Feijão de mãe

Esse texto é sobre duas coisas diferentes, mas que se encontram no final. 

Uns dias atrás eu estava reunida com boa parte da minha família, numa casa de praia aqui do lado de Natal. Eu estava preparando o almoço com a minha cunhada e discutíamos sobre o que nós consideramos como essencial em termos de conhecimento culinário. Concordamos que qualquer pessoa no nosso território (o Nordeste) deveria saber preparar o essencial da nossa cultura alimentar: 1- feijão, 2- arroz, 3- cuscuz e 4- tapioca. Assim a pessoa garante sua autonomia alimentar no café, almoço e jantar. O resto (legumes refogados, salada, uma pasta pra passar na tapioca) também é importante, tanto pra ter uma alimentação diversificada quanto pra garantir refeições saborosas, mas deve ser construído em cima dessa base. Isso deve ser adaptado em função da sua cultura alimentar, obviamente. Tapioca não faz sentido pra todo mundo e talvez aí onde você mora o seu “essencial” seja diferente. 

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Creme de milho e cebola

Eu tenho uma pequena lista de assuntos sobre as quais eu gostaria de escrever. Aconteceu muita coisa nos últimos dias que me fizeram refletir e uma das razões que me levam a alimentar esse blog é ter um espaço pra compartilhar essas reflexões (minha pobre família já não aguenta mais minhas palestras cotidianas). Mas aí eu estava encarregada do fazer o almoço hoje e fiz algo tão gostoso que pensei que falar de qualquer outra coisa antes de compartilhar a receita seria um erro. 

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Jardins da Comuna – Ep 6

Lembram da luta pra salvar os jardins operários de Aubervilliers, a cidade na periferia norte de Paris onde moro? Um oficial de justiça esteve na ocupação semana passada e deu um ultimato: os lotes devem ser liberados até o dia 15 de julho. Estou acompanhando daqui, com o coração na mão, as ações de resistência das camaradas que ficaram defendendo esse território, incluindo Anne, minha esposa.

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…mas tem quiabo também

Na última vez que estive aqui, no final do ano passado, Fábio, um dos feirantes da CECAFES (Cooperativa Central de Comercialização da Agricultura Familiar de Economia Solidária, do lado da CEASA), que é onde minha irmã Lu compra frutas e verduras pra nossa família, nos contou que preparava quiabo no leite de coco. Dessas coisas lindas que acontecem quando você conhece as pessoas que vendem (no caso da CECAFES, que plantam) a comida que você come: trocamos dicas e receitas. Eu nunca tinha ouvido falar dessa maneira de preparar quiabo, mas como adoro esse vegetal, fiquei curiosa pra testar a versão dele. Acontece que eu gosto tanto de quiabo grelhado que sempre que tinha quiabo em casa eu grelhava o danado e acabei voltando pra França sem preparar o tal do quiabo no coco. Já Lu, mais aventureira em se tratando de quiabo, resolveu seguir a dica de Fábio e foi um sucesso absoluto com a minha família (todo mundo adora quiabo aqui).

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Tudo vai mudar (anúncio importante)

A vida tem dessas ironias. 

No último post contei que há alguns meses as tarefas da militância tinham se multiplicado de tal modo que eu já não conseguia produzir conteúdo no Instagram nem aparecer aqui no blog com a frequência que eu gostaria. Eu estava aguentando o tranco porque sabia que era uma situação temporária, pois no início de julho eu viria pro Brasil e, deixando as tarefas lá em Paris, eu teria mais tempo pra compartilhar receitas e histórias nos dois canais que uso pra fazer isso (IG e blog). 

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Bilhete pras pessoas que apoiam o meu trabalho

Ano passado tomei coragem e lancei uma campanha de financiamento contínuo no Apoia-se Era algo que eu pensava em fazer há tempos, pois seguir produzindo conteúdo (receitas, artigos, reflexões, entrevistas) aqui e no Instagram exige bastante tempo e eu sempre tinha que escolher entre seguir fazendo isso (trabalho não remunerado) ou usar meu tempo fazendo outras atividades que me permitissem pagar os boletos e colocar o tofu na mesa. A campanha de financiamento contínuo foi a maneira que encontrei, por enquanto, de seguir servindo minha comunidade e ao mesmo tempo ser remunerada pelo trabalho feito.

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Saudade de casa

Felizmente daqui a exatamente um mês estarei no Brasil novamente. Fazendo comida nessa cozinha, deixando recados pra galera da preguiça nos azulejos, cuidando da minha mãe, passeando toda tarde com ela, minha tia e sobrinha e voltando pra casa com as mãos cheias de frutas colhidas pelo caminho. Quer dizer, em julho não tem caju nem manga, né?

