Cocada cremosa com maracujá

Em junho, quando eu fiz aquele mini-retiro entre o rio e o mar, a proprietária da cabana onde fiquei hospedada deixou um mimo na cozinha pra mim: um potinho com pedaços de cocada. Agradeci o presente e perguntei se ela tinha colocado leite condensado na receita. Apesar da receita original de cocada ter só coco e açúcar, a norma hoje em dia é usar leite condensado. Ela respondeu que sim e eu agradeci mais uma vez, mas falei que não consumia leite animal. “E leite de coco?”, ela perguntou. Falei que leite de coco, sim, então ela contou que uma das cocadas no pote era de maracujá e tinha sido feita com leite de coco. “Só com leite de coco?”, perguntei animada. Como ela repetiu que sim, que só tinha leite de coco, dei uma mordida tímida na cocada de maracujá depois que ela saiu. Não sou chegada em doces, muito menos doces muito doces, e cocada entra nessa categoria. Mas amo maracujá e a ideia de misturar essa fruta deliciosa com coco atraiu meu paladar. Infelizmente o micro pedaço de cocada que comi foi suficiente pra me fazer entender que tinha leite condensado de vaca ali. Poxa!

Não foi a primeira vez que alguém mentiu numa situação dessas. Outro dia minha irmã do meio chegou em casa toda feliz com um dindin (ou sacolé ou geladinho, dependendo de onde você mora) de coco que ela tinha comprado especialmente pra mim porque o vendedor jurou de pés juntos que não tinha leite de gado ali, só leite de coco. Bastou eu sentir o cheiro do dindin pra entender que tinha leite em pó – de vaca- na composição. Minha irmã provou e confirmou.

Depois que a frustração de ter sido enganada no caso da cocada passou, fiz uma nota mental: fazer minha própria cocada com maracujá. E eu a faria mole, pra comer de colher, porque as duras têm tanto açúcar que não consigo comer. Outra razão pra fazer cocada de colher era testar usar macaxeira cozida na receita. Eu já fiz uma sobremesa com macaxeira no passado (preciso aperfeiçoa-la antes de compartilhar) e achei que tinha muito potencial. A ideia de usar macaxeira cozida em receitas doces não saiu da minha cabeça. Vi várias pessoas usarem essa técnica (e nem sempre pessoas veganas!) e a primeira sobremesa que fiz usando macaxeira foi inspirada numa receita que aprendi com João, um amigo vegano (e sócio de um restaurante delicioso) em Recife. Isso foi há alguns anos e hoje não entendo por que demorei tanto pra explorar mais essa técnica.

Não se assuste, garanto que a macaxeira vai dar a cremosidade levemente elástica que associamos ao leite condensado animal sem alterar o sabor. Consegui fazer a cocada do jeito que eu tinha desejado e, pra mim, o maracujá é o que deixou essa receita realmente excepcional.

Cocada cremosa com maracujá

O pulo do gato aqui é a macaxeira cozida. É ela que vai dar a textura cremosa, bem parecida com o adorado-idolatrado-salve-salve leite condensado. Confie, ninguém adivinha que tem macaxeira aqui. Uso uma quantidade até modesta de açúcar, considerando que isso é uma cocada. Prove e deixe seu paladar te guiar. Eu só fiz essa receita com coco fresco, mas tenho certeza que dá certo com coco ralado desidratado também (só atente pra usar uma quantidade menor de coco, já que ele vai absorver líquido e expandir quando entrar na panela). No dia que eu fizer, volto aqui pra contar. Use essa receita como base e faça os ajustes que quiser pra ficar perfeita pra você (mais ou menos açúcar, mais ou menos maracujá…)

3 1/2 xícaras de coco seco ralado (fresco, não o desidratado)

2 1/2 xícaras de leite de coco fresco (receita aqui)

1 1/2 xícara de macaxeira cozida, bem mole

1 1/2 xícara de açúcar

1 maracujá (grande ou pequeno, dependendo do seu gosto)

Pitada de sal

Coloque a polpa do maracujá no liquidificador (o tamanho do maracujá vai depender do seu gosto – quanto maior, mais forte o sabor azedinho da cocada. Bata por alguns segundos (sem acrescentar água), pra soltar a polpa dos caroços. Usando uma peneira, coe o sumo e reserve.

