Passeio pela feira de Belém (Palestina)

Feira de Belém, Palestina

Até alguns anos atrás meu lugar preferido no mundo era biblioteca. Adoro o cheiro de livro, a atmosfera calma e o fato de ter toda aquela leitura ao alcance da mão. Meu amor por livro é quase físico e muitas vezes tive que controlar uma vontade urgente de agarrar todos (os livros) e rolar com eles no chão. Sei que parece estranho, mas o que esperar de uma pessoa que sonha em nadar em uma piscina de beringela? Porém, hoje um outro lugar veio competir com bibliotecas no meu coração: feiras. Aquela vibração, as cores e aromas intensos, a conversa com os vendedores, tudo me encanta. Passo horas apalpando e cheirando as frutas e verduras, por isso só vou sozinha. Eu aproveito melhor as feiras, assim como as bibliotecas, se não estiver acompanhada. Continuar lendo “Passeio pela feira de Belém (Palestina)”

Sobre idéias e cevada

Risotto de cevada com tomate e abobrinha

Passo uma parte considerável do meu dia pensando em comida. Não em “comer comida”, mas sim em “preparar comida”. Certo, depois de preparar a comida ela acaba invariavelment no meu estômago, mas isso é uma consequência, não o objetivo. Fico pensando: “Se eu misturar isso com aquilo e salpicar um pouco daquilo outro…” E de repente surge uma idéia genial. Anoto então no meu caderno de “idéias comestíveis geniais”, pra não esquecer e poder preparar mais tarde. O engraçado é que às vezes, pesquisando nos blogs de cozinha ou lendo livros/revistas de culinária, me deparo com… a minha idéia genial. Alguém pensou nela antes de mim! Acho interessantíssimo isso de duas pessoas (ou mais) tão distantes fisicamente terem exatamente a mesma idéia. A receita de hoje é um exemplo disso. Mas deixemos de lado essa conversa metafísica e passemos ao que interessa aqui: comida.

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O que servir no café da manhã

Bolinho de aveia e passas

Quando vim morar com Anne tivemos dificuldades em achar um café da manhã que agradasse as duas. Eu comia papa de aveia, ela estava acostumada a tomar café preto, sem açúcar, e nada mais. Até me conhecer, Anne achava que aveia era comida pra cavalo. Antigamente na França os cavalos eram alimentados com aveia e até hoje os franceses, principalmente no interior, não têm o hábito de comer esse cereal. Continuar lendo “O que servir no café da manhã”

Esse patê vai mudar sua vida

Hummus (duas versões)

A terceira receita da série « comida pra entreter » ou « como os veganos fazem pra preencher o espaço vazio entre duas fatias de pão” é um clássico. Quem não conhece “hummus”, o rei absoluto dos patês no Oriente Médio? Se você acha que a maior contribuição da civilização árabe ao resto do mundo foi a álgebra é porque você ainda não provou hummus. Continuar lendo “Esse patê vai mudar sua vida”

Meu patê preferido

Mutabbal (patê de beringela palestino)

Continuando a série “receitas pra entreter” , tenho o prazer de apresentar meu patê preferido no mundo inteiro: mutabbal. Meu amor por essa iguaria palestina é tanto que já me peguei pensando que gostaria de nadar em uma piscina de mutabbal. Essa idéia eu roubei de Maxime, a menina que cuidei durante meus anos de universitária em Paris, que sonhava em ganhar de presente de aniversário uma piscina de nutella. Sendo a pessoa estranha que sou, nunca dei a mínima pra nutella e a piscina dos meus sonhos é preenchida com purê de berinjela. Continuar lendo “Meu patê preferido”

Comida pra entreter

Patê de tomate seco com amêndoa e semente de girassol

Minha amiga Lílian, que acompanha o blog, me pediu pra postar receitas de patês e pastinhas pra comer como aperitivo. Lílian é casada com Cédric, meu melhor amigo francês, e eles moram em Marselha, a segunda maior cidade da França. Continuar lendo “Comida pra entreter”

