Hoje é o dia internacional do veganismo. E esse ano estamos comemorando esse dia logo depois das eleições mais importantes da História recente do Brasil. Sim, o presidente derrotado deixa pra trás um país profundamente destruído e nosso trabalho não terminou com a vitória de Lula. Ele está só começando. Mas sabemos construir também.
Com a possibilidade de sonhar novamente, de sorrir de novo, apesar de toda a luta que temos pela frente, hoje eu escolho ficar mais um pouco com a alegria que encheu meu peito domingo.
E como eu nunca tive tanto orgulho de ser nordestina, nós que compomos a única região onde o ódio, o fascismo e o bolsonarismo não venceram e que garantimos a vitória de domingo, quero comemorar com pastel de caju. Porque o caju é nosso e nada grita “Nordeste” tão alto quanto essa fruta maravilhosa. A massa é feita com jerimum, pois sou potiguar e nós somos conhecidas como “papa-jerimum”. Então esses pasteis são uma homenagem ao meu povo nordestino, com uma piscada de olho pra quem é do nordeste do Nordeste, o RN.
A receita é minha, mas a inspiração veio daquele nordestino lá de Pernambuco, que quer que o povo brasileiro tenha direito à comida boa e de qualidade, três vezes por dia, e que a gente possa escolher o que colocar no prato. Não é sobre fazer churrasco ou comer picanha, é sobre ter acesso pleno à uma alimentação adequada, saudável, suficiente e que respeite nossa cultura alimentar. E somente quando pudermos garantir esse direito ao povo, teremos as bases materiais pra que a exploração animal seja superada. É a condição básica pra conseguir libertação animal.
Pastel de caju (de forno e com massa de jerimum)
Fazer essa massa vai exigir um pouco de tempo da sua parte, mas o resultado é delicioso e vale a pena. Porem, ninguém vai te julgar se você usar uma massa de pastel pronta (comprada em supermercado) e depois fritar seus pasteis. E também pode usar o recheio de carne de caju pra rechear o que quiser (torta, coxinha, empada, sanduíche), ou degustar como “mistura”.
MASSA DE JERIMUM
1 xícara de jerimum cozido (no vapor) e amassado
2 1/2 xícaras de farinha de trigo
3 col. sopa de fubá (usei flocão)
3 col. sopa de óleo (ou azeite)
Sal
RECHEIO DE CARNE DE CAJU
5 cajus
1/2 cebola, picada miúdo
1/2 pimentão, picado miúdo
2 tomates maduros, picados
3 dentes de alho, ralado ou pilado
4 col. sopa de molho de soja (shoyu)
1 punhado de coentro
1 col. de sopa de óleo
Pimenta de cheiro (usei 3 pimentas biquinho – opcional)
Sal e pimenta preta
Comece preparando a carne de caju. Retire as castanhas e corte os cajus em tiras, no sentido do comprimento (cortei cada caju em 12 tiras). Coloque uma peneira em cima de uma vasilha (pra recolher o sumo do caju) e esprema as tiras de caju entre as mãos. Não precisa retirar todo o sumo, um pouco de líquido é necessário pra deixar a carne suculenta e pra tempera-la. Basta espremer um pouco entre as mãos, pra que a carne não fique muito doce. O sumo pode ser guardado em uma garrafa com tampa, na geladeira, pra ser consumido depois. Ou você pode beber tudo na hora.
Junte todos os outros ingredientes do recheio, menos o tomate e o coentro, misture bem e deixe marinando na geladeira por algumas horas. Idealmente de um dia pro outro (ou faça de manhã pra consumir à noite). O tempo marinando é muito importante: o gosto típico do caju vai ficar bem mais suave e o tempero vai ficar muito mais apurado e saboroso.
Depois do tempo marinando, cozinhe a carne de caju. Aqueça um pouco de óleo em um frigideira grande, despeje a carne (junto com todos os temperos e líquido que tiver se formado) e cozinhe em fogo médio-alto, mexendo de vez em quando, até o caju ficar ligeiramente dourado. Nesse momento junte o tomate picado, tampe e deixe cozinhar, dessa vez em fogo baixo, até o tomate se desintegrar. Prove e corrija o sal, se necessário. Desligue o fogo, junte o coentro e deixe esfriar enquanto prepara a massa.
Prepare a massa. Misture o jerimum cozido e amassado com os outros ingredientes e amasse bem com as mãos. Junte colheradas de água até formar uma massa elástica e que não cole nas mãos. Cubra com um pano de prato e deixe descansar 15 minutos. Aqueça o forno.
Na hora de fazer os pasteis, faça uma bola com a massa e corte em 4, depois divida cada parte em 4 (formando 16 porções de massa). Use as mãos pra formar bolas com cada porção (como se estivesse enrolando brigadeiro). Use um rolo pra abrir cada bolinha de massa, transformando em um círculo (não precisa ser perfeito). A massa tem que ser fina, mas não tão fina quanto massa de pastel que será frito.
Coloque um pouco do recheio na parte inferior do círculo de massa e dobre a parte superior por cima. Aperte as bordas entre os dedos pra fechar bem. Repita a operação até acabar a massa. Transfira tudo pra uma placa ou forma grande polvilhada com um pouco de farinha (idealmente de metal, pros pasteis ficarem mais crocantes).
Asse os pastéis (o forno já deve estar bem quente) até ficarem levemente dourados. Eles são melhores quando ainda estão quentinhos, então chame as amigas, a família ou as vizinhas pra comer com você.
Oieeeee! Tu vem pra Floripa?
Não dessa vez 🙁
Uma receita interessante; porque não tem glúten e tem ingredientes típicos do Brasil (principalmente do Nordeste).
Tem glúten sim, já que tem farinha de trigo.
Errei, não tinha reparado que tem farinha de trigo
Que bom te encontrar de novo depois de anos (pandemia, guerra, eleições…)Era leitora assídua do blog lá pelos idos de 2014/15. Me mudei do BR mas continuo fã da sua culinária. Parabéns pelo lindo trabalho!
Por aqui tb escolho encher meu coração de alegria e esperança de dias melhores! que delícia de receita e de texto como sempre … os ingredientes vieram muito a calhar com esse momento de alivio, orgulho e gratidão ao povo nordestino.
Infelizmente o caju está para mim assim como o caviar está para o Zeca Pagodinho: nunca vi, nem comi, eu só ouço falar hehe Mas fico encantada em ver a versatilidade dessa fruta linda! Quem sabe no inverno não faço uma versão adaptada a terras sulistas, pastel de pinhão com massa de abóbora? hehe Abraços!
Que delícia é esse presidente, que delícia de receita e que delícia te ler! ☆
Uma vez comi uma coxinha de caju em Olinda que foi o salgado vegetariano mais maravilhoso que já provei. Vou tentar fazer sua “carne” de caju quando achá-los aqui por SP.