Algumas semanas atrás passei uma semana na minha praia preferida do litoral potiguar. Anne e eu temos uma tradição. Sempre que ela vem ao Brasil nós visitamos a mesma praia, Baía Formosa, que descobrimos na primeira vez que ela veio aqui. É um lugar tranquilo que se mantém protegido do turismo de massa, o extremo oposto da vizinha, a internacionalmente famosa praia de Pipa. Nós não gostamos de lugares cheios de gente e com forte apelo comercial e Baía Formosa é um vilarejo de pescadores, cercado pela Mata Estrela (reserva de mata Atlântica), um lugar lindo e mais interessado em eco-turismo do que em balada.
Continuar lendo “Praia vegana: guia de sobrevivência”Autor: papacapim
Muitos convites
Semana passada fiz uma pausa (merecida) no trabalho e passei alguns dias na praia. Estou preparando um guia de sobrevivência pra veganas na praia, pois esse sempre foi, pra mim, um dos lugares mais difíceis de se alimentar com comida 100% vegetal. Mas antes de tirar esse post do forno passei aqui rapidinho pra compartilhar minha agenda nos próximos dias e convidar vocês pra fazer coisas bacanas comigo.
Continuar lendo “Muitos convites”A única coisa a fazer
Eu tinha várias coisas pra contar. Fotos pra compartiilhar. Aconteceu tanta coisa bacana por aqui nas últimas semanas, mas aí ontem a PEC 241 foi aprovada no primeiro turno. Revolta e indignação entraram (mais uma vez) no menu e o resto foi temporariamente pro segundo plano. Num momento de desespero lembrei de Manuel Bandeira e pensei: “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
Continuar lendo “A única coisa a fazer”19 de setembro
Primeiramente, fora Temer. O fato de não ter sido uma surpresa não quer dizer que o golpe parlamentar me deixou menos revoltada. Compartilho agora o sentimento das pessoas ao meu redor: meu luto é verbo.
Segundamente: ainda estou em Pindorama. Fico por aqui, me revoltando, cozinhando e comendo tapioca, até dezembro. Vim passar uma chuva grande dessa vez e vocês me acharão em Natal, mas também em Recife e João Pessoa. E se bobear apareço pelo Sudeste e pelo Distrito Federal também.
Continuar lendo “19 de setembro”21 de agosto
Tem um gato dormindo colado a mim, dois cachorros aos meus pés e uma mama, a minha, fazendo palavras cruzadas do meu lado. As duas humanas estão esperando a fornada que pão de queijo vegano que está no forno ficar pronta pra devorar tudo com café. E enquanto minha mãe me pede pela terceira vez hoje pra verificar se a espinhela dela caiu (só quem é do interior do Nordeste conhece essa doença misteriosa e o método extremamente científico pra diagnostica-la. E a cura, claro) penso: “Que delícia estar em casa.”
Continuar lendo “21 de agosto”Ninguém precisa saber
Fazia anos, muitos anos que eu não sentia isso: dor de barriga porque comi um bolo quente. Acho que a última vez deve ter sido uns 25 anos atrás.
Estou no interior da França agora e acontece que meus sobrinhos franco-alemães me pediam há dias pra eu fazer um bolo vegano com eles. Os meninos, que têm 10, 7 e 4 anos, acham fascinante eu ser chef e mais ainda eu ser chef vegana. Eles querem cozinhar comigo o tempo todo e sempre que entro na cozinha um dos três aparece (às vezes os três ao mesmo tempo) perguntando se pode fazer alguma coisa pra me ajudar. Fiz massa à carbonara com Ben, milk-shake de morango e amendoim e, no dia seguinte, de banana com chocolate com Noé, essa salada e arroz “chinês” com Léo, rabanada salgada com os três…
Continuar lendo “Ninguém precisa saber”Berlim
Algumas semanas atrás eu fui visitar Anne em Berlim, onde ela está morando atualmente. Eu estive na cidade alguns anos atrás, também durante o verão, e adorei. Até escrevi um Guia Vegano da cidade. As opções veganas aumentaram ainda mais desde a primeira vez que estive lá e o guia merece uma segunda parte. Berlim é sem dúvida a capital vegana da Europa. É incrível ver como veganismo é algo comum e bem aceito por lá. Comi em vários restaurantes veganos, mas também em restaurantes tradicionais, pois é comum ter opções veganas em praticamente todos os lugares. Você pode sair pra comer com suas amigas onívoras e ter a certeza que vão encontrar facilmente um lugar que vai deixar a barriga de todo mundo satisfeita.
Continuar lendo “Berlim”Agradecendo com risoto
Já faz mais de um mês que, passando por cima de um medo gigantesco, publiquei a carta que escrevi pro meu irmão aqui no blog e, imediatamente depois, desliguei o computador, apaguei as luzes e me escondi embaixo da coberta. Naquela noite tive febre e vários pesadelos. Acordei com o corpo moído, os olhos inchados e um vazio em algum lugar do meu corpo que não consegui identificar. Precisei de algumas horas pra ter coragem de entrar aqui. Li os comentários de vocês dentro do ônibus e à medida que meus olhos percorriam as palavras deixadas aqui eles se enchiam de lágrimas.
