Primeiro, deixa eu contar que semana que vem estarei no Brasil. Viajo daqui a alguns dias e tenho planos de ficar um ano inteiro em terras potiguares. Estou indo por razões familiares, mas vou aproveitar o tempo que estiver lá pra participar da luta antiespecista na minha cidade, Natal, e pra estar mais presente nas atividades da UVA.
Então estou fechando um ciclo aqui na França e não está sendo fácil. O contexto social no país está cada vez mais difícil pra quem é militante de esquerda. A conjuntura política atual está sendo instrumentalizada pra intensificar o racismo de Estado e acelerar a virada em direção ao fascismo que vemos mundo afora e que nós, que estamos aqui, vemos de perto e sentimos nos nossos corpos. E acompanhar o genocídio cometido por Israel contra a população palestina, que já entrou na sexta semana, enquanto a comunidade internacional se recusa a tomar toda e qualquer medida que possa impedir esses crimes de acontecerem, e a França segue apoiando politicamente e militarmente Israel é desesperador. Mas não me surpreende. Colonialistas são solidários entre si.
Por todas essas razões, estou feliz de sair daqui e de encontrar minha família brasileira. Minha experiência diz que se eu estiver comendo tapioca e macaxeira o sofrimento se torna um pouco mais suportável. E estar do lado de minhas irmãs e sobrinhas, também ajuda. Mas, por outro lado, não estou indo pro Brasil pra tirar férias prolongadas. Não será um ano sabático, longe disso. Outra batalha me espera do lado de lá do oceano Atlântico: acompanhar minha mãe num estado avançado de Alzheimer. E talvez essa seja a batalha mais difícil que eu já enfrentei. Eu sei o que me espera na minha terra, mas ainda não sei como meu coração, já tão angustiado, e meu corpo, que anda cansado e machucado, reagirão.
Na próxima vez que abrir esse blog pra escrever um post, estarei na casa da minha família. Com um pouco de sorte (minha) o choque emocional não será tão grande e eu poderei compartilhar coisas que trazem esperança. Porque, por mais que atravessemos tempos sombrios, me recuso a abandonar a esperança. Como disse Angela Davis, quando ela falou recentemente sobre a Palestina: “Não podemos abandonar a esperança, porque a esperança é a condição de todas as lutas.”
(A foto acima foi feita em um santuário antiespecista e anarquista no interior da França. Visitei esse lugar no final de setembro e o que vi por lá, e os encontros que fiz, me encheram de esperança.)
Sandra, deixo aqui meu carinho e te desejo força nesse momento tão delicado e difícil. Realmente, estar perto da família por aqui vai ajudar a tornar as coisas um pouco mais leves. Abraço grande!
Obrigada, Raquel <3
Oi Sandra!
Já faz algum tempo que acompanho o blog e, apesar de nunca ter feito nenhum comentário (sempre pensava em fazer, mas queria fazer com calma, com tempo, e no fim acabava passando), me sinto praticamente uma amiga íntima.
Quase todos os dias eu venho explorar o blog em busca das tuas palavras, receitas e ideias, é como um refúgio, especialmente nesses tempos em que é cada vez mais difícil ter fé e esperança na humanidade…
Estou finalmente escrevendo aqui hoje porque acho que, se realmente te considero uma amiga, não poderia deixar de desejar força para encerrar esse ciclo e encarar essa nova batalha. Seguimos nas lutas externas e internas também, cada uma delas com enormes desafios.
Acredito que retornar às nossas raízes contribui para o fortalecimento. Aterrar para espalhar nossos galhos com mais força e maior alcance.
Há dois meses também retornei ao Brasil depois de um tempo morando fora. Aos poucos sinto que vou me enraizando novamente e plantando novas sementinhas. E penso em raízes e sementes em um sentido também literal – a conexão com a terra e o alimento tem tudo a ver com isso, e você sabe muito bem…
E nesse sentido é muito doloroso pensar que nossas irmãs e irmãos palestinas e palestinos já há muito tempo têm tido esse direito negado e violentado. E agora também o direito à vida cruelmente negado e violentado, de forma explícita e até mesmo aclamada.
Bizarro pensar que o direito à própria terra é, na verdade, um privilégio; que o direito à vida é também um privilégio; e os que determinam isso tem isso tem justamente o “poder-privilégio” de decidir quem vai viver e quem deve morrer. Já percebemos isso há um bom tempo e em muitos cenários, claro, mas não deixo de me surpreender e de me sensibilizar cada vez mais.
De fato, o que nos move? O que nos permite seguir?
Acho que a frase de Angela Davis que você citou consegue, por ora, responder, pois também acredito que “a esperança é a condição de todas as lutas”.
Obrigada por fazer desse blog um refúgio da esperança. Um jardim. Isso nos ajuda a aprofundar nossas raízes e a seguir espalhando nossos galhos, flores, frutos e sementes por aí.
Espero que nosso apoio permita manter esse jardim sempre fértil…
Força pra ti e pra nós!
Um abraço,
Ana Carolina.
Que palavras lindas, Ana Carolina. Elas me fortaleceram nesse dia chuvoso de outono europeu, enquanto eu preparo minha mala pra partir. Muito obrigada.
Oi Sandra,
Imagino que já esteja em terras brasileiras e espero que a viagem tenha sido tranquila. Agora mesmo lembrei de você e pensei “que saudade de ler a Sandra”, assim mesmo como se você fosse uma amiga de longa data. Lembrei do blog, dei um Google e te achei. Que bom te ler de novo, que bom saber que você está bem apesar de tudo.
Espero que a macaxeira esteja acalentando o seu coração como o arroz com feijão sempre acalenta o meu coração de imigrante.
Se cuida,
Vanessa
A macaxeira está ajudando, sim. Mas o melhor de tudo são as mangas 😉
Quem não pode com o pote…. Não pega na rudia! E tu pode, Sandra . Que a volta seja, principalmente, boa. Com muita tapioca, jerimum, pirão de maxixe e rede pra cochilar. Tomara que a militância te traga cá pelo Rio alguma vez!
Obrigada <3 Também espero que a militância me leve pro Rio ano que vem.
Oi Sandra!!! Te acompanho há alguns anos e nunca comentei aqui!!! Mas acompanho seu trabalho e te desejo toda força do momento, estou em um momento similar em que minha vó (que me criou) também está em estado avançado de Alzheimer e é um momento doloroso e te desejo muita força. Voltei para terras potiguares e ficarei por mais dois meses, espero poder quem sabe te conhecer em algum evento! Enfim, muita força e amor para você!
Oi, Giovanna. Alzheimer é uma doença traiçoeira. Sinta-se abraçada <3 Não vai ter evento nos próximos meses, mas sempre passo no Café Libre (um café vegano maravilhoso aqui em Natal) e se quiser, a gente toma um café juntas um dia. Me manda um email pra combinar 😉
Sandra, te desejo muita força, amor e muitas boas companhias e comidas nesse novo ano, aí no Brasil! E que todos os impérios e genocidas caiam!
Um grande abraço com saudade desde Berlin,
Isadora
Que bom te ler por aqui, mana. Um cheiro desde terras potiguares.