Deixei Beirute duas semanas atrás, passei uns dias em Paris e já estou confortavelmente instalada no meu novo lar (provisório, como é o costume) em Londres. Fico aqui até o início de julho, trabalhando no mesmo lugar onde trabalhei ano passado. Vim aqui só dar sinal de vida e tirar a teia de aranha do meu bloguito. Mas já que cheguei, vou aproveitar pra contar umas coisinhas miúdas que aconteceram nos últimos dias, pra distrair vocês do fato que hoje não tem receita.
Eu não sei vocês, mas sempre me questiono se namoraria uma pessoa onívora. Tive essa conversa com Anne algumas vezes e nenhuma de nós temos uma resposta pronta. Eu namorei uma pessoa onívora muitos anos atrás, logo depois de ter me tornado vegana e a experiência foi tranquilíssima. Além de nunca comer nada de origem animal na minha presença, chegando a retirar tudo que não era vegano da sua cozinha quando eu fui passar férias na casa dele, esse ex adorava a minha comida e sempre aceitava comer em restaurantes veganos quando viajávamos juntos. Nunca reclamou, nunca disse que estava sentindo falta de carne e, o que me deixava extremamente feliz, ele se deliciava com os pratos veganos que comia. Mais recentemente colori uma amizade com uma onívora e ela, além de ser uma das maiores fãs da minha comida, se interessa muito por veganismo, sempre pediu receitas veganas pra fazer em casa e respeita muito esse estilo de vida. Minhas duas experiências trocando fluidos com pessoas não veganas foram positivas porque as duas pessoas em questão nunca desrespeitaram minha escolha, nunca fizeram piadas e têm a mente e as papilas abertas. Algumas semanas atrás, pouco antes de sair de Beirute, conheci uma libanesa, que por acaso era chef, e a química foi instantânea, até o momento que ela soltou, do nada: “Nunca poderia ser vegana. Eu amo manteiga demais!” E mais tarde ainda teve a infeliz ideia de fazer piada com um brownie não-vegano que estava na mesa dizendo: “Tá parecendo gostoso demais pra ser vegano, né?” Tão desnecessário… Quando contei isso pra minha prima Flora ela disse: “Tem gente que é meio malvada quando paquera. Imaginam que ser gentil vai fazer com que a outra pessoa se desinteresse.” Não sei se essa foi a razão dos comentários desnecessários, mas se foi o caso então me desinteressei ainda mais. Flora disse que ia fazer uma camiseta com os dizeres: “Gentileza é sexy” e eu não podia concordar mais. Mas estou divagando. Continuo sem ter resposta pronta pro questionamento do início do parágrafo, então vou continuar analisando caso por caso. Mas confesso que meu coração herbívoro está achando cada vez mais difícil se relacionar com não veganas. Pessoas veganas lendo esse blog, vocês têm opinião formada sobre o assunto?
Fim de semana passado eu estava no trabalho, quietinha no meu canto, quando um dos seguranças do lugar se aproximou e começou a puxar conversa. Em menos de 20 segundos ele perguntou se eu tinha namorado. “Na verdade sou casada”, respondi. “Seu marido mora aqui também?” “Não, minha esposa mora em Berlim atualmente.” “Seu marido?” “Minha esposa.” (Ele deve ter pensado que eu estava confundindo as palavras em Inglês). “Ah. Então você é daquelas.” “Sim. Sou daquelas.” “E quem é o homem?” (achei que tinham parado de fazer essa pergunta uns 20 anos atrás) “Ninguém é o homem. As duas são mulheres” “E vocês têm filhos?” “Não.” “Vão tomar injeção de esperma pra ter filhos?” “Como? Não, não. Nada de injeção de esperma pra mim, obrigada.” “Você nunca encontra os homens?” “Não, nunca encontro os homens” (imaginei que o “encontrar” dele era no sentido bíblico) “Então você é assim desde o começo?” “Sou assim desde o começo”. Nesse ponto da conversa alguém veio busca-lo pra fazer não sei o que na entrada do mercado e foi um alívio ver essa conversa estranhíssima acabar. Contei pra minha irmã o ocorrido e ela disse: “Ai, Sandra, você tem muita paciência. Eu tinha mandando ele pastar na hora.” Mas a verdade é que a conversa foi tão surreal e me pegou tão desprevenida que fui respondendo tudo meio em choque, mas ao mesmo tempo sentindo uma certa pena da criatura fazendo as perguntas. Depois ri muito. Tadinho.