Continuar lendo “Agradecendo com risoto”Carta pro meu irmão
Da última vez que estive em casa você começou a se aborrecer sempre que eu falava em feminismo. Convencido de que no Brasil as mulheres têm exatamente os mesmos direitos e oportunidades que os homens, você me explicou que ser mulher não me impedia de fazer nada e não implicava nenhuma dificuldade extra no que eu quisesse ser na vida. “Pare de levar tudo pro lado do feminismo!” você dizia, extremamente irritado.
Quando a ONU publicou o último relatório sobre os dados atuais de violência contra a mulher no mundo contei pra você o que tinha passado o dia repetindo pros outros: uma em cada três mulheres foi vítima de agressão física ou sexual da parte de um homem. Você me olhou sério e disse : “Não é verdade. Eu não conheço nenhuma mulher que tenha sofrido violência de um homem. Você não conhece nenhuma. Você mesma nunca foi vítima desse tipo de violência.”
Continuar lendo “Carta pro meu irmão”Em Londres e algumas historietas
Deixei Beirute duas semanas atrás, passei uns dias em Paris e já estou confortavelmente instalada no meu novo lar (provisório, como é o costume) em Londres. Fico aqui até o início de julho, trabalhando no mesmo lugar onde trabalhei ano passado. Vim aqui só dar sinal de vida e tirar a teia de aranha do meu bloguito. Mas já que cheguei, vou aproveitar pra contar umas coisinhas miúdas que aconteceram nos últimos dias, pra distrair vocês do fato que hoje não tem receita.
Continuar lendo “Em Londres e algumas historietas”É assim que vou lembrar
Esse é o meu último mês em Beirute e já comecei a fazer listas do que quero fazer antes de ir embora. Três meses aqui é pouco pra penetrar nas camadas mais profundas da cidade. Tenho a impressão que até agora só consegui arranhar um pouquinho a superfície. Então decidi parar de tentar dar um sentido pra esse emaranhado de fios, culturas, contradições e desigualdades e vou passar as próximas semanas só admirando, absorvendo e gravando na memória cada momento e cada esquina. E aqui vão algumas imagens da cidade pra vocês verem um pouco do que estou vivendo. Não são fotos trabalhadas e fiz todas com o telefone (com excessão de duas fotos feitas por Anne), mas é assim que vou lembrar de Beirute.
Continuar lendo “É assim que vou lembrar”E a minha vida nunca mais foi a mesma
Prometi receitas libanesas e uma hora elas chegarão por aqui. Mas por enquanto tenho me deliciado com a culinária local em restaurantes e na feira de produtores locais, onde uma cooperativa de mulheres sírias refugiadas oferece pratos tradicionais desse país. Ainda não cozinhei nada típico em casa porque estou aproveitando enquanto posso a oportunidade de comer quitutes preparados por mãos libanesas e sírias. Degusto tudo com atenção, provando cada tempero, cada erva, cada legume, pedindo explicações detalhadas e fazendo anotações. Acho que só vou cozinhar pratos típicos daqui quando eu for embora e a saudade começar a apertar.
Continuar lendo “E a minha vida nunca mais foi a mesma”Papa de aveia árabe
Alguns dias atrás o curso de Árabe que vim fazer aqui em Beirute terminou. Foram só cinco semanas, mas o alívio que senti no último dia de aula foi grande. Eu já tinha esquecido o que significa acordar cedo pra ir pra escola e passar a maior parte do seu dia sentada, olhando pra lousa ou pros cadernos. Mas adorei ter feito esse curso, pois aprendi, enfim!, a escrever e a ler em Árabe e conheci pessoas maravilhosas que espero manter na minha vida. E foi uma grande lição de humildade ser alfabetizada novamente aos 34 anos e ter que ler, na frente do professor e de uma sala repleta de alunos, com a mesma dificuldade e na mesma velocidade de quando eu tinha 6 anos (“b…b…ba…r…c…bar…co. Barco!). Aprender uma língua estrangeira depois de adulta é difícil, mas aprender uma língua estrangeira que tem um alfabeto completamente diferente do seu e que ainda por cima se escreve na direção oposta é como contratar um personnal trainer pros seus neurônios. Eles vão sofrer, suar, se esbaforir e quase colocar os bofes pra fora, mas sairão da experiência mais fortes e em melhor forma. Eu e meus coleguinhas de curso estamos nos sentindo muito mais sabidos agora do que cinco semanas atrás. Nos encontramos na rua e nos olhamos com respeito mútuo, pois fazemos parte do grupo que conseguiu conjugar os prefixos e sufixos do sistema verbal árabe- gênero, número, tempo e grau de probabilidade- escritos com letras que se metamorfoseiam de acordo com a posição dentro da palavra e que ainda por cima se escreve da direita pra esquerda!
