Os vegetais do mar, as algas, são um ingrediente que eu gostaria de ver mais no prato das pessoas. No Brasil, esse alimento saboroso e nutritivo ainda não faz parte da nossa alimentação, o que é uma pena. Mar e algas, nosso litoral tem francos. E o cultivo de algas pode ser uma atividade transformadora, em vários aspectos. (Pra ter uma ideia do que estou falando, leia essa reportagem sobre um grupo de mulheres que cultiva algas de maneira ecológica em uma pequena comunidade do Ceará.) Então meu coração antiespecista, e meu estômago que adora sabores marinhos, tem fé que em breve algas entrarão na nossa cultura alimentar, pra muito além do sushi.
Aqui na França, onde o consumo de algas ainda é tímido, mas já é mais popular do que no Brasil, tem um prato que eu adoro: tartare de algas. Se trata de algo que se assemelharia a um patê de algas e se você quiser chamá-lo assim, eu apoio. É bem simples, basta misturar algas cruas e picadinhas com cebola, alho e alcaparras, depois capricha na acidez (vinagre de sidra, limão e picles de pepino) e no azeite, pra realçar tudo, e tempera com sal e pimenta preta. Depois é só deixar descansar algumas horas na geladeira ou, idealmente, uma noite inteira, pros sabores apurarem e servir com torradas. Eu adoro e poderia comer baldes, mas o sabor super intenso de mar faz com que muita gente torça o nariz pra esse prato.
Apesar de ser facílimo de preparar, quase ninguém faz porque dá pra comprar pronto em lojas de produtos orgânicos e alguns supermercados. Eu mesma nunca tinha feito em casa até duas semanas atrás. Foi quando fiz um piquenique no nosso lote com um um amigo meu daqui, Nox, e o pai dele, JL, que é do interior e estava aqui de passagem. O pai é vegano, assim como o filho, e a gente sabe que quando pessoas veganas se encontram elas fazem o quê? Compartilham comida e receitas. JL me ensinou a fazer o tartare dele e disse que era um sucesso imenso na família. Eu fiz poucos dias depois e não me arrependi.
Tartare de algas
(Pronuncie “tartár”) O sabor marinho é muito intenso aqui. Se você não gosta do sabor dos vegetais do mar (que muitas pessoas associam ao sabor de peixe), essa receita não é pra você. Eu segui as instruções de JL e são elas que vou passar adiante. Lembrando que sempre escrevo a ordem dos ingredientes de maneira decrescente: o primeiro ingrediente é o usado em maior quantidade, e depois vai diminuindo. As quantidades exatas ficam ao gosto da freguesa. A receita usa algas desidratadas, mas usei algas frescas, porque tinha ganhado de presente de uma amiga. Aqui na França consigo encontrar facilmente alga desidratada em flocos, cultivadas no litoral norte do país. Acho que no Brasil o mais fácil vai ser usar folhas de nori (a alga que usamos pra fazer sushi) e usar uma tesoura pra cortar miudinho antes de hidratar. Enquanto espero nossas algas nacionais, vamos ter que nos virar com a nori importada (insira emoji triste).
Algas desidratadas (leia instruções acima)
Azeite
Cebola
Picles e alcaparras (opcional)
Alho
Limão
Vinagre de sidra
Sal e pimenta preta
O tartare precisa descansar uma noite na geladeira, pros sabores se misturarem, então faça essa receita na véspera.
Cubra os flocos de algas (que você cortou bem miudinho com a tesoura, se estiver usando folhas de nori) com água fria e deixe hidratar por meia hora. (Se estiver usando algas frescas, não precisa hidratar.) Enquanto isso, prepare os outros ingredientes.
Pique miúdo um pouco de cebola roxa e de alho (a quantidade de alho deve ser adaptada ao seu apreço por alho cru) e reserve. Pique um punhadinho de picles (aqueles mini pepinos em conserva) e de alcaparras (esses ingredientes são opcionais, mas tradicionais).
Escorra os flocos de alga (use uma peneira) e aperte bem pra retirar o máximo de água. Misture com a cebola, alho, picles e alcaparras picadas. Tempere com limão e vinagre de Sidra (metade-metade, ou só limão, se não achar vinagre de sidra), sal e pimenta preta. Regue generosamente com azeite. Misture bem, prove e corrija o tempero, se necessário. Se quiser pulsar tudo algumas vezes no liquidificador, pra ficar mais homogêneo e sem os pedaços inteiros da cebola, fique à vontade (foi o que fiz aqui). O tartare deve ficar salgado na medida, com uma acidez marcante, mas sem chegar a ser azedo. Vai ficar parecendo a lama do pântano? Vai, por isso enfeitei minhas torradinhas com tomate (vermelho e amarelo) e cebolinha. Mas é uma lama deliciosa, então esses enfeites são totalmente dispensáveis.
Coloque em um recipiente fechado e deixe uma noite na geladeira antes de consumir. Deguste com pão (melhor se tostar as fatias antes). Se você não comeu tudo de uma vez, dá pra conservar o tartare na geladeira por até uma semana.
Dicas:
-Além de ser degustado como patê, você pode usa-lo como condimento em pratos onde o sabor marinho for bem-vindo, como saladas cruas, sopas ou salada cozidas.
-Também fica uma delícia com molho de tomate, servido com macarrão.
Sandra, eu amo suas receitas e suas reflexões. Obrigada por manter este blog!
Além de ser um prazer manter esse blog pra compartilhar conhecimentos, ele se tornou meu ganha-pão;) Então acredito que ele ainda vai existir por muito tempo.