Dois anos

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Nem parece, mas já faz dois anos que o Papacapim existe. O blog foi criado em fevereiro de 2010, mas passei meses desenvolvendo o conteúdo das páginas antes de torná-lo público.  Só avisei os amigos da existência dele no mês de maio. Então decidi comemorar o aniversário do blog em abril, pra coisa ficar ainda mais bagunçada. Organização nunca foi o meu forte e lembrar datas de aniversário menos ainda.

Pra comemorar a ocasião preparei uma lista com os melhores posts Papacapim de todos os tempos.  Dividi em categorias, pois, se no início minha intensão era criar um blog de culinária vegetal, com o passar do tempo ele foi evoluindo e passei a incluir temas mais variados, como nutrição vegana, viagens, dicas práticas e até minha vida pessoal, que aparece cada vez mais frequentemente por aqui.

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Anatomia de uma salada

Salada de grão de bico com algas marinhas, maçã e amêndoas

No post inaugural do blog falei que tenho uma certa raiva de saladas. Na verdade salada é uma das coisas que mais adoro comer, mas as saladas que preparo em casa não têm nada a ver com as misturas anêmicas que alguns restaurantes oferecem como consolo aos veganos. Uma salada bem preparada e arquitetada pode ser deliciosa, nutritiva e servir de refeição. O segredo é misturar ingredientes de categorias diferentes, formando um prato completo. As vantagens são inúmeras. Uma salada-refeição é capaz de alimentar sem deixar aquele peso no estômago, pode ser preparada em menos tempo que um prato quente e ainda pode ser transportada sem problemas (amigos procurando ideias de marmita*, venham por aqui). Além, claro, de aumentar consideravelmente a quantidade de fibras da sua dieta. Se você gostaria de comer mais verduras (e garanto que você deveria), trocar seu almoço convencional por uma salada-refeição algumas vezes por semana é uma maneira prática e eficiente de atingir esse objetivo.

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Visita

Alguns dias atrás falei que estava com visita brasileira aqui em casa. Cibele, a leitora do blog que virou minha amiga (na verdade amiga da família toda) e que foi me visitar em Natal ano passado, está passando uns dias de férias aqui conosco.  Eu estou me esforçando pra mostrar à moça as delícias veganas da culinária local como ful (pasta de feijão), hummus, tomate cozido com cebola, falafel, mutabal e mudjadara.

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Tudo sobre chocolate

No último post falei que estava com visita brasileira aqui em casa. Minha visita é muito generosa e trouxe metade da mala com presentes, a maioria comestíveis. No meio dos presentes tinha chocolate da marca “Chokolah“, que eu não conhecia. Ganhamos duas barras, uma de chocolate puro e outra com castanhas, ambas com 62% de cacau. Achei o chocolate tão bom que decidi comentar aqui no blog, pois sei o quanto é difícil achar chocolate de qualidade e vegano no Brasil. Resolvi aproveitar o ensejo pra falar um pouco sobre esse manjar dos deuses que (quase) todo mundo adora, mas que nem todo mundo parece conhecer bem.

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Cozinhas

Eu tenho um carinho todo especial por cozinhas. Na minha família a cozinha sempre foi o coração da casa. Todas as conversas, das mais triviais às mais importantes, aconteciam na cozinha, ao redor da mesa de mármore preto. O mármore foi comprado pra servir de lápide pra minha avó paterna, mas acabou não sendo usado e se transformou no tampo da nossa mesa.  Quando escutei essa história passei a ter medo da mesa e evitei ficar sozinha na cozinha durante meses. Mas, além da minha pequena pessoa, ninguém parecia achar aquilo mórbido e o local de reunião preferido de todos continua sendo a cozinha. Alguns até afirmam que a conversa é mais gostosa se os pratos da refeição anterior não forem retirados. Melhor ainda se tiver alguns farelos sobre a mesa pra entreter os dedos enquanto a boca trabalha. Reuniões de família pra discutir assuntos importantes? Anúncio de divórcio ou reconciliação? Aviso de viagem de três meses (que já passou dos dez anos) ao exterior? Tudo acontece na cozinha.