Um parente (adotivo) francês esteve aqui em casa dias atrás e durante o jantar, quando o assunto chegou em política, perguntei se ele sabia o que estava acontecendo no Brasil no momento. Ele disse que não tinha ideia, que não tinha acompanhado nada e que por favor explicasse pra ele que confusão era aquela que o assunto o interessava. Respirei fundo e comecei minha dissertação, mas mal terminei a segunda frase que ele declarou, sorrisão paternalista na cara e num tom de voz doce como se estivesse falando com uma criança: “Oooooh! Não é isso, não, imagina.” Ele não estava discordando do meu ponto de vista político, ele estava afirmando que eu não tinha entendido nadica de nada (no sentido semântico da coisa) e que ele, que 20 segundos antes tinha declarado não ter a mínima ideia do que se passava no Brasil, sabia melhor que eu. ‘Mansplaining’ (quando um homem “explica” de maneira condescendente algo que ele estima que a mulher não entendeu) total. Não é a primeira nem a segunda vez que esse senhor faz isso comigo. E claro que tive o desprazer de ver muitos, muitos outros homens fazendo a mesma coisa. Mas dessa vez fiquei de bobeira com as circunstâncias. Mesmo quando o camarada acabou de declarar não saber bulhufas de um determinado assunto, ainda assim ele se sente no direito de afirmar que sabe mais do que a mulher que acompanha de perto o dito assunto há meses.
E agora vou descer pra cozinha preparar alcachofras, pois prometi a Andrew, o senhor de 74 anos que me hospeda aqui, que faria o jantar hoje. Ele geralmente cozinha pra si, já que chego tarde do trabalho. Mas nas segundas estou de folga e aproveito pra passar um tempinho com ele ao redor da mesa. Essa receita eu aprendi com Valentina, que me hospedou em Beirute, e prometi à uma leitora que ia publica-la aqui um dia. Alguém mais interessado em ver como se prepara alcachofras?
Eu amo alcachofras! Não sei se vou achar pra vender em Recife (só acho em conserva), mas quero ver a receita…
Tem um tempo que não venho aqui, mas suas estórias são muito impactantes para mim. Uma das coisas que me ajuda é entender que preciso desconstruir muito do que foi me ensinado para erguer estruturas novas e acho q vc me ajuda a pensar nisso.
Interessante esse texto. Sou onívoro e me fez pensar um pouco. Mais interessante ainda é o fato desse ser o primeiro post não-receita que leio. To aqui me perguntando por que me atraiu. De toda forma, deixo aqui um agradecimento tardio. Sigo o blog já há algum tempo. Uma amiga me apresentou a série de posts sobre alimentação saudável e eu desde então (acho que faz mais de ano já) venho tentando melhorar meus hábitos. =)
Ps.: acho que nunca como alcachofras
oi Sandra, muito muito interessada em ver como se prepara alcachofras! Que maravilhosa notícia saber que estás de volta a Londres, vamos tomar café ao le pain para me contares tudo de Beirute? Obrigada pelo post, adorei. muitos beijos, inês. ps: tá chegando o festival do hummus aqui em londres!!
