Os almoços aqui em casa são sempre bem mais simples que os jantares. Não tenho muito tempo pra preparar algo especial durante a semana então geralmente como os restos do jantar do dia anterior ou improviso com o que encontrar na geladeira. Nessas horas tudo que quero é uma refeição nutritiva, equilibrada, fácil e rápida de preparar. Os resultados são pratos simples, rústicos mas que, embora me satisfaçam perfeitamente, eu não pensaria em servir pra convidados. Mas aqui e acolá, entre esse improviso apressado e os restos da geladeira, nasce algo que vale a pena ser repetido no jantar do fim de semana.
Continuar lendo “Sabor e saúde no mesmo prato”Autor: papacapim
Minha rispidez, um bolo e uma entrevista
Minha irmã caçula me deu uma bronca por causa do post sobre o pavê de banana. Ela disse que eu fui muito ríspida com meus leitores. Desde então me sinto culpada. Essa irmã tem o dom de me fazer sentir culpada, mas na maior parte do tempo isso é uma coisa boa. Ela me faz refletir sobre meus atos e palavras, o que me ajuda a evoluir e a me tornar uma pessoa melhor. O problema é que ela também é… ríspida. Parece que a rispidez é algo que todos nós herdamos na família.
Continuar lendo “Minha rispidez, um bolo e uma entrevista”Por um onivorismo responsável
Há alguns dias comentei que um casal de amigos americanos veio jantar aqui em casa. Publiquei a sobremesa que servi pra eles aqui e hoje vou dividir com vocês a entrada que preparei naquele dia. Adoraria dividir a receita do prato principal, a verdadeira estrela da noite, mas isso terá que esperar até eu descobrir como fazer uma lasanha branca parecer apetitosa nas fotos (as tentativas que fiz até então foram desastrosas).
Continuar lendo “Por um onivorismo responsável”De amor e de veganismo
Quando comecei a cozinhar pra Anne, no início do nosso relacionamento, eu me deparei com o problema que muitos veganos enfrentaram (ou enfrentarão) algum dia: eu tinha me apaixonado por uma onívora e não sabia o que preparar pro jantar. Minha amada não era só onívora, ela era francesa. Na França uma refeição só é digna desse nome se nadar na manteiga e no creme, tiver pelo menos dois tipos de bicho morto e terminar com uma bandeja de queijos. Pior ainda, minha amada onívora francesa vinha da Auvergne, uma região no coração da França, famosa por transformar porquinhos indefesos em um número inimaginável de produtos comestíveis. Lá os bebês passam do mingau diretamente pro salame (Só Jesus Cristo salva!). Pensei: “Onde fui amarrar o meu bode?” (Se você não tem família morando na caatinga e desconhece o palavriado local, aqui vai a tradução: “Onde fui me meter?”)
Continuar lendo “De amor e de veganismo”Sobremesa sem desculpas
Acho que não é mais segredo que não sou muito fã de sobremesas. Eu gosto de um pedacinho de bolo de vez em quando e com certeza aprecio um cookie ou um gelato bem feitos, mas a verdade é que raramente sinto desejo de comer doces. E como aqui em casa só tem eu e Anne, isso significa que qualquer sobremesa que eu fizer será dividida por dois e eu terei que dar conta de metade de um bolo de chocolate! Parece um sonho pra você? Pra mim não. Então geralmente só faço sobremesas quando temos convidados pra jantar. O que aconteceu sábado passado.
Continuar lendo “Sobremesa sem desculpas”A sopa que me fez mudar de idéia
Eu já declarei meu amor por sopa aqui no blog mas vou dizer mais uma vez: eu amo sopa. Poderia comer sopas todos os dias (ah, meus anos de universitária!) sem nunca reclamar. Especialemente no inverno. Pra mim nada reconforta e aquece mais que um prato de sopa fumegante. Quando meu estômago conversa comigo é isso que ele sempre pede e o fato de estar provisoriamente sem aquecedor está contribuindo pra aumentar ainda mais esse meu desejo. Há semanas que venho me alimentando desse prato abençoado e tenho tantas receitas de sopa que poderia criar um blog só sobre esse tema. Mas poderia ser pior. Conheço muitos estômagos que exigem bolo de chocolate, brigadeiro e pizza, então não vou reclamar porque o meu só pensa em algo extremamente nutritivo.
Continuar lendo “A sopa que me fez mudar de idéia”Está faltando alguma coisa no seu prato?
