Primavera em Belém

No domingo de Páscoa minha vizinha nos presenteia com um pratinho de “ma’amul” (doces palestinos que os cristãos fazem durante a Páscoa, e os muçulmanos durante o Ramadan), chocolates, amêndoas doces e ovos cozidos coloridos, pintados por ela mesma (que eu ofereço aos amigos não veganos). Não seguimos nenhuma religião aqui em casa e se não fosse pela gentileza dessa vizinha, e as barulhentas procissões que tomam conta da cidade nessa época do ano, eu nem perceberia que estamos na semana santa. Nada de almoço especial, nem ovos (ou sobremesas) de chocolate aqui no blog, mas como moro na terra santa, e que nunca publiquei fotos da cidade onde moro (tirando essas), resolvi mostrar um pouco desse lugar mágico que é Belém durante a primavera.

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Como preparar quinoa/quinua

Quinoa: vermelha e amarela

Tem um grande amigo meu de passagem na cidade e antes de sair do seu habitat (as florestas do norte da França) pro meu (os confins do Oriente Médio), ele teve a gentileza de me perguntar se eu queria que ele trouxesse algo pra mim, algo que eu não encontro aqui. Adoro quando me fazem essa pergunta e tratei logo de preparar uma lista, o que obrigou meu amigo a fazer sua primeira visita à uma loja de produtos orgânicos. Ele chegou aqui dizendo que descobriu um mundo novo, exatamente como aconteceu comigo alguns anos atrás. Só tem um problema: ele não sabe como preparar nada desse mundo novo. Depois dessa conversa tive uma ideia: incluir outros produtos, além de vegetais, na série “Como preparar…”.

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Ervilhas… sozinha ou acompanhada

Ervilha com hortelã

Acho sábio casar com alguém que tenha gostos ligeiramente diferentes dos seus. No amor, acredito que extremos opostos se repelem, mas ligeiramente diferentes se complementam. Se Anne e eu tivéssemos exatamente os mesmo gostos eu não estaria desfrutando agora de uma noite tranquila assistindo a vídeos de Jessier Quirino, enquanto ela dança ao som de hip hop do outro lado do país. Eu gosto de ter a casa só pra mim vez ou outra, de exercitar meu egoísmo sem culpa, preencheendo essas horas com atividades que agradam somente à minha pessoa. Nas minhas (raras) noites solitárias, além de me acabar de rir com Jessier Quirino, eu aproveito pra testar pratos diferentes. Às vezes encontro receitas  com combinações inesperadas, ou tenho uma idéia super ousada, mas fico um pouco apreensiva em testar a receita quando tenho companhia (E se a outra pessoa não gostar? E se a receita for ruim e eu desperdiçar meus ingredientes?). Preparar a receita quando estou sozinha é mais seguro. Se ela não for boa, além de não desperdiçar uma quantidade grande de ingredientes, ninguém fica sabendo da minha falha e minha reputação de boa cozinheira estará salva. Se a receita tiver potencial, mas precisar ser melhorada, eu tenho a possibilidade de fazer os devidos ajustes quando prepará-la novamente.

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O prato do pobre

Sopa de lentilha palestina

Prometi uma receita de pão integral pra minha amiga Mona, mas ela vai ter que esperar um pouquinho. Desde a semana passada que estou participando de um projeto muito interessante mas que está consumindo todo o meu tempo. Sem tempo pra cozinhar, estamos nos alimentando de quinoa, macarrão e os legumes solitários que encontro na geladeira. Mas estava ocupada demais pra fazer compras no sábado, dia de ir à feira e fazer o estoque de verduras da semana, e hoje cheguei ao fim da despensa (o “fim do poço” culinário). A maior parte do meu prato é preenchida com verduras e legumes, em qualquer refeição (sim, mesmo no café da manhã), e quando me deparo com uma geladeira vazia, preparar o jantar vira missão impossível. Felizmente pra essas ocasiões existe o prato do pobre.

