.
Sandra, o feijão azuki também é uma leguminosa que não precisa de ficar de molho antes de cozinhar.
Não sei se fica bom em pratos salgados, mas nos doces é um coringa.
Boa sorte na sua nova jornada, onde quer que você vá!
Yoko, você pode me indicar uma receita doce com o feijão azuki? Eu até hoje só comi esse feijão germinado (uma delícia nas saladas) e o seu comentário me deixou curiosa.
Posso indicar sim, mas só tenho receitas doces…
O mais simples é o mizuyoukan, ou gelatina de ágar-ágar com feijão doce.
Como faço de olhômetro, não tenho as medidas, mas o mais importante é saber quando colocar o açúcar.
Coloca-se o azuki lavado numa panela com água fria e leva-se a cozimento em fogo brando. Não escume. Cozinhe até o feijão ficar macio, a ponto de poder amassar com o dedo. Se necessário, vá acrescentando água na panela, para não grudar no fundo.
Depois que o feijão estiver macio, deixe qua a água evapore. Acrescente açúcar a gosto.
Nunca coloque o açúcar antes do feijão estar macio, ou ele ficará duro como pedra.
Para fazer a gelatina, a proporção de água para derreter o ágar-ágar depende de cada marca, mas a proporção de feijão para gelatina é de mais ou menos 100 gramas de doce de feijão para 120 ml de ágar-ágar derretido. Acrescenta-se mais açúcar conforme o gosto. Deixe em local frio ou na geladeira e sirva fatiado em retângulos.
O interessante é que o youkan é um prato vegano de nascença. Antigamente, na China, era uma sopa de miúdos de carneiro, que solidificava quando frio por causa da gelatina. O prato chegou ao Japãoo através de monges budistas, mas no zen-budismo o consumo de carne é proibdo, então buscaram um substituto cozinhando o feijão, danso-se consistência com farinha de trigo ou amido de uma planta chamada kuzu. No século 18 começaram a usar o ágar-ágar para dar uma consistência gelatinosa.
O mizuyoukan é uma variação deste prato, com mais água e mais fácil de fazer. O youkan de verdade precisa de ser cozido por muitas horas, mexendo-se sem parar, para ficar mais grosso. E também leva muito mais açúcar. Resquícios do tempo em que não havia geladeira…
Obrigada pela receita, Yoko. Sempre tive curiosidade, mas nunca experimentei esses bolinhos de feijão doce.
Gosto muito de sabores agridoces! Acho uma combinação inusitada com a lentilha, bastante interessante!
Gosto muito de receitas com vinho! Provei uma entrada deliciosa de shiitake grelhado com molho de vinho tinto hmmmm!
Estou bastante curiosa sobre seu futuro destino! E que bom que vem passar um tempo no Brasil e matar saudade da família!
Eu também gosto muito de cozinhar com vinho, o que é curioso, já que não bebo álcool (só como:)
Eu também estou curiosa pra saber se os planos vão se concretizar ou não, mas terei que esperar setembro pra ter uma resposta definitiva…
Sandra faz tempo que não comento por aqui, mas venho sempre ao blog. Estou feliz em saber que você vem a Natal e espero que dessa vez eu consiga te conhecer, vou combinar com Allen pra ver se da certo. Queria fazer um pedido, que ao mesmo tempo é uma sugestão: meu filho de 9 anos simplesmente se recusa a comer qq tipo de verdura e fruta, não consigo convence-lo de maneira alguma, e confesso que já estou sem estratégias nem paciência, então queria pedir a você um ( ou uma série de ) post sobre alimentação vegana pra criança e estratégias de convencimento. Sei que o exemplo é o principal caminho, mas, apesar de comer e adorar verduras e frutas em geral, eu esbarro no meu marido, um onívoro xiita e radical, que não faz campanha anti-vegana mas também não incentiva. Se você tiver um tempinho pra me atender eu vou agradecer imensamente! Boa sorte na nova morada e lembranças a Anne. Beijos Tassianna
Vamos combinar esse encontro, sim, Tassianna! E quanto ao seu pedido, eu adoraria ajudar, mas como não costumo cozinhar pra criança, é impossível saber que receitas agradariam os pequeninos. Preciso de uma cobaia de menos de 12 anos:) Só posso te desejar muita sorte e garanto que se tiver a ocasião de cozinhar pra criança dividirei a experiência aqui no blog. E se você falar Inglês, aqui vai um artigo com dicas (cientificamente comprovadas) pra fazer seu filho comer mais vegetais: http://summertomato.com/11-proven-ways-to-get-kids-to-eat-more-vegetables/
Sandra, vc apareceu de novo na revista dos vegetarianos! Que legal! Me sinto “conhecendo” uma celebridade! Está na matéria mundo Vegano, na pag. 37: gente com mão bossa para preparar essas delícias esta espalhada pelo mundo todo, como é o caso da brasileira Sandra Guimarães, que vive na Palestina e mantém o famoso blog papacapim, que traz histórias e receitas apetitosa (…)”.
Que bacana! Se não for pedir demais, você poderia fazer uma foto da matéria e mandar pra mim, Aline? Por favor?
mais um prato seu que descubro, cozinho e aprovo! delícia de salada! escreve um livro de receitas, mulher! (ou será que você já tem e eu que não sei?) beijo e parabéns!
Uma delícia! Adoro saladas ácidas e essa é uma que lembro sempre que vejo um repolho roxo na feira.
Paz e Luz
Dani