Esse fim de semana hospedamos uma amiga australiana aqui em casa. Eu não conheço muitos australianos, mas parece que o churrasco é uma parte essencial da vida deles. Essa amiga se comportou como uma boa australiana adoradora de churrasco durante os últimos 61 anos, mas mês passado ela recebeu uma notícia que a fez refletir sobre suas escolhas alimentares. Seu médico avisou que com a taxa de colesterol e pressão altíssimas, casos de infarto na família e muitos quilos em excesso, ela se encontrava em uma situação de alto risco. O alarme na cabeça dela disparou e dias depois ela chegou aqui em casa dizendo que queria ser vegana por três meses pra baixar suas taxas e recuperar a saúde perdida. Quando eu disse que Bill Clinton também estava seguindo um regime quase exclusivamente vegano (ele come peixe de vez em quando) pelos mesmos motivos, ela se empolgou ainda mais. Se Bill conseguiu, ela também ia conseguir! Antes de ir embora ela me pediu dicas sobre alimentação vegetal, nutrição e até pegou emprestado um dos meus livros de receitas veganas.
Continuar lendo “Está faltando alguma coisa no seu prato?”Tour pela… minha cozinha
Algumas pessoas que entram na minha cozinha ficam impressionadas com a quantidade de tempeiros, ervas e especiarias que possuo. Tem uma amiga de Anne, em particular, que adora bisbilhotar (ou “curiar” como a gente diz na minha terra) minhas prateleiras, gavetas e até mesmo a geladeira pra ver as “novidades”, como ela diz. Não que isso me incomode, de jeito nenhum. Sinto o maior prazer em mostrar meus condimentos (e mantimentos) pois é uma desculpa pra fazer uma das coisas que mais gosto: conversar sobre comida. Os amigos que ficam na cozinha enquanto preparo um prato aproveitam pra perguntar como e onde usar tal tempeiro, onde comprar tal ingrediente e o que danado são esses floquinhos verdes dentro de um saco. Como acho o exercício instrutivo, e como vocês não podem vir até Belém, pensei em fazer um convite on-line pra inspecionar minha cozinha. Entrem e fiquem à vontade (como diz minha irmã, só não vale tirar a roupa). Senhoras e senhores, eu vos apresento as prateleiras de condimentos:
Continuar lendo “Tour pela… minha cozinha”Delicioso neologismo
A semana foi cansativa, ô como foi cansativa! Gostaria de comemorar o início do fim de semana com makis veganos, um banho quentinho e um filme embaixo dos cobertores com a minha amada. Mas vejam só, faltam-me forças pra preparar um prato que exige mais de uma hora de trabalho ativo, não tem água quente pra encher a banheira e Anne está cheia de trabalho e não irá pra debaixo das cobertas antes da madrugada chegar. Então vou me contentar com os restos que achar na geladeira, ferver um pouco d’água e tomar banho de balde e deixar o filme pra outro dia. Mas antes de realizar esses planos ultra excitantes, vim publicar um prato fácil, rápido e delicioso, pois pensei que talvez vocês estivessem precisando.
Continuar lendo “Delicioso neologismo”Uma revelação
Ser professora substituta na escola maternal francesa está sugando todas as minhas forças. Eu fui baby-sitter durante todos os meus anos de faculdade e sobrevivi sem nenhuma sequela (tirando, talvez, uma vontade ainda mais firme de não ter filhos), mas eu cuidava de uma ou duas crianças por vez. Cuidar de nove crianças de três anos ao mesmo tempo, durante seis horas por dia, é de enlouquecer. Professores de escolas maternais, eu vos admiro muito. Acho que as prefeituras deveriam erguer estátuas em homenagem a esses heróis.
Continuar lendo “Uma revelação”Amor verde
Essa semana estarei mais ocupada do que nunca. Além dos projetos (inúmeros e todos voluntários) que coordeno normalmente, estou substituindo um professor da escola maternal francesa de Belém. Passar cinco dias tomando conta de crianças de três anos não me empolga nem um pouco, mas eu já falei que o trabalho que faço aqui é voluntário? Pois bem, quando aparece um emprego pago eu não posso recusar, mesmo quando o emprego em questão envolve acompanhar criancinhas ao banheiro de cinco em cinco minutos.