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Choco extravagância

Trufas de bolo (com avelãs e whisky)

Se alguém achar um nome melhor pra essa receita, eu aceito sugestões. Essas são as trufas de bolo que fiz pra comemorar o aniversário da minha irmã (e que ela não pode comer, mas o que vale é a intenção). A receita é minha mas o conceito não. Eu acompanho vários blogs de culinária americanos e vi que lá pelos States está na moda fazer cake balls e cake pops (as tais das cake balls espetadas em palitos de pirulito). A idéia de fazer um bolo, esfarelá-lo, misturar com cobertura, fazer bolinhas e cobri-las com chocolate me pareceu brilhante. Eu gosto de bolos super úmidos e com bastante cobertura, então por que não misturar logo os dois juntos? Quando comecei a procurar uma receita de bolo de aniversário pra minha irmão lembrei das cake balls. Minha irmã faz parte daquele (imenso) grupo de pessoas que só gosta de sobremesa se tiver muito, muito chocolate. Aviso: estômagos sensíveis a chocolate, essa receita não é pra vocês!

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Minha irmã

Quando ela nasceu eu estava esperando um irmãozinho. Talvez seja por isso que não gostei dela logo de início.  Na verdade “não gostar” é um eufemismo. Quando crianças brigávamos tanto que nossa mãe nos chamava ora de “Irã” e “Iraque”, ora de “Caim” e “Abel”. Naturalmente, eu era o Iraque e Caim pois, como toda irmã mais velha, eu detestava minha irmã mais nova. Ainda hoje minha consciência pesa quando penso nisso. Não que eu fosse extremamente malvada com ela, mas eu estava convencida que minha irmãzinha era a criatura mais chata, grudenta, imitona, mentirosa e desagradável do universo. Ela, como toda irmã mais nova, me admirava e queria fazer tudo que eu fizesse. Quanto mais eu a rejeitava, mais ela grudava em mim, o que me irritava profundamente e acabava inevitavelmente em pancada. Um dos momentos mais gloriosos da nossa infância foi quando, depois de uma briga ferrenha entre nós, nossa mãe nos puniu com uma surra embaixo do chuveiro. Apanhar pelada e molhada é bastante desagradável, mas graças ao estranho método de educação infantil utilizado pela minha mãe (Piaget? Waldorf?) a coisa ficou ainda pior quando ela disse que só pararia se a gente dissesse que se amava e trocasse abraços e beijos. Peladas e molhadas. Minha irmã me agarrou imediatamente e repetiu várias vezes “Eu te amo, Sandra!”. Eu não mexi nem um dedo e pensei: “Prefiro apanhar.” Eu realmente detestava a minha irmã.

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Despensa vegana

Uma parte da minha despensa (nos meus sonhos)

Eu me tornei vegana do dia pra noite. Minha alimentação evoluiu lentamente durante os anos e pouco a pouco fui parando de comer animais, mas minha intenção era ser vegetariana. Quando atingi esse ponto pensei que meu trabalho tinha terminado, dei um tapinha nas minhas costas e me felicitei por ter alcançado meu objetivo. Eu nem sonhava que poucas semanas depois eu tomaria uma decisão ainda mais “radical”, segundo alguns. Embora eu não lembre quando comecei a pensar em adotar uma dieta vegetariana, me recordo perfeitamente do momento em que decidi me tornar vegana. Foi no meio de uma tarde de setembro de 2007 e meu armário e geladeira estavam cheios de produtos de origem animal. Por que eu lembro desse detalhe? Porque naquele exato momento fiz um acordo comigo e com a geladeira: eu comeria aquilo tudo mas nunca mais compraria nada que não fosse vegano. Não que eu quisesse alguns dias pra me despedir dos queijos, iogurtes e sorvetes que seriam excluídos pra sempre da minha vida, de maneira alguma! Minhas convicções eram tão fortes que eu queria era começar minha nova dieta sem crueldade o mais rápido possível. Mas sendo a pessoa aversa a disperdícios que sou, a idéia de jogar comida fora era inadmissível. Então comi tudo, com uma mistura de culpa e nostalgia antecipada (“Foi muito bom te conhecer, sorvete Häagen-Dazs. Você sempre terá um lugar no meu coração, queijo de cabra. Querido Baileys, sentirei saudades!”).

