Como preparar sarraceno

“O sarraceno mudou a minha vida!” Eu declarei isso no IG dias desses e outras pessoas vieram me dizer a mesma coisa. Não entendo como um alimento tão maravilhoso, versátil e nutritivo não é mais popular. Mas tenho certeza que é só uma questão de tempo. Por isso vim aqui dar a minha contribuição pra fazer isso acontecer.

Olá. Você tem um minuto pra ouvir a palavra do sarraceno?

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Unidas por um prato de grão de bico

Três meses depois de ter me mudado pra Berlim, ainda não encontrei um lar permanente. Atualmente estou em um apartamento lindo, mas que alugamos por apenas algumas semanas, enquanto o proprietário curte as férias na Tailândia. Além das mudanças constantes dificultarem o  desenvolvimento de uma rotina, indispensável pro meu bem estar e pro meu trabalho, essa instabilidade me faz sentir como se eu ainda não tivesse chegado de verdade. Parece que estou suspendida por algum fio invisível e só colocarei os pés no chão quando tiver um cantinho pra chamar de meu. Por isso ainda me parece que cheguei antes de ontem.

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“Estou disposto a fazer a minha parte”

O último tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina aconteceu em março desse ano. Assim como durante o tour de fevereiro, vivemos momentos difíceis, chocantes e revoltantes. Também vivemos momentos cheios de emoção, onde a humanidade e força das pessoas que encontramos nos tocou profundamente. Pela quinta vez pude ver as pessoas que participaram da viagem passarem pelas mesmas etapas que eu passei quando cheguei pela primeira vez na Palestina, 10 anos atrás. Surpresa, indignação, lágrimas, revolta, impotência, dor. Sempre que acompanho um grupo nessa montanha russa de emoções chega um momento em que me pergunto por que faço isso com essas pessoas tão bacanas que vieram de tão longe pra estar ali comigo. Mas elas nunca deixam de me lembrar a razão que me fez decidir fazer esse trabalho. Eu tenho uma responsabilidade moral em divulgar a realidade cruel da colonização e ocupação militar israelense na Palestina. Elas estão ali porque decidiram mostrar solidariedade ao povo palestino e se juntar às pessoas que lutam por justiça, a condição primeira pra se obter paz.

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Uma semana quase crua

Me mudei novamente exatamente uma semana atrás. O apartamento novo é lindo, luminoso, espaçoso, minimalista, numa área calma, com o pé direito alto, piso de madeira, varanda e fica a poucos metros de um parque. Tudo que eu procuro em um lar. Uma pena que é mais um lar temporário e só ficarei algumas semanas aqui. O único problema é que o fogão não funciona. O eletricista deveria ter consertado isso no dia seguinte, mas não consertou nada e estou há uma semana sem a possibilidade de cozinhar em casa.

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Como fazer manteiga de coco

Você já provou manteiga de coco? Óleo de coco já é bem conhecido e parece estar por todos os lados hoje em dia, mesmo fora dos trópicos. Mas ano passado, quando estava no Brasil, vi  algo chamado “manteiga de coco” em uma loja de produtos orgânicos e fiquei intrigada. Como o preço chegava a ser ridículo de tão caro, coloquei o potinho de volta na prateleira e continuei o meu caminho.

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Guia Vegano São Francisco – parte II

A primeira parte foi sobre comida, a segunda será sobre todo o resto: passeios, parques, museus, LGBTs e um pequeno parênteses consumista.

Alugamos uma casa exatamente na interseção dos bairros Noe Valley, Castro e Mission e foi muito feliz, pois eles acabaram sendo os meus preferidos na cidade. Nessa área você praticamente só vê casas, as ruas são tranquilas e as pessoas parecem estarem todas de férias, tamanho o relaxamento delas.

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Guia Vegano São Francisco – parte I

 

No final de abril viajamos em lua de mel pela segunda vez. Dessa vez o destino foi São Francisco/EUA. A primeira lua de mel, anos atrás, foi na Irlanda e ainda sonho em voltar lá.

