Ainda não é oficialmente inverno no hemisfério norte (o solstício de inverno é no dia 22 de dezembro esse ano), mas as noites já estão mais longas que os dias, o frio já se instalou e a luz natural já está fazendo falta. E isso tem um efeito interessante no meu apetite. Por um lado desejo comidas quentes e pesadas (sopa, muita sopa! creme!!!), pra aquecer o estômago e me proteger do inverno. Mas ao mesmo tempo sinto falta das frutas e verduras que crescem no calor, principalmente as da minha região no Brasil. É um fenômeno curioso, esse. Ao mesmo tempo que meu corpo demanda sopa e cogumelos, minha cabeça não para de pensar em abacaxi, quiabo e mamão.
Continuar lendo “Tostada de chuchu”Categoria: Outros
Islamofobia e por que se opor a esse tipo de racismo é uma pauta feminista
Duas coisas estão me revoltando profundamente aqui na França: o tratamento dado a migrantes/refugiados e a islamofobia. Pretendo falar sobre a questão de pessoas migrantes outro dia, porque essa militância está ocupando boa parte do meu tempo aqui. Mas hoje queria chamar vocês pra uma conversa sobre islamofobia. Pode parecer algo distante de nós, ou talvez você tenha uma visão negativa de pessoas muçulmanas, mas continue lendo que você vai entender por que essa questão não só é importante pra nós, como é também uma questão feminista.
Continuar lendo “Islamofobia e por que se opor a esse tipo de racismo é uma pauta feminista”“A solução não passa pelo capitalismo. Ela o derruba.”
Em pouco mais de um mês tivemos três grandes eventos veganos aqui em Paris. Se não me engano os três maiores do ano. Estive nos três, porque quero descobrir como o movimento vegano está se organizando aqui. Me tornei vegana quando ainda morava em Paris, em 2007, mas na época veganismo na França era algo praticamente desconhecido e não tinha eventos nem encontros veganos na capital.
Continuar lendo ““A solução não passa pelo capitalismo. Ela o derruba.””Tour gastronômico em Paris
Lembram do tour gastronômico que organizei em Paris ano passado? Agora que voltei a morar aqui, esse projeto vai fazer parte das minhas atividades profissionais regulares. A ideia é fazer tours organizados duas vezes por ano (no inverno e na primavera), mas quem estiver de passagem pela cidade fora dessas datas terá a possibilidade de me contratar por um dia (ou mais) em um tour privê.
Continuar lendo “Tour gastronômico em Paris”Exercício de economia doméstica
Estava na rua resolvendo coisas e voltando pra casa decidi passar pelo mercado de produtos orgânicos que fica no caminho, já que a geladeira estava vazia. Acontece que eu só tinha 15 euros na bolsa, o que aqui não é grande coisa. Comprar comida pra semana, pra duas pessoas, com um orçamento tão limitado seria um exercício interessante de economia doméstica. A verdade é que não tenho trabalho remunerado no momento e preciso mesmo manter as despesas sob controle. Mas a Pollyanna que mora em mim viu aquilo como uma oportunidade pra ser mais criativa na cozinha.
Continuar lendo “Exercício de economia doméstica”Onde eu deveria estar
Faz um mês que cheguei em Paris. É estranho falar “cheguei” porque se trata de uma volta, mas ao mesmo tempo será que posso falar de volta quando deixei essa cidade 11 anos atrás?
Chegada/volta que foi estranha nos primeiros dias, principalmente porque eu estava vindo do Brasil e o choque de realidades é sempre grande. Mas bastou a primeira semana passar que já parecia que eu nunca tinha saído daqui.
Continuar lendo “Onde eu deveria estar”Vinagrete de coco
Cheguei em Paris no início de setembro, mas só agora, quase quatro semanas depois, pude desfazer a mala, me assentar e ter a sensação de ter, enfim, chegado. É uma longa história que contarei outro dia.