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Como preparar brócolis

Eu provei uma imensa variedade de legumes na minha vida, adorei todos (menos quiabo) e nunca recusei um vegetal que aparecesse na minha frente (a única excessão foi o aipo-rábano que encontrei na Irlanda, mas ainda estou arrependida!). Sendo eu uma grande amante de legumes, fica difícil escolher meu preferido, mas acho que tem um que eu adoro mais ainda que os outros: brócolis. Eu poderia comer brócolis todos os dias, no almoço e no jantar, sem nunca reclamar. E ainda por cima acho ele uma das coisas mais lindas que a natureza criou. Observe um brócolis bem de perto. Parece um monte de mini bonsais juntinhos, formando uma mini floresta de mini bonsais, não? Pra mim parece.

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Sobre quiche e competição

Quiche vegana de abobrinha, pimentão vermelho e tomate seco

Hoje quero dividir com vocês uma das minhas receitas preferidas, mas antes de começar a falar dessa jóia da gastronomia francesa preciso dizer uma coisa importante (pra mim): “quiche” é fêmea. Pronto, me sinto bem melhor agora. Não sei qual o gênero que atribuem a esse prato no resto do país, mas na minha terra todos os lugares que servem quiche chamam a coitada de “o quiche”. Sei que a confusão de gêneros não atrapalha em nada o sabor da quiche, mas às vezes sou chata assim e me importo com esse tipo de bobagem. Pra ninguém achar que sou esnobe só porque o Francês é minha segunda língua, saibam que também corrijo os franceses, que insistem em dizer “a samba” (eles acham que tudo que termina com “a” em Português é feminino).

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Como preparar cenoura

Depois do merecido chocolate quente, voltemos aos nossos legumes. Cenoura é um dos poucos legumes que são unanimidade: quase todo mundo gosta. Mas ser apreciada por todos não é sempre uma vantagem. Sem precisar fazer esforços criativos pra transformar a cenoura em algo interessante, afinal ela agrada a todos, os cozinheiros não costumam dar uma atenção especial à probrezinha. Na minha família cenoura só era preparada de duas maneiras: cozida no vapor junto com outros legumes, que acabavam todos envolvidos em uma espessa camada de maionese, ou ralada e misturada a outras verduras cruas na salada. (Uma das minhas primas gosta de preparar bolos de cenoura, mas quando ela se tornou nossa vizinha e passou a dividir regularmente sua produção de bolos conosco, eu fui morar no velho mundo e não pude aproveitar essa delícia.)

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Mudei de idéia…

Que tal uma pausa no meio de toda essa verdura que apareceu aqui no blog? Alguém aceita um xícara de chocolate quente com biscoitos? Lembra quando, não muito tempo atrás, eu declarei meu desafeto por chocolates quentes ultra espessos e dividi a receita do meu chocolate quente preferido? Bem, eu tenho um novo chocolate quente preferido. Os franceses dizem que só os idiotas não mudam de opinião, então lá vai: a receita nova é mais encorpada que a anterior e achei isso ótimo. Ainda recuso chocolate quente que se aproxima mais de um mingau do que de uma bebida, mas descobri que se eu engrossá-lo só um pouquinho ele fica ainda mais saboroso e continua leve.

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Como preparar couve

Inaugurando a série de artigos sobre como preparar legumes, aqui está um dos meus vegetais preferidos: couve. O acompanhamento típico do nosso prato nacional, a feijoada, merece ser degustado com mais frequência. 100gr de couve (crua) contém 1,3gr de proteína, 2,5gr de fibra, minerais, vitaminas (63% da vitamina K e 61% da vitamina C que precisamos em um dia) e somente 25 calorias.

