Eu compro a maior parte da comida que entra aqui em casa num mercado orgânico (o ‘marché des tanneurs’). Foi lá que gravamos partes do vídeo sobre O GPAS. Os preços são excelentes (às vezes até mais baratos do que comida não orgânica de supermercado), os produtos são fresquíssimos e, na sua maioria, locais, o lugar é super agradável e o pessoal que trabalha lá é extremamente simpático. O único defeito é ser um pouco longe da minha casa.
Então já que vou caçar legumes tão longe, transformo a ida ao mercado em passeio. Se estiver fazendo compras acompanhada, depois de encher as sacolas de verduras fazemos um pique-nique numa pracinha (quando as condições meteorológicas permitem) e depois sentamos num café e conversamos sobre a vida enquanto degustamos… um café. Graças à esse nosso pequeno ritual, atravessar a cidade pra ir ao mercado ficou muito mais atraente.
O nosso pique-nique post-compras é sempre composto de alguns tesouros que encontramos no mercado, como um dos maravilhosos pães integrais, com fermento natural e muitas sementes, que eles vendem por lá e algum patê fresco, feito por uma empresa de comida vegetariana e vegana daqui de Bruxelas. A minha companheira de compras também inclui umas batatas fritas vendidas na praça no pique-nique dela (sabiam que batata frita foi inventada na Bélgica e que eles fazem as melhores do mundo?) e eu mentiria se dissesse que não roubo uma ou outra batatinha quando ela não está prestando atenção.
Mas pra mim o ponto alto desse pique-nique é um produto meio salada meio patê vendido no mercado que roubou meu coração. Eles chamam aquela coisa maravilhosa de ‘salada do mar’ e é uma mistura de vegetais crus, algas e uma maionese vegana à base de tofu. Felizmente todos os patês vendidos no mercado têm a lista de ingredientes estampada na frente, mas, falta de sorte minha, o papelzinho com a lista de ingredientes da tal salada do mar estava sempre amassada e eu nunca conseguia ler tudo. Durante semanas eu fiquei sem saber a composição da delícia, mas sempre fazia uma análise aprofundada (visual, olfativa e gustativa) pra descobrir o que tinha ali. E mesmo sem ter certeza, comecei a tentar reproduzir a salada em casa.
Os anos de veganismo deixaram o meu olfato ultra aguçado (todo o tempo passado farejando comida, tentando descobrir se tinha ovo ou leite ali, tinha que servir pra alguma coisa) e consegui fazer uma salada bem próxima do produto vendido no mercado. O segredo desse prato é cortar os legumes em tirinhas finíssimas. Isso exige uma boa dose de paciência, então vou logo avisando: se você não tem tempo/vontade de passar meia hora cortando palitinhos extra finos de salsão, escolha outra receita. Não tente fazer essa salada com ingredientes cortados grosseiramente, pois o resultado não será o mesmo. Pode parecer frescura pra alguns, mas garanto que a maneira como você corta os ingredientes influencia o sabor dos mesmos. Tenho certeza que isso foi provado cientificamente por alguém, em algum lugar do mundo, em algum ano.
As pessoas pacientes ganharão uma salada suculenta, deliciosa e delicadamente crocante (corte tudo em pedaços grosseiros e ela será violentamente crocante! Estou só avisando…). Acabei tomando pequenas liberdades com a receita e acrescentei maçã, pois adoro maçã nas minhas saladas e acho que ela casa maravilhosamente bem com algas. E também porque uma nota doce é sempre bem vinda pra equilibrar os sabores.
Semana passada consegui, enfim, ler a lista de ingredientes da salada do mercado por completo. E não é que eu tinha adivinhado quase tudo? Com exceção do xarope de trigo (que eu não faço questão nenhuma de usar) e do vinagre de maçã (eu estava usando suco de limão). Apesar da minha receita não ser exatamente como a deles (uso uma alga diferente, coloco maçã, não uso xarope de trigo, uso menos molho), hoje eu gosto ainda mais da minha versão. E a minha salada tem uma enorme vantagem: não preciso atravessar a cidade pra degusta-la.
Salada do mar
Sempre surgem dúvidas quando posto receitas com algas, então vou tentar antecipar as perguntas. 1-Alga pra fazer sushi/maki se chama nori e pode ser usada aqui (e em qualquer uma das minhas receitas com algas) sem problema. Só não esqueça de picar a folha de alga seca miudinho com uma tesoura antes medir e juntar à salada. 2-Não precisa hidratar a alga antes de colocar na salada. Alga em flocos hidrata quase instantaneamente em contato com líquidos, então ela vai hidratar naturalmente quando for misturada com o molho.