Sim, sim! Vamos nos encontrar aqui em Londres 🙂 Quando? Me escreva um email. Beijos
Acho que nunca comentei aqui. Me sinto tão íntima sua, olha só, que parece que já conversamos sobre cada postagem. Saiba que, apesar de não ter a minha voz mais frequente por aqui, estou sempre te ouvindo e, quem sabe um dia, terei o prazer de trocar conversas reais (não como as minhas, rs) contigo. No momento, me contento em dizer que sim, tem dias em que é difícil ter contato com pessoas, mas não me restrinjo às onívoras. Como você disse, já teve pessoas onívoras interessadas e atenciosas à sua volta. Talvez o problema seja a falta de pureza em certos indivíduos. E daquela palavra que é tão mainstream agora, mas não vejo problema algum nisso: a tal da empatia. Essas historietas suas me são comuns que parece que estamos no mesmo filme, sabia? Moro em uma cidade do interior de São Paulo e meus pés nunca foram muito longe de casa, mas por aqui as cenas são as mesmas. Não sei, você acredita em algo sobre evolução pessoal? Que quando você se abre para um assunto, outros vão se abrindo também (ih, expliquei bem, faz sentido??)? Parece que pessoas assim se fecharam para a vida e para o próximo. São invasivos e estão sempre na defensiva, chegam até a machucar. Não digo isso com tom de superioridade, pelo contrário. Acho que tenho sempre algo a mudar, né?
Não vou me alongar, afinal, estou aqui como uma boa ouvinte. Me lembrei desse texto antigo, que talvez te embale por aí e te mostre um pouco da importância dessas suas histórias miúdas estarem por aqui:
http://www.nytimes.com/2011/12/11/opinion/sunday/in-africa-the-art-of-listening.html?src=me&ref=general&_r=0
: )
Eu tb acho a estranha a situação oposta. Sai por uns dois meses com um vegano, e cada escolha que eu fazia, seja de comida, seja de vestuário era como se eu tivesse cometido um crime. Eu simpatizo com a ideia do veganismo, mas sou onívora, quem sabe um dia no futuro eu mude de ideia, mas não vai ser me criticando porque usei uma bolsa de couro (que eu já tinha) ou porque tomei um café com leite que me fará mudar. Difícil a adaptabilidade dos dois lados. Acho q só com paciência, porque se os dois lados realmente quiserem ficar juntos isso vai ser uma dificuldade, mas não um ponto final.
E sim, alcachofras, please!!!
Alice, adorei ler a experiência de alguém que está do lado de lá. Obrigada por ter compartilhado isso aqui conosco. Eu respeito e entendo pessoas veganas que decidem não namorar pessoas onívoras. O que não entendo é quem decide namorar com uma onívora e faz o que esse seu ex fez.
Eu acho que homem tem essa tendência de exigir militância da parceira e de ficar cobrando coisas delas como uma estratégia de controlar e subjugar a parceira, é mais como se usasse veganismo como uma extensão do machismo deles. Esse comportamento de ficar julgando e cobrando é extremamente nocivo e sinto muito que você tenha passado por isso 🙁
Eu como mulher e vegana nunca tive essa postura com as pessoas com quem tive relacionamentos, inclusive tinha muito medo de incomodar, evitava tocar no assunto e comer fora por conta disso, mas tive sorte de algumas dessas pessoas serem bem abertas e entenderem. Também não vejo as meninas veganas que conheço fazendo essas coisas, geralmente elas adoram cozinhar pratos veganos para as pessoas mas não ficam cobrando que os outros adotem os mesmos hábitos alimentares do que elas. Olha como a socialização dos dois gêneros impacta até a militância, né?
“é mais como se usasse veganismo como uma extensão do machismo deles.” Falou tudo!
Essa relação de gênero e ativismo é mesmo muito forte. Eu sou vegana e tenho um amigo onívoro bem aberto pra ouvir (não sou de pregar a palavra de Jeovegan, mas se me perguntam, não poupo quem perguntou da verdade :P), comer e cozinhar comidas veganas.
Daí que outro dia ele me chega dizendo que, numa conversa com outras 3 mulheres (ele era o único homem), em que uma delas tinha uma postura até meio anti-vegana, ele ficou discutindo com ela e defendendo o veganismo. Não presenciei a conversa, mas confesso que só essa informação me fez parar e dizer “cara, vc tá fazendo tudo errado!” Ele nem é vegano e tava querendo explicar pra uma mulher que a postura anti-vegana dela tava errada. Oi?
