Eu já defendi o chuchu nessa receita de tostada. Se você é uma das pessoas que daria o troféu do vegetal mais sem graça ao chuchu, recomendo que faça a receita de tostada, que leva tomate e manjericão, pra começar a mudar sua opinião sobre esse legume tão injustiçado. Por que injustiçado? Porque, como eu já repeti muitas vezes por aqui, “não existe vegetal ruim, você que não está preparando direito” (frase do maravilhoso Ruan Félix). Mas se quiser ir um pouco mais longe na expansão do seu horizonte culinário, chega mais.
Cresci comendo chuchu refogado, feito pela minha mãe. Na minha casa começamos a cozinhar cedo e logo era eu a encarregada dos legumes refogados do almoço, que durante muito tempo variavam entre batata e chuchu. Pra mim chuchu refogado tem gosto de casa e reconforto.
Esse prato, tão singelo, tão humilde, segue firme no cardápio da minha família e hoje, como acontece com frequência quando estou por aqui, quem o preparou fui eu. Fiz como sempre fiz, com cebola, alho e coentro, mas como minha irmã me deu de presente um vidrinho de tucupi preto uns dias atrás, decidi ver como ele se sairia junto com o chuchu. Resposta: maravilhosamente bem!
Tucupi é um ingrediente tradicional da culinária do Norte do território conhecido como Brasil, feito com mandioca brava. Esse caldo da mandioca fermentado faz parte da cultura alimentar de muitos povos originários da região. O tucupi é amarelo, mas o que usei aqui é a versão preta, que é o tucupi mais conhecido (amarelo) fervido por um longo período até o líquido se concentrar e adquirir a cor escura. Eu nunca visitei o Norte (é um sonho antigo) e nunca provei o tucupi amarelo. E só descobri o tucupi preto porque ano passado minha amiga Juliana Gomes me deu um vidrinho de presente (as pessoas gostam de me presentear com tucupi e estão certíssimas). Achei incrível e depois de provar pensei: “Um povo que tem tucupi preto não precisa de shoyu.”
E esse molho realmente traz as características tão apreciadas no molho de soja (é uma bomba de umami, o quinto sabor, presente em alimentos ricos em proteínas ou fermentados), mas apesar da semelhança, ele tem uma personalidade própria. É saboroso e complexo e incrementa o sabor de tudo que entrar em contato com ele.
Juro que ninguém me pagou pra fazer propaganda pra essa marca (eu não trabalho com publicidade), só estou deixando a foto aqui pra vocês procurarem depois, se quiserem comprar. Mas deixa eu dizer que a receita é sobre chuchu, então caso você não tenha tucupi preto, use shoyu e tá tudo bem.
O chuchu refogado do almoço de hoje estava tão especial que parei de mastigar algumas vezes pra apreciar a delicadeza dos sabores: o chuchu suave, adocicado, o tucupi preto realçando o legume de maneira discreta, o limão trazendo o toque de acidez que faz tanta diferença na harmonia dos sabores, o coentro que, como boa nordestina, eu acho que deixa tudo mais gostoso… Sei que muita gente só se interessa por chuchu quando ouve que ele “ajuda a emagrecer” ou sei lá que outra promessa vazia. Mas se você der uma chance ao bichinho, provavelmente vai passar a comer porque é uma delícia. Pra mim esse é o único motivo válido pra comer chuchu. Ou qualquer outra comida.
PS Estou escutando algumas vozes se insurgirem contra o que acabei de escrever, gritando: “Quer dizer então você aceita as pessoas que não querem considerar a luta antiespecista baseada apenas no ‘mas carne/queijo/ovo é tão gostoso…” ? Obviamente que não. Quando falo “comida” me refiro ao que considero ser comida: o que vem da terra.
Chuchu com tucupi preto
Não tem tucupi preto? Nada tema! Use shoyu (molho de soja) e vai ficar bom também. Ou, se não tiver nem um nem outro, tempere apenas com sal. Essa receita não precisa de medidas exatas, use seu bom senso culinário. Mas se você é novata e realmente quiser medidas, leia a receita até o final.