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Sobre o livro (e um molho)

Mojo

Eu bem que tentei. Passei semanas sentada na frente do computador, bebendo dois litros de chá e um de café por dia, e só parava de encarar a tela quando sentia que meus olhos tinham deixado as órbitas e se instalado confortavelmente na ponta do meu nariz. Enfrentei problemas de logística climática e geográfica, que eu tinha ingenuamente ignorado, e problemas com minha máquina fotográfica, que está defeituosa desde que voltei do Brasil em dezembro. Depois de dar muitas voltas na cozinha, enquanto preparava a décima caneca de chá do dia, tive que me render às evidências: eu não conseguiria terminar meu livro em abril. E nem adiantava acionar o plano B, que era ascender velas na igreja da Natividade, atravessar a praça e dar uma rezadinha na mesquita que fica do outro lado, só pra garantir (acho prudente me pegar com os santos e deuses locais, mesmo não sendo nem cristã nem muçulmana). Então escrevi pra minha editora no Rio, que está grávida de seis meses e realmente não precisava de mais preocupação ou contrariedade, e disse:

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O que fazer com restos de arroz

Arroz com tomate e milho

Além de não ser fã de macarrão, eu não gosto muito de arroz. Nem de batata, caso estejam interessados em saber. Meu desgosto por carboidratos brancos é geral e a razão não é, como alguns podem imaginar, porque eles são pobres do ponto de vista nutricional, mas sim porque são pobres do ponto de vista gustativo (na minha opinião). Mas a outra residente da casa adora arroz (e macarrão e batata), então sou obrigada a cozinhá-lo de vez em quando. Como só ela come, acaba sempre sobrando um pouco. No dia seguinte me deparo com aquele resto de arroz que não é suficiente pra duas porções, mas que precisa ser consumido. Pra resolver o problema faço salada de arroz (misturando com legumes crus e temperando com azeite e vinagre balsâmico), mas se o tempo estiver frio uso uma das duas receitas abaixo. O que mais gosto nessas receitas, além da praticidade e grande capacidade de adaptação, é que no final tem mais legumes do que arroz. Elas não pertencem à grande gastronomia, mas fazem parte de um grupo ainda mais bacana: o das receitas improvisadas, que limpam os restos da geladeira e transformam legumes solitários em uma refeição gostosa.

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Um agrado coberto com chocolate

Passas cobertas de chocolate

Muito obrigada por todos os comentários que vocês deixaram no post sobre o meu trabalho no campo de refugiados de Aida. Gostaria de retribuir tanta gentileza, então pensei em fazer um agrado aos meus leitores. Um agrado coberto com chocolate.

Essa receita acabou de entrar na minha vida, mas tenho certeza que ela veio pra ficar. Em algumas lojas daqui é possível encontrar passas cobertas com chocolate (grãos de café torrado também), mas nunca dei atenção, pois o chocolate da cobertura é ao leite. Porém eu sei que passas com chocolate é uma combinação muito boa. Sempre que viajo preparo um saquinho com passas, amêndoas e avelãs e uns quadradinhos de chocolate amargo pra comer no caminho. A mistura, além de deliciosa, sacia minha vontade de comer uma coisinha doce, mas nutritiva, capaz de distrair meu estômago até a próxima refeição. Uma receita de passas cobertas com chocolate vista na internet semana passada era o que faltava pra me dar vontade de misturar os ingredientes do meu lanchinho de aeroporto e fazer uma versão melhorada das passas chocolatadas vendidas aqui. E agora não posso mais viver sem elas.