Tofu sedoso tem consistência de pudim de leite (veja a foto acima) e é perfeito pra fazer molhos. Na falta, use o tofu mais molinho que encontrar e acrescente algumas colheres de sopa de água pro molho ficar mais líquido. Adapte a quantidade de algas de acordo com o seu gosto. Eu adoro algas, então uso 6sc na minha salada. Use menos se o sabor marinho não for a sua praia:)
3x de cenoura cortada em fios (ou ralada no ralo grosso)
3x de salsão cortado em fios
1 maçã, cortada em palitos finíssimos
3 cebolinhas verdes, a parte branca e a verde, cortadas em fatias finíssimas (aproximadamente 3/4x)
Entre 3 e 6cs de algas marinhas em flocos, dependendo do seu gosto (wakame, dulse ou nori)
Sal e pimenta do reino
Molho
400g de tofu sedoso (leia as dicas acima)
3cs de vinagre de maçã
4cs de azeite
1/2cs de mostarda de Dijon
Uma pitada generosa de sal
Misture todos os ingredientes da salada e tempere com um pouquinho de sal e bastante pimenta do reino (melhor se for moída na hora). Bata todos os ingredientes do molho no liquidificador, prove e corrija o sal, se necessário. O molho deve ficar mais líquido do que uma maionese, então se estiver usando tofu mole (não o sedoso), acrescente algumas colheres de sopa de água. Despeje o molho sobre a salada e misture bem. Prove e corrija o tempero, se necessário. Você pode servir imediatamente, mas o ideal é deixar a salada descansar (coberta) na geladeira durante uma noite. No dia seguinte os sabores estarão mais apurados e sua salada ficará ainda mais deliciosa. Sirva gelada ou em temperatura ambiente. Rende 6 porções como acompanhamento. Essa salada também é um ótimo recheio pra sanduíche.
Sandra,obrigado por me ajudar tanto. Sou vegetariano e tornar-me vegano está sendo muito fácil e gostoso com tudo o que você publica. Já fiz o queijo cremoso de castanha, o bobó de grão de bico e várias outras receitas. Até minha mãe entrou na onda e direto me passa receitas veganas. Acabei de fazer um mousse de abacate com cacau! Seu blog é lindo, em todos os sentidos. Parabéns!
Obrigada, Thiago. E que barato saber que sua mãe está se empolgando com receitas veganas também:)
Mais uma aparente delícia.Quando li o título nem achei atraente, mas até parece que Sandra publica algo que não é atraente. Ao ler o texto, adorei e fiquei com vontade de fazer já (fim de semana vem aí e essa receita não me escapará!). Graças à senhorita, tenho tomado sopinha de misso regularmente e desisti de tentar saber qual a alga que casa melhor – comprei três variedades diferentes e to escolhendo a preferida 🙂
Queria é um vídeo mostrando a arte de picar tudo em fios e palitos finíssimos para essa receita.
E que sonho esse mercado, hem? Quando teremos algo com essa qualidade por aqui? E mais ainda, que não custe os oio da cara?
Beijos, obrigada!
Quer dizer que a sopinha de missô faz parte da sua vida, agora? Então posso colocar isso na minha lista de boas ações do ano:)
Quanto ao vídeo, você vai ter que se contentar com uma explicação por escrito, Fernanda. Lá vai. Eu uso um descascador de legumes manual (daqueles em formato de Y) pra cortar lascas da cenoura. Depois empilho as lascas em montinhos e corto em fios longos (no sentido do comprimento). O salsão eu corto direto com a faca, pois ele é mais molinho. Parto os galhos ao meio, porque os meus são gordinhos, depois corto em pedaços médios e, mais uma vez, termino cortando fios no sentido do comprimento. A maçã eu corto em fatias finas, depois empilho em montinhos e corto palitinhos (dessa vez no sentido da largura).
Será que ficou claro?
Sim, faz parte da nossa rotina. Inclua como o 25º item de boas ações, pois muitas mudanças super positiva nos nossos hábitos já precederam o missô delicinha.
Ficou claríssimo, principalmente o corte da cenoura, que foi uma ótima dica.
Beijos e obrigada!
Sandra, será que dá certo passar tudo por um mandolim prá ficar bem fininho? Pode usar alga kombu, picada em pedacinhos pequenininhos?
Claro! Na verdade esse é o instrumento ideal pra cortar tudo bem fininho, Ana, mas como pouca gente tem, nem pensei em sugerir.
Nunca usei alga kombu, mas se as fatias que você tiver em casa forem fininhas, pode picar tudo e usar na receita. Mas a impressão que tenho é que ela é bem grossa, com uns nozinhos duros, então acho que mesmo depois de picada ela ainda vai ficar muito grossa pra hidratar no molho. Algumas algas devem obrigatoriamente serem fervidas por vários minutos antes de entrarem na composição de receitas, pois são muito espessas. Será que kombu é uma delas?
Novamente obrigada por compartilhar, sempre aprende-se muito aqui.