Anne sempre quis visitar São Francisco e apesar dos EUA nunca terem estado na minha lista de destinações sonhadas, SF era a única cidade de lá que me interessava. Ela sempre existiu na minha imaginação como um lugar alternativo, tolerante e totalmente diferente do resto do país. Minha irmã caçula, que morou dois anos nos EUA e visitou várias cidades lá, me falou que era exatamente isso. E o momento era perfeito. Anne já estava nos EUA, em uma turnê de um mês apresentando o último projeto dela sobre Gaza, Obliterated Families, e o final da turnê coincidia com o final do meu trabalho com os tours políticos/ativistas na Palestina. Decidimos então nos encontrar em SF, eu vindo da Palestina (com uma passagem por Paris) e ela de Seattle.

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Mateus

Uns anos atrás eu entrevistei minha amiga Bárbara Bastos, que mora em Recife, como parte de uma mini série sobre alimentação saudável pra crianças. Se você ainda não leu as entrevistas, recomendo muitíssimo. Elas oferecem a perspectiva de três mulheres que se alimentam de maneiras diferentes (onívora/macrobiótica, vegetariana e vegana), com estilos de vida variados e que moram em cidades (países!) diferentes, mas que têm uma coisa em comum: decidiram oferecer uma alimentação integral e natural pros seus filhos. Se você acha que é impossível criar uma criança sem ‘danoninhos’, achocolatados, queijos processados, sucos de caixinha e biscoitos entupidos de açúcar e produtos químicos, as explicações delas farão você mudar de opinião. Elas mostram com exemplos concretos que é totalmente possível e que o impacto na saúde da criança é tão grande que faz a mudança valer muito a pena, apesar das dificuldades. Pra ler as entrevistas clique aqui, aqui e aqui.

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A fórmula do mexidão RO

Uma das poucas coisas da minha época de onívora que ainda me fazia falta era a capacidade de improvisar uma refeição completa em poucos minutos, simplesmente quebrando um ovo em cima dos restos que eu achasse na geladeira. Não sei se vocês faziam isso, mas eu era uma enorme consumidora de ovos na minha existência pré-vegana.

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9 de junho

 

Continuo em Berlim, mudando de casa em média a cada três dias, me sentindo um macaquinho pulando de galho em galho. Só que de bicicleta e com uma mochila nas costas. Quando eu conseguir achar um apartamento que corresponda aos nossos critérios de busca vou beijar o chão, que nem o papa fazia.

Como minha vida está uma bagunça, está difícil manter o formato dos meus posts (história + receita), pois não ando cozinhando muito em casa. O post de hoje será diferente e picotado, como o momento que estou atravessando.

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Em Berlim

Chegue em Berlim há uma semana. Vim tentar morar aqui. Digo “tentar” porque morar é uma ação que exige compromisso e ainda não sei se posso me comprometer com essa cidade. Ou se a cidade vai querer se comprometer comigo. Espero que sim, pois estou cansada de arrastar minha mala mundo afora e ficaria muito feliz em me aquietar um tempo. Cultivar ervas na janela, essas coisas.

Por que Berlim? Porque começa com a letra “b” e até hoje só moramos juntas, Anne e eu, em cidades que começam com “b”: Belém (Palestina), Bruxelas, Beirute. A razão verdadeira da mudança não é muito mais convincente, então fiquemos com essa.

Estou me sentindo uma alma penada, tanto por estar vagando pela cidade sem sentir que pertenço ao lugar (por enquanto!) quanto pelo fato de ter que mudar de casa a cada três dias, pois ainda não encontramos um lugar pra chamar de nosso e estamos contando com a solidariedade e generosidade das amigas que nos oferecem teto provisório.

Volto em breve, com informações mais interessantes e uma receita muito boa.

(Foto do brunch do café da esquina, onde 90% do bufê é vegano. Sim, até os croissants!)

