Já abriu a geladeira e encontrou vários restos de comida, mas nenhum em quantidade suficiente pra se transformar em uma refeição? Se isso nunca aconteceu na sua cozinha, provavelmente você é do tipo que joga restos de almoço e jantar fora (ou do tipo que nunca cozinha em casa). Pare com isso imediatamente! Aquilo que sobrou na panela não é o resto da sua última refeição, é o começo da próxima.
Esse é um dos talentos mais valiosos na cozinha: saber transformar restos de comida em uma nova refeição. Os pontos positivos dessa prática são: economia de comida, já que nada vai parar no lixo, e de tempo, já que uma parte da sua próxima refeição já está pronta. Porém quem não tiver criatividade pra fazer esse tipo de transformação pode até decidir nunca mais jogar os restos fora, mas eles correm o risco de acabar no lixo do mesmo jeito, só que alguns dias mais tarde. Sabe quando guardamos na geladeira duas colheres de feijão, uma xícara de arroz, meia porção de macarrão etc. e só lembramos dos ditos cujos quando o aroma ficou esquisito e o bom senso manda você não ingerir mais aquilo? Pois é, aconteceu muito comigo.
Mas eu trago boas novas. Aliás eu nunca escreveria sobre um assunto se eu não tivesse boas novas pra vocês. Ninguém precisa ser um mestre da criatividade pra transformar o resto de ontem (que na minha terra a gente chama de R O) na refeição de hoje.
Restos de macarrão cozido sem molho podem entrar em sopas, como essa daqui. Mas lembre de colocar o macarrão na panela quando a sopa já estiver pronta, pois ficar nadando no líquido fervente vai fazer com que ele se desintegre (ele já está cozido, lembra?).
Restos de macarrão curto (parafuso, penne) cozido, com ou sem molho, podem se transformar em uma salada fria de macarrão. Basta juntar legumes crus (tomate, cebola, pimentão vermelho, rúcula, azeitonas, cenoura ralada…) ou cozidos (brócolis, couve-flor, abobrinha…) e regar tudo com uma vinagrete (1 parte de vinagre balsâmico ou de sidra + 3 partes de azeite + sal, pimenta do reino, ervas e, se gostar, um pouquinho de mostarda de Dijon). Pense em uma combinação de legumes harmoniosa e use uma quantidade equivalente ou pouco maior do que a porção de macarrão. Isso significa que se você só tiver um restinho, provavelmente não vai conseguir transforma-lo em uma refeição pra quatro pessoas, mas você tem a opção de cozinhar mais macarrão pra fazer a quantidade desejada de salada.
Sobrou feijão e/ou legumes cozidos? Faça sopa! Restos de arroz e outros cereais podem se transformar em salada fria (como no exemplo da salada de macarrão acima), entrar na composição de sopas ou serem degustados como acompanhamento.
Os restos difíceis de reciclar (espaguete,ou qualquer macarrão longo, com molho, lasanhas, gratinados, saladas cruas temperadas) podem ser consumidos assim mesmo. As porções são microscópicas? Coma no lanche ou como entrada/acompanhamento. Às vezes na sexta-feira minha geladeira está cheia de restinhos sem muitas afinidades entre si pra se transformarem em um prato só, então esquento tudo (separado) e decreto que o jantar será estilo ‘tapas’ (se for durante o dia digo que será um piquenique:). É uma delícia encher o prato com uma colherada disso, outra daquilo, mais um tiquinho daquilo outro… E eu me livro de uma vez de todos os potinhos com restos de comida que repousam na geladeira antes de preenche-la com as compras do sábado.
Aviso importante: nunca transforme restos em restos. Ou seja, se juntou um resto de ontem no prato de hoje, coma tudo de uma vez pra não ter restos. Lembre-se que aquele resto já passou umas férias na geladeira e se ele for novamente pra lá depois de ser requentado as chances da comida se estragar são grandes. E nunca recongele algo que estava congelado. Eu tenho o hábito de congelar legumes (crus) quando compro quantidades grandes. Mas se usei legumes congelados pra fazer uma sopa, nunca congelo a sopa pronta.
