Alguns dias atrás o curso de Árabe que vim fazer aqui em Beirute terminou. Foram só cinco semanas, mas o alívio que senti no último dia de aula foi grande. Eu já tinha esquecido o que significa acordar cedo pra ir pra escola e passar a maior parte do seu dia sentada, olhando pra lousa ou pros cadernos. Mas adorei ter feito esse curso, pois aprendi, enfim!, a escrever e a ler em Árabe e conheci pessoas maravilhosas que espero manter na minha vida. E foi uma grande lição de humildade ser alfabetizada novamente aos 34 anos e ter que ler, na frente do professor e de uma sala repleta de alunos, com a mesma dificuldade e na mesma velocidade de quando eu tinha 6 anos (“b…b…ba…r…c…bar…co. Barco!). Aprender uma língua estrangeira depois de adulta é difícil, mas aprender uma língua estrangeira que tem um alfabeto completamente diferente do seu e que ainda por cima se escreve na direção oposta é como contratar um personnal trainer pros seus neurônios. Eles vão sofrer, suar, se esbaforir e quase colocar os bofes pra fora, mas sairão da experiência mais fortes e em melhor forma. Eu e meus coleguinhas de curso estamos nos sentindo muito mais sabidos agora do que cinco semanas atrás. Nos encontramos na rua e nos olhamos com respeito mútuo, pois fazemos parte do grupo que conseguiu conjugar os prefixos e sufixos do sistema verbal árabe- gênero, número, tempo e grau de probabilidade- escritos com letras que se metamorfoseiam de acordo com a posição dentro da palavra e que ainda por cima se escreve da direita pra esquerda!
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Responda com uma dança interpretativa
Quando me mudei pra Londres, em Março, trabalhei por alguns meses em um café vegano/vegetariano. Nada indicava a ausência de carne no nome do café (Moveable Feast) e apesar de ter uma plaquinha do lado da entrada dizendo que aquele era um café vegetariano, quase ninguém se dava o trabalho de ler. Então apesar de boa parte dos clientes ser veg, muitos onívoros iam parar ali desavisados. Todo os dias aparecia gente pedindo um burrito de frango (eu cozinhava a parte de inspiração mexicana -e totalmente vegana- do menu), ou perguntando que tipo de carne nós servíamos. Continuar lendo “Responda com uma dança interpretativa”
Rabanada vegana (salgada e doce)
Nem vou começar a explicar porque andei tão ausente desse pobre blog, pois o blá, blá, blá de sempre (muito trabalho, pouca energia, pouco tempo na cozinha criando novas receitas) não é nem um pouco interessante. Melhor fingir que ninguém percebeu meu sumiço e retomar a conversa de onde deixei da última vez que estive aqui. Continuar lendo “Rabanada vegana (salgada e doce)”
Creme de quinoa e maçã
Por mais que eu adore minhas papas de aveia (e pelos comentários de vocês, não sou a única), faz tempo que venho procurando outros cereais pra transformar em café da manhã. Vi que algumas pessoas andam usando quinoa no lugar da aveia, mas minha tentativa de transformá-la em papa não foi satisfatória. Eu adoro o sabor e a textura desse cereal (que tecnicamente é uma semente, mas quem se importa?), porém ao aquecer quinoa cozida com um pouco de leite vegetal, o resultado foi… quinoa cozida com leite vegetal ao redor, não a papa cremosa que eu queria. Diferente da aveia, que se transforma em creme quando cozida, a quinoa continua do mesmo jeitinho. Como eu disse, eu adoro a textura da quinoa cozida, essas bolinhas que estouram na boca, e ela é muito bem vinda em saladas, sopas… Mas eu queira um café da manhã tão cremoso quanto as minhas adoradas papas de aveia. Tem algo na cremosidade de uma boa papa de aveia quentinha que me traz reconforto e aconchego, como se um cobertor invisível fosse colocado sobre os meus ombros e mãos invisíveis acariciassem os meus cabelos. Então deixei essa história de papa de quinoa pra lá e agarrei e beijei o pote de aveia, jurando-lhe fidelidade eterna.
Continuar lendo “Creme de quinoa e maçã”Tapioca três grãos
Como nunca pensei nisso antes? Comi tapioca durante 31 anos e nunca tinha me passado pela cabeça que poderia deixar esse alimento tão popular aqui no Nordeste mais gostoso e nutritivo. Adoro tapioca, mas convenhamos: esse prato à base de goma (amido ou fécula) de mandioca é um carboidrato simples e não tem quase nada de fibra, proteína ou minerais.
Continuar lendo “Tapioca três grãos”Quase iogurte vegano
Sinto que durante as semanas que virão meus posts continuarão curtos e menos frequentes. Como expliquei, deixarei Belém (Palestina) em breve e estou no meio do longo processo de mudança que envolve não somente empacotar e dar destinos aos nossos pertences, mas também terminar coisas que comecei tempos atrás (como a minha participação no projeto no campo de refugiados), preparar as próximas etapas e, o mais difícil, me despedir dos amigos e do lugar que foi meu lar durante os últimos cinco anos.
