Quando o verão ainda estava aqui

Passei as últimas semanas procurando um teto (ainda estou sem endereço), por isso não ando fazendo nada muito excitante na cozinha. Criei uma sopa ótima, mas tenho a impressão que o clube dos apreciadores de sopa é pequeno e ninguém vai reclamar se ela não aparecer por aqui. Mas quando o verão ainda estava aqui pela Europa e eu ainda estava de férias, preparei alguns pratos deliciosos. 90% do mérito vai pros vegetais suculentos que cruzaram o meu caminho. Quando o produto é realmente excepcional, não precisa fazer muita coisa pra transformá-lo em uma refeição memorável. Por exemplo, uma salada de tomate com tomates orgânicos que amadureceram no pé e chegaram na sua mesa carregados de sol e suco é uma das coisas mais deliciosas que existe. Corto (o termo certo aqui é ‘rasgo’) os tomates maduros diretamente sobre o prato em que for servir, pra recolher todo o suco que escorre pelos meus dedos, depois tempero com um bom azeite, vinagre balsâmico, manjericão fresco, sal marinho em flocos e pimenta do reino moída na hora. Servida com um bom pão, de preferência feito com fermento natural, essa salada é um poema. Então aqui vão algumas fotos das delícias simples, outras mais complexas, que apareceram na minha mesa durante o verão, mais algumas descobertas gastronômicas.

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Recife, parte 2

Enquanto me adapto ao vento frio do começo do outono europeu (que saudade do calorzinho da Palestina nessa época do ano!), gostaria de dividir mais algumas descobertas que fiz durante as férias no Brasil. Depois da primeira visita à Recife, voltei à terra de Lenine pra dar uma palestra sobre as violações dos direitos humanos e resistência popular na Palestina. Era a ocasião perfeita pra visitar dois lugares que estavam na minha lista desde a última visita, então acabei estendendo um pouco a estada. Dessa vez descobri que minha irmã caçula, que me acompanhou durante a viagem, é na verdade minha gêmea. Algumas pessoas foram felicitá-la depois da palestra achando que ela era era eu, o que nos fez dar boas gargalhadas. Mas estou divagando. O que eu realmente queria contar pra vocês é o seguinte.

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A berinjela de dona Laura

Graças ao blog tive a honra de conhecer pessoas formidáveis. Uma delas foi Patrick (um doce de rapaz), que me ajudou a publicar essa entrevista na Revista Fórum. Ele chegou ao blog graças à esposa, Juliana (um doce de menina), que trabalhava com minha irmã caçula, que faz propaganda do blog pra todos que passam pela sua frente (obrigada, Lulu!). Na última vez que estive em Natal tive o imenso prazer de conhecer essa casal adorável e até improvisamos uma aula de gnocchi no apartamento deles. Nesse dia acabei conhecendo a mãe de Juliana, dona Laura, uma portuguesa que mora no Brasil há muitos anos. Naquela noite dona Laura preparou a melhor berinjela que já comi na vida! Eu tinha ido ensinar os meus amigos a fazer gnocchi e voltei pra casa com uma receita pra lá de especial.

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Pesto de verdade

Por alguma razão misteriosa (eu culpo as forças ocultas), até algumas semanas atrás eu nunca tinha feito pesto de verdade. Adoro meu molho de majericão com amêndoas, que já apareceu aqui no blog acompanhando meus nhoques, mas ele não é pesto. Um dia li um longo artigo sobre a arte de fazer pesto, picando tudo com uma faca grande (ou, melhor ainda, com uma mezzaluna) e pensei “Sou tão feliz com meus pesto cremoso falsificado, então por que me dar todo esse trabalho?”. Até que durante as férias na França uma vontade aguda de pesto me invadiu e como não tinha nenhum liquidificador por perto fui forçada a usar o método tradicional manual. Ô dia feliz!

