Como fazer cuscuz (com coco)

Aproveitando que estou no meu país, o Nordeste, vou compartilhar algumas receitas daqui. Começando com uma das mais simples, o café da manhã de todo dia aqui (pelo menos na parte do Nordeste onde me encontro): cuscuz.

É muito simples e rápido, mas muitas pessoas ignoram 2 coisas essenciais: hidratar o fubá antes de cozinhar e finalizar o cuscuz com um líquido quente e um pouco de gordura. Aqui vai o passo-a-passo.

Continuar lendo “Como fazer cuscuz (com coco)”

Ainda sobre ultraprocessados vegetais de grandes empresas: o veganismo está ganhando?

A terceira maior empresa produtora de leite animal na França acaba de lançar uma linha de leites vegetais. O veganismo está ganhando?

Fiz essa pergunta às pessoas que me acompanham no Instagram e o resultado foi o seguinte: 91% das pessoas responderam que não, 9%, que sim.

Essa empresa, que se chama Candia, faz parte do grupo Sodiaal, o número 3 na produção de leite de vaca na França e número 16 no mundo. São 4.7 bilhões de litros de leite de vaca comercializados por ano, de acordo com o site da empresa. Isso representa um número gigantesco de vacas exploradas pelo seu leite, cujos corpos serão vendidos como “carne” no final da vida, assim como os corpos de seus bezerros machos, um perverso “sub produto” da indústria que explora mamíferas pelo seu leite. Então pra ser uma “vitória pros animais”, o lançamento do leite vegetal da marca deveria diminuir o número de vacas exploradas e torturadas por Candia, certo? 

Continuar lendo “Ainda sobre ultraprocessados vegetais de grandes empresas: o veganismo está ganhando?”

Farofa de beterraba

Saí da quarentena (que na verdade era uma dezena) ontem, estado no qual tive que ser colocada depois de ter feito uma longa viagem de avião cruzando o Atlântico. E além de ter esperado os dez dias, só me senti segura pra ter contato com a minha família depois de ter feito um teste pra ter certeza que não estava com covid. Minha mãe é idosa e tem a saúde frágil, então precisamos levar o protocolo sanitário a sério.

E assim que fui liberada, corri pra cozinha.  Ontem fiz uma moqueca de caju que merece aparecer por aqui, mas antes de compartilhar essa receita vos ofereço uma ainda mais simples: farofa de beterraba. Depois que me reconciliei com a farofa, a argamassa da vitória (e da revolução proletária, pelo menos no Brasil), não perco uma oportunidade de preparar, comer e compartilhar esse prato. E essa aqui eu  aprendi com minha irmã Lu (a do bolo de laranja), que por sua vez conseguiu a receita com uma amiga.

Continuar lendo “Farofa de beterraba”

24 horas na periferia de Paris

Estou há alguns dias no Brasil, isolada do resto da família, enquanto respeito a quarentena necessária pra quem passou por três aeroportos em três países diferentes numa viagem de 24 horas. Mas antes de trazer os posts desse blog pra essa nova realidade, gostaria de descrever um dos meus últimos dias antes de viajar. Talvez você imagine que, por morar em Paris, meu cotidiano seja bem diferente de quando eu morava na Palestina e trabalhava em um campo de refugiados. A verdade é que posso ter mudado de país, mas o compromisso com a luta, principalmente com as pessoas refugiadas, migrantes e exiladas, não mudou. Isso é, pra mim, o internacionalismo nos dias de hoje. Pra entender melhor minha realidade de estrangeira do Sul global, morando na periferia de Paris, aqui está o relato de 24 horas na minha vida, da noite da última segunda à noite da última terça.

Continuar lendo “24 horas na periferia de Paris”

O conceito de mistura

Uma das perguntas que escuto com mais frequência é: “Como substituir a carne?” Geralmente feita por pessoas que estão pensando em diminuir ou parar de comer animais, ela diz respeito ao aspecto nutricional da refeição. O que a pessoa está perguntando, na verdade, é: “O que preciso comer no lugar da carne pra ter acesso aos nutrientes que antes eu conseguia através dela?”