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Meu trabalho no campo de refugiados

Acredito que os leitores do blog, pelo menos os que leram a página “sobre”, sabem que trabalho em um campo de refugiados aqui em Belém.  Quando escrevi o texto “Só pela subversão” eu quebrei uma promessa que fiz a mim mesma: manter o Papacapim apolítico e não misturar ocupação militar e comida pra evitar indigestão. Mas quem eu estava tentando enganar? Comer é um ato político. A maneira como me alimento e as receitas desse blog são motivada por razões políticas (e éticas). Faz quatro anos que sou ativista pelos direitos humanos e animais em tempo integral e política ocupa a minha mente na maior parte do meu tempo acordada (dormindo também). O conteúdo desse blog é fortemente influenciado pelas minhas opiniões e princípios, logo o Papacapim é fundamentalmente político. Por isso decidi mostrar hoje uma parte da minha vida que até então ficou de fora do blog.

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Esse aqui não vai traumatizar ninguém

Ensopado de legumes indiano

Eu tenho uma relação ambígua com a culinária indiana. Eu adoro, mas não consigo comer muito nem com muita frequência. Acho as primeiras garfadas uma delícia, mas depois de terminar a refeição (às vezes até antes) me sinto ligeiramente enjoada. Aquela ruma de especiarias, sempre acompanhada de bastante gordura (ghee, óleo ou leite de coco), pode ser muito pesado no estômago de quem não tem costume de comer desse jeito. Sem falar na pimenta. Nunca vi comida tão ardente quanto a desse povo e olha que aprecio uma pimentinha. Minhas experiências gastronômicas na Índia foram bem traumáticas. E estômago tem memória.

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Como compor um cardápio vegetal equilibrado

Depois de ter dado dicas práticas sobre organização na cozinha e ter explicado minha rotina culinária, o post de hoje mostra como compor um cardápio vegetal equilibrado. Embora o objetivo desse post seja ajudar veganos a se alimentar de maneira saudável, os onívoros vão achar informações úteis aqui, afinal aumentar a quantidade de vegetais na dieta traz benefícios pra todos.

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De passagem

Salada de beterraba e laranja

Pensei que seria uma boa ideia publicar uma receita antes do último post sobre organização na cozinha. Alguém podia estar com fome.

O tempo por aqui anda louquíssimo, com tempestade, ventania e uns granizos que parecem micro bolinhas de neve. Por conta disso a internet de casa está temperamental e só funciona se eu fizer muito carinho, disser que ela é linda e chamá-la pra fumar um narguilê na praça da natividade. Mesmo assim basta um ventinho pra ela mudar de ideia e ir embora de novo. E depois dos floquinhos de neve que caíram ontem durante a noite parece que ela saiu em busca de terras mais calientes. Estou escrevendo esse post em um café, no meio de uma nuvem de fumaça de narguilê, e preciso ser breve.

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Minha rotina culinária

Mercearia de Tawfic

Continuando a série sobre organização e planejamento na cozinha, vou explicar hoje como organizo minha rotina culinária e revelar o que se come na casa Papacapim quando não tem ningém olhando. A intenção é mostrar exemplos de cardápios vegetais nutritivos e talvez até servir de inspiração. Mas antes, preciso responder algumas perguntas deixadas nos comentários do post anterior.

Emes falou do problema de ver folhas, principalmente alface, estragando na geladeira. A única solução é comprar quantidades menores (ou começar a comer quantidades maiores de folhas, o que seria ótimo) e guardá-las enroladas em um pano de prato úmido, dentro de um saco ou recipiente de plástico fechado, pra prolongar a vida das folhas. Isso também funciona com ervas frescas. Foi algo que aprendi com minha mama e que divido com vocês. Pretendo escrever em breve sobre como incluir mais legumes folhosos na alimentação, então aguarde as próximas dicas, Emes.

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15 dicas pra cozinhar de maneira prática e econômica

Feira, o melhor lugar pra comprar comida.