Tofu: seu futuro melhor amigo

Tofu mexido

Um dos alimentos mais injustiçados que conheço é o pobre do tofu. Serei honesta: tofu puro, na melhor das hipóteses, tem gosto de absolutamente nada e na pior, tem um gostinho meio estranho (tudo vai depender da qualidade e frescor do tofu). A primeira vez que comi tofu foi em casa, há muitos anos atrás. Aquele bloco de massa branca passou do supermercado pra frigideira pro meu prato com o acréscimo somente de azeite e sal. No final da preparação o gosto tinha passado de “isopor” pra “isopor com sal”. Continuar lendo “Tofu: seu futuro melhor amigo”

Quando o verão chegar (aí)

Salsa de Manga

Enfrentei um dilema gastronômico-geográfico antes de escrever esse post. Moro no hemisfério norte, o que significa que enquanto é verão aqui na Palestina, é inverno aí no Brasil. Aonde entra a parte gastronômica do problema? As frutas e verduras que encontro no mercado nesse momento só estarão a disposição dos meus leitores brasileiros daqui a seis meses. Então o que fazer se eu quiser publicar uma receita que ninguém vai poder fazer agora? Devo esperar até dezembro, quando o verão, e os ingredientes da receita, chegarão no hemisfério sul?

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Descobrindo sabores autênticos

Pappa al pomodoro

Quando viajo sempre faço uma pesquisa detalhada pra saber quais são os pratos típicos do local. Antes mesmo de entrar no avião eu já sei exatamente o que quero comer durante a viagem. Minhas últimas férias, há exatamente um ano, foram na Toscana. Essa região da Itália é de tirar o fôlego, com campos de girassóis a perder de vista e uma luz belíssima que deixa tudo com cara de conto de fadas. Porém, mais do que qualquer outra coisa, eu estava interessada na comida que iria encontrar por lá.

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Procurando o leite perfeito

Leite de amêndoas

No post anterior mencionei o fato de ter substituído o leite de soja por leite de amêndoas. Verdade seja dita: nunca fui fã de leite de soja. Assim que parei de tomar leite de vaca, meu primeiro impulso foi comprar uma caixa de leite de soja, mas achei o negócio intragável. No entanto tomei a caixa todinha, pois minha consciência pesa quando desperdiço comida. A cada gole eu pensava “Minha nossa senhora protetora dos veganos, será que não existe um leite melhorzinho que não venha da pobre Mimosa?” Felizmente as opções de leites vegetais são muitas. Resolvi então testar o leite de aveia. Meu amor por esse cereal já foi confessado aqui, então as chances de gostar do leite eram bem maiores. Meu encontro com o leite de aveia foi mais feliz, mas eu ainda achava que devia existir uma alternativa mais gostosa ao leite de vaca. Continuar lendo “Procurando o leite perfeito”

Mãe, aveia e reconforto

A melhor papa de aveia do mundo

Tem uma comida que ocupa um lugar especial no meu coração: papa de aveia. Papa de aveia lembra minha mãe e significa reconforto dentro de um prato. Durante os frios e escuros invernos franceses, eu costumava voltar pra casa depois de um cansativo dia de estudo/trabalho e preparar uma grande cumbuca de papa de aveia. Aquele era o jantar mais perfeito do mundo e me dava forças pra continuar minha dura rotina no dia seguinte. Quando me mudei pra Palestina, dividi uma casa com outras três moças durante seis meses. A triste realidade daqui e nosso trabalho voluntário no campo de refugiados ao lado consumiam toda a nossa energia. A noite a gente sentava na sala, cada uma com um prato de papa de aveia na mão, e conversava durante horas sobre a ocupação militar, nossos problemas e a vida em geral. Nós refazíamos o mundo ao redor da papa de aveia. Outro dia estava conversando com uma das meninas, a única que, como eu, ainda mora aqui, e chegamos à conclusão que minha papa de aveia nos ajudou a superar muita coisa. Continuar lendo “Mãe, aveia e reconforto”

Celebrando a culinária palestina

Aqui vai mais uma receita palestina pra vocês. Mudjadara é um prato a base de arroz e lentilha consumido em vários lugares do Oriente Médio. É um dos pratos tradicionais daqui que é naturalmente vegano. A primeira vez que comi Mudjadara fiquei encantada. Como é que essas palestinas conseguem fazer algo tão simples como lentilha e arroz ficar tão delicioso? Tratei logo de aprender a receita pra poder preparar o prato aqui em casa e desde então ele aparece na nossa mesa com bastante frequência. Continuar lendo “Celebrando a culinária palestina”