Bata a macaxeira cozida (sem o pavio!) com o leite de coco e o açúcar no liquidificador, até ficar bem cremoso e lisinho. Aqui está o seu leite condensado;)

Despeje esse creme de macaxeira e coco em uma panela grande e, idealmente, com o fundo grosso. Junte o coco ralado e o sumo de maracujá. Leve ao fogo alto, mexendo sem parar com uma colher de pau (ou de silicone) até apurar bem, reduzir 1/3 do volume e ficar com a textura mais espessa. Aqui em casa levou uns 20-25 minutos. Deixe esfriar e coloque na geladeira por algumas horas antes de degustar (a textura e o sabor ficarão ainda melhor).

Rende uma quantidade boa de cocada, então aproveita pra compartilhar com as vizinhas, amigas e crushes.

O bolo preto da minha tia

Outro dia eu estava na feira do meu bairro e vi bolo preto na barraca das tapiocas. Adoro bolo preto e há anos não comia um. Me animei toda e comprei um pedaço pra tomar com café. Chegando em casa abandonei as frutas e as verduras no chão da cozinha, enchi uma xícara de café (ainda tinha um pouco na garrafa térmica que fica em cima da mesa) e sentei pra matar o desejo antigo. Que decepção! O bolo era seco, compacto e sem gosto. Uma vergonha chamar aquilo de bolo preto!

Pula pra algumas semanas depois. Tia Olizé, uma das irmãs da minha mãe, estava nos visitando e, não sei como, começamos a falar de bolo preto. Contei da minha decepção e expliquei que continuava com desejo de comer bolo preto, mas não sabia fazer. Ela disse: “Minha fia, é muito fácil!” e me contou como ela fazia. Eu queria fazer a primeira vez com ela pois, como toda pessoa que sabe cozinhar, ela não me deu medida nenhuma. Fiquei com medo de errar o ponto e ter outra decepção. Mas os dias foram se passando, minha tia acabou não voltando mais aqui em casa e a minha vontade de bolo preto só crescia. Eu poderia ter procurado em alguma padaria, mas depois de descobrir como minha tia fazia, minha intuição me dizia que o bolo dela era especial. Agora era o bolo dela que eu queria.

Ontem fizemos um adjunto na casa da minha mãe pra saudar São João (e São Pedro e Santo Antônio). Me ofereci pra preparar um bolo preto e logo depois mandei mensagem pra tia Olizé pedindo pra ela me repassar a receita dela, mas dessa vez com quantidades precisas. Ela respondeu por áudio e com a voz dela me guiando, foi como se ela estivesse na cozinha comigo. Apesar de ter ficado tensa algumas vezes, minhas dúvidas se dissiparam quando coloquei o primeiro pedaço (ainda quente) na boca. O sabor e a textura estavam muito, muito além das minhas expectativas. E o bolo foi um sucesso total com todas as pessoas que provaram. Algumas delas me disseram, inclusive, que tinha sido “o melhor bolo preto que já tinham comido”.

Algumas ressalvas sobre essa receita. Bolo preto não é pra todo mundo. A textura é densa e levemente gelatinosa, a léguas de distância da fofura que muitas pessoas associam à palavra “bolo”. O sabor é intenso e marcante. Eu o descreveria como uma rapadura cremosa perfumada com especiarias, mas menos doce e mais saborosa, por conta da castanha. É um bolo com caráter e personalidade. Ele sabe que não agradará todo mundo e está tranquilo com isso, pois vai ter sempre alguém que saberá apreciá-lo pelo que ele é. (Na vida, seja um bolo preto.)

