Cheguei em Paris no início de setembro, mas só agora, quase quatro semanas depois, pude desfazer a mala, me assentar e ter a sensação de ter, enfim, chegado. É uma longa história que contarei outro dia.
Estou vindo do Brasil, onde, pelo segundo ano consecutivo, fiquei três meses inteiros, combinando férias, visita à família e trabalho. E assim como em 2018, viajei bastante pelo Brasil, participei de eventos muito bacanas, encontrei pessoas incríveis e juntei forças com quem está articulando a revolução por lá. Também tenho muito o que contar sobre a passagem pelo Brasil esse ano, mas também vai ficar pra outro post. Hoje eu vim compartilhar mais uma receita que fez sucesso com a minha família durante as férias.
Não posso alegar que a ideia foi minha, já que vi variações dessa receita em vários lugares. Mas geralmente era chamado de “ceviche de coco”, uma versão vegetal do prato peruano à base de peixe.
Então usei a polpa do coco verde, mas ligeiramente maduro (não confundir com coco seco, o que é usado pra fazer leite!), verduras e algas em flocos. Adoro algas e não perco uma oportunidade de cozinhar com elas. Li em alguns lugares que ficava muito parecido com peixe, tanto o gosto quanto a textura. Achei muito bom, mas não ficou nem com sabor nem com textura de peixe. Então pensei: “Por que estou tentando transformar o coco, essa coisa tão maravilhosa e perfeita, em algo que ele não é? Pior, em algo que eu não considero mais como comida?”
Na segunda vez que fiz esse prato deixei as algas de fora e decidi que chamaria de “vinagrete de coco”. Ficou maravilhoso! E, o que fez com que eu gostasse ainda mais desse prato, eu sempre conseguia o ingrediente principal gratuitamente. Em lugares onde se vende água de coco verde, a polpa do coco geralmente acaba no lixo. Eu comprava água de coco na feira da agricultura familiar, em Natal. Arimateias e Adonias, os dois irmãos que vendem água de coco por lá (além de muitos outros vegetais) deixavam eu levar pra casa quantos cocos abertos eu quisesse. A gente comia a polpa mais verde (aquela bem gelatinosa) e eu usava a polpa mais firme, dos cocos mais maduros, pra fazer essa vinagrete. Além de deliciosa, é uma receita que evita desperdício.
Já não me interessa mais fazer imitações de pratos carnistas. O que me anima hoje é o desejo de expandir os horizontes da gastronomia vegetal, usar plantas de maneiras inusitadas e deixar a criatividade correr solta. Criar, não imitar. Mas, como meu companheiro de panelas Ruan Felix diz, pessoas veganas também tem um papel importante na construção de uma culinária vegana autêntica, que vai além de imitações de pratos com animais e seus derivados. Nós, cozinheiras e chefs, precisamos de abertura do lado de vocês.
Então além de compartilhar essa receita deliciosa, vim aqui fazer um pedido: ousem provar coisas novas. Coxinha de jaca e burger veg são ótimos, mas tem muito mais coisa pra gente comer. E apoiem quem está na cozinha se aventurando nessa nova fronteira gastronômica vegetal.
Vinagrete de coco
A polpa ideal pra fazer essa receita é firme e opaca (veja a foto acima), sinal de que o coco está amadurecendo. Não confundir com a polpa do coco bem verde, que é ligeiramente translúcida e gelatinosa, nem com coco seco, cuja polpa é dura, oleosa e usada pra fazer cocada ou leite de coco.
Polpa de dois cocos verdes (veja explicações acima)
1/2 cebola (roxa ou branca)
1/2 pimentão verde
1 tomate
2-3 cebolinhas (a parte branca e verde)
Um punhado de coentro
2 pimentas de cheiro (opcional)
Suco de limão e sal a gosto
Pique a polpa do coco grosseiramente. Corte em fatias finíssimas (em meia-lua) a cebola. Pique miúdo o pimentão, o tomate, a cebolinha (parte branca+verde), o coentro e a pimenta de cheiro. Misture tudo, tempere com limão e sal a gosto.
Você pode servir a vinagrete imediatamente, mas ela fica ainda melhor se descansar pelo menos duas horas na geladeira antes de ser degustada. Rende cerca de 4 porções.