Estou vindo do Brasil, onde, pelo segundo ano consecutivo, fiquei três meses inteiros, combinando férias, visita à família e trabalho. E assim como em 2018, viajei bastante pelo Brasil, participei de eventos muito bacanas, encontrei pessoas incríveis e juntei forças com quem está articulando a revolução por lá. Também tenho muito o que contar sobre a passagem pelo Brasil esse ano, mas também vai ficar pra outro post. Hoje eu vim compartilhar mais uma receita que fez sucesso com a minha família durante as férias.
Continuar lendo “Vinagrete de coco”Engrossar o fino, esfriar o quente e aumentar o pouco
Meus pais, nascidos e criados no Sertão potiguar, devem sua sobrevivência à farinha de mandioca. Um dia minha tia Luísa, irmã caçula do meu pai, me explicou que quando ela era criança a família guardava a farinha num baú. “Quando ele estava cheio, a gente sabia que tinha comida por pelo menos três meses.” Perguntei o que ela comia naquele tempo. “Cuscuz de manhã, com o milho que a gente moía, feijão macaça com farinha no almoço e à noite mais feijão com farinha, ou um pedaço de rapadura com farinha.” Minha mãe também me contou do pirão de óleo que fazia pro almoço das irmãs e irmãos, quando meus avós estavam no roçado e não tinha mais nada pra comer. A receita? Água fervente, um pouco de óleo, sal e a bendita farinha.
Continuar lendo “Engrossar o fino, esfriar o quente e aumentar o pouco”O final de um ciclo
Aquela ideia extravagante que tive em 2014, que era pra ter sido um evento único, deu tão certo que acabou se repetindo por cinco anos. Nem acredito que já faz cinco anos que o projeto de tours político-ativista-vegano-feministas na Palestina nasceu e que pude viver essa aventura com dez grupos de brasileiras (no último até teve duas participantes da Austrália).
Continuar lendo “O final de um ciclo”A revolução será fermentada
Isso explica o silêncio por aqui. Estava fermentando a revolução. Faz uns meses que estou trabalhando em um projeto incrível (Cashewbert), criado por um rapaz muito bacana, Anderson, que acontece de ser brasileiro, ajudando a desenvolver queijos veganos que usam as técnicas e as bactérias da queijaria tradicional. As últimas semanas foram intensas, pois estávamos nos preparando pra abertura da primeira queijaria vegana de Berlim. Kojiterie abriu sexta passada e fica na Hohenstaufenstraße, 39 (Berlim). Por enquanto só funciona às sextas e sábados. Se dez anos atrás me dissessem que um dia existiriam queijarias veganas (já tem algumas mundo afora) e que eu faria queijos veganos em Berlim… eu provavelmente teria tido a mesma reação tive agora, uma mistura de encantamento com empolgação com esperança. O futuro é verde, meu povo (de planta e de mofo), e está ficando cada vez mais delicioso.
Continuar lendo “A revolução será fermentada”Tour gastronômico vegano em Paris
Eu me tornei vegana dez anos atrás, em Paris. A cidade luz foi meu lar durante 6 anos, onde fiz toda a faculdade e um pedaço do mestrado (sou formada em Linguística). Não era fácil ser vegana por lá naquela época e pouca gente sabia o que a palavra significava. Mas minhas razões eram profundas e morar na terra do queijo e do croissant (com manteiga) não me impediu de alinhar as minhas escolhas alimentares com os meus valores, mesmo se o único lugar onde eu podia comer era na minha própria cozinha. Nunca eu imaginaria que dez anos depois o veganismo faria parte da paisagem gastronômica parisiense. Mas o que eu imaginava ainda menos era que um dia eu iria organizar tours gastronômicos na cidade que tanto torceu o nariz pro meu veganismo.