Uma rápida busca pela internet me fez descobrir que algumas pessoas, principalmente de outras regiões, colocam macaxeira em seus bolos pretos. Vi até uma chef cearense usar carimã (macaxeira pubada/fermentada) na sua versão. E, o que me chocou bastante, vi pessoas no Sudeste colocarem ovos e até farinha de trigo nessa receita. Me parece correto dizer que no RN bolo preto é sempre feito com farinha de mandioca (é um bolo tradicionalmente sem trigo e sem glúten) e nunca, nunca entra ovo nem nada de origem animal em sua composição. É uma das nossas receitas tradicionais naturalmente vegetais (veganas). Sobre o nome, tem quem chame de “pé de moleque”, embora isso seja raro em terras potiguares. Li várias explicações pra origem desse nome e não gostei de nenhuma. Prefiro chamar de bolo preto, mesmo.

Se seu paladar é maduro (aprecia uma paleta de sabores muito variada, incluindo sabores marcantes) e você gosta de bolos densos (como meu bolo de macaxeira e coco, ou de carimã com goiabada), vai se encantar com essa receita. E se, assim como eu, você conhece e já gosta de bolo preto, saiba que essa versão é a “crème de la crème” dos bolos pretos.

Bolo preto de tia Olizé

Esse bolo é denso e quase cremoso, com um sabor marcante de rapadura e especiarias. Junto com um café amargo, ele é, pra mim, alegria comestível. Essa receita é da minha querida tia Olizé e ela usa uma técnica que nunca tinha visto antes. No final do texto incluí algumas dicas e explicações minhas. Aconselho ler tudo. Apesar de ser uma receita longa, o modo de preparo desse bolo é muito simples e está ao alcance até das pessoas que nunca fizeram um bolo na vida. E como ele não fica fofo, não tem como solar e dar errado.

1 rapadura preta (450g)

1 coco seco grande + 1 litro de água (pra fazer 1 litro de leite de coco)

2 xícaras de farinha de mandioca (fina – peneire antes, se for preciso)

1 colher de chá de cravo em pó

1 colher de chá de canela em pó

1 colher de sopa de erva doce

Pitada generosa de sal

1 1/2 xícara de castanha de caju + um punhado pra decorar

Comece preparado o leite de coco, como ensinei nessa receita. Você deve fazer 1 litro de leite de coco bem forte.

Quebre a rapadura em pedaços pequenos e leve ao fogo baixo junto com o leite de coco, pra fazer a calda de rapadura. Assim que a rapadura estiver completamente dissolvida, desligue o fogo e deixe esfriar. Enquanto isso passe a castanha no liquidificador (menos um punhadinho pra decorar o bolo) pra triturar miudinho. Pode fazer isso com a faca também. Unte com óleo uma forma média (quadrada é tradicional) e depois polvilhe com farinha de mandioca. É importante deixar a forma pronta pra receber a massa do bolo (você vai entender mais na frente).

Quando a calda de rapadura estiver quase fria (tudo bem se estiver levemente morna), junte a farinha de mandioca, as especiarias, uma pitada generosa de sal (pegue com 4 dedos) e a castanha picada. Misture com uma colher de pau ou, melhor, com um batedor de arame, pra que a farinha seja totalmente incorporada ao líquido. A gente faz isso fora do fogo pra não emboluar (é a mesma técnica pra fazer pirão). Agora você vai levar essa mistura ao fogo médio-alto, de preferência em uma panela grande e com o fundo grosso, mexendo sem parar com uma colher de pau. Assim que abrir fervura baixe o fogo e cozinhe, sempre mexendo, até a massa ficar bem encorpada. Cronometrei essa etapa pra te ajudar: foram 9 minutos, do momento que liguei o fogo até ficar pronto.

Transfira imediatamente a massa pra forma previamente untada/enfarinhada (essa massa, depois de cozida, endurece assim que começa a esfriar. Por isso é importante que a forma seja untada/enfarinhada previamente). Bata o fundo da forma contra um superfície dura (mesa, bancada) pra massa se espalhar em uma camada uniforme. Decore com o punhado de castanhas restante e leve ao forno médio-baixo (não precisa pré-aquecer). Deixe assar por 45 minutos (mais ou menos, vai depender do seu forno), ou até a superfície ficar bem seca (toque de leve com os dedos pra testar) e as bordas estiverem mais firmes.