Continuar lendo “O conceito de mistura”

“Quando penso em veganismo, penso em justiça”

Em julho eu contei que tinha voltado a entrevistar pessoas veganas, algo que comecei muitos anos atrás, aqui no blog. Mas dessa vez faço apenas três perguntas e entrevisto somente pessoas que não são brasileiras, pois o objetivo é mostrar que o veganismo lá fora segue forte como movimento político, apesar do veganismo liberal de ONGs e influenciadoras tentar nos convencer do contrário.

Continuar lendo ““Quando penso em veganismo, penso em justiça””

Sobre racismo no movimento vegano

A história de hoje é sobre:
-racismo
-veganismo
-leis que dizem proteger animais, mas que na verdade buscam marginalizar ainda mais minorias sociais
-como um país idolatrado pela comunidade vegana por ser o lar da maior comunidade veg no mundo está abandonando o vegetarianismo
-como nesse mesmo país, que tem reputação de ser um templo de não-violência, uma parte da população está linchando uma minoria social em nome da “proteção das vacas”
-e o que isso tem a ver com todo o resto.

Continuar lendo “Sobre racismo no movimento vegano”

Por que pessoas deixam de ser veganas?

Há muitos anos me faço essa pergunta e depois de muita pesquisa e reflexão acabei descobrindo que a resposta é complexa.

Em 2014 o Human Research Council fez um estudo com ex vegetarianas/veganas (vou escrever “vegs”, pra encurtar) pra tentar entender por que pessoas abandonam o vegetarianismo/veganismo. O estudo foi encomendado pra tentar entender esse fato alarmante: 84% das pessoas que se tornaram vegs voltam a comer animais. É essencial entender as razões por trás disso se quisermos construir um movimento antiespecista eficaz. Foram 11 mil ex vegs entrevistadas e a lista de razões que as fizeram deixar de ser vegs é longa, mas as principais são de ordem social. A razão principal (apontada por 84% das entrevistadas) foi “não participar ativamente de grupos vegs”, seguido de “não gostar de ser visto como diferente por ter dieta veg” (63%), “não ver vegetarianismo/veganismo como parte da identidade” (58%) e “não ter interações suficientes com outras vegs” (49%).

Continuar lendo “Por que pessoas deixam de ser veganas?”

Sobre racialização e as armadilhas coloniais

Dia 4/07 aconteceu a Parada Política do Orgulho LGBT+ em Paris. A Parada política existe justamente pra protestar contra a Parada oficial, patrocinada por bancos e cartões de crédito, que transformou esse dia tão importante, onde ocupamos as ruas pra honrar a memória das que lutaram antes de nós e continuamos a luta por direitos LGBT+, em uma festa despolitizada pra celebrar o pink money.

Continuar lendo “Sobre racialização e as armadilhas coloniais”

A peste de Camus, o teste Bechdel e o que isso tem a ver com todo o resto

Adoro ler e apesar de não dedicar o tempo que gostaria à leitura durante o dia, dou cabo de uma modesta pilha de livros mensalmente, pois só consigo dormir depois de ler por pelo menos uma hora na cama. A pessoa que estiver dividindo a cama comigo que lute pra dormir com o barulho das páginas sendo viradas (bem discretamente, juro).

Continuar lendo “A peste de Camus, o teste Bechdel e o que isso tem a ver com todo o resto”

Sobre leite condensado, queijo e o que o veganismo tem a ver com isso

Dias atrás eu estava comendo as primeiras cerejas do ano e lembrei de um causo que aconteceu comigo há mais de 15 anos. Isso me fez refletir sobre algumas coisas, que se juntaram à uma reflexão que nasceu quando eu trabalhava numa queijaria vegetal em Berlim e passava meus dias entre bactérias e leveduras. (Comida também alimenta o pensamento.)