Continuar lendo “Papa de aveia árabe”Tour Papacapim na Palestina – 2017
Eu disse que não teria outro, porém seguindo o ditado francês que diz que “só os idiotas não mudam de ideia” vim aqui anunciar oficialmente que vai ter mais um tour político-ativista-gastronômico-vegano na Palestina ano que vem. Na verdade dois. O primeiro acontecerá em fevereiro e o segundo em março. Dessa vez estou avisando com bastante antecedência porque muitas pessoas queriam participar dos tours em 2014 e 2015, mas não viram o anúncio a tempo e não conseguiram se juntar ao grupo. Dessa vez vocês têm um ano pra organizar a viagem (pedir férias, procurar as passagens mais baratas etc.).
Continuar lendo “Tour Papacapim na Palestina – 2017”O alecrim da outra é sempre mais verde
Começou de novo. Quando explico que estou em Beirute passando uma temporada de três meses as pessoas imediatamente me perguntam: “Onde você mora?”. Respondo: “Em Beirute” e termino a frase na minha cabeça com “…ora pois!” Mas elas nunca ficam satisfeitas, pois esperam uma resposta definitiva. O que eu não tenho. Continuar lendo “O alecrim da outra é sempre mais verde”
Beirute
Hoje faz exatamente duas semanas que cheguei no Líbano. Uma combinação de fatores me trouxe pra cá, mas a versão curta da história é: sempre tive vontade de visitar Beirute. Por isso ainda estou me beliscando pra ter certeza que minha casa agora é aqui. Continuar lendo “Beirute”
3 dias em Paris
Semana passada passei três dias inteiros em Paris, encontrando amigas, explorando a cena vegana da cidade, que continua aumentando, e curtindo um pouco essa cidade que eu tanto adoro. Aconteceu assim.
Cheguei em Paris de trem, vindo do interior da França, num domingo à noite. Sempre que chego em Paris sou invadida por um sentimento de familiaridade e estranheza ao mesmo tempo. Como quando você volta pra casa dos seus pais, depois de ter morado muito tempo na sua própria casa. Você se sente em casa e ao mesmo tempo ali não é mais a sua casa. Quando eu morava em Paris era diferente. Eu voltava pra cidade depois das férias, mesmo quando as férias eram no Brasil, e assim que chegava na minha rua soltava um suspiro feliz de “lar doce lar”.
Continuar lendo “3 dias em Paris”Guia Vegano – Marselha (França)
Acabo de chegar de dez dias de férias em Marselha. “Chegar” é modo de falar, pois na verdade eu não chego, eu passo. E estou novamente de passagem no interior da França, mas já de malas prontas pra próxima aventura. (Lembrando a quem não sabe: o Papacapim está no Instagram e sempre compartilho fotos das minhas andanças e comilanças pelo mundo.)
Mas então, Marselha. Apesar de ter morado seis anos inteirinhos em Paris, nunca tinha me aventurado pelo sul da França. Um grande erro que decidi corrigir. Quando eu levava minha vida tranquila de universitária na cidade luz meus amigos parisienses diziam: “Marselha? Oh, la, la! É uma cidade suja, barulhenta e perigosa!” E eu pensava com os meus botões que essa noção de “cidade perigosa” é relativa e que não podia ser pior do que as grandes metrópoles brasileiras. Pois tenho a satisfação de informar que meus amigos parisienses estavam errados. Marselha, a segunda maior cidade da França, é incrível, vibrante, um caldeirão cultural com praias lindas de águas cristalinas e pessoas gentis e simpáticas. Sim, a criminalidade existe, principalmente em certos bairros (longe do circuito turístico), exatamente como em todas as cidades onde as desigualdades sociais são gritantes e a discriminação racial rola solta. Mas em nenhum momento me senti em perigo. E sim, a cidade é menos “arrumadinha” que a capital e tem graffiti em praticamente todos os muros e portas, mas não considero isso sujeira: adoro arte de rua. Sem falar que com tanta gente falando Árabe ao meu redor me senti em casa.
Continuar lendo “Guia Vegano – Marselha (França)”2016
Não sei se ele sabe, mas tenho grandes planos pra 2016. Vai ser mais um ano nômade, com muitas mudanças (geográficas), planos bem soltinhos, pra caber as oportunidades que forem cruzando o meu caminho, desafios pessoais, ativismo e (espero) muitos encontros. Mais do que tudo, vai ser um ano de espralício*!
Continuar lendo “2016”Alguém pra se indignar também
Deixei a Palestina, que voltou a ser o meu lar (mas dessa vez só por três meses), há pouco mais de uma semana. Vim passar o final do ano na França e preparar os últimos detalhes da próxima etapa. Depois de visitar a família e seus micróbios (nessa época do ano quase todo mundo fica adoentado) acordei resfriada, com as ideias meio moles e o corpo em câmera lenta. Anne acendeu a lareira pra me aquecer o corpo e alegrar o coração, colocou Djavan pra tocar e sentou pra trabalhar do meu lado. Estou escrevendo essas linhas no conforto de uma sala duplamente aquecida, com vista pro opulento jardim de um hectare que cerca a casa e com a barriga cheia da deliciosa baguete com sementes que meu sogro trouxe pro nosso café da manhã.
Continuar lendo “Alguém pra se indignar também”