Retire do forno e deixe esfriar completamente antes de degustar (enquanto estiver quente, esse bolo é bem cremoso. Só depois de frio que ele atinge a consistência desejada e pode ser cortado).

Sobre a rapadura

Tem vários tipos de rapadura, todas gostosas, mas pra esse bolo você vai precisar de rapadura preta. O nome do bolo, assim como o sabor característico, vem dela. O tamanho das rapaduras também varia. O tamanho do tijolo mais convencional vai de 450g a 600g. A minha rapadura tinha 450g e achei que ficou no ponto: doce o suficiente pra agradar quem gosta de açúcar, mas não excessivo pra uma sobremesa (brasileira).

Sobre o leite de coco

Use leite de coco caseiro, feito na hora. A versão industrializada é muito mais espessa (sempre tem espessante nos ingredientes) e, na minha opinião, o sabor é enjoativo. Na minha família é um insulto pra comida (e pra quem vai comê-la) usar leite de coco industrializado. Quebrar coco seco e rapar dá trabalho, mas felizmente aqui em Natal é fácil encontrar coco seco rapado na feira (não confundir com coco desidratada). Até o supermercado do meu bairro vende coco seco rapado congelado. Então compro sempre e congelo em porções pequenas. Pra fazer esse bolo usei o equivalente a um coco seco grande (aproximadamente 2 1/2 xícaras de coco).

Sobre as especiarias

Minha tia usa cravo inteiro e pila (num pilão pequeno) junto com a erva-doce. Eu tinha cravo em pó em casa e foi o que usei, mas pilei grosseiramente a erva-doce (depois de tostar alguns minutos numa frigideira seca pra intensificar o aroma). Algumas pessoas já fazem a calda de rapadura com as especiarias dentro (o cravo e a erva-doce inteiras) e deixam macerando enquanto a calda esfria. Depois coam o líquido (descartando as especiarias) antes de acrescentar os outros ingredientes.

Sobre a castanha de caju

Como a castanha usada na massa do bolo vai ser triturada, fica bem mais barato comprar castanha do tipo “quebradinha”, ou o xerém de castanha (a mais quebrada de todas, quase uma farofa). Aqui em casa sempre tem castanha quebrada (pra fazer leite e queijo), por isso usei as quebradas até pra decorar o bolo. Mas, tradicionalmente, as castanhas que decoram o bolo são inteiras, pra ficar mais bonito.

Aquela sobremesa com chocolate e banana

Foi assim. Minha irmã Lu, a outra cozinheira da família, fez uma sobremesa dias atrás. Ela inventou na hora: bateu bananas maduras no liquidificador e misturou com chocolate derretido. Depois colocou na geladeira e fez a alegria da família toda. Ficou firme o suficiente pra ser cortada em fatias, mas ainda cremosa o suficiente pra ser comida de colher, com um sabor bem equilibrado entre banana e chocolate. Quem provou, adorou!

Meu sobrinho mais velho comeu e ficou maravilhado. Dias depois ele quis reproduzir a receita na casa dele, mas Lu tinha apenas quantidades aproximadas (ela fez a sobremesa de improviso) e o meu sobrinho tem tendência a não seguir as instruções à risca quando se trata de comida. A versão dele ficou menos firme, mais gelatinosa. Ele tinha pouco chocolate em casa e acabou usando mais banana. O gosto de banana, obviamente, ficou mais pronunciado. Mesmo assim ele serviu coberta com amendoim e disse que ficou uma delícia, quase como um pudim, informação que a companheira dele confirmou.