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Um pressentimento bom

As férias na França acabaram ontem. Eu costumava ser uma viajante que, antes de sair de casa, sabia exatamente o que ia ver e fazer durante as viagens, mas hoje sinto um prazer imenso em viajar sem roteiro pré definido. Fui me dando conta que, pra mim, as coisas simples e os detalhes deixavam lembranças mais saborosas. Uma luz especial, uma nuvem, cores, um aroma trazido pelo vento, uma vitrine…

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Os cogumelos

Tanta gente ficou empolgada pra descobrir como comi os cogumelos colhidos no passeio pelo bosque que acabei ficando com receio de decepcionar vocês. Não fiz nada de mirabolante, nenhum prato sofisticado com eles. A verdade é que ingredientes de primeira, como aqueles cogumelos selvagens e fresquíssimos (recém saídos da terra), não precisam de muito tempero nem de preparações complicadas. Achamos melhor degustá-los da maneira mais simples possível: na grelha, com sal marinho, pimenta do reino moída na hora e nada mais. Porém, amigos, garanto que a simplicidade da receita foi inversamente proporcional ao sabor que elas nos ofereceu. Degustamos primeiro os cogumelos marrons, os maiores que vocês viram nas fotos do post anterior (em Francês eles chamam esse cogumelos de ‘cèpes”).

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Sonho de uma tarde de (quase) outono

Vou contar uma história pra vocês (a história será contada mais com fotos do que com palavras). Outro dia fui colher cogumelos no interior da França com Anne, Guy (um tio dela) e Annie (esposa do tio e madrinha dela). Sempre sonhei em procurar cogumelos na floresta. Pra quem nasceu no litoral do Nordeste brasileiro, essa é uma daquelas coisas que só vi em filmes. Estou passando uns dias na França, em uma região cercada de florestas, e como o outono está se aproximando pensei que não podia perder essa oportunidade de realizar um sonho tão antigo.

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Antipasto tricolor

Estou escrevendo essas linhas diretamente de um pub na Bretanha, que muitos consideram como a região mais bonita da França. Vou ficar uns dias por aqui, respirando o ar marinho e comendo galettes de trigo sarraceno e algas marinhas, duas especialidades desse lugar. Como não tenho muito tempo pra escrever esse post, vamos direto ao ponto.

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Guia Vegano Natal- parte 2

Ano passado fiz o Guia vegano Natal, onde reuni alguns restaurantes (vegs ou com opções vegs) e lojas de comida na cidade do sol. Durante as férias desse ano descobri novos endereços bacanas pra nós veganos/vegetarianos e interessados em ingredientes e pratos vegetais saborosos em geral. As descobertas desse ano foram: um restaurante vegetariano, mas que é quase todo vegano, uma pizzaria com ótimas opções pro pessoal veg e uma loja que vende as melhores oleaginosas e frutas secas da cidade! (Assim que cheguei ao Brasil a lente da minha câmera fotográfica quebrou e passei a usar a da minha irmã, que tem uma qualidade muito inferior. Isso explica porque as fotos não estão tão boas.)

la verde vida
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rossopomodoro
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Lucena

Praia é, pra mim, o lugar mais difícil de ser vegano. Já repararam que restaurantes e barracas na praia só servem peixes, frutos do mar e outros produtos de origem animal? Se tiver macaxeira frita e feijão verde (as únicas opções veganas que esse tipo de estabelecimento serve aqui no Nordeste, além, claro, de batata frita e salada de alface com tomate) considere que é o seu dia de sorte! Por isso fiquei extremamente feliz quando uma leitora sugeriu o restaurante vegetariano/vegano La Verde Vida, em Pirangi. A praia fica a poucos quilômetros de Natal e é passagem obrigatória pras praias mais badaladas do Litoral Sul. Infelizmente chegamos tarde e já não tinha tantas opções, mas apesar disso me deparei com uma variedade boa de pratos, todos saborosos e muitos extremamente criativos. Bife de caju, torta salgada de jaca verde, ensopado de mamão verde e a famosa lasanha de jaca (único prato que não era vegano no dia) são alguns exemplos. O arroz da terra e o feijão estavam suculentos e ainda pude degustar três sobremesas veganas! Tudo regado com um chazinho de gengibre e maracujá de lamber os beiços. Junta-se a isso a atmosfera relaxada do lugar, os preços acessíveis e a simpatia sem tamanho de Gladis, a dona da casa, e o resultado é um restaurante que realmente vale a pena visitar (e voltar sempre que possível).