Continuar lendo “Amor verde”Fim de ano feérico
Depois de Londres, fui pra França. Sempre sinto uma alegria especial quando coloco os pés nesse país. Sou extremamente grata à essa terra que me fez descobrir tantas coisas, abriu as portas de um mundo novo pra mim, me deu um diploma de linguista e, o mais importante, o amor da minha vida. A neve quase estraga a viagem novamente (durante alguns dias praticamente todos os trens pra França foram cancelados) mas cheguei inteira, ainda sem a mala mas com uma bolsa emprestada cheia de roupas de segunda mão compradas nas lojas de caridade de Londres. A viagem foi longa e o caminho estava totalmente branco.
Continuar lendo “Fim de ano feérico”London, London
Cheguei ontem em casa, depois de 15 dias de aventuras no velho mundo. Quando digo “aventuras” não é no sentido figurado. O que deveria ser um viagem tranquila (alguns dias com meus amigos de Londres, natal e ano novo com a família de Anne no interior da França) se transformou em uma verdadeira odisséia. Tudo culpa da neve, ou da estranha falta de preparo dos europeus diante da neve. Fiz conexão em Zurich e meu vôo pra Londres, como todos os outros vôos daquele dia, foi cancelado. Considerando o fato que a Swiss pagou um hotel 4 estrelas pra eu passar a noite, com todas as refeições incluídas, as 24 horas de espera poderiam ter sido muito mais desagradáveis. Mas eu estava me lixando pros sete tipos de travesseiros (Plumas de ganso? Algodão orgânico? Pêlo de coelho prateado do Himalaia?) do quarto onde dormi. Eu só queria uma coisa: chegar o mais rápido possível na terra da rainha Bete, onde minha grande amiga Cida me esperava. Acabei chegando mas minha mala ficou em algum lugar entre as duas cidades e ainda não foi localizada. Mas vão-se as as botas e ficam-se os pés! Eu tinha planejado comer no meu restaurante vegano preferido, testar novos endereços veganos e passar várias horas na cozinha preparando minhas últimas invenções pra Cida, que também é vegana, e aproveitando a companhia dela e de Welder, um recifense que mora no meu coração e não paga aluguel (e que mora com Cida e paga aluguel). Mas como cheguei só com a roupa do corpo fui obrigada a passar três dias vasculhando as lojas de caridades da cidade (uma mina de ouro pra quem quer comprar roupa de segunda mão, baratíssima e de qualidade) pra recompor meu guarda roupa hibernal e acabei passando muito menos tempo curtindo a cidade e os amigos.
Continuar lendo “London, London”Férias no gelo
Faz nove dias que deixei o aconchego do meu lar em Belém, onde o inverno quase esquece de passar esse ano, e voltei mais uma vez pro velho mundo. Aqui o inverno foi bem menos clemente. Depois de 24 horas presa em Zurich por causa da neve e alguns dias com amigos em Londres, desde quinta estou na “França profunda”, onde as temperaturas chegam a -10. Entre as refeições que duram quatro horas, as reuniões de família, as tardes passadas tomando chá e conversando ao lado da lareira, o desafio de preparar pratos veganos pra minha família francesa ultra carnívora e as batalhas de bolas de neve, impossível postar algo com mais de cinco linhas nesse pobre blog abandonado. Mas eu vou voltar pra casa em breve e terei muito o que contar aqui.
Muffins e a magia do natal
Estou correndo contra o tempo essa semana, mas acho que esse é um comportamento generalizado no final do ano. Entre o trabalho, os projetos e os compromissos, ando me alimentando de vitamina de banana e ignorando solenemente a bagunça da minha casa. Pra agravar a situação viajo depois de amanhã e estou longe, longe de ter começado os preparativos pra viagem. Tudo que eu queria era me esconder embaixo dos cobertores e só sair de lá quando a fada da faxina tivesse passado, arrumado a casa, feito o jantar e preparado minha mala. Eu sei que a fada da faxina não existe, mas isso não me impede de sonhar com ela. Também queria que uma secretária com poderes mágicos fizesse o meu trabalho, escrevesse os artigos que tenho que escrever e respondesse meus e-mails. Eu sei, eu sei, secretária com poderes mágicos também não existe, mas é quase natal e tenho o direito de sonhar um pouquinho. Não tem gente que espera um velhinho vestido de vermelho aparecer?