Continuar lendo “Quase iogurte vegano”O que fazer com as sobras de fermento natural
Se você, assim como eu, usa fermento natural (levain) pra fazer o seu pão, provavelmente já se perguntou se não tinha uma maneira de resolver o problema do desperdício cada vez que ele é alimentado. Pequena explicação pra quem nunca cuidou de um fermento natural: é preciso alimenta-lo todos os dias (com água e farinha), mas pra não acabar com uma quantidade gigantesca de fermento (depois de cada ‘refeição’ ele dobra de tamanho) precisamos antes descartar metade do fermento. Funciona assim: toda as noites jogo metade do meu fermento fora, depois junto água e farinha à metade que ficou no potinho, misturo bem e deixo descansar. No dia seguinte ele dobrou de tamanho e preciso jogar metade fora novamente antes de alimenta-lo mais uma vez. E por aí vai…
Continuar lendo “O que fazer com as sobras de fermento natural”Omelete vegano 2.0 e um sanduíche
Eu fico feliz em saber que minha euforia contagiou muita gente e meu omelete vegano de grão de bico apareceu em muitas mesas. Ele continua fazendo muito sucesso aqui em casa e acabo de criar uma nova versão com linhaça no lugar da farinha de aveia. Eu queria que o omelete ficasse completamente sem glúten e a linhaça não só resolveu o problema como deixou a receita ainda mais nutritiva. Agora meu omelete é vegano, cheio de proteína e fibra, sem glúten e fonte de ômega 3! Continuar lendo “Omelete vegano 2.0 e um sanduíche”
Começando hoje
Vários projetos interessantes estão aparecendo no meu horizonte e 2013 vai ser um ano supimpa! O único ponto negativo é que está cada vez mais difícil achar o tempo necessário pra manter o ritmo aqui no Papacapim. Talvez vendo de fora tudo pareça muito simples, mas muitas horas são necessárias pra criar cada post (comprar os ingredientes, cozinhar, fotografar, selecionar as fotos, escrever a receita, escrever o texto que acompanha a receita e colocar tudo isso no blog). E os artigos? Preciso de horas de pesquisas (às vezes dias), mais muitas horas de escritura (alguns posts que apareceram aqui precisaram de 10, 12 horas de escritura antes de ser publicados). Continuar lendo “Começando hoje”
A euforia do omelete vegano
Faz tempo que não fico tão animada com uma receita. Na verdade estou eufórica! Esse omelete de grão de bico é mais que uma receita, é uma descoberta. Passei muitos, muitos meses tentando dominar a arte dos crepes de grão de bico, um prato tradicional em várias partes do mundo. No sul da França é chamado de ‘socca’, na Índia de ‘chilla’ ou ‘puda’ e a Itália tem uma versão cozida e depois frita chamada ‘panelle’. E, pasmem, todas essas receitas tradicionais são veganas. O conceito pode parecer estranho pra nós, mas eu confio nos italianos, indianos e franceses, então o negócio devia ser muito bom! Eu precisava embarcar no trem dos crepes de grão de bico urgentemente. Continuar lendo “A euforia do omelete vegano”
Revisada e melhorada
O livro de receitas que eu estava escrevendo e acabou não vendo o dia ia trazer algumas receitas que já foram publicadas aqui no blog, só que revisadas e melhoradas. O Papacapim fará três anos em breve e a maneira como cozinho evoluiu bastante durante esse período (felizmente!). A receita de panquecas de banana que apareceu aqui mais de dois anos atrás, por exemplo, sofreu uma mutação considerável. Continuar lendo “Revisada e melhorada”
A super papa
Muito obrigada pelas mensagens deixadas no meu último post. Ainda não tive tempo de reponder a cada um de vocês, mas queria que soubessem que elas me encheram de alegria. Estou nesse momento abraçando mentalmente cada um de vocês. Obrigada.
Continuo (extremamente) ocupada com o livro (pra todos os que pediram mais informações sobre ele, aguardem que em breve falarei mais sobre o assunto) e sem meu computador. Estou usando um computador emprestado, mas que está mais cansado do que eu, tem um teclado sem nenhum acento e que não corrige textos em Português, por isso vou logo me desculpando se cometi algum atentado à nossa língua. Mas esse blog está precisando muito de uma receita. E não qualquer receita, uma receita capaz de reconfortar depois desse período tão sombrio Continuar lendo “A super papa”
Enfim, bagels
Não posso mais guardar essa maravilha só pra mim. Atendendo a pedidos, aqui está a tão esperada receita de bagels.
Se você nunca comeu um bagel na vida acho que uma pequena introdução se faz necessária. Eles são pães em forma de anel gordo, com uma casca crocante e um miolo macio, mas muito mais denso do que os pães que costumamos comer no Brasil. Eles têm essa textura única porque são cozinhados na água por alguns minutos antes de irem pro forno. Parece que nasceram na Polônia, muito, muito tempo atras, em mil seiscentos e carocinhos e foram se espalhando pela Europa. Imigrantes poloneses judeus levam os bagels pros EUA e Nova York tem hoje a reputação de fazer uns dos melhores bagels do mundo. A primeira vez que comi um bagel foi lá (olha que sorte!) e me apaixonei imediatamente.