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Por uma alimentação mais vegetal

No começo da semana eu ajudei Anne a guiar um casal de amigos do pai dela, mais dois casais amigos dos amigos, que estavam de passagem por Jerusalém. Os seis velhinhos eram extremamente amáveis e eu, que não tenho mais nenhum dos meus avós, aproveitei pra trocar carinhos com a terceira idade durante um dia inteiro. Quando sentamos pra almoçar e eles descobriram que éramos veganas começou a chuva de exclamações que meus ouvidos estão cansados de ouvir: “Nem peixe?!”, “Nem ovo?!!”, “Então vocês não comem nada!”, “Vocês só comem salada?!”, etc. Todos pediram espetinhos de carne de gado, ovelha e frango (os três ao mesmo tempo), que vem acompanhado de batata frita. Eu queria que eles provassem algo mais típico então pedi vários “mezze”, as deliciosas entradas árabes. Os velhinhos se encantaram com os pratinhos de hummus, mut’abal, tabule, beringela frita, salada turca e afins, tanto que quase não sobrou espaço no estômago deles pro imenso prato de carnes que eles tinham pedido. Enquanto se deliciavam com os quitutes vegetais (naturalmente veganos), um deles declarou: “Se você preparar pratos como esses eu não me incomodo de comer comida vegetariana” e o resto da mesa concordou. Moral da história: uma boa parte do preconceito com relação à comida vegetariana vem do fato das pessoas não saberem preparar vegetais.

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Atendendo a pedidos

Patê de tofu com tomate seco e ervas

Em 2009 passei uma longa temporada em Natal e levei uma (recém adquirida) máquina de fazer leite de soja. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que não sou fã de leite de soja, mas acontece que adoro tofu e tinha sido informada que encontrar tofu decente em Natal é uma missão impossível. Tofu feito em casa é muito superior ao encontrado no mercado em matéria de sabor, mas sem uma prensa industrial a textura é bem mais mole do que a do tofu que eu tinha costume de comer. Então comecei a fazer patê com meu tofu caseiro mole e o sucesso foi imediato. Minha família e meus amigos adoraram e cheguei até a vender vários potinhos por semana. Meus clientes eram onívoros, mas muitos eram intolerantes à lactose e enfrentavam o mesmo problema que nós veganos enfrentamos: depois de ter tirado a manteiga, requeijão e queijo da dieta o que passar na nossa fatia de pão?

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Aveia dormida

Aveia dormida com pera, castanha do Pará e cardamomo

Já percebeu que todas as receitas da sessão “café da manhã” do blog contêm aveia? Aveia é um dos meus alimentos preferidos e, por ter tanta fibra, vitaminas, minerais e ser rápido de preparar, acho que ela é perfeita pro café da manhã da semana. Nos fins de semana gosto de longos e fartos cafés da manhã, mas quando o tempo é curto prefiro a praticidade e a simplicidade de um prato de aveia. Em poucos minutos preparo uma refeição super nutritiva e que me dá energia até a hora do almoço, além de trazer reconforto nessas manhãs frias de inverno. Continuar lendo “Aveia dormida”

Eu também não sei viver sem queijo

Queijo de castanha fermentado

Não é mistério que a pergunta que nós veganos mais escutamos dos onívoros é : “Mas você come o que?” Porém alguém sabe o que os veganos mais escutam dos vegetarianos? “Eu não conseguiria nunca viver sem queijo”. Essa frase também entra no top 5 das frases que mais escutamos dos onívoros, logo depois de “A gente precisa de carne pra viver”, “Você vai ficar doente” e “Isso é coisa de malucos irresponsáveis e você deve ter o juízo frouxo” (ok, a última geralmente é dita com os olhos enquanto a pessoa te examina da cabeça aos pés, balançando a cabeça da esquerda pra direita e dando longos suspiros de exasperação).

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O que fazer com alfarroba

Shake de banana e alfarroba

Logo que me mudei pra cá, tive o prazer de trabalhar durante seis meses, e morar durante algumas semanas, com uma americana chamada Janelle. Nós simpatizamos no minuto em que fomos apresentadas e somos amigas até hoje, apesar dos milhares de quilômetros que nos separam (ela mora em Seattle, EUA). O pai de Janelle é médico e ela estudou saúde pública, então seu conhecimento em matéria de nutrição é admirável. Passamos muitas horas explorando a feira de Jerusalém e a lojinha de produtos orgânicos que fica do lado. Graças à Janelle descobri que cevada não serve só pra fazer bebida, que aveia em flocos grossos é mais gostosa, e segundo ela mais nutritiva, que aveia em flocos finos e que é importante comer um punhado de oleaginosas todos os dias (conselho do seu pai). Ela é vegetariana mas vivia dizendo que se eu cozinhasse pra ela todos os dias ela se tornaria vegana sem hesitar. Um dia, pra agradecer todos os pratos que eu preparei durante as semanas que ela ficou hospedada na minha casa, ela me convidou pra lanchar na casa dela. Nesse dia ela preparou, entre outras coisas, alfarroba quente, um tipo de “chocolate” quente feito com leite de soja e alfarroba em pó no lugar do cacau. Eu não conhecia alfarroba e no início achei a bebida estranha, mas depois de alguns goles comecei a apreciar aquele sabor tão particular.