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Jardins da Comuna – Ep 5

Uma visita aos jardins com Lucas

No último episódio eu dei a palavra à algumas das jardineiras e jardineiros que cultivam a terra nos Jardins Operários de Aubervilliers. Aquelas falas precisaram passar por mim, que fiz a tradução e hoje eu queria que vocês ouvissem diretamente um dos jardineiros que fala Português.

Começamos a conversa no lote dele e seguimos papeando enquanto passeávamos pelos jardins. Foi difícil fazer esse episódio, pois naquele dia as máquinas entraram nos jardins, as maquinas que vieram executar o plano de destruição de 4mil m2 das hortas, que serão substituídas por um centro aquático, ligado à uma piscina de treinamento pras Olimpíadas de Paris de 2024. 

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Molho de amendoim e gengibre

Eu tinha planejado publicar essa receita semana passada, mas a situação de violência colonial israelense na Palestina ocupada explodiu novamente e desde então falar de qualquer outra coisa se tornou absurdo. Quem me acompanha no Instagram viu que compartilho informações e artigos por lá diariamente, na maior parte do tempo traduzidos de outras línguas. É um trabalho intenso, mas a Palestina não deixou de estar no centro da minha militância quando eu saí de lá.

Então vamos fazer assim. Por hora, passem no meu Instagram pra acompanhar os acontecimentos na Palestina. E sigam as outras pessoas/coletivos/mídias de confiança que recomendo por lá. E aqui, focaremos na comida, pelo menos por enquanto.

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Jardins da Comuna – Ep 3 e 4

Ep 3—“Devastação 2024”

(áudio passarinhos cantando)

No último episódio falei sobre a orquestra de passarinhos que anima os Jardins Operários e eu não podia deixar de trazer essa melodia pra vocês. Mas estamos na periferia norte de Paris, então o canto dos pássaros, incluindo do galo que mora nos jardins, vem acompanhado do barulho de  carros, buzinas e das construções ali por perto. 

Eu comecei a frequentar os Jardins Operários no meio do ano passado, quando o Coletivo de Defesa dos Jardins foi criado. Não é difícil entender a importância dessas hortas na segurança alimentar das famílias que cultivam ali, mas só quando passei a conversar com as jardineiras e jardineiros, pude ter noção do que os jardins realmente significam pra elas. E isso vai muito além da possibilidade de ter verduras frescas na mesa. 

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Jardins da Comuna (Ep 1 e 2)

Dentre as várias lutas que participo aqui no território onde moro (periferia norte de Paris), a luta pela preservação dos Jardins Operários é uma das mais importantes. Por isso nasceu a ideia de um projeto colaborativo com a Biblioteca Terra Livre: um diário sonoro de resistência, que vai ao ar no podcast Antinomia.

Essa é a história de um pequeno grupo de operárias aposentadas e trabalhadoras, a maioria vinda da imigração, lutando pra defender o último pedaço de terra agrária de seu território contra o racismo ambiental, a gentrificação e a especulação imobiliária na periferia de Paris.

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Cuidado na militância

Se o tema do último post foi “tarefas militantes”, pra mostrar como elas são diversas e ao alcance de todas as habilidades físicas e intelectuais e disponibilidades, hoje a conversa é sobre cuidado na militância. 

A sexta começou como é de costume por aqui. Café da manhã, meditação, um pouco de exercício, trabalho on-line…. À tarde as tarefas do fim de semana começavam, mas…

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Sobre as tarefas da militância

Existe uma certa confusão sobre o que é militar, ser militante ou o que seria uma “militância revolucionária” e isso acaba afastando muitas pessoas da militância. Porque se por um lado tem quem ache que não possui as habilidades certas pra contribuir com a luta, por outro lado essa visão puramente estética da militância (o cara forte, que sabe de cor os escritos dos barbudos e bigodudos, que coloca fascista pra correr e peita a polícia nos protestos), que é bem pouco representativa da realidade, acaba convencendo muitas pessoas que militância não é pra elas.

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O que podemos aprender com menus franceses antigos

Uns dias atrás eu estava no interior da França, visitando o meu sogro, e pedi pra ele me mostrar os cardápios antigos que ele herdou da mãe. O pai dele era chef e tinha um restaurante com uma estrela Michelin. A avó materna dele também era chef, também tinha um restaurante e também tinha uma estrela. Uns anos atrás ele me mostrou um cardápio de 1920 e fiquei impressionada com a quantidade de comida, mas, principalmente, com o número de animais servidos numa mesma refeição. A mãe dele gostava de guardar tanto os menus que a mãe e o esposo preparavam em seus restaurantes respectivos, quanto menus de lugares onde ela comia. Ela deixou esse mundo há alguns anos e meu sogro guarda preciosamente a caixa cheia com as dezenas de menus que ela colecionou durante a vida.

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Falar da luta antiespecista com camaradas de esquerda. E um bolo.

De cara, já aviso que não tenho a resposta. Vim aqui compartilhar minhas experiências militando dentro de um coletivo anticapitalista de tendência anarquista, na esperança de que elas possam inspirar quem está numa situação parecida.