Gobhi Paratha
Essa semana fiz um jantar indiano aqui em casa. Meus amigos europeus adoram a comida da Índia, mas como aqui não tem restaurante indiano de vez em quando faço o meu curry especial pra agrada-los. E como entrada fiz gobhi paratha, acompanhado de pesto de coentro (usei amêndoas no lugar de pistaches). Parathas são um tipo de pão muito popular na Índia, principalmente no norte. Quando estive lá comi parathas (e chapatis, o pão tradicional do sul) todos os dias e até hoje quando mordo um paratha me sinto imediatamente transportada pra aquele lugar. Comida, assim como cheiros, tem o poder de nos fazer viajar no tempo e no espaço… Continuar lendo “Gobhi Paratha”
Delicioso e fácil
Durante mais de um ano o blog só tinha uma única receita de pão, o meu pão integral com centeio e sementes. Aí publiquei a receita de pão chato recheado com cogumelo e cebola e, menos de um mês depois, cá estou eu com mais uma receita de pão. Explico. Por mais que eu adore meu pão integral, decidi explorar outros tipos de pão pra variar o menu daqui de casa e ter mais receitas pra dividir com vocês. Ainda faço meu pão com sementes regularmente e é ele que prefiro comer no café da manhã, mas estou adorando descobrir pães diferentes que vão muito bem no lanche e como acompanhamento do almoço ou jantar. Como essa focaccia com alecrim e azeitonas. Continuar lendo “Delicioso e fácil”
Mais um pão
Até o dia em que ganhei um pouco do fermento natural de um amigo, eu nunca tinha feito pão em casa. Desde então descobri as maravilhas do fermento natural e consegui criar um pão do jeitinho que eu gosto: integral, rústico, com uma casca crocante e recheado de sementes. Apesar de ser demorado e exigir um certo “jeito” (que a gente só pega depois de muitas fornadas), esse ainda é o meu pão preferido, o que faço semana após semana, por isso não tem nenhuma outra receita de pão aqui no blog. Mas faz tempo que queria postar outra receita de pão pros leitores que, contrariamente à mim, gostam de variar. Continuar lendo “Mais um pão”
Soja: os mitos, o excesso e o tofu
Tempos atrás, em um dos jantares que preparei no meu restaurante ocasional, uma convidada japonesa comentou que nunca come o tofu local, pois ele é horrível (na verdade ela disse “seboso”). Felizmente não estava servindo tofu naquela noite (compro o meu em uma loja de produtos orgânicos em Jerusalém então imaginem o constrangimento!), mas fiquei pensando que o tofu do Japão deve ser uma coisa do outro mundo. Se já acho bom esse que compro aqui, imagine o original! Continuar lendo “Soja: os mitos, o excesso e o tofu”
Fibras: porque comer e onde encontrar
Eu não sei vocês, mas muitos dos meus parentes e amigos têm prisão de ventre. Outro dia eu estava conversando com minha amiga Samira, que sofre de prisão de ventre crônica, tentando convencê-la a comer mais fibras. Ela respondeu que não tem jeito, ela prefere arroz e pão branco. Eu já tive conversas desse tipo várias vezes. Muita gente acredita que a única maneira de aumentar a quantidade de fibras de dieta é consumindo cereais integrais e produtos (industrializados) feitos com cereais integrais. Por isso há tempos que venho ruminado esse post, pra ajudar as pessoas a entender melhor de onde vem as fibras e como se livrar da danada da prisão de ventre. Mas comecemos pelo começo. Continuar lendo “Fibras: porque comer e onde encontrar”
Duas semanas
Durante meus anos de universitária em Paris eu levava uma vida tão corrida que ao escutar o despertador tocar de manhã eu só desejava uma coisa: mandar a faculdade e o trabalho sem graça pras cucuias, me mudar pra um sítio em algum lugar remoto e passar o resto dos meus dias criando galinhas. Essa vontade estranha de criar galinhas não durou muito, mas o sentimento de estar vivendo a vida errada e querer mudar radicalmente de vida me acompanhou durante bastante tempo. Continuar lendo “Duas semanas”
Só o bom senso salva
Depois de fazer furor nos States, parece que a semente de chia virou a comida saudável da moda no Brasil. Quando escrevi sobre como preparar essa sementinha, ela ainda era uma desconhecida por aí, mas depois de ter aparecido algumas vezes na telinha brasileira a chia virou estrela. Desde então muitas pessoas me escreveram querendo saber como usar essa nova maravilha da natureza. Falei tudo o que sabia sobre a chia naquele post, mas pensei em voltar ao assunto por dois motivos. Primeiro porque fico extremamente incomodada quando uma comida ganha fama de “super alimento”. Segundo porque descobri uma maneira nova de comer chia e queria dividir essa deliciosa receita com vocês. Mas comecemos pelo começo. Continuar lendo “Só o bom senso salva”