Continuar lendo “Tour gastronômico vegano em Paris”Defendendo a Palestina: libertando o povo, a terra e os animais
Eu conheci Ahmad Safi, um dos fundadores da Palestinian Animal League (PAL – Liga Animal Palestina), em 2015. Sou uma grande admiradora do trabalho que a PAL, a primeira Organização de Proteção aos Animais atuando dentro dos Territórios Palestinos Ocupados, está fazendo e tinha vontade de entrevistar Ahmad desde então. No final de abril deste ano, finalmente marcamos uma data e nos encontramos na hora do almoço no Sudfeh, o primeiro restaurante vegano/vegetariano da Palestina, localizada na Universidade Al Quds, em Abu Dis.
Continuar lendo “Defendendo a Palestina: libertando o povo, a terra e os animais”Mateus
Uns anos atrás eu entrevistei minha amiga Bárbara Bastos, que mora em Recife, como parte de uma mini série sobre alimentação saudável pra crianças. Se você ainda não leu as entrevistas, recomendo muitíssimo. Elas oferecem a perspectiva de três mulheres que se alimentam de maneiras diferentes (onívora/macrobiótica, vegetariana e vegana), com estilos de vida variados e que moram em cidades (países!) diferentes, mas que têm uma coisa em comum: decidiram oferecer uma alimentação integral e natural pros seus filhos. Se você acha que é impossível criar uma criança sem ‘danoninhos’, achocolatados, queijos processados, sucos de caixinha e biscoitos entupidos de açúcar e produtos químicos, as explicações delas farão você mudar de opinião. Elas mostram com exemplos concretos que é totalmente possível e que o impacto na saúde da criança é tão grande que faz a mudança valer muito a pena, apesar das dificuldades. Pra ler as entrevistas clique aqui, aqui e aqui.
Continuar lendo “Mateus”9 de junho
Continuo em Berlim, mudando de casa em média a cada três dias, me sentindo um macaquinho pulando de galho em galho. Só que de bicicleta e com uma mochila nas costas. Quando eu conseguir achar um apartamento que corresponda aos nossos critérios de busca vou beijar o chão, que nem o papa fazia.
Como minha vida está uma bagunça, está difícil manter o formato dos meus posts (história + receita), pois não ando cozinhando muito em casa. O post de hoje será diferente e picotado, como o momento que estou atravessando.
Continuar lendo “9 de junho”Em Berlim
Chegue em Berlim há uma semana. Vim tentar morar aqui. Digo “tentar” porque morar é uma ação que exige compromisso e ainda não sei se posso me comprometer com essa cidade. Ou se a cidade vai querer se comprometer comigo. Espero que sim, pois estou cansada de arrastar minha mala mundo afora e ficaria muito feliz em me aquietar um tempo. Cultivar ervas na janela, essas coisas.
Por que Berlim? Porque começa com a letra “b” e até hoje só moramos juntas, Anne e eu, em cidades que começam com “b”: Belém (Palestina), Bruxelas, Beirute. A razão verdadeira da mudança não é muito mais convincente, então fiquemos com essa.
Estou me sentindo uma alma penada, tanto por estar vagando pela cidade sem sentir que pertenço ao lugar (por enquanto!) quanto pelo fato de ter que mudar de casa a cada três dias, pois ainda não encontramos um lugar pra chamar de nosso e estamos contando com a solidariedade e generosidade das amigas que nos oferecem teto provisório.
Volto em breve, com informações mais interessantes e uma receita muito boa.
(Foto do brunch do café da esquina, onde 90% do bufê é vegano. Sim, até os croissants!)
Sobre amor
Escrevi no primeiro dia do ano que eu tinha casado e prometi falar mais sobre o assunto, e compartilhar fotos, em um outro post. Cá estou pra cumprir a promessa.
Quando criei esse blog, exatos sete anos atrás, eu queria compartilhar mais que receitas. Queria colocar pedaços da minha vida aqui pra mostrar que pessoas veganas não são muito diferente das outras e que não é nada esotérico ter um estilo de vida sem crueldade. Quase imediatamente senti a mesma responsabilidade com relação à outra comunidade da qual faço parte, a comunidade LGBTQ. Falar abertamente da minha orientação sexual aqui no blog é extremamente importante pra mim, pois nós, LGBTQs, precisamos de visibilidade. Se sentir representada na literatura, cinema, mídia, internet, política e todos os aspectos da vida civil importa e muito. Então gosto de pensar que o blog me dá a oportunidade, além de desmistificar a culinária vegetal, de fazer minha contribuição nesse sentido.