Acredito que ele tenha, sim, aprendido e repensado várias coisas, pelas nossas conversas e pela convivência com pessoas veganas com quem ele se relaciona, mas se ele próprio não usou essa informação pra repensar os seus hábitos, pq ele acha q a postura ‘pró-vegan’ (pero no mucho) dele é mais válida que a postura anti-vegana da mulher?
Só a deusa, viu?
Receita de alcachofras please Sandra! Eu nunca comi alcachofra precisamente porque não sei preparar (não encontrei ainda uma receita confiável) e não quero comprar as de conserva. Bjs e adorei esse post
Quando conheci meu namorado ele já sabia o que era veganismo, o que é muito incomum para essas bandas de cá, o que facilitou muito as coisas entre nós.
Hoje, quatro anos depois e morando juntos, ele já não come mais nada de origem animal.
Sempre levo numa boa as brincadeirinhas sobre meu estilo de vida, é inútil explicar para alguém que não tem motivação ou sensibilidade nenhuma sobre o tema… Hoje penso que cada um faz o que traz felicidade para si, mas se tiver interesse ou curiosidade estou sempre à disposição.
Quanto ao machismo, eu já passei por situação parecida, outro dia fui buscar o carro na oficina e quem me atendeu soltou essa:” Eu vou tentar te explicar, mas sei que você não vai entender”. Não ia perder meu dia por conta disso, faço engenharia e ia entender perfeitamente, peguei as chaves da mão dele, agradeci e dei as costas. Eu sei que podia dizer N coisas, mas fiquei tão indignada que não disse nada, infelizmente.
Aguardando as receitas!
Sucesso, Sandra!
kkkk Sandra, como diz o ditado, às vezes é melhor fazer ouvido de mercador para nao se aborrecer e criar confusao. Adorei o seu Post e aguardo desde já ansiosa pela receita com alcachofras. 😉
Também amo alcachofras, feministas e veganos. Espero que o futuro da Terra esteja cheio deles (no caso dos/as feministas. eu espero que sejam desnecessários). Ah, sim, as pessoas como esse segurança às vezes só estão querendo aprender. Não há maldade, julgamento ou discriminação. Somente (às vezes!) curiosidade. Hoje não namoraria alguém que fumasse, gostasse de bebida alcoólica ou não fosse pelo menos vegetariano. Não teria paciência.
Ahh, eu gostaria de saber como se prepara alcachofa
Meu esposo não é vegano. Quando decidi me tornar vegana não discuti previamente o assunto com ele. Mas ele não poderia ter reagido de maneira melhor, respeitou muitíssimo minha decisão, embora ele tenha outra percepção sobre o assunto dos animais, concorda com as questões ambientais envolvidas e passou a comer comida vegana comigo em casa, ele elogia meus pratos quando dão certo e sempre é muito receptivo às minhas tentativas culinárias. Considero esse um momento importante na história da nossa relação, tive certeza do respeito que ele tem por mim.
Para mim, a resposta para a pergunta: “você namoraria um onívoro?”, é sim. Mas nunca será possível namorar, imagine amar, alguém que não te respeite.
Bonsoir, Sandra!! Depois de um longo inverno, volto aos comentários. Mas não deixei de ler seus posts que recebo por e-mail! 🙂
Infelizmente, algo que falta no mundo de hoje, independente de qualquer coisa, é alteridade. Alteridade significa respeito às diferenças. Ou seja. Não importa religião, ideologia, língua, cultura, identidade sexual, torcida, preferências, o que importa é que irei respeitar o seu ponto de vista, ainda que não concorde com ele.
Se eu tivesse que recebê-las em nossa humilde residência, por exemplo, eu, mesmo sendo onívoro e minha família também, não teria problema nenhum em veganizar o que fizesse pra você, pelo respeito ao seu veganismo. Isso é alteridade. Se eu concordo ou não, não importa.
