Um segunda rodada de recomendações dominicais, mais de dois meses depois da primeira.

A jornalista Eliane Brum criou, em 2022, o site Sumaúma: jornalismo do centro do mundo. Se você ainda não conhece essa plataforma de notícias da Amazônia, não perca mais tempo. Os artigos e reportagens são excelentes, mas gostaria de recomendar hoje a série em HQ “Guariba: Uma visão não-humana da história da Amazônia” onde acompanhamos um macaco guariba enquanto ele “explora sua casa-floresta e tenta entender os humanos que o ameaçam.” Em seu manifesto, o site Sumaúma se coloca como antiespecista e além dessa série tem uma coluna chamada “Mais-que-humanes” com notícias e histórias dos povos da Amazônia que quase nunca ganham manchetes, os outros animais.
Não é de hoje que o debate sobre ultraprocessados de origem vegetal (os famosos “plant based”) alimenta divergências dentro do movimento vegano. Tem quem ache que é um atalho pra que mais pessoas consumam produtos veganos e tem quem ache que essa estratégia é um tiro no pé (como nós, que construímos o veganismo popular). Recentemente começou a pipocar reportagens sobre “ultraprocessados menos piores”, “mais saudáveis” e “do bem”. O Joio e o Trigo respondeu de maneira muito didática à essa questão.
Mas deixa eu chamar sua atenção pra um ponto muito importante. O complexo industrial especista anda se aproveitando da discussão em torno de ultraprocessados pra descer o cacete nos produtos ultraprocessados “plant based”, com manchetes como: “Ultraprocessados à base de plantas podem aumentar risco cardiovascular”. Repare que a linha traçada aqui é desonesta e tem um único intuito: fazer as pessoas acreditarem que uma dieta vegetal é perigosa e descreditar o veganismo. O ruim nos produtos descritos na reportagem que citei é o fato de serem ultraprocessados, não o fato de serem à base de plantas. Percebe a desonestidade? E, mais uma vez, percebe o tiro no pé que é apostar em ultraprocessados vegetais como estratégia dentro do movimento vegano?
A primavera chegou no hemisfério norte e nossa horta nos jardins operários está toda florida. Estou ansiosa pra comer nossas favas (foto de abertura desse post), mas ainda vai demorar alguns meses. Enquanto isso, sigo germinando sementes e preparando as mudas dos legumes de verão que serão plantados mês que vem (tomate, abobrinha, berinjela…). Minha cozinha foi transformada em berçário de plantas e, no meio de todas as dificuldades que estou atravessando no momento, cuidar desses bebês é uma das coisas que está segurando meu juízo dentro da caixola. Plantar é um dos melhores antidepressivos que existe.
Desde ontem estou desejando meu creme voluptuoso de chocolate e laranja. Até hoje é a minha sobremesa mais popular aqui no blog.
E porque nos domingos a saudade da minha mãe aumenta, fui reler a última conversa que nós tivemos, antes dela parar de falar de vez, e me emocionei de novo: Um punhado de farinha e um pedaço de rapadura .
Desejo que a semana que vem sorria pra nós.
Um cheiro
S
