Eu tinha várias coisas pra contar. Fotos pra compartiilhar. Aconteceu tanta coisa bacana por aqui nas últimas semanas, mas aí ontem a PEC 241 foi aprovada no primeiro turno. Revolta e indignação entraram (mais uma vez) no menu e o resto foi temporariamente pro segundo plano. Num momento de desespero lembrei de Manuel Bandeira e pensei: “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
Mas hoje acordei menos pessimista (mas ainda com vontade de tocar um tango). Telefonei pro meu pai, um agricultor de mais de 70 anos que foi sem terra durante muitos anos e fazia parte do MST, que, tão indignado quanto eu, me disse: “Minha filha a única saída é uma revolução. Eu tenho fé nos jovens. Eles têm que ir pra rua lutar contra essas injustiças.” Então me emocionei e chamei a minha mãe pra fazer pão de queijo vegano comigo. Porque quando a esperança volta, a vontade de cozinhar vem junto.
Fazia anos que eu queria fazer pão de queijo vegano, à base de macaxeira. Como nos países por onde ando geralmente não tem macaxeira, sempre me dizia que faria a receita durante as férias, aí chegava aqui e esquecia. Dessa vez foi diferente e desde agosto, quando cheguei em Pindorama, já fiz esse pãozinho várias vezes. Algumas foram mais bem sucedidas que outras e ainda estou ajustando uns detalhes da receita pra ficar perfeita. Mas compartilhei a foto desses pãezinhos no Instagram e me pediram a receita. Então aqui está a versão que mais me agradou até agora.
Minha mãe, que não é vegana, mas é intolerante à lactose, adora esses pãezinhos. Ela até posou segurando os dito cujos pra mim hoje. Na verdade a minha família inteira, que é onívora, aprovou a receita. A gente gosta de degustá-los com um café quentinho e é um prazer imenso que há muito eu não sentia (fazia uns 10 anos que eu não comia pão de queijo).
Então já sabem. Quando tudo ficar cinza, sua fé na humanidade for testada e bater aquele desespero, a única coisa a fazer é pão de queijo vegano.
Pãozinho de macaxeira (pão de queijo vegetal, sem gluten)
Pra quem não sabe cozinhar macaxeira, uma explicação rápida. Lave bem, descasque e corte em pedaços médios. Cubra com água e leve ao fogo. Eu gosto de cozinhar na panela de pressão, pra ficar bem macia, mas você também pode cozinhar em uma panela comum, tampada. Dependendo da macaxeira ela vai levar mais ou menos tempo pra cozinhar. Deixo uns 20 minutos na pressão (depois que começa a chiar). Se estiver cozinhando em uma panela comum vai demorar mais. Nesse caso espete uma faca pra testar o cozimento.
200g de macaxeira cozida (deixe ficar bem macia)
50g de polvilho doce
50g de polvilho azedo
4cs de azeite
1cc de sal
Opcional:
-1cs de chia
-1cc de orégano
Aqueça o forno (200 graus).
Amasse a macaxeira usando um espremedor de batata (retire o pavio antes de espremer). Junte os outros ingredientes e amasse bem com as mãos. Dependendo da umidade da sua macaxeira (algumas são bem secas e firmes, outras mais moles) você pode precisar de um pouco mais de polvilho (acrescente uma colher de sopa rasa por vez). A massa deve despregar das mãos, sem grudar (fica parecendo massinha de modelar).
Retire pequenas porções de massa e enrole entre as mãos, formando bolinhas. Gosto de fazer bolinhas bem pequenas, que você come de uma mordida. Disponha as bolinhas de massa em uma assadeira (não precisa untar nem enfarinhar) e coloque no forno pré-aquecido. Asse até ficar levemente dourado, aproximadamente 20 minutos. Rende aproximadamente 30 pãezinhos. Lembre que se fizer bolinhas maiores o tempo no forno será mais longo.
Oi Sandra! “Porque quando a esperança volta, a vontade de cozinhar vem junto” Idem! \o/
Venho fazendo esses pãezinhos ha algum tempo, pois é uma opção prática, saborosa pro dia-a-dia, vegana e sem glúten, faço uma boa quantidade e congelo pra semana. Aprendi versões com batata baroa, batata doce e batata inglesa (um pouco mais pobre nutricionalmente, mas quebra o galho quando é a única opção disponível), mas nunca havia visto alguma opção com aipim, resolvi testar, dando certo resolvi inventar um pouco mais: fazer na frigideira! E ficou incrível! Faço uma bola e abro com rolo (ou garrafa) formando um disquinho, tosto um pouco de um lado e do outro, que nem pão sírio, fica uma delícia meio tostadinho! Também costumo colocar cúrcuma e levedo de cerveja pra temperar a massa. Testei a versão com batata na frigideira, mas não ficou a mesma coisa que com a massa de aipim. E ainda dá pra fazer pizza de frigideira com essa massa, fica show! Tô me sentindo genial! ><
Nossa, quantas dicas bacanas! Obrigada por compartilhar 🙂 Vou testar.
Eu amei a idéia da frigideira!!! Meu forno é um antigo de seis bocas, imagina o tempo que leva pra esquentar e o tanto de gás que gasta! Obrigada pela dica!
Sandra, independente da qualidade de suas receitas (e sempre com muita qualidade!) e de sua militância pelas causas vegana e humanista, sou muito fã (também) da qualidade poética de seus textos…me delicio com eles, duplamente… Se me permite, um beijo!
Que delícia! Tenhamos fé msm é nos jovens! Pois tá difícil!
Hum!!! Uma delícia!!! Eu sempre faço com inhame, no lugar da macaxeira e em vez de colocar no forno, faço na sanduicheira elétrica.. fica pronto em quinze minutos!! Também da pra rechear, depois de assado, com geléia caseira de fruta ou com ricota de tofu, temperada com zaatar, oregano ou alga nori picadinha… Fica muito bom!! Abraço, Sandra!! Adoro suas histórias e receitas!!!
Grata, Sandra, por mais esta partilha.
Acabei de preparar e assar os pães . Usei óleo de coco. Ficaram muriti
bons!
Que saudade de ler seus textos! Minha esperança ainda não se renovou e estou muito assustada com tudo, por isso não fui pra cozinha fazer pão de queijo. Realmente, em momentos esquisitos/tenebrosos, tenho menos vontade de cozinhar.
O resultado foi que fui cozinhar _ não foi o pão de queijo, mas era almoço vegano _ ouvindo tango argentino e minha filhota ficou aperreando o tempo todo preu deixar a cozinha e ir dançar com ela. Gratidão por seu texto esperançoso!
Sandra,
Você sabe qual a diferença entre arrawroot tapioca flower? Eu moro nos eua e aqui não encontro polvilho, sempre substituo por uma dessas farinhas. Não fica igual, deve ter algum jeito de fazer melhor, mas já mata aquela saudade!
Eu sou onívora mas adoro mandioca (lá em Minas…), vou testar essa versão!
“Se os velhos pudessem e os jovens soubessem não haveria nada que não se fizesse”
Adorei a receita,pratica,simples e deliciosa! Obrigada
Olá. Já fiz com nhame e mandioquinha,tanto juntos como separados.ficam bons. Vou tentar com a mandioca…