Em tempos de pandemia global, não viajamos tanto quanto costumávamos no mundo pré-2020. Mas sei que, aos poucos, as pessoas estão voltando a viajar, por isso aqui está o post falando sobre o lanche que veio comigo do Brasil dias atrás, como prometido.
A ideia é usar isso como ponto de partida pra falar sobre autonomia alimentar e convidar a expandir o olhar quando pensando nessa categoria que chamamos de “lanche”. Mas antes, deixa eu recomendar um post que escrevi há exatos 10 anos falando sobre como ser uma pessoa vegana em viagens. O post se chama “Vegano na estrada” e é puro Papacapim vintage! A maneira como eu escrevia era diferente e leitoras raízes vão perceber que minha escolha de palavras mudou, que hoje uso o feminino como plural – e como genérico- e que não falo mais de “comida vegana” (veganas são as pessoas, a comida é vegetal). Acho uma delícia ter um blog há tanto tempo, pois tenho o registro escrito (e em fotos) da evolução do meu pensamento e do meu trabalho como militante antiespecista. O post está cheio de dicas preciosas pra quem acabou de chegar no veganismo, ou já está aqui há um certo tempo, mas ainda passa perrengue em viagens.
Depois de ler esse post didático escrito por uma versão mais fofa de mim mesma (porque 10 anos mais jovem e meu grau de fofura deu uma baixada boa entre o meu eu de 29 anos e o meu eu atual, prestes a completar 40), voltemos pro lanche da foto acima. Eu ia fazer uma viagem de 24 horas, que envolvia dois aviões e muito tempo de espera no meio. Ali tinha: tofu mexido com tomate, batata doce e banana da terra cozidas, pão com pasta de pimentão vermelho, couve refogada e quiabo grelhado, duas tapiocas com coco (uma delas foi recheada com pasta de amendoim e banana antes de ser embalada), uma maçã e uma barra de chocolate amargo (85% de cacau). Seguem as explicações.
Eu precisava de uma refeição sólida + alguns lanches nutritivos pra chegar do outro lado do Atlântico alimentada. Eu tinha pedido uma refeição 100% vegetal no avião (tem que reservar na hora de comprar a passagem, seja pela internet ou através de uma agente de viagem), mas como geralmente é muito ruim, prefiro sair de casa preparada. Na hora de montar lanches pra viagem penso em coisas que eu gosto muito de comer, porque minhas viagens são tão cansativas que acho importante inserir um pouco de alegria nelas na forma de comida. Fico tão feliz ao abrir a marmita e me deparar com comida que eu amo, ainda mais quando estou exausta e com as costas doendo do tempo passado sentada em poltronas apertadas. Outro critério importante: a comida não pode estragar com facilidade nem fazer lambança na hora de ser degustada (coisas com muito molho ou caldo estão banidas). Percebi que muita gente acha que é proibido levar comida pro avião, mas no Brasil é de boas e em quase todos os outros lugares é possível. Tem países onde não dá pra entrar com fruta fresca, ou com líquidos que tenham mais de 100ml (a Europa é assim, seja o líquido em questão uma bebida ou um produto de higiene pessoal), mas as regras variam de acordo com o país e eu não sou o Google pra saber de tudo (viu como deixei de ser fofa?). Faça uma pesquisa aí pra saber o que você pode ou não levar com você na hora de atravessar os controles de segurança nos aeroportos no exterior.
As refeições vegetais servidas durante o voo SP-Paris (com a Latam) realmente eram muito ruins, mas a comida que eu estava carregando na bolsa foi mais que suficiente pra me alimentar durante todo o tempo que fiquei no ar e em aeroportos.
Agora uma palavrinha sobre o que consideramos “lanche”. Pretendo aprofundar essa assunto em um outro post, mas por hora vamos combinar que o agroalimentar colonizou nossa mente de tal maneira que agora a maior parte das pessoas acredita que “lanche” só pode ser o que vem em um pacote preparado pela indústria. Tem que ser algo pronto e ultraprocessado, como biscoitos recheados, iogurtes de beber, barras ultra açucaradas, achocolatados em caixinhas, salgadinhos… Não estou dizendo que ninguém deve comprar lanches prontos, principalmente se não tiver tempo pra preparar algo em casa. Estou dizendo que ao entender “lanche” como uma refeição pequena, e não uma categoria de alimentos ultraprocessados, faz com que as possibilidades se expandam, trazendo mais diversidade e autonomia pra nossa alimentação. Batata doce cozida? Pode ser lanche. Tapioca com coco? Também. Uma fruta fresca? É lanche! O resto do quiabo com coco ou do creme de milho e cebola do almoço? Podem ir pra dentro de um pão e se tornarem lanche. Esse lanche que você está vendo na foto, por exemplo, foi improvisado horas antes da viagem com as comidas que fui encontrando na geladeira. Tá sentindo as possibilidades se multiplicando?
Nada como colocar a marmita na vida ♡
É mais gostosa e mais prática e mata muito mais a fome do que a maioria das comidas que infelizmente preenchem em sua maioria as cantinas, lanchonetes e etc. O Prato Cheio fez um episódio recentemente sobre isso! Os tais pântanos e desertos alimentares, o aeroporto é um.
Uma curiosidade: você também embala a tapioca em pano pra viagem? Pra ficar sequinha. Pareceu uma boa ideia 🙂
Ouvi ao episódio do Prato Cheio que foi mencionado (A comida ao redor) no Youtube; realmente um aeroporto é algumas dessas coisas (deserto alimentar ou pântano alimentar), porque os restaurantes e lanchonetes nele são caros.
Observação: Quanto a venda de alimentos naturais e industrializados nas lanchonetes do aeroporto, isso eu nunca reparei.
Muito bom o post; porque uma pessoa que lê esse post, tem noção de como se alimentar em uma viagem de avião.
Peguei um voo internacional saindo do Aeroporto de Guarulhos; os fiscais de embarque não me deixaram entrar na área de embarque com embalagens líquidas/cremosas (alguns exemplos: suco, xampu) que tenham mais de 100 ml e tive que deixar o xampu no aeroporto por ter embalagem superior a 100 ml.
Não tinha percebido essa colonização relativa ao lanche.
É impressionante como mudamos e que aparecem novas coisas. Se nesse blog, já fiquei chocado de ter lido que para fazer 1 kg de queijo precisa de 10 litros de leite; no penúltimo vídeo do canal Drica na Cozinha (Como substituir a manteiga na cozinha vegana), soube que para fazer 200 ml de manteiga é necessário 10 litros de leite.
Nossa, que saudade de te ler! Preciso me disciplinar para vir aqui mais vezes, já vi que estou atrasada!
Tem algum segredo pra tapioca aguentar a viagem sem ficar borrachuda, ou muito dura? Ou ela fica e você não se importa?
Pra não ficar dura, tem que ter um recheio bem cremoso (um hummus, por exemplo), ou molhar no leite de coco. Essas eram com coco (fresco), o que as deixam mais úmidas. Mesmo assim a ideia de molhar uma com leite de coco e a outra com pasta de amendoim e banana era pra reter a umidade das bichinhas. Mas mesmo assim a tapioca vai ter que ser consumida nas horas que se seguirem.