Faz pouco mais de um mês que voltei pra França e já estou com saudade das comidas da minha terra. Especialmente essa aqui, que enchia o meu café da manhã de alegria e seria um acalento nas manhãs geladas do inverno europeu.⠀
Primeiro, definições. Munguzá (ou “mungunzá”, ou “chá de burro” – que nome maravilhoso!) é um prato tradicional feito com milho seco e leite de coco. Também conhecido como “canjica” e “mingau de milho”. Os termos “canjica” e “mungunzá” causam bastante confusão, pois na maior parte do Nordeste “canjica” é um prato completamente diferente, embora também à base de milho e coco. Outro dia volto pra compartilhar o que eu chamo de canjica, mas hoje o assunto é mungunzá.
Ele pode ser doce ou salgado, a receita é a mesma. A única diferença é a adição de açúcar na versão doce. Hoje se tornou tão comum colocar leite condensado no mungunzá doce que as pessoas esqueceram que a versão original não levava nenhum produto vindo da exploração animal. E nem precisa! O amido, naturalmente presente no milho, se encarrega de dar cremosidade, que é reforçada pela gordura do leite de coco.
Aprendi a fazer mungunzá com Nalva, que aprendeu com a avó dela, e essa é a receita que compartilho aqui.
Munguzá
Você vai precisar de milho pra mungunzá (amarelo ou branco), que é vendido em supermercados e lembra um pouco o milho pra pipoca. Também de uma panela de pressão e de leite de coco fresco. Pode usar leite de coco industrializado, misturando com um pouco de água pra deixar a bebida mais fluida, mas já vou avisando que o sabor é muito superior quando o leite é caseiro e fresco. As medidas não precisam ser exatas, então essa receita vai sem quantidades. Adapte ao tamanho da sua fome ou família.
Milho pra mungunzá (branco ou amarelo)
Leite de coco fresco
Sal
Pra versão doce
Açúcar
Um pau de canela e alguns cravos
Deixe o milho pra mungunzá de molho em um grande volume de água (fria) por no mínimo 12 horas (de um dia pro outro). Idealmente, deixe de molho por 24 horas.
Escorra o milho demolhado e cozinhe na pressão com o dobro do volume de água e uma pitada generosa de sal. Não precisa de muita precisão: eu coloco o milho hidratado na panela e, no olho, coloco o que imagino ser o dobro daquele volume em água.
Cozinhe por uns 20 minutos (se estiver fazendo uma quantidade pequena), a partir do momento em que a panela começar a chiar. Quanto mais tempo o milho ficou de molho, mais rápido ele vai cozinhar.
Desligue o fogo e espere a pressão sair naturalmente. Abra a panela e veja se o milho está macio (se não estiver, junte mais água e devolva pra pressão por mais alguns minutos).
Cubra o milho cozido com leite de coco fresco (aproximadamente o dobro do volume em leite de coco) e cozinhe destampado, mexendo frequentemente com uma colher da pau, até ficar cremoso e encorpado (de 5 a10 minutos).
Se estiver fazendo a versão doce, acrescente o açúcar (a gosto), a canela em pau e os cravos junto com o leite de coco. Quando ficar bem cremoso, prove pra ter certeza que o doce está na medida que você gosta (corrija o açúcar, se achar necessário). Polvilhe canela em pó na hora de servir, se quiser.
Gosto de comer mungunzá quente, com mais uma pitada de sal, no café da manhã. Também é um ótimo lanche/jantar. Guarde na geladeira e junte mais água/leite de coco na hora de esquentar (fica bem grosso depois de gelado). A versão doce também pode ser degustada gelada.
Fiz chá de burro com essa receita várias vezes (inclusive hoje) e fica muito bom! Por se tratar de um preparo tradicional aqui no Nordeste, prefiro que as medidas sejam a olho, rústicas, como se fazia antigamente. Sempre dou preferência ao leite de côco caseiro e dessa vez irei testar algo, deixá-lo ir não coado. Uso açúcar cristal mas qualquer dia desses, talvez, experimento pôr caldo de cana, hein?
O que seria da gente sem o milho??