Esse mês faz um ano que o nosso coletivo, as Brigadas de Solidariedade Popular (BSP), foi criado. Era o início da pandemia de Covid 19 e estávamos atravessando o primeiro lockdown na França. A primeira BSP apareceu em Milão, uma iniciativa de militantes antifascistas. Com o objetivo de organizar a solidariedade popular diante da crise sanitária e alimentar, as BSP logo se espalharam por uma parte da Europa. A BSP de onde eu moro, na periferia norte de Paris, foi a primeira da França e também veio da militância antifascista. Outras surgiram logo em seguida, fazendo com que a França fosse o país com o maior número de Brigadas. Um ano depois, poucas continuam ativas. A nossa nunca deixou de organizar atividades de solidariedade e seguimos mais ocupadas do que nunca. Isso se explica, de uma parte, pelo fato do território onde estamos ser o cantão mais pobre da França inteira. A crise alimentar e econômica, que já existia pré-Covid, nunca parou de aumentar por aqui. A longevidade do nosso coletivo também tem outra razão: o compromisso das militantes que o compõe, que ja vinham da luta antifascista, antiracista, feminista….mas não antiespecista. 

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Como fazer munguzá

Faz pouco mais de um mês que voltei pra França e já estou com saudade das comidas da minha terra. Especialmente essa aqui, que enchia o meu café da manhã de alegria e seria um acalento  nas manhãs geladas do inverno europeu.⠀

Primeiro, definições. Munguzá (ou “mungunzá”, ou “chá de burro” – que nome maravilhoso!) é um prato tradicional feito com milho seco e leite de coco. Também conhecido como “canjica” e “mingau de milho”. Os termos “canjica” e “mungunzá” causam bastante confusão, pois na maior parte do Nordeste “canjica” é um prato completamente diferente, embora também à base de milho e coco. Outro dia volto pra compartilhar o que eu chamo de canjica, mas hoje o assunto é mungunzá.

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Como fazer tapioca

Como boa nordestina, tapioca ocupa um lugar de destaque no meu coração. Se eu tivesse que escolher entre pão e tapioca, escolheria a segunda sem pestanejar.

Tapioca é uma iguaria preparada com goma de mandioca (a fécula da mandioca) e degustada no café da manhã, lanche e jantar. Pode ser doce, mas é mais comum salgada. Pode ser servida no leite de coco ou recheada com tudo que sua imaginação mandar. É uma comida tradicional no território onde nasci e foi uma das primeiras coisas que aprendi a fazer. Apesar de ser degustada em todo o Nordeste, parece que tem lugares onde ela é chamada de “beiju”. No RN beiju é outra coisa (também feito de goma, mas diferente).

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Vegana na periferia e no mercado do bairro

Incrível como um conceito tão simples, alimentação vegetal, pode causar tanta confusão. Vem daí o mito de que ser vegana é elitista, que só é possível pra quem tem muito dinheiro e acesso a lojas de produtos especializados. 

O Brasil voltou pro mapa da fome (de acordo com a FAO) e atualmente mais de 10 milhões de brasileiras sofrem com ela (Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE 2017-2018). Desertos alimentares (lugares onde a oferta de alimentos frescos é escassa – ou inexistente- e sobra ultraprocessado) é uma realidade pra muita gente. O Brasil é do tamanho de um continente, as culturas alimentares são diversas e o acesso a comida varia muito de um território pra outro. Mas sem querer ignorar essa realidade, se alimentar exclusivamente de alimentos vegetais já é uma possibilidade pra muito mais gente do que se imagina. 

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E se, na gramática, o genérico fosse feminino?

Sempre soube que a maioria das pessoas que acompanham o meu trabalho é mulher. Não tenho como saber exatamente quem é quem me lendo aqui no blog, mas no Instagram isso é possível e adivinha?  Menos de 15% das pessoas que acompanham o meu trabalho lá são homens. 

Naomi Mayer, cozinheira, cientista social e mestranda em antropologia, levantou uma questão importante essa semana no perfil dela no Instagram (Fome de Entender): homens têm dificuldade em aprender com mulheres. Quando perguntei às amigas que também produzem conteúdo informativo na internet, a resposta foi a mesma: o público delas é quase exclusivamente feminino.

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Perguntas frequentes sobre veganismo – parte II

No último post trouxe algumas das perguntas/afirmações que ando escutando com frequência de pessoas que comem animais e seus derivados. Agora chegou a hora de conversar com pessoas veganas ou que estão considerando o veganismo, mas ainda têm dúvidas.

“Não me sinto à vontade pra recusar carne em comunidades tradicionais.”

Chegar em territórios tradicionais pra veganizar pessoas cheira a colonialismo. A menos que você faça parte da comunidade em questão, não faça isso.

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