Olá de Rio Branco, Acre, onde a chuva está começando a chegar e o ar está se tornando respirável. Quando chegamos aqui, há duas semanas, a cidade estava coberta de fumaça há meses (por causa dos incêndios na floresta e pra renovar pasto – mas que também acabava “escapando” pra floresta) e a qualidade do ar era a pior do mundo inteiro. Foi um choque brutal, vindo de Natal, e a fumaça – que invadiu nossos pulmões assim que colocamos os pés fora do avião- foi só uma das muitas coisas que nos chocou aqui. Vou precisar de um tempo pra processar tudo e só conseguirei escrever sobre o projeto que estou fazendo no momento, junto com Anne, quando terminar tudo. Mas não é pra falar sobre isso que vim aqui hoje.
Estamos hospedadas na casa de uma grande amiga minha, Cibele, que é de Aracaju, mas que foi trazida pra cá pelo trabalho. Logo na nossa primeira manhã em Rio Branco acordei com uma mensagem dela dizendo que estava saindo pra trabalhar, mas tinha deixado um cuscuz de banana pronto pra gente no fogão. Cuscuz de banana? Imaginei uma banana verde ou da terra ralada e cozida no vapor e qual não foi a minha surpresa quando abri a cuscuzeira e descobri um cuscuz de milho, mesmo, só que recheado com rodelas de banana comum madura!
Eu como cuscuz desde que nasci e nesses mais de 40 anos de cuscuz, nunca tinha provado cuscuz com banana cozida dentro. Cibele ficou surpresa e disse que em Sergipe é comum fazer assim. Algumas pessoas aqui do Acre também me disseram que fazem o cuscuz assim com frequência e vou dizer pra vocês: elas estão certas. Eu, que adoro comer feijão com banana, descobri que cuscuz com banana é tão bom quanto!
Me apaixonei por esse cuscuz e pedi pra ela fazer de novo. Na segunda vez ela fez uma camada dupla de banana e o negócio ficou ainda melhor! Ontem fiz sozinha (meu primeiro cuscuz com banana!) e aproveitei pra fazer umas fotos pra compartilhar com vocês aqui no blog. A onça e o tatu nas fotos são feitos de borracha natural aqui do Acre, por um seringueiro artista. Fiquei encantada com esses brinquedos-objetos de arte e antes de sair daqui pretendo colocar alguns na mala pra presentear as sobrinhas.
Fiz as fotos apressada, pois estava com fome e sem paciência, pensando que não queria deixar meu maravilhoso cuscuz esfriar antes de sentar pra comer. Por isso acabei derramando um pouco de leite de castanha da Amazônia e só hoje, quando transferi as fotos da máquina pro computador, percebi que a onça parecia estar bebendo o leite. Pois é, eu entendi que está na hora da onça beber… leite. De castanha, obviamente.
Cuscuz com banana
Segundo minha amiga Cibele, que é de Aracaju, preparar cuscuz assim é comum em Sergipe. Kiune, outra grande amiga nordestina, contou que na Bahia também fazem essa receita. Eu, que sou do RN, estou levemente revoltada com o fato dessa iguaria não ter adentrado o território potiguar. É extremamente fácil e deixa um simples cuscuz mais nutritivo e ainda mais saboroso – banana e milho casam muito bem.
Flocos de milho pra fazer cuscuz (se encontrar flocos não transgênicos, melhor)
Banana (madura, mas ainda bem firme)
Sal
Opcional
Leite vegetal (usei de castanha da Amazônia, porque estou no Acre)
Manteiga vegetal (usei de coco) ou óleo/azeite
Misture os flocos de milho com um pouco de sal (as quantidades dependem de quanto de cuscuz você quer fazer) e molhe com água. Misture com os dedos e vá molhando até que fique com uma textura de areia molhada. Cubra e deixe descansar por 15 minutos (ou mais) pra que os flocos hidratem um pouco. Isso é importante pra fazer um cuscuz macio e gostoso.
Depois do tempo de descanso, coloque água no compartimento inferior de uma cuscuzeira, encaixe o suporte do centro e monte o cuscuz. Você pode fazer só uma camada de banana no meio da massa, ou fazer duas. Comece espalhando uma camada de flocos de milho hidratados, sem apertar. Disponha uma camada de banana em rodelas, deixando um pouco de espaço entre as rodelas pro vapor circular. Cubra com mais flocos de milho hidratados e repita a camada de banana, caso queira fazer duas. A última camada deve ser de cuscuz e lembre de espalhar os flocos de milho com delicadeza, sem apertar com a colher. Se apertar, seu cuscuz vai virar um bloco compacto. Tem que ficar soltinho pro vapor circular bem e o cuscuz cozinhar direito e ficar fofinho no final.
Tampe a cuscuzeira e leve ao fogo até o cuscuz ficar cozido. Leva uns 15 minutos depois que começa a ferver, mas basta reparar no aroma (o cheiro de cuscuz cozido vai invadir sua cozinha quando ele estiver pronto) e provar um pouco do cuscuz pra ter certeza.
Retire o cuscuz da cuscuzeira com cuidado e transfira prum prato. Corte fatias e sirva acompanhado de leite vegetal morno e um pouquinho de gordura (manteiga de coco, azeite, óleo de babaçu…). Fica mais saboroso assim, mas não se preocupe se não tiver esses ingredientes, pois o cuscuz só com a banana já é delicioso. Nas fotos também servi com abacate amassado e temperado com limão, sal e coentrão (que o povo daqui chama de “chicória”). Essa combinação ficou maravilhosa e recomendo muitíssimo.
Se sobrar, guarde em um recipiente fechado, na geladeira, e esquente na cuscuzeira (no vapor) antes de servir. Assim ele volta a ficar não só quentinho, mas hidratado e macio.