Tour político-vegano em Natal

Meu recesso de início de ano acabou essa semana, e junto com a retomada das atividades militantes (tenho muita coisa pra contar, aguardem!) coincidiu de um amigo alagoano da minha sobrinha Luna chegar pra visitar Natal. E, olha como são as coisas, Giovanni acontece de ser um leitor de longa data do blog e apoiador do meu trabalho desde o início da campanha no Apoia-se. A gente tinha se encontrado uma primeira vez em 2019, durante o primeiro ENUVA (Encontro Nacional da União Vegana de Ativismo), em Recife, mas não deu tempo de conversar daquela vez.

Luna, que é vegana, historiadora e apaixonada por Natal, tinha me prometido um “rolezinho natalense” desde o ano passado. Segundo ela, é o passeio que “o jovem natalense descolado faz”. Como faz tempo que deixei de ser jovem e nunca fui descolada, fiquei curiosa pra ver a minha cidade pelos olhos dela. Então combinamos de fazer isso quando Giovanni (que também é vegano e historiador!) estivesse aqui, porque já juntava a minha vontade de redescobrir minha cidade com a nossa vontade de mostrar a cidade pra ele. Deu certinho.

Passeamos pelo centro e fiquei muito triste ao constatar que a vida nessa parte da cidade está desaparecendo. Quando eu era adolescente, antes de ir morar no exterior, essa parte de Natal fervilhava de atividades e pessoas. Quase tudo era resolvido ali. Compras de qualquer tipo? Tinha. O único restaurante macrobiótico (e quase todo vegetariano) da cidade? Era lá. O último cinema de rua? Lá também. (Inclusive o último filme que vi naquele cinema foi “Billy Elliot”) Precisava de uma garrafada ou lambedor pra tosse? Tinha as barracas das erveiras e erveiros. Pilha pro relógio? Era só ir na rua das relojoarias. Tinha os bares boêmios do Beco da Lama. Esses últimos ainda fazem resistência, mas o resto ou já desapareceu ou está caminhando pra isso.

Mesmo com a tristeza de ver os espaços públicos abandonados, porque quase tudo migrou pra dentro de shopping centers, o dia foi ótimo. Além do centro histórico de Natal, onde tomamos mate, visitamos sebos e batemos perna nos becos, fomos almoçar no Libre, um café vegano (melhor comida vegetal da cidade!), e passeamos pela Mata Atlântica, dentro do Bosque dos Namorados (onde comemos ubaia doce, apanhada do chão).

O “rolezinho natalense” proposto pela minha sobrinha me inspirou e me deixou com muita vontade de propor tours no estilo do que eu fazia em Paris. Como vou chamar Natal de casa até o final do ano, é uma possibilidade pra 2024. Depois de ter guiado pessoas na Palestina e na França, ia ser gostoso guiar pessoas na minha cidade. Se a ideia for pra frente, volto pra contar. Mas se antes disso você aparecer por Natal, me avisa 😉

Depois de nos despedirmos de Giovanni, Luna e eu terminamos o rolezinho natalense em casa, tomando café com soda preta junto com Roberta (a cuidadora da minha mãe). Pra quem não conhece, “soda” (ou “sorda”) é um alimento delicioso, degustado no lanche, com uma textura entre o bolo e o biscoito, feito somente com farinha de trigo, mel de engenho (melado), especiarias e, às vezes, bicarbonato de sódio. Uma das comidas típicas do meu território que são tradicionalmente vegetais, mas que está caindo no esquecimento e desaparecendo, como é o caso de quase todo alimento tradicional. A resistência do centro histórico, apesar de pequena, existe, mas me pergunto quantas pessoas participam da resistência ao desaparecimento da nossa cultura alimentar.

Enquanto degustava minha soda pensei em como gostaria de compartilhar minha cultura alimentar com outras pessoas. Aí lembrei que foi exatamente esse sentimento, de querer compartilhar as belezas e os sabores ameaçados de um lugar, que me fez criar os tours na Palestina… A vida dá muitas voltas, mesmo.

PS Obrigada à Luna pelo rolezinho e pelas fotos que aparecem aqui. Obrigada a Giovanni pelas conversas, pela troca de conhecimentos e pelo apoio ao meu trabalho (e pela foto da ubaia doce).

9 comentários em “Tour político-vegano em Natal

  1. Nossa, Sandra. Fiquei foi animada!!! Sou de Recife e adoraria (inclusive, se quiser fazer por aqui também, tem muita gente que toparia)!
    Super apoio! 🙂

    1. Mulher, tu já está bem pertinho, vai dar certo. E gostei da ideia de fazer um tour aí em Recife, que é a minha segunda casa no Brasil. Vou pensar com carinho;)

  2. Também fico triste em saber que o centro de Natal já nao é mais tao frequentado. Quanto a sorda, eu tenho que dizer que guardo um resentimento de infancia com ela porque ela me enganava com sua aparencia de bolo de chocolate. Eu mordia esperando o gostinho de chocolate, mas nao era bolo! :/ Talvez eu tenha que dá uma segunda chance a ela, agora adulta.
    Beijos para voce e Luna.
    (Raissa)

    1. Poxa, não imaginei que ela enganava crianças 😀 Mas dê outra chance pra bichinha. E quando você vem à Natal de novo? Mande email contando como vai a vida, menina. Cheiro

  3. sandra,
    olha só que coincidência, eu sou uma pessoa que te acompanha pelo blog há anos, e onde vim parar por uma temporada: em NATAL! haha, e há dias tenho pensado em vir aqui reler seus tours por natal para ver o que ainda dá pra aproveitar dos posts antigos e vi que tinha post novo e falando justamente sobre natal! desde que cheguei aqui tenho buscado me aproximar do movimento orgânico/da agricultura familiar, conheci um lugar de fermentação natural em ponta negra que tem pizzas veganas incríveis, e me interesso muito por seguir essa pesquisa da alimentação e das resistências alimentares na cidade. faz um tour em natal, por favor! haha

    atualmente estou em pium, por aqui tem um caminhão de orgânicos todo sábado e algumas hortas urbanas. eu sou terapeuta ayurveda, sommelier de chá e psicoterapeuta. já dei muitas oficinas sobre alimentação, e já dei o nome para o meu trabalho de terapia através do alimento, e apesar do ayurveda não ser vegano, eu sempre fiz um convite alimentar vegano para os clientes, nem que fosse como uma abertura para pensar/experimentar outras formas de comer..
    enfim…comecei com um papo e a conversa já ficou grande!

    fico aberta para trocas!

    abraços

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