Continuar lendo “Sobre amor”Ainda dá tempo
Janeiro ainda não acabou e eu já dormi em dez camas diferentes esse mês. Dez! Mas é com muita felicidade que digo que essa décima cama será minha por três meses inteirinhos. Sei que parece pouco, mas quando você anda arrastando sua mala há mais de dois anos, três meses são suficientes pra te deixar feliz e sentindo que tem uma casa.
Continuar lendo “Ainda dá tempo”1 de janeiro
Quem aí também está pensando “2016, seu infeliz das costas oca, já foi tarde!”? Ou alguma variação da frase com um insulto usado em seu dialeto. O ano foi difícil pra maior parte dos habitantes desse planeta, mas aqui do meu lado ele acabou de uma maneira linda.
Vim passar o natal com a família francesa e pela primeira vez em oito anos Anne e eu não fomos as únicas a ter uma ceia vegana. A irmã caçula de Anne se tornou vegetariana esse ano, depois de anos flertando com a ideia e se alimentando de maneira cada vez mais vegetal. Já no almoço do 25 de dezembro foram quatro pratos veganos! A outra irmã de Anne já não come mais animais terrestres e pediu pra se juntar à nos. Eu vejo pessoas irem cada vez mais na direção de uma alimentação mais vegetal em todos os lugares por onde passo.
Continuar lendo “1 de janeiro”Em São Paulo
Passando rapidinho pra dividir uma coisas com vocês. Cheguei em São Paulo alguns dias atrás e já fiz tanta coisa e encontrei tanta gente bacana que parece que estou aqui há semanas. Ontem teve a palestra sobre ativismo interseccional (direitos animais e humanos) no Encontro Vegano. Hoje visitei um assentamento do MST onde os agricultores praticam a agroecologia e visitei a Escola Nacional do MST, a Florestan Fernandes. Pretendo falar mais sobre isso tudo em breve, mas hoje só queria informar que vou fazer duas oficinas de culinária na cidade. Uma na quarta (23) no espaço Mun e a outra no domingo (27) no restaurante Broto de Primavera. A primeira será de inspiração europeia e será seguida de um jantar. A segunda trará receitas palestinas e será seguida de um almoço. Os dois eventos serão acompanhados de uma palestra/bate-papo. Todas as informações sobre as oficinas (horário, menu, preço e telefone pra reserva) estão aqui. As vagas são limitadas, então pessoas interessadas devem telefonar pra reservar seu lugar o mais rapidamente possível.
E amanhã às 19h30 Anne vai participar desse evento de solidariedade ao povo palestino no restaurante (palestino!) Al Janiah. Vai ter uma roda de conversa e a exibição do documentário que ela fez sobre as famílias que perderam três membros ou mais no último bombardeio israelense em Gaza. O evento é gratuito e estão todas convidadas. Estarei lá traduzindo e comendo falafel (melhor falafel do pedaço!!!). Mais informações sobre o evento (e endereço) na página FB do restaurante.
Praia vegana: guia de sobrevivência
Algumas semanas atrás passei uma semana na minha praia preferida do litoral potiguar. Anne e eu temos uma tradição. Sempre que ela vem ao Brasil nós visitamos a mesma praia, Baía Formosa, que descobrimos na primeira vez que ela veio aqui. É um lugar tranquilo que se mantém protegido do turismo de massa, o extremo oposto da vizinha, a internacionalmente famosa praia de Pipa. Nós não gostamos de lugares cheios de gente e com forte apelo comercial e Baía Formosa é um vilarejo de pescadores, cercado pela Mata Estrela (reserva de mata Atlântica), um lugar lindo e mais interessado em eco-turismo do que em balada.
Continuar lendo “Praia vegana: guia de sobrevivência”