Continuar lendo “Sobre leite condensado, queijo e o que o veganismo tem a ver com isso”

A fórmula da farofa + a farofa de cenoura da minha família

Uma etapa essencial pra quem quer aprender a cozinhar (se você vier desse território colonizado conhecido como Brasil) é saber fazer farofa. Extremamente simples, mas que faz toda a diferença na vida da cidadã, ela alegra o prato e é a melhor amiga do feijão. Aliás, deixa eu contar uma das minhas opiniões mais impopulares: não gosto de arroz. Por isso prefiro casar meu feijão com farofa e ignorar o pobre arroz, o que nunca deixa de provocar surpresa nas vizinhas de mesa. Farofa, como dia minha amiga Maria Helena, é a argamassa da vitória!

Continuar lendo “A fórmula da farofa + a farofa de cenoura da minha família”

Quem dita as regras do veganismo?

Uns meses atrás publiquei uma série de stories no meu Instagram (os jovens não leem mais blogs, infelizmente) sobre a tendência dentro do movimento vegano de eleger algumas vozes como mais legítimas pra “definir o que é vegano” do que outras e considerar a posição de grandes ONGs internacionais como “oficial”, classificando as visões diferentes como “opinião pessoal”.

É um debate que precisa ser feito, então vim trazer a conversa pra esse espaço também.

Continuar lendo “Quem dita as regras do veganismo?”

Por um veganismo que promove autonomia alimentar

Ano passado a chef Paola Carosella causou um grande alvoroço dentro da comunidade vegana por causa da reação dela (via Twitter) depois de ter provado um hambúrguer vegetal que imita a textura e o sabor de carne animal. Acho oportuno abrir espaço pra discutir as declarações dela, pois acredito que podemos extrair algumas lições importantes do ocorrido.

Continuar lendo “Por um veganismo que promove autonomia alimentar”

Grão na chapa

Gosto de pensar que sou uma pessoa modesta. Recebo elogios de bom grado, mas não saio por aí “contando vantagem”, como a gente diz na minha terra (se você precisa de tradução, essa expressão significa “fazendo elogios, não merecidos, a si mesma”). Mas de vez em quando eu desenvolvo uma receita que me faz inchar de orgulho. Mais ainda quando não se trata de uma receita propriamente dita, o que envolve vários ingredientes, muitos testes e muita louça pra lavar antes de chegar na versão final, a que compartilho aqui no blog. Isso é um trabalho que necessita criatividade, obviamente, mas é o resultado de 90% de transpiração e 10% de inspiração, como dizem que disse Einstein. Agora, quando a “receita” em questão é uma ideia que brotou na minha cabeça, puf!, que necessita apenas 2 ingredientes e que deu certo de primeira, aí eu não consigo conter o entusiasmo (se você estivesse do meu lado nesse momento me veria dando um discreto beijinho no ombro).

Continuar lendo “Grão na chapa”

Farofa rica

Em setembro confessei aqui no blog a minha recente história de amor com a farofa e compartilhei a receita da minha farofa mais popular.

Mas isso não é exatamente verdade. Sim, minha farofa de banana e couve é extremamente popular na minha família, mas um dia fiz uma versão ligeiramente modificada dessa receita e o sucesso foi ainda maior. Chamei essa obra-prima comestível de “farofa rica”.

Continuar lendo “Farofa rica”

Como comecei a cozinhar

Escrevi meu primeiro caderno de receitas com onze anos, mas comecei a cozinhar bem antes disso. Minha mãe, que nunca gostou de cozinhar, nos encorajou a fazer nossa própria comida desde muito cedo. As receitas do caderno eram de apenas um tipo: recheios pra colocar dentro do pão ou tapioca, todos variações de ovo mexido. Lembro que a única receita que não envolvia ovo era ‘pão frito’: pão em cubinhos, frito em muita, muita margarina. Embora não tivesse entrado no caderno, meu repertório da época também incluía bolachas cozinhadas no leite, papa de aveia com canela, vitamina de banana com achocolatado e, em um momento onde eu me senti particularmente gourmet, patê de salsicha e cebola crua, criado em colaboração com uma prima. 

Continuar lendo “Como comecei a cozinhar”