Talvez algumas pessoas imaginem que passo horas na cozinha preparando cada refeição. Isso às vezes é verdade, mas não é a regra aqui em casa. No dia a dia, principalmente agora que estou mais ocupada do que nunca, tento passar o mínimo de tempo possível na cozinha. Preparo o almoço em menos de meia hora (às vezes 5 minutos, se estiver bem preparada) e gasto entre 10 minutos e 1 hora pra fazer o jantar durante a semana. Em 10 minutos esquento um resto de sopa e preparo uma salada crua, em 1 hora cozinho um prato completo, como um ensopado ou um gratinado (que será meu jantar durante vários dias).

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Romã

Espero que todos estejam se divertindo e tendo um ótimo carnaval. Felizmente pra mim, por aqui não tem folia e com somente uma moradora na casa, as coisas estão mais tranquilas do que nunca.

O inverno desse ano está bem frio e como não tenho aquecedor (tenho um a gás, que está sem gás no momento, mas de todo jeito prefiro não usá-lo) passei os últimos dias com uma bolsa de água quente nos pés e uma caneca de chá nas mãos. Se pudesse, teria me refugiado embaixo das cobertas o tempo todo, mas tive que sair várias vezes sob a chuva grossa que não parou de cair durante toda a semana. No sábado saí pra comprar comida sob uma chuva de granizo e à noite comecei a me sentir meio mole, como se estivesse incubando um vírus malvado que iria explodir no dia seguinte. Ainda bem que tinha trazido pra casa as últimas romãs da feira.

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Só pela subversão

Desde que me mudei pra cá vi coisas extraordinárias acontecerem. Poderia escrever um livro (um dia, quem sabe), mas me contento, por hora, de escrever um post.

Alguns dias atrás minha grande amiga Johanna, que mora em Tel Aviv, ligou dizendo que tinha um amigo israelense precisando da minha ajuda e que era urgente. Ela não tinha tempo pra explicar, mas ele podia contar tudo direitinho. Fiquei surpresa, mas disse: “Pois não, pode falar pra ele me telefonar”. E fiquei matutando sobre esse pedido estranho. Por que cargas d’água um rapaz que não me conhecia precisava de minha ajuda? Conhecendo os amigos ativistas de Johanna, torci pra que não fosse algo ilegal, mesmo sabendo que meu espírito subversivo se deixaria convencer de qualquer coisa. Só confessei isso porque minha mãe não lê o blog e se lesse não entenderia, pois ela não sabe o que significa “subversivo”.

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Elas são inocentes

Espinafre com creme

Hoje eu gostaria de fazer alguns agradecimentos, anunciar mais uma novidade e dividir uma receita muito especial com vocês. Queridos leitores, muito obrigada pelo entusiasmo que vocês manifestaram no lançamento do Guia do Herbívoro Feliz e pelo apoio daqueles que compraram o livro. Vocês são ótimos! Ainda não atingi o meu objetivo (mas não perco as esperanças), por isso o Guia continua à venda. Criei até uma página especialmente pra ele (olhem no cabeçalho do blog) e toda divulgação é bem vinda. Passemos então ao anúncio.

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O mês da sopa

Sopa de feijão, couve e milho

Eu poderia tomar sopa todos os dias sem nunca reclamar. Na verdade isso até me deixaria bem feliz. Mas a outra moradora da casa não divide minha empolgação com sopas. Ela gosta, sempre limpa o prato, mas nunca proclamou “Que vontade de tomar sopa hoje!”. Se tiver, ela toma, mas se puder escolher, ela escolhe outra coisa. Pra mim não tem criação culinária mais perfeita do que sopa. Ela é generosa e acolhe os mais diferentes tipos de verduras, leguminosas, cereais e ervas. Ela é democrática e aceita tanto os ingredientes mais humildes quanto os mais requintados.  Ela é econômica e transforma alguns punhados de alimentos em jantar pra várias pessoas. Ela não faz bagunça na cozinha, você só precisa de uma faca, uma tabua de legumes e uma panela. Ela recicla os restos. Ela oferece muitos nutrientes e poucas calorias (as minhas sopas, pelo menos). Ela aquece o corpo por dentro e reconforta. Não consigo entender gente que não gosta de sopa.

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