Sobre a expectativa de reconquistar uma ex com comida ou Como preparar alcachofra

Quando provei alcachofra pela primeira vez eu já era adulta e morava em Paris. Nunca tinha visto esse vegetal em Natal, minha cidade de origem. Mas eu fui apresentada a coração de alcachofra em conserva, não a versão fresca. Embora eu tenha visto muitas alcachofras nos mercados parisienses, eu me sentia extremamente intimidada por ela. “Como preparar essa flor em casa?” eu me perguntava, mas não me dava o trabalho de perguntar a alguém que conhecesse a resposta. Durante anos me convenci, mais uma vez, sem nunca ter me dado o trabalho de verificar se minhas suspeitas tinham fundamento, que era extremamente complicado preparar aquilo em casa.

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Tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina, 2017

O quarto e o quinto tour Papacapim na Palestina aconteceram em fevereiro e março. Mais uma experiência transformadora, pras pessoas que participam do tour e pra mim mesma. As participantes terminam o tour meio sequeladas ou, como disse meu amigo Rogério, “acordadas”! Reviver, de novo e de novo, a montanha russa de emoções provocadas pelas atividades do tour e explicar, de novo e de novo, a injustiça e violações dos direitos humanos cometidas pela ocupação israelense na Palestina é doloroso pra mim. Claro que a dor que sentimos não pode nunca, nem de longe, ser comparada à dor vivida pelo povo palestino, mas não deixa de ser uma vivência difícil pra nós. Planejar esses tours exige meses de trabalho, muitas horas respondendo emails e tirando dúvidas de pessoas interessadas em participar, semanas coordenando as atividades com as pessoas palestinas que nos guiam e participam da programação… No final das contas acompanhar os grupos durante 11 dias é a menor parte do trabalho, mas é a parte que provoca um esgotamento físico e emocional que me obriga a ficar de cama por alguns dias depois de cada tour.

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Pudim de chocolate e tahina

Semanas atrás postei no IG a foto do pudim de chocolate e tahina que ando fazendo com frequência por aqui e, como sempre acontece quando tem chocolate envolvido, muitas pessoas pediram a receita. Ela é antiga (postei sete anos atrás), mas a novidade aqui é a tahina. Descobri recentemente que chocolate e tahina é uma das melhores combinações dos todos os tempos. Não sei por que demorei tanto pra juntar A mais B, já que anos atrás comi uma barra de chocolate amargo coberta com gergelim e achei divino! Só quando vi uma sorveteria vegana em Seattle fazendo sorvete de chocolate e tahina que me dei conta que deveria começar a colocar tahina em todas as minhas confecções achocolatadas.

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Guia Vegano Beirute

No início do ano passado fui morar em Beirute por três meses. Sempre tive vontade de visitar a cidade, conhecer as belezas do Líbano e provar a maravilhosa culinária libanesa na fonte. Aproveitei pra fazer um curso de Árabe escrito e foi uma experiência muito enriquecedora, em todos os sentidos. Já cheguei em Beirute decidida a fazer um Guia Vegano da cidade, pra compartilhar os tesouros gastronômicos que eu iria descobrir por lá. Levei um ano pra realizar o guia e hoje, pensando sobre o porquê disso, me dei conta que o fato de ainda não ter digerido completamente minha vivência em Beirute estava criando essa resistência. Quando me perguntam: “O que achou de Beirute?” nunca sei o que responder. A cidade é muito interessante, com lugares lindos e outros ainda carregados de cicatrizes da guerra civil, as pessoas são calorosas e simpáticas e a comida é a melhor parte de tudo, mas… Tem um “mas” gigante.

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Sobre amor

Escrevi no primeiro dia do ano que eu tinha casado e prometi falar mais sobre o assunto, e compartilhar fotos, em um outro post. Cá estou pra cumprir a promessa.