Interessante é que, por exemplo, se você não fosse vegana, mas fosse, por exemplo diabética, ninguém questionaria se você usasse adoçante culinário ao invés de açúcar, não é verdade? Eu não consigo entender essa diferença.
E temos pessoas que têm uma necessidade quase mórbida de perguntar e depois discordar de alguém. É algo que creio ser patológico.
Beijos, saudades, e paz e luz na sua nova fase!
🙂 Hahaha, Litmus paper . ha?
Oi Sandra,
passei pra ler tua postagem e me identifiquei muito. Me identifiquei com os que fazem as perguntas ‘cretinas’, porque já fiz isso muitas vezes. Mas não por maldade, por ignorância, mesmo. Ignorância, no sentido de ignorar a verdade, não conhecer, e ter curiosidade. Claro, que tem maneiras e maneiras de perguntar, e também saber pra quem se pergunta algo. Mas imagino que tu sejas uma pessoa de muita luz, isso faz com que as pessoas que precisam se elevar, se ‘imantizem’, então só tenho que te agradecer por iluminar as consciências por aí – e a minha também.
Abraços
Oi Sandra! Eu nunca comentei aqui, mas há tempos amo teu blog. Venho de vez em quando, como que para não gastar tudo de uma vez, sabe?
Sobre o teu questionamento, acho que as perspectivas mudam um pouco de pessoas onívoras ou veganas. Eu sou onívora, venho de uma família que venera carne e nos últimos anos tenho questionado muito esse consumo – passo tempos sem comer carne, aí então experimento uns dias veganos e assim vou. Muita gente sentiu esse movimento e me perguntam se parei de comer carne, apesar de eu nunca ter tido conversas sobre isso com várias dessas pessoas. Percebo que os modos de perguntar variam muito, desde curiosidade até a ironia e desdém. Por conta disso, e também por ver muitos amigos vegetarianos serem hostilizados com piadinhas, eu entendo o pé atrás de um vegano em ter uma convivência mais próxima com um onívoro. Porém, tendo a concordar com o grupo de pessoas que disse que o que nos falta é empatia, alteridade e respeito nas relações. Convivo com grupos de pessoas muito diferentes e algumas têm visões mais conservadoras sobre a vida que eu procuro respeitar, se isso não estiver machucando ou oprimindo alguém. A recíproca, no entanto, não costuma ser verdadeira: fico pasma com o tanto de gente que faz piadas, questiona e me ofende porque tenho o pensamento diferente do dominante. É triste, mas parece que muita gente não está disposto a aceitar o outro, mesmo que a escolha da pessoa não fira em nada ela mesma.
Um beijo!
Oi Sandra, tudo bem?
Gostei do post, sempre me pego pensando sobre essa essa questão do relacionamento, (de qualquer tipo), entre veganos e onívoros. Principalmente por que fui vegana, me tornei onívora e voltei a ser vegana há alguns anos.
Eu acho que com veganismo se tornando cada vez mais popular, (do tipo que até a Beyonce diz que é vegan as vezes, hahah), isso já não é suficiente criar uma relação de identidade entre as pessoas.
Hoje eu vejo veganos anti ecológicos (!), alienados politicamente, machistas… enfim…
Outro dia tive um ‘blind date’ com um vegano e achei que isso poderia nos aproximar, mas o cara era um poço de machismo. Tampouco me identifico com a maioria dos lugares veganos que tem pra comer em São Paulo, cheios de junk food de má qualidade, comida imitação de carne e idolatria de produtos americanos.
Acabo me sentindo mais a vontade com meus amigos onívoros que sabem o que é um jiló, um inhame e me fazem bolo vegano de aniversário.
Tenho curiosidade de saber, se você percebe isso, viajando bastante e estando em contato com diferentes nacionalidades de veganos, existe diferença no veganismo em cada país, cidade? Daria um texto incrível isso!