Vai lá: Restaurante La Verde Vida Av. São Sebastião, 241, praia de Pirangi do Norte (estacione perto do hospital, na rua paralela). Aberto para almoço aos sábados e domingos (chegue cedo!). Contato: 8873-3063 e 9150-8180.

Ano passado descobri uma pizzaria tradicional italiana em Ponta Negra e fiquei feliz da vida em poder degustar pizzas de qualidade. Esse ano, graças à minha irmã e ao meu sobrinho, visitei a pizzaria Rossopomodoro, também em Ponta Negra, e me encantei. A massa tradicional italiana, fininha, saborosa e ligeiramente crocante, é do jeitinho que eu gosto. E no longo cardápio, não faltam opções pros veganos. Na verdade só tem uma pizza vegana ( se não me engano se chama ‘marinara’ e tem molho de tomate, orégano e acho que nada mais), porém tem algumas opções vegetarianas e é só pedi-las sem queijo. Não só eles não fazem cara feia quando você pede pra fazer sua pizza sem queijo, como também é possível acrescentar ingredientes como tomate seco, rúcula, alcaparras e alcachofas. Minha preferida (a da foto acima) tem tomate seco e rúcula e sempre pedia pra acrescentar alcaparras. Como vocês podem ver, eles são generosos com os ingredientes. Eles também servem um molhinho estilo pesto que é vegano (só tem manjericão, alho e azeite), então sempre comia minhas pizzas lambuzadas com ele. E pra tudo ficar ainda melhor, os preços são camaradas.

Vai lá: Pizzaria Rossopomodoro Av. Praia de Búzios, 9055, Ponta Negra. Contato:  3219-0347. Fechado nas quartas-feiras.

O bairro do Alecrim continua sendo um ótimo lugar pra comprar cereais, leguminosas e oleaginosas com qualidade e preços bons. Mas esse ano minha irmã me levou pra loja Lucena, que é um verdadeiro paraíso pros amadores de castanhas e frutas secas. Encontrei as melhores (e maiores) castanhas do Pará que já comi, vários tipos de castanha de caju (uma especialidade do nosso estado), oleaginosas mais exóticas e todo tipo de fruta seca imaginável (morango, caju, banana, blueberry, cranberry, abacaxi…) e semente de chia pelo melhor preço da cidade (70 reais o quilo. Pode até parecer muito, mas nos supermercados da cidade o quilo sai por volta de 120 reais). Essa loja também vende cachaças envelhecidas, quinoa, amaranto, óleo de linhaça e outros produtos especiais, mas o que mais gostei lá foram as oleaginosas e frutas desidratadas. E os preços? Ainda mais em conta do que no Alecrim! Essa loja com certeza se tornou um dos meus endereços preferidos na cidade.

Vai lá: Produtos Lucena Rua Agnaldo Gurgel Júnior, 10, Candelária (perto do encontro das avenidas Integração com a Salgado Filho). Contato: 3207-8079. Vejam o site deles aqui.

Gostaria de ter visitado mais lugares e de ter organizado algum evento com os leitores de Natal (Marcela e Giselle, fiquei em dívida com vocês, perdão). Achei que dessa vez, por ficar dois meses inteiros lá, encontraria tempo pra fazer tudo, mas… Na minha lista pro ano que vem tem o restaurante A Casa, em Potilândia. É vegano, é barato e quem comeu por lá gostou. Chegue cedo, pois esse lugar pequeno é bem popular, então a comida acaba rápido (tentei ir depois das 12.30 e já não tinha mais nada). E, claro, pretendo encontrar os leitores papa-jerimuns. Talvez se eu começar a planejar agora, o evento (enfim!) aconteça.