Continuar lendo “Muffins e a magia do natal”Faça como os suíços
Quando o assunto é cereal muita gente pensa que granola é a alternativa mais saudável que existe. Se você é uma dessas pessoas saiba que a invenção americana* tem um irmão suíço que nasceu quase ao mesmo tempo, no finalzinho do século 19, e que é muito melhor pra saúde. A granola mudou bastante até se transformar no cereal doce e crocante que conhecemos hoje, mas o muesli (ou müsli) continua bastante próximo da receita original criada por um médico suíço em 1900. Embora os ingredientes de base sejam os mesmos (aveia, oleaginosas e frutas secas), exite duas diferenças fundamentais entre esses cereais. Enquanto a granola tem sempre alguma forma de açúcar e óleo e é assada, o muesli não é adoçado, não contém óleo e todos os ingredientes são crus. Como ele não passa pelo forno, a textura é leve. As sementes e oleaginosas acrescentam uma nota crocante mas o resultado final é bem mais delicado do que a granola. Continuar lendo “Faça como os suíços”
Gripada, mas sempre faminta
Desde a semana passada convivo com uma gripezinha chata que vai e volta sem no entando me deixar de vez. É muito raro eu ficar doente, acredito que devo isso à minha dieta super natural, então não vou reclamar. Até porque a gripe que me acompanha atualmente, além de não ser das mais pesadas, tem uma característica muito estranha: abriu meu apetite. Parece que quando o tempo esfria nada consegue calar meu estômago. Passei a semana me sentindo febril, com dor de cabeça e nariz escorrendo, mas isso não me impediu de fazer sopa atrás de sopa (meu jantar preferido no inverno) e até assar uma dúzia desses bolinhos maravilhosos.
Continuar lendo “Gripada, mas sempre faminta”Nutrição x Macarrão
(Você sabia que ao clicar em qualquer foto do blog ela fica do tamanho da tela? Não?! Estranhamente algumas fotos que publico aqui ficam ligeiramente “borradas”, como essa de cima. Experimente ver a foto em tamanho gigante e admire todo o esplendor verdoroso dessa salada.)
Continuar lendo “Nutrição x Macarrão”Vinte e nove
Dizem que os ciclos dos planetas têm uma influência na nossa vida. Saturno leva vinte nove anos pra dar uma volta completa ao redor do sol. Quando alguém completa vinte nove anos acontece o famoso “retorno de Saturno”, a primeira grande crise da vida adulta. É quando começam aquelas cobranças do estilo “Já conseguiu um diploma?”, “Já comprou uma casa?”, “Já casou?”, etc. É quando as pessoas sentem aquela vontade urgente de mudar de vida. Meu vigésimo nono aniversário aconteceu algumas semanas atrás. Um belo dia de novembro acordei e tinha vinte nove anos. Olhei ao redor e esperei a crise. Felizmente, ao fazer a análise desses vinte nove anos de existência, o saldo foi positivo. Realisei o grande sonho da minha vida, que era fazer faculdade no exterior. Descobri o que realmente quero fazer da vida e joguei fora o diploma da faculdade. Visitei vários países. Matei meu pai (foi Freud que mandou e é no sentido figurado) e perdoei minha mãe por não ter sido a mãe que eu sonhei em ter (quanto a me perdoar por não ser a filha que ela sonhou em ter, essa será minha missão durante os próximos vinte e nove anos). Fiz as pazes com meu corpo. Encontrei o amor da minha vida e tratei logo de casar com ela pra não perdê-la de vista. Não tenho casa, nem carro, nem sequer cartão de crédito e tudo que possuo cabe em uma mala (tirando minha vaquinha Macabéa), mas se engana quem pensa que isso me preocupa. Achei o meu lugar no mundo e sou muito feliz.
Continuar lendo “Vinte e nove”Patê globalizado
Cumprir minhas promessas parece missão impossível nesse fim de ano. A receita de hoje, que eu deveria ter publicado ontem, é minha última descoberta em matéria de patê vegetal. Eu estou sempre procurando/criando novas receitas de patês por vários motivos. Primeiro porque é minha maneira preferida de usar oleaginosas (se você perdeu meu último post sobre essas maravilhas da natureza clique aqui) e a garantia de me fazer comer castanhas, amêndoas e nozes diariamente. Segundo porque é uma das preparções culinárias mais práticas e versáteis que conheço. Fica ótimo dentro de um sanduíche, serve de recheio pra maki vegetal e rolinhos primavera crus, pode se transformar em molho pra macarrão e funciona até como mistura* na hora do almoço, ao lado de algum cereal e salada.
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