Ter restos na geladeira é tão prático que eu cozinho mais do que preciso de propósito. Quando preparo cereais e leguminosas sempre cozinho porções extras e com esses dois ingredientes prontos, posso fazer um almoço ou jantar completo e nutritivo em 15 minutos. Eu adoro pratos únicos (são mais práticos, ficam prontos em menos tempo, sujam menos louça), então gosto de misturar as porções extras (ou os restos) com legumes e transformar tudo em algo que lembra uma paella vegana, mas só na aparência. Se você precisa de uma ajudinha extra na cozinha (tradução: medidas e instruções mais precisas), eu preparei uma fórmula pra simplificar esse processo.
1 parte de cereal cozido (arroz -integral ou branco-, quinoa, cevada)
1 parte de leguminosas (lentilha, feijões, grão de bico, ervilhas)
3 partes de vegetais (cortados fininhos, pra cozinhar mais rápido, ou então já cozidos)
+ cebola, alho, ervas (frescas ou desidratadas)
+ outros realçadores naturais de sabor, como azeitonas, shoyu, tomates secos, palmito, cogumelos (opcional)
A receita abaixo mostra como colocar essa fórmula em prática, mas ela está aqui pra servir de guia. Adapte os ingredientes de acordo com o que você tiver na geladeira (respeitando as categorias) e as possibilidades são quase infinitas. Fórmulas desse tipo são extremamente úteis pra quem está aprendendo a cozinhar, ou quer aprender a preparar refeições veganas completas, então recomendo que você também dê uma olhada na fórmula da sopa e na fórmula da salada-refeição.
Arroz com lentilha e legumes (que sonhou em ser paella)
Essa fórmula dá certo com cereais e leguminosas cozidos só na água e sal, mas também com restos que já foram temperados. No dia que preparei esse prato não tinha nenhuma erva fresca em casa, mas um punhado de coentro ou salsinha picados cai muito bem aqui, por isso coloquei na lista de ingredientes. Você também pode usar restos de legumes cozidos aqui, mas nessa caso coloque-os na frigideira ao mesmo tempo que o arroz e a lentilha e aqueça tudo junto. Último lembrete: se estiver usando restos que já foram temperados, adapte a quantidade de shoyo pro seu prato não ficar salgado demais.
1x de arroz integral cozido
1x de lentilha cozida
2x de repolho branco picado bem fino
1x de cenoura ralada no ralo grosso (ou cortada em lascas com o descascador de legumes, como na foto)
1 cebola média, cortada em meias-luas ou picadas
2-4 dentes de alho, picados/amassados
2cs de azeite
Molho de soja (shoyu) e pimenta do reino a gosto
Suco de limão pra servir (opcional)
Um punhado de coentro ou salsinha, picado
Em uma frigideira grande e funda aqueça 1cs de azeite e doure a cebola. Junte o alho e deixe cozinhar mais 30 segundos. Acrescente o repolho e a cenoura, cubra e deixe cozinhar em fogo baixo, mexendo de vez em quando, até os legumes amolecerem (não precisa juntar água). Junte a lentilha e o arroz cozidos, tempere com shoyu a gosto e misture delicadamente pra não quebrar demais a lentilha. Deixe aquecer, coberto e ainda em fogo baixo, por alguns minutos. Quando estiver bem quente desligue o fogo, junte o coentro (ou salsinha), tempere com pimenta do reino a gosto e regue com mais uma 1cs de azeite. Prove e corrija o sal (pode juntar mais shoyu, se quiser). Eu gosto de espremer um pouco de suco de limão diretamente sobre o meu prato, pois além de realçar o sabor, a vitamina C ajuda o corpo a assimilar o ferro das lentilhas. Rende 2 porções como prato único.
Nós chamamos isso de mexidão! Adoro fazer isso quando quero comer algo rápido e gostoso! Pego o arroz que sobrou, misturo com o feijão, coloco os restos dos cogumelos, tofu grelhado, legumes e tento mudar o tempero pra não ficar com cara de mesma coisa! Nesse caso adoro usar tempero para tacos! Cominho, chili… hmmm! Ainda adiciono bastante cebola refogada e alho!
E sexta na minha casa também costuma ser o “dia dos restos”!