Chuchu, descascado e cortado em cubos pequenos
Cebola, picada
Alho, amassado/picado
Azeite ou óleo
Tucupi preto (ou shoyu)
Pimenta preta, cúrcuma e sal
Limão
Coentro, picado
Em uma panela de fundo grosso aqueça um pouco de azeite (ou óleo) e doure a cebola picada. Junte o alho e o chuchu e refogue por alguns segundos. Tempere com uma pitada de cúrcuma e outra de pimenta preta, um pouco de tucupi preto e uma pitada generosa de sal. Atenção! Se tiver usando shoyu no lugar do tucupi preto, deixe o sal de fora, pois shoyu geralmente é bem salgado. Reduza o fogo e tampe a panela. Deixe cozinhar assim, mexendo com frequência, até começar a pegar levemente no fundo da panela. Junte um pouco de água (só um pouquinho!), tampe novamente e deixe cozinhar até o chuchu ficar bem macio. Se a água tiver evaporado antes do chuchu amolecer, junte mais um pouco de água. No final o chuchu deve ficar bem tenro e sem nenhum líquido na panela (por isso acrescente água aos pouquinhos, pois se juntar muito de uma vez vai precisar cozinhar mais pra ela evaporar e o chuchu vai passar do ponto, virando purê).
Com o fogo desligado junte o coentro picado e regue com um pouco de suco de limão. Prove e corrija o tempero. Talvez você queira mais um pouco de tucupi preto, talvez precise de mais sal…Pode ser degustado no almoço, mas também é um ótimo recheio pra tapioca ou pão.
* Precisa de medidas? Usei 2 chuchus médios, 1 cebola pequena, 2 dentes de alho, 2 colheres de sopa de azeite, aproximadamente 2 colheres de sopa de tucupi preto, uma pitada generosa de cúrcuma e outra de pimenta, um pouco de sal (provei e ajustei de acordo com o meu gosto), um punhado de coentro picado e o suco de 1 limão pequeno (taiti).
Eu nunca experimentei Tucupi e sempre que vejo alguém falar dele, fico morrendo de vontade. Essa receita veio em ótima hora, porque eu estava justamente pensando esses dias em finalmente comprar um, mas não tinha idéia do que fazer com ele na primeira vez… e eu a-do-ro chuchu! Estou ansiosa pra fazer assim. Muito obrigada por compartilhar essa idéia! Ele é realmente muito injustiçado. Uns dias atrás eu publiquei a foto de uma receita que fiz com ele e comentei que uma das coisas que mais me diverte na cozinha é criar pratos pra refutar quem se atreve a falar mal de chuchu perto de mim hahaha. Nesse dia em especial eu tinha feito salteado com tofu, que muitos não veganos costumam zoar chamando de sem graça também. Pois… a minha receita ficou deliciosa e eu queria comer um balde inteiro dos dois juntos.
Outra coisa que eu faço com o chuchu é strogonoff. Não sei o que me deu na cabeça, de onde veio a inspiração mágica, mas um dia eu fiquei com vontade de strogonoff, abri a geladeira, peguei o chuchu e decidi usar. Eu salteei ele com azeite, páprica, pimenta e sal e quando estava bem douradinho joguei uma pequena dose de conhaque pra flambar. Aí eu fiz o creme do strogonoff com castanha de caju, juntei o bonito lá e assim nasceu meu strogonoff favorito. Depois disso meu amor por chuchu, que já era considerável, ficou imenso.
E Sandra, aproveitando: tentei algumas vezes cadastrar meu e-mail pra receber notificações das novas publicações do blog, mas elas não tem chegado. Tem algo que eu possa fazer pra solucionar isso?
Achei a sua ideia de strogonoff de chuchu um arraso 🙂 Quanto ao problema do email, não sei o que está acontecendo. Já tentou checar na pasta de spam/publicidade? Às vezes vai parar lá…
Eu olhei sim, mas infelizmente não foi pra lá também. Na verdade o problema acontece quando tento fazer o cadastro. Aparece uma mensagem de erro… De qualquer forma, vou abrir aqui com mais frequência pra não perder as publicações novas 😉
Vixe! Sinto muito. Vou procurar resolver esse problema.