Acho que já faz um tempo que não leio seu blog, e é primeira vez que deixo um comentário. A um tempo minha namorada me apresentou seu site, apesar de onívoro gosto muito de comidas veganas, principalmente picantes. Gosto ainda mais de cozinhar receitas para ela.
Mas entrando no assunto de namoro, eu acredito que se a pessoa aceita como você é nada melhor do aceitar como ela é (dentro do respeito) e ambas as partes vão se encontrar em constantes mudanças positivas, não porque uma exige da outra mas porque há sempre um aprendizado e são positivas pelo desejo do bem-estar do seu parceiro. Um dia a minha namorada disse meio triste, alguns anos atrás, que não sabia como podia criar um filho com um pai onívoro e uma mãe vegetariana (um dia possível vegana) já que ela cresceu educada assim. Parei uns segundos, olhei para parede, respirei, olhei a parede no seu canto sujo e e divaguei por um segundo, então olhei para ela para pensar melhor e lembrei de como eu gosto de estar do lado dela e que para continuar gostando daquele jeito, naquela essência eu deveria ser bem honesto sobre meus sentimentos ou tudo aquilo seria mentira. Disse lhe que jamais desrespeitaria o desejo dela, como mãe, de alimentar nosso filho sem carne, mas não esconderia quem eu sou para meu filho e no momento que minha criança tivesse discernimento suficiente e escolhesse experimentar carne eu iria mostrar para ela e sem esconder da mãe o que aconteceria. Também nunca trago carne para nossa casa (moramos juntos hoje em dia) e nem desejo porque sei como o cheiro e gosto pode impregnar a casa e utensílios. Posso muito bem ficar feliz comendo fora de casa e muitas vezes evito porque não quero ficar com bafo anti-beijinhos mesmo porque dividir comida com ela é bem mais gostoso.
Ninguém vem pronto quando começa o relacionamento, é um trabalho em conjunto com muito esforço. Cansei de ouvir amigos dizendo que eu tinha sorte por ter um namoro feliz. Não é sempre feliz, nunca vai ser e se fosse seria estranho, porque se só houvesse felicidade ao mesmo tempo não existiria, ela só é reconhecida e almejada quando experimentamos tristeza (não sei se faz sentido para você). Claro que nem toda tristeza é derivada do parceiro, mas é como ele trata sua tristeza é que faz diferença, como ele cuida de você e vice-versa. E assim toda vez que ouço de alguém que tenho sorte e que para ele ou ela é muito difícil já imagino, inicialmente, que essa pessoa tem medo de se esforçar para o amor. Eu não tenho sorte, eu sempre procurei alguém e quando encontrei me comprometi em me empenhar para fazer essa pessoa feliz e assim ter o direito de ser feliz com ela.
Gosto de pensa na hipótese de que se um dia essa pessoa não conseguisse mas ser feliz do seu lado, mesmo estando tudo bem entre vocês, e você ainda amando muito ela. Só restará se afastar dessa pessoa porque o contrário só provaria que você não a ama de verdade, amor é sempre incondicional, quando não é acaba sendo possessão, loucura, sofrimento para ambos. Claro que paixão em pitadas bem manejadas é gostoso e ajuda o casal, mas é só um parte pequena.
Escrevi mais do que esperava, espero não te entediar com tudo isso, gosto de compartilhar experiências. E para finalizar digo que antes de pensar se você aceita ou tolera algo em qualquer coisa, veja primeiro coisas que essa pessoa aceita em você.
PS: Na história da criança e sua criação hipotética, depois da minha resposta, minha namorada me abraçou, chorou e só disse que me amava muito, desde então essa resposta bastou até o momento. Ela que 3, eu quero 2 e um dia vamos ter que resolver isso.
Oi Sandra gosto muito de ler você…e de Londres. Sou vegan tb é concordo que está cada vez mais difícil fazer amizades e manter amizades com onívoros, pelo menos a maioria deles. Sou casada, mas se tivesse que conhecer pessoas para se relacionar hj em dia, seria um tormento muito grande.