Sobre inspiração

Na palestra sobre veganismo que fiz em Recife me perguntaram de onde vinha minha inspiração pra criar receitas. Foi difícil responder essa pergunta, pois quando a gente vive mergulhada no processo de criação (e, acreditem, eu penso em comida na cama e até sonho com receitas enquanto durmo), parece que as ideias brotam por todos os lados. De onde vem a inspiração? Às vezes de um artigo sobre um determinado ingrediente que li em alguma revista, às vezes do menu de um restaurante (adoro ler menus de restaurantes bacanas, sempre encontro combinações nas quais não tinha pensando ainda), às vezes de algo que comi na casa de um amigo ou parente…

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Degustando

Acabo de chegar à França, meu lar temporário durante o próximo mês. Houve um tempo em que eu me sentia em casa nesse país. Mais ainda nessa nessa época do ano, quando eu voltava das férias no Brasil e me preparava pra começar mais um ano letivo em Paris, enquanto curtia os últimos dias do verão. Senti uma espécie de déjà vu ao pisar aqui, mas embora os aromas, as cores e os sabores ainda me sejam familiares, me sinto uma estranha nesse lugar. Mas o lado bom de me sentir como uma turista é que aproveito melhor as delícias que a França tem pra oferecer.

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Mini frittata de couve-flor

Lembram da euforia do omelete vegano? Quando publiquei essa r.eceita aqui no blog expliquei que há tempos namorava com receitas à base de farinha de grão de bico, mas que não era fácil encontrar esse ingrediente tão popular da culinária indiana. Pouco tempo depois uma pessoa muito simpática me escreveu dizendo que produzia farinha de grão de bico aqui no Brasil. Como na época eu estava fora do país não pude experimentar o produto, mas pouco depois de ter chegado aqui de férias recebi um pacote de presente.

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Coma uma salada crua por dia

Eu sou uma grande fã da alimentação crudívora. Ter descoberto esse tipo de culinária estimulou minha criatividade gastronômica e revolucionou a maneira como preparo sobremesas. Sem querer entrar na questão da suposta superioridade nutritiva desse tipo de culinária versus culinária onde os alimentos são cozinhados, incluir vegetais crus na nossa alimentação diária traz inúmeros benefícios pra saúde. E uma das maneiras mais simples de incluir vegetais crus na nossa alimentação é através de saladas. O que nos leva à dica desse mês do Guia Papacapim de Alimentação Saudável:

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Tapioca três grãos

Como nunca pensei nisso antes? Comi tapioca durante 31 anos e nunca tinha me passado pela cabeça que poderia deixar esse alimento tão popular aqui no Nordeste mais gostoso e nutritivo. Adoro tapioca, mas convenhamos: esse prato à base de goma (amido ou fécula) de mandioca é um carboidrato simples e não tem quase nada de fibra, proteína ou minerais.

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Lá em Recife…

No início do mês estive em Recife pra participar do Cultura Veg, organizado pela Sociedade Vegetariana Brasileira de Recife, e dar uma oficina de culinária. Os dois eventos foram ótimos e tive a oportunidade de conhecer pessoalmente alguns leitores do Papacapim e amigos virtuais. Como o único contato que tenho com meus leitores é através do blog, é sempre um prazer imenso poder conversar frente à frente com as pessoas e descobrir o que elas acham do Papacapim. Aqui estão algumas fotos da palestra, e do delicioso lanche vegano que foi servido depois, e da oficina, realizada na escola gastronômica La Luna. Fotos de Régia Sofia de Azevedo e Camila Apolonio (as duas últimas).

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“Me tornar vegana foi uma maneira de me tornar politizada”

Uma das razões que me levaram a escrever esse post foi ter percebido que muitas pessoas se interessam em saber como nós, veganos, nos tornamos herbívoros. Como gostaria de usar esse espaço pra compartilhar histórias, experiências e inspirar quem passa por aqui, decidi juntar uma coisa com a outra e pedir a alguns dos meus amigos pra contar aqui no blog como o veganismo entrou na vida deles.

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Evento em Recife

Pra quem perdeu o anúncio que deixei na página Facebook do Papacapim, vou repetir por aqui. Nessa sexta, dia 5 de julho, eu vou animar a nona edição do Cultura Veg, organizado pelo grupo Recife da Sociedade Vegetariana Brasileira. O tema, fiel ao estilo do blog, será ‘Desmistificando a culinária vegetal’ e eu compartilharei minha experiência com o veganismo e darei dicas de como ser um herbívoro feliz. Mais informações sobre o evento aqui.

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