A ausência de post semana passada (alimento esse blog semanalmente) não significa que estou fazendo uma pausa. Repare que quanto menos coisas aparecem aqui, mais coisas aparecem do outro lado da tela. E as últimas semanas foram cheias de uma infinidade de coisas, grandes e pequenas.
No lado profissional, teve o convite pra participar de um pequeno projeto que me deixou extremamente feliz e, ao mesmo tempo, ativou uma mini crise de síndrome da impostora (gostaria de dizer que não sofro disso, mas mentir é feio). A militância anda a todo vapor, com a criação de mais um coletivo (o terceiro do qual faço parte no meu território!), só que dessa vez se trata de um coletivo antiespecista. Porque queremos mostrar que veganismo não é coisa de parisiense branca e rica e que nossa quebrada não é um deserto antiespecista.
Nosso coletivo anarquista conseguiu um lote nos Jardins Operários, um fato histórico. Nós estamos na luta pra salvar a última zona agrícola, e uma das poucas áreas verdes, da nossa periferia e somos o primeiro coletivo a receber um lote. Ele faz parte dos lotes ameaçados por um projeto de centro comercial, totalmente inútil, que é o cavalo de Troia do momento pra passar o cimento por cima dessa terra que alimenta uma parte da classe trabalhadora, e imigrante, no nosso território. Como sempre, só a luta muda a vida.
Agora temos mais uma tarefa na nossa longa lista de tarefas da militância: plantar e compartilhar os frutos do nosso lote. Militar pode adquirir muitas formas e confesso que cultivar a terra é uma das maneiras mais prazerosas de militar. Além de nos transformar profundamente. Como canta Zé Pinto: “Amar a terra e nela botar semente / a gente cultiva ela e ela cultiva a gente”.
Passei a manhã e uma parte da tarde trabalhando no lote, junto com camaradas do coletivo, e voltamos pra casa com uma sacola cheia de comida dos jardins, presente das nossas vizinhas de lote. Percebi que cultivar a terra também deixa a gente mais generosa.
No lado pessoal, é tanta coisa que a atividade acontecendo da pele pra dentro é ainda mais intensa do que o que faço da pele pra fora. E ainda teve a visita de um dos meus sobrinhos e da namorada, que veio pedir a mão dela em casamento aqui (com a ajuda dessa tia, que escolheu o lugar e fez as fotos do pedido). Foi lindo e ela disse “sim”.
Paralelo a tudo isso estou trabalhando na transcrição da entrevista de duas companheiras de luta antiespecista que fiz em Belém (Pará), ano passado. Está preparada pra ouvir a palavra antiespecista amazônida? Mal vejo a hora de compartilhar com vocês!
Sem falar que transformamos nossa casa em berçário de plantas pra nossa horta (e pra horta do coletivo também). Começamos a semear em fevereiro e atualmente quase não tem espaço pras duas moradoras humanas, já que é muda pra todos os lados. Na foto acima tem apenas uma parte das nossas mudinhas, o que significa que todo dia passo pelo menos uma hora aguando tudo, colocando do lado de fora pra levar sol e depois trazendo tudo de volta pra dentro no final do dia. Fizemos bastante pra poder compartilhar com as amigas também. E muitas dessas sementes vieram dos Jardins Operários.
Esse foi o almoço de hoje e olhar pro meu prato sempre oferece uma janela pra ver a riqueza que é a minha vida. Aqui tem uma salada com dois tipos de alface selvagem, que ganhei hoje de manhã de Hugo, um dos operários-jardineiros, enquanto trabalhava no nosso lote. As laranjas (orgânicas, da Itália) eu consegui na ocupação onde mora minha namorada, que ganhou uma imensa caixa dessa fruta de uma vizinha que também é militante no nosso território. A couve veio do lote de Lucas, outro operário-jardineiro (que eu entrevistei no quinto episódio do podcast “Jardins da Comuna”, que criei junto com a Biblioteca Terra Livre). Lucas tem uma floresta de couve no lote dele e disse que eu podia pegar o tanto que eu quisesse, sempre que precisasse. O pão tradicional de semolina é feito por uma senhora argelina que trabalha na minha padaria preferida, perto da minha casa. E dentro do potinho tem hummus, feito por mim, com tahina libanesa que encontro na mercearia árabe também aqui perto (no pé do Cohab onde eu morei), de uma família marroquina que é uma simpatia só.
Além de alimentar o corpo e a alma, comida também pode nos inserir numa complexa rede de solidariedade e apoio mútuo. Uma refeição simples, mas que me conecta a várias pessoas bacanas e em luta e a espaços de resistência.
Oi, Sandra! Estava pesquisando sobre a levedura que você indica pra receita de risoto. Na época você apontava que no Brasil ainda não vendia, sem ser o levedo com gosto forte maltado que imagino que seja o clássico levedo de cerveja que costumo encontrar em qualquer loja de produtos naturais. Você sabe me informar se é possível encontrar hoje em dia por aqui (moro em Belo Horizonte), dentro da indicação que você aponta?
Não tenho essa informação:/ Mas a impressão que tenho é que a levedura maltada (que é a com sabor que lembra queijo) continua não sendo produzida/vendida no Brasil.