Só uma curiosidade: você parece sempre comprar tofu. Você não o faz? Por quê?
Sim, sempre compro tofu aqui. Não faço em casa porque no meu contexto atual isso não vale a pena. Não tenho muito tempo pra cozinhar no momento e como encontro tofu orgânico de ótima qualidade, fresquinho e por um preço razoável, prefiro usar o meu (pouco) tempo livre pra fazer outras coisas. Mas quando estou de férias em Natal, onde tofu bom é raridade (e nunca é orgânico), sempre faço em casa, usando soja orgânica.
Olá!Tudo bem?
Ainda não sou vegetariana, mas por ser descendente de japoneses e por ter morado muitos anos no Japão, criei o hábito de comer/fazer muita comida vegetariana. Até porque minhas filhas e o marido adoram e preferem, por ser bem mais saudável! =)
Lendo seu post, me lembrei de uma salada muito gostosa e comum lá no JP. Onde os ingredientes são a bardana, a cenoura e a alga hijiki. Há variedades com toofu, pepino japonês, renkon ( lotus root ), milho, quiabo, etc… Tudo muito bom! =D
Estou adorando todas as suas dicas! Muito obrigada! =D
Abraços e sayonara!
Akiko
Sou louca pra experimentar bardana…
Oi Sandra
Parece uma delícia. mas Infelizmente tenho um problema com salsão.
Acho seu sabor forte para meu paladar e só consigo comer cru em quantidade homeopáticas, muito pouco e bem picadinho, se for cozido não tenho tanto problema.
Essa sua receita me lembrou uma salada vegana de falso atum de que tentei fazer outro dia.
Descobri que no exterior eles usam grão de bico para substituir o atum em patês e saladas. tentei uma vez mas não deu muito certo( e além disso tinha o salsão tb rs)
Mas se quiser se aventurar, seguem algumas receita para inspiração. Eu fiz a primeira:
http://www.vegangsta.com/vegan-tuna-salad/
http://ecovegangal.com/eat/recipes/item/155-vegan-tuna-salad-using-chickpeas-garbanzo-beans
http://chefsambrano.blogspot.com.br/2012/09/vegan-tuna-salad-or-mock-tuna-salad.html
bjs
Obrigada pelos links, Susana. Eu já fiz algumas saladas desse estilo, com grão de bico, e adorei. Mas é verdade que elas sempre têm salsão.
Se você realmente não gosta de salsão, imagino que você pode tentar uma versão com pepino (retire as sementes, pra salada não ficar aguada). Mas sinceramente, o salsão é a alma da salada, então tenho medo que a versão com pepino fique sem graça… Se algum dia tentar, me conte como ficou.
Esqueci…e esse roxo na salada o que é?
Ignore a última pergunta. Olhando melhor vi que são as algas. 🙂
Isso, são as algas. Eu uso dulse e depois de hidratada ela ficar com essa cor linda.
Oi Sandra,
Lendo este teu post a respeito do piquenique que vc.costuma fazer na praça, fiquei com saudades do tempo em que meu filho morou ai em Bruxelas e passei algumas temporadas aí e quando tinha sol, no inverno, também, costumávamos sair para caminhar no park (esqueci o nome do parque que ficava a duas quadras da casa dele) e sempre comprávamos alguma coisa para comer por lá.
Achei esta tua receita super fácil de fazer e vou tentar. Tenho um mercado orgânico bem perto de onde moro e tem o tofu silk que é muito bom.
A respeito do “kombu” uso para fazer o miso soup. Ele precisa ficar de molho na agua até ele inchar, uns 30 minutos e depois dar uma fervida. Nunca usei ele em salada, ele é grosso, mas quem sabe cortado em tirinhas não ficaria bom?
Concordo com vc, Sandra, a maneira como picados os alimentos influencia em muito no resultado final.
Sempre penso nisso quando faço sopa de legumes (a típica cenoura, batata, chuchu e outros legumes que tiver na geladeira e eu considerar que combine e mais alguma massa, claro). Fico um tempão picando tudo em quadradinhos do mesmo tamanho (ou quase)… e escolho alguma massa pequenininha, tipo letrinhas ou argolinhas.
Estou pensando em testar essa salada, me encheu os olhos.
Ah, e vou encomendar seu Guia de Alimentação Saudável… (deixa só a Prefeitura renovar meu contrato – e me pagar, óbvio!!)
um beijo grande e cheio de saudade (é, eu andava sumida!)
Renata (aquela que não come coentro).
Jantamos a salada do mar hoje aqui em casa! Que delícia!! O salsão ficou ótimo! E esse molho delicioso!!!
Queria que você tivesse feito uma foto pra mim, Aline:)
Eu fiz!! Vou colocar no Instagram e te marcar!
Oba 🙂