Adorei o ‘mexidão’, Aline 🙂 Espremi a cabeça durante dois dias tentando achar um nome mais interessante pra minha criação, sem sucesso. Agora vou chamar esse tipo de receita de mexidão 🙂
Sandra, em Minas o “Mexido” é super comum, tem até receita específica para alguns (além do arroz e feijão, tem que ter couve, bacon, ovo…), semelhante ao que acontece com o “Baião de dois” no nordeste. Mas para mim o bom Mexido é o que você descreveu: fazer alguma novidade com os restos da geladeira, quaisquer que sejam. Além de evitar o desperdício e a monotonia, como brinde, o marido adora!
Mineiramente, minha mãe sempre fez mexidão com o que sobrava do almoço para a janta, da janta para o almoço… e o melhor que dá liga pra eles, além do tempero de mãe, é a farinha de mandioca da roça, ô beleza!
No Sul chamamos isso de Revirado, e fica muito bom também com ervas desidratadas como orégano, por exemplo 🙂
Eu aprendi fazer com meu pai, que já retornou a casa do Pai. Chamava de comida gostosa, meus filhos tb adoram. Beijos….
Eu chamo isso (arroz lentilha e legumes) de prato principal, hehhe . Já cozinho o arroz e a lentilha juntos. Da segunda vez ja vira a “paella vegana”!
viva a cozinha lavoisier! kkkk… é ótimo, economiza tempo e dinheiro e ainda saem pratos especiais… Bjs!
Eu também sinto uma culpa enorme quando deixo estragar comida, então faço o mesmo que você. Algumas vezes congelo os alimentos para facilitar mesmo. E o espaguete fica bom também como salada – corto os legumes (pepino, cenoura, salsão, cebola roxa, páprica) em julienne bem fininho e tempero com azeite e vinagre. Juntando os legumes, meia porção de espaguete vira uma porção! Fica muito bom, principalmente no calor.
Você continua fazendo tofu em casa? O que tem feito com o resto de soja? Se quiser, tenho uma receita de “okara”, um tipo de farofa japonesa.
Nunca soube o que fazer com okara, mas comi um bolinho feito com ela em um restaurante vegano de Tel Aviv e desde então sonho em fazer o mesmo. Se tiver receitas, manda! Serão muito bem-vindas. Apesar de não estar fazendo tofu no momento, vou guarda-las preciosamente até ter uma oportunidade de testa-las.
Oi Sandra,
Tenho pesquisado bastante pela web a respeito da vitamina B-12. Apesar de algumas pessoas dizerem que pode-se encontrar a B-12 em alguns vegetais e frutas, pesquisando em sites científicos, de universidades, orgões oficiais de nutrição do gov.,(americano e francês) etc…todos são categóricos em afirmar que a vitamina B-12 existem somente em carnes, peixes, e porções ínfimas em leite e derivados. Se voce é vegan/vegetariana, eles dizem que uma maneira de ter a vitamina B-12 seria 1. consumir no café da manhã cereal fortificado com a B-12., 2. tomar suplementos e 3. injeções de B-12. Agora minha pergunta: como vc. faz para não ficar deficiente em vitamina B-12?
http://www.papacapim.org/2011/09/17/tudo-o-que-voce-sempre-quis-saber-sobre-a-b12/
Oi Sandra,
A Aline, acima, colocou a referencia sobre o post que voce explica tudo sobre a vitamina B-12 e lendo o post que não tinha visto, de 2011, obtive a resposta sobre a dúvida que tinha.
🙂
Adorei este post. Em casa é proibido jogar comida fora sem ter tentado uma “respiração boca a boca” antes hahaha! Sempre reciclamos: vegetais meio murchos viram fritadas, arroz vira arroz de forno, macarrão vira yakissoba vegetariano. Sempre reciclamos. Com um mundo onde alimentos saudáveis estão cada vez mais escassos, não podemos nos dar ao luxo de jogar dinheiro e trabalho de quem os plantou e colheu no lixo, não é mesmo?
Dificilmente comento, mas ADORO seu blog. Não sou vegan – como peixe, ovos e derivados de leite, mas adoro como você traz opções para todos se alimentarem de maneira mais saudável e como mostra que não é preciso gastar mais para isso. É só aprender!
Um super beijo!!