Abre-te sésamo

Salada Árabe e Molho de Tahina

Hoje eu quero dividir com vocês uma das maiores descobertas culinárias que fiz desde que me mudei pra Palestina: tahina. Tahina, ou tahini, é uma pasta de gergelim (as sementes são moídas até liberarem o óleo e se transformar em pasta) usada em vários pratos por aqui e nos países vizinhos. Ela entra na composição do famoso humus e de outras delícias pra espalhar no pão. Também é a base de um molho super cremoso usado em saladas cruas mas que também gosto de usar em saladas cozidas, no lugar da maionese. Os palestinos e israelenses gostam tanto desse molho que eles comem puro, com pão.

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Sementes: uma mina de saúde

Mix de sementes

Existe uma maneira simples e saborosa de acrescentar nutrientes à sua dieta. Sementes de jerimum, de girassol, gergelim e linhaça são uma mina de saúde. Essas sementes fornecem fibras, proteínas, vitamina E e do complexo B, ômega 3 (no caso da linhaça) e minerais como ferro, cálcio, magnésio, selênio, zinco e manganês. E pra ficar ainda melhor, são isentas de colesterol (como todo vegetal) e possuem as “gorduras boas” que protegem o coração. Continuar lendo “Sementes: uma mina de saúde”

Granola: duas versões

Granola de chocolate e granola com frutas secas

Sábado passado eu fiz um brunch pra quatorze pessoas aqui em casa. No menu tinha panquecas de batata, tofu mexido, queijo de castanha do Pará, bolo de laranja e amêndoas, granola, cookies e smoothie de cereja. Tudo foi devorado com entusiasmo pelos meus convidados e no final só sobrou a pobre da granola, esquecida no canto da mesa. Não que minha granola não seja gostosa mas quem, em sua sã consciência, vai comer granola quando tem uma bandeja de cookies de chocolate dando sopa? Pelo menos pude tirar uma foto da granola desprezada e agora vou dividir a receita com vocês. Continuar lendo “Granola: duas versões”

Meu passado me condena

Sopa de Cebola

Todos nós fizemos coisas no passado que preferíamos esquecer. Lá pelos onze anos comecei a criar receitas e anotá-las em um caderninho. Se esse caderninho ainda existisse eu iria queimá-lo, tamanha a vergonha que ele me causaria. Minhas receitas tinham ovo, salsicha ou mortadela (ou os três juntos), muita margarina, um pouco de cebola e tomate e eram “temperadas” com maionese, ketchup ou mostarda (ou os três juntos). E todas essas receitas iam parar invariavelmente dentro de um pão. Eu comia aquilo achando que tinha inventado uma obra prima da gastronomia. Continuar lendo “Meu passado me condena”

Adulterando receitas

Tabule adulterado

“Tabule” é um prato libanês bastante famoso em alguns lugares do país. Com tanto descendente de libanês morando no Brasil (tem mais libanês no Brasil do que no Líbano!), não é de se surpreender. No meu estado, porém, esse prato é totalmente desconhecido. A primeira vez que comi tabule foi em Paris, durante meus anos de universitária na cidade luz. Eu comprava tabule no supermercado quase toda semana.  Feito com semolina, algumas verduras, passas e um pouco de menta, eu achava aquilo tão gostoso que até esquecia todo o óleo e conservantes que comida comprada pronta tem. Eu não conhecia nada da culinária árabe e na minha grande ignorância pensava que estava comendo algo grego.

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Aquela que não gosta de chocolate

Pudim Cremoso de Chocolate

Eu não sou fã de chocolate. Quando criança, irritei muito minha irmã caçula por causa disso. Ganhávamos ovos de páscoas exatamente do mesmo tamanho mas o dela desaparecia em menos de um dia enquanto que o meu durava semanas. Ela se revoltava e falava pra eu comer logo tudo, pra ficar sem chocolate como ela (como é lindo o amor entre irmãs). Mas eu não aguentava comer mais do que um pedacinho por vez, muito menos comer chocolate todos os dias. Continuar lendo “Aquela que não gosta de chocolate”