Por causa do covid não pude visitar minha família no Brasil esse ano. Então esse verão (europeu) eu passei umas semanas na casa do meu sogro, no interior da França, junto com o resto da família francesa. Nessas ocasiões cozinho bastante, pois minhas cunhadas adoram minha comida. Os homens também gostam, mas as mulheres são as minhas maiores fãs (eu ouvi “A política sexual da carne”?). As irmãs de Anne (ambas vegetarianas) gostam de tudo que eu faço, mas minha cuncunhada alemã (que come animais, mas prefere, de longe, comer vegetais) tem seus pratos preferidos e espera o ano inteiro pra poder degustá-los. E a minha especialidade que ela mais ama e sempre pede pra eu fazer de novo é tagine.
Tagine é um prato dos países árabes do norte da África. Na verdade tagine é tanto uma categoria de prato (legumes e/ou animais cozinhados lentamente com especiarias) quanto o nome da panela onde ele cozinha, feita tradicionalmente de barro, com uma tampa em forma de cone, o que permite um cozimento lento e uma distribuição equilibrada do calor.
Eu passei um mês no Marrocos muitos anos atrás e tive a sorte de aprender a cozinhar essa delícia (assim como o famoso cuscuz marroquino) diretamente com uma marroquina, que me hospedou por alguns dias. Falei disso quando compartilhei essa receita de tagine, que faço sempre no inverno. Mas como era verão eu queria usar os legumes da estação, fiz uma busca na internet e achei uma receita de um tagine argelino que se aproximava do que eu tinha em mente. Adaptei um pouco e o resultado fez ainda mais sucesso do que a versão de inverno.
Como todo bom tagine, esse aqui é suculento e perfumado, rico em sabores e com uma nota adocicada, graças ao damasco seco. É um dos pratos mais deliciosos que saiu da minha cozinha nos últimos anos e entra naquela categoria “pra impressionar a sogra”. Aliás meu sogro, que não é o maior fã da culinária norte-africana e costuma achar que um prato nunca é completo se não tiver animais, gostou tanto que pediu pra eu fazer de novo alguns dias depois, quando ele convidou a namorada nova pra almoçar com a gente. Maior prova de sucesso.
Tagine de beringela (inspirada de uma receita argelina)
Essa receita tem que cozinhar lentamente, em fogo baixo, por algumas horas. Se estiver sem tempo, faça na véspera e sirva requentada no dia seguinte (assim os sabores terão uma chance de se desenvolver, mesmo se você cozinhou rapidinho no fogo algo).
2 beringelas médias, em pedaços grandes
2 cebolas, cortadas em 4 (na foto usei chalotas aqui porque estava sem cebola nesse dia)
4-8 dentes de alho, picados
6-8 tomates bem maduros, em pedaços grandes
16 damascos secos, cortados ao meio (não precisa ser exata aqui)
1 col. de chá de cada (em pó): cominho, cúrcuma, semente de coentro, canela
1 xíc. de grão de bico cozido (reserve um pouco da água do cozimento)
1 molho pequeno de coentro
Azeite (não precisa ser extra-virgem)
Sal e pimenta do reino
Em uma frigideira grande e, de preferência, com o fundo espesso, aqueça uma fina camada de azeite e doure a beringela. Salgue e vire pra dourar do outro lado. Não precisa cozinhar completamente, basta que dois lados de cada pedaço fiquem bem dourados. Reserve e repita a operação com o resto da beringela.
Em uma panela grande e do fundo espesso (pode ser uma panela de pressão, por exemplo, ou de barro, se tiver) aqueça uma boa quantidade de azeite e doure a cebola. Junte o alho e deixe cozinhar mais alguns segundos. Coloque as especiarias na panela, mexa bem com uma colher de pau e acrescente a beringela dourada, o tomate, o damasco, o grão de bico e mais ou menos 1/2 xíc. do líquido de cozimento do grão de bico. Salgue, junte um pouco de pimenta do reino, tampe e deixe cozinhar no fogo alto até começar a ferver. À partir desse momento baixe o fogo pro mínimo possível e deixe cozinhar, tampado, até que o líquido tenha se tornado um molho ligeiramente encorpado. Eu tenho uma panela bem pesada e um fogão de indução, que pode ser reduzido a um calor bem tímido e assim consigo cozinha por duas, três horas. Se seu fogo for mais afoito (o caso de quem tem fogão a gás), cozinhe até chegar no ponto do molho ligeiramente espesso (os tomates se desintegram completamente), desligue e deixe descansar por algumas horas pro sabor continuar se desenvolvendo. Pode inclusive fazer no dia anterior e guardar na geladeira, depois de frio. Aí é só aquecer novamente na hora de servir.
Quando estiver pronto, desligue o fogo e junte o coentro picado. Prove e ajuste o sal. Tagine é tradicionalmente servido com um pão chamado “pão pra tagine”, redondo, chato e bem fofo, perfeito pra absorver o molho maravilhoso. Mas pode ser servido com arroz também (bem menos autêntico, mas ninguém vai julgar).
Rende 4 porções generosas como prato único.
Hmmm salivei! Vou fazer, obrigada por compartilhar <3
Acabei de fazer e ficou divino!! Obrigada por continuar compartilhando suas receitas!
receita divina! tenho feito para amigos. todos adoram. Obrigada!!!
Fica quase uma ratatouille bem temperada com restos de pois chiche de outra refeição.
A diferença para o prato que faço, além da abobrinha – é que estou cozinhando menos os legumes. Assim ficam mais crocantes e vivos. E tem a pimenta, né?
olá Sandra grata pelas receitas! fiz o tagine de berinjela, mas como fiz 1/2 receita, algo desandou. Ficou muito cremosa, a textura parecia uma massa de tomate! O sabor delicioso, não sei se coloquei muita berinjela, mas servi com macarrão farfalle uma parte e o restante usei como antepasto em torradinha, Delicioso! vendo a sua foto, me parece mais líquido do que a que eu fiz. Será que foi muita berinjela que deixou tão cremosa? grata pela atenção e parabéns! abraço
Ou talvez tempo de cozimento longo demais? Legumes bem jovens e frescos cozinham em menos tempo. Mas adorei a ideia de usar como antepasto 😉