Caldo da caridade, uma releitura

É comum ouvir reclamações do feijão macaça (fradinho), pois o bichinho dá caldo ralo. Eu cresci comendo esse feijão e até hoje meu tio planta ele lá no Sertão. O que parece problema é na verdade uma bênção. Quando eu era menina minha mãe cozinhava esse feijão, depois jogava uns temperos na panela e oferecia o caldo puro, no copo, pra acalmar o estômago que roncava antes da hora do almoço. Era o lanche das 11h. Ela aprendeu isso com a mãe, que fazia render ao máximo o pouco de comida que tinha.

Dias desses cozinhei feijão macaça, o que sempre me deixa nostálgica, e lembrei de outra coisa que minha mãe fazia: caldo da caridade. É uma especialidade sertaneja e minha mãe contava que vó fazia isso quando passava alguém pra pedir comida e não tinha mais nada pra oferecer. Imagino que venha daí o nome. Os ingredientes são dos mais humildes: alho, coentro, farinha de mandioca e água (tem uma versão com ovo, aí é Cabeça de Galo). Vi o caldo do meu feijão macaça e pensei em fazer um caldo da caridade usando ele ao invés de água. Ficou poético e comi com lágrimas nos olhos.

Caldo da caridade – com caldo de fejão macaça/fradinho

Cura resfriado, fome, ressaca e saudade do Sertão.

1 cs de alho picado
2cs de óleo (ou azeite)
1 concha de grãos de feijão macaça (fradinho) cozido
4 conchas do caldo do feijão macaça
4 cs de farinha de mandioca fina (peneirada, se necessário)
Um punhado de coentro picado
Limão pra servir

Refogue o alho picado no óleo até começar a dourar. Minha mãe usava muito alho e além de ser o responsável pelo sabor da receita, deve vir daí a crença de que caldo da caridade é bom pra curar resfriado. Desligue o fogo. Junte uma concha dos grãos do feijão (pra dar mais sustança ao caldo) e salpique a farinha de mandioca por cima. Junte 4 conchas do caldo do feijão e misture bem. Leve ao fogo novamente e aqueça a mistura, mexendo com uma colher de pau. Não estamos fazendo pirão, então não cozinhe por muito tempo senão vai engrossar demais. Se isso acontecer, coloque mais caldo. Tempere com sal e pimenta do reino a gosto (minha mãe usava muita pimenta, faz parte do poder de cura do caldo). Desligue o fogo e junte o coentro picado. Sirva com um tico de limão. Rende 2 porções.

7 comentários em “Caldo da caridade, uma releitura

  1. Amo tomar caldo de feijão no copo, me acalma demais e é uma delícia. Um grande abraço, gratidão pelo texto, também, delicioso.

  2. Adorei, vou fazer! Aqui na minha cidade é menos de dois reais o quilo desse feijão. Já ouvi fradinho, macaça, mas gosto mesmo é como a minha avó chama: feijão chochabunda hahaha mas acredito que esse problema a gente resolve demolhando os grãos. Bjs, Sandra.

  3. Ô meninaaaa querida,quando leio coisinhas que você escreve sinto vontade abraçar. Abraçar você,abracar quem estiver perto…com lágrimas nós olhos.
    Beijos da sua,
    DI
    (Aquela que é velha demais pra você, portanto se aquietar ai com seu amor lindo!)

  4. Sandra, essa semana cozinhei feijão verde e fiz a sua releitura do caldo da caridade junto com a minha mãe. Ficamos preenchidas de afeto e de sabor. Cozinhar inspirada no seu relato foi uma experiência muito gostosa.

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