Quando criei esse blog, exatos sete anos atrás, eu queria compartilhar mais que receitas. Queria colocar pedaços da minha vida aqui pra mostrar que pessoas veganas não são muito diferente das outras e que não é nada esotérico ter um estilo de vida sem crueldade. Quase imediatamente senti a mesma responsabilidade com relação à outra comunidade da qual faço parte, a comunidade LGBTQ. Falar abertamente da minha orientação sexual aqui no blog é extremamente importante pra mim, pois nós, LGBTQs, precisamos de visibilidade. Se sentir representada na literatura, cinema, mídia, internet, política e todos os aspectos da vida civil importa e muito. Então gosto de pensar que o blog me dá a oportunidade, além de desmistificar a culinária vegetal, de fazer minha contribuição nesse sentido.

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Ainda dá tempo

Janeiro ainda não acabou e eu já dormi em dez camas diferentes esse mês. Dez! Mas é com muita felicidade que digo que essa décima cama será minha por três meses inteirinhos. Sei que parece pouco, mas quando você anda arrastando sua mala há mais de dois anos, três meses são suficientes pra te deixar feliz e sentindo que tem uma casa.

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1 de janeiro

Quem aí também está pensando “2016, seu infeliz das costas oca, já foi tarde!”? Ou alguma variação da frase com um insulto usado em seu dialeto. O ano foi difícil pra maior parte dos habitantes desse planeta, mas aqui do meu lado ele acabou de uma maneira linda.

Vim passar o natal com a família francesa e pela primeira vez em oito anos Anne e eu não fomos as únicas a ter uma ceia vegana. A irmã caçula de Anne se tornou vegetariana esse ano, depois de anos flertando com a ideia e se alimentando de maneira cada vez mais vegetal. Já no almoço do 25 de dezembro foram quatro pratos veganos! A outra irmã de Anne já não come mais animais terrestres e pediu pra se juntar à nos. Eu vejo pessoas irem cada vez mais na direção de uma alimentação mais vegetal em todos os lugares por onde passo.

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Cafés da manhã tropicais

Minha estada no Brasil, mistura de férias e trabalho, está chegando ao final. Ainda viajo mais um pouco por aqui, já que domingo que vem tem uma oficina-brunch-palestra em Fortaleza (mais informações aqui), mas pretendo passar os últimos dias antes de voltar pra Europa em casa, comendo toda a comida típica que passar pela minha frente. Continuar lendo “Cafés da manhã tropicais”

Em São Paulo

Passando rapidinho pra dividir uma coisas com vocês.  Cheguei em São Paulo alguns dias atrás e já fiz tanta coisa e encontrei tanta gente bacana que parece que estou aqui há semanas. Ontem teve a palestra sobre ativismo interseccional (direitos animais e humanos) no Encontro Vegano. Hoje visitei um assentamento do MST onde os agricultores praticam a agroecologia e visitei a Escola Nacional do MST, a Florestan Fernandes. Pretendo falar mais sobre isso tudo em breve, mas hoje só queria informar que vou fazer duas oficinas de culinária na cidade. Uma na quarta (23) no espaço Mun e a outra no domingo (27) no restaurante Broto de Primavera. A primeira será de inspiração europeia e será seguida de um jantar. A segunda trará receitas palestinas e será seguida de um almoço. Os dois eventos serão acompanhados de uma palestra/bate-papo. Todas as informações sobre as oficinas (horário, menu, preço e telefone pra reserva) estão aqui.  As vagas são limitadas, então pessoas interessadas devem telefonar pra reservar seu lugar o mais rapidamente possível.

E amanhã às 19h30 Anne vai participar desse evento de solidariedade ao povo palestino no restaurante (palestino!) Al Janiah. Vai ter uma roda de conversa e a exibição do documentário que ela fez sobre as famílias que perderam três membros ou mais no último bombardeio israelense em Gaza. O evento é gratuito e estão todas convidadas. Estarei lá traduzindo e comendo falafel  (melhor falafel do pedaço!!!). Mais informações sobre o evento (e endereço) na página FB do restaurante.