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Makis pra iniciantes

Makis veganos

Antes de me tornar vegana eu tinha uma paixão: comida japonesa. Mais especificamente makis. Durante anos, toda sexta feira à noite eu pedia makis por telefone. Era a maneira mais deliciosa de celebrar o final da semana. Quando decidi fazer como Franz Kafka e parar de comer peixe (Vocês sabiam que o grande escritor tcheco era vegetariano? Um dia, ao contemplar um aquário, ele disse “Agora posso observar vocês em paz: eu não os como mais.”) eu achei que minha história de amor com a culinária japonesa tinha chegado definitivamente ao fim. Felizmente eu estava enganada.

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Altos e baixos (e cupcakes de chocolate com laranja)

Eu gostaria de estar no lugar desse gatinho agora. Colo, carinho e zero preocupação é tudo que preciso! A semana super ultra ocupada deveria terminar hoje à tarde, mas houve mudanças de planos e vou cozinhar pra minha vizinha até amanhã. Já não aguento mais a dor nas costas e, por causa da fadiga, fiz um monte de besteira (como quebrar alguns copos e a forma de cerâmica importada que uso pra fazer pão). A “cerise sur le gâteau”, como dizem os franceses, foi ter ficado sem gás ontem à noite, enquanto preparava o jantar e assava um pão e um bolo. Liguei pro senhor que vende gás e ele avisou que estava faltando gás na cidade. Aí eu sentei no chão e chorei. Depois me lembrei que tinha que alimentar a vizinha então me levantei e fui até a casa dela (que é colada à minha) perguntar se ela não queria jantar conosco no restaurante ao lado. Felizmente a vizinha ainda tinha um resto do almoço na geladeira e disse pra eu não me preocupar que o seu jantar estava garantido. Eu e Anne nos contentamos com um pedaço de pão, que terminei de assar no nosso micro forno elétrico, e uma salada de tomate e mangericão. Hoje de manhã liguei pro senhor do gás de novo e (desespero!) ainda estava faltando gás. A necessidade sendo mãe da criatividade, preparei o almoço e o jantar no microondas. Tem um microondas aqui em casa mas nunca, nunca uso. Podem me chamar de louca, mas essa história de aquecimento por agitação de moléculas me parece muito suspeita. Eu quero as moléculas da minha comida no lugar certo, ninguém venha bagunçar com elas! Por essa razão não uso esse treco. E também porque acho que a textura de algumas comidas esquentadas no microondas fica horrível. Mas hoje o agitador de moléculas quebrou um galhão! Cozinhei macarrão, quinoa, molho de “queijo”, brócolis e o bolo (que comecei a assar ontem) no danado e, pra minha grande surpresa, deu tudo certo. Acho que depois de hoje eu devia parar de falar mal do bichinho…

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Na cozinha

Sopa cremosa de tomate

Saudações da terra dos ocupados! Aqui em casa o nível de atividades nunca esteve tão intenso. Minha vizinha que mora nos States, e que vem aqui duas vezes por ano, me contratou pra fazer todas as suas refeições durante uma semana (café da manhã, almoço, jantar e uns lanchinhos). Ela já tinha contratado meus serviços ano passado e gostou tanto que quis repetir a experiência. Por isso desde sábado passo a maior parte dos meus dias cozinhando, além de continuar todas as minhas outras atividades (oficinas de nutrição pra crianças, aulas de francês, projeto social no campo de refugiados) no tempinho livre que sobra entre as refeições. De noite eu desmaio e Anne me carrega escada acima até a cama. Mas não vou reclamar, afinal não é todo mundo que tem o privilégio de ganhar dinheiro fazendo o que mais gosta.

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