Ontem fiz a minha versão. Tentei seguir as quantidades que Lu usou, mas como ela não tinha pesado, nem ela sabia com certeza. Mas entendi que ela tinha usado 1 parte de banana pra 1 parte de chocolate (no peso). Só que hoje, quando fui provar a sobremesa, vi que tinha entendido errado: a minha versão ficou muito mais densa do que a versão original. Entendi que tinha usado mais chocolate do que Lu, por isso estava com textura de trufa. Cobri com gergelim torrado (torrei em casa) e achei uma delícia, embora a proposta seja outra.

Moral da história: independente da quantidade de chocolate/banana que você usar, vai dar certo. O produto final pode variar do pudim à trufa, mas embora com texturas diferentes e com sabor mais acentuado de banana ou de chocolate, dependendo do ingrediente que você usar em maior quantidade, você vai ter uma sobremesa gostosa e ridiculamente simples. E foi exatamente essa simplicidade extrema que me encantou.

Essa sobremesa só leva dois ingredientes: bananas e chocolate (em barra). Não precisa levar ao forno e o tempo de preparo é curtíssimo, então é nível iniciante++. E, nos dias de festa, ou pra varias os prazeres, você pode incrementar com castanhas, amendoim ou gergelim. Imagino que se quebrar uns biscoitos sem recheio dentro, pode virar uma “palha italiana”. Na versão mais cremosa, consigo visualizar pedaços de frutas frescas ali dentro (morango? abacaxi?). Na versão mais densa, você pode enrolar como trufas. Ou seja, as possibilidades são inúmeras.

Aquela sobremesa com chocolate e banana

Use o melhor chocolate que encontrar. Quanto mais forte em cacau, mais amarga ficará a sua sobremesa. Lu usou um chocolate com 65% de cacau e a doçura ficou bem equilibrada. Eu, que como chocolate 100%, usei chocolate 75% e o resultado talvez seja amargo demais pra maioria das pessoas, acostumadas que são com as nossas sobremesas exageradamente doces. Quanto mais chocolate você usar, mais densa ficará sua sobremesa. Tendo em vista que chocolate de qualidade é caro, não é uma sobremesa barata. Mas como ela só leva chocolate e banana, não me parece algo excessivo, se decidirmos que vamos fazer essa sobremesa só de vez em quando, pra se fazer um mimo.

Bananas maduras

Chocolate em barra (50%, 65% ou 75%, de acordo com o seu gosto – leia explicações acima)

Opcional: castanha, amendoim ou gergelim

Pra fazer uma sobremesa bem cremosa, mais pro pudim e com bastante gosto de banana, use aproximadamente 4 partes de banana pra 1 parte de chocolate (no peso). Por exemplo: 50g de chocolate pra 200g de banana. (versão 1)

Pra fazer uma sobremesa densa, mas ainda cremosa, a minha textura preferida aqui, use 2 partes de banana pra 1 parte de chocolate. Por exemplo: 100g de chocolate pra 200g de banana. (Versão 2)

E pra fazer uma sobremesa com textura de trufa (como nas fotos desse post) use 1 parte de banana pra 1 parte de chocolate. Por exemplo: 200g de chocolate pra 200g de banana. (Versão 3)

Nos 3 casos, usando 200g de banana você vai obter uma sobremesa pequena.

Derreta o chocolate no banho-maria ou no microondas. Bata as bananas (descascadas e MADURAS) no liquidificador, sem acrescentar líquido nenhum. Quando estiverem bem cremosas, junte o chocolate derretido e bata até ficar completamente homogêneo. Você vai precisar parar o motor e mexer com uma espátula algumas vezes.

Transfira a mistura pra um recipiente forrado com papel filme (somente se estiver fazendo as versões 2 e 3 e quiser desenformar depois) e com tampa. Deixe na geladeira, tampado, pro chocolate firmar e a sobremesa ficar no ponto certo. O ideal é deixar na geladeira de um dia pro outro, mas se quiser acelerar o processo pra degustar mais rápido, deixe no congelador por 1 hora (se estiver usando quantidades maiores, deixe por mais tempo).

No hora de servir, desenforme e, se desejar, salpique com castanha ou amendoim torrado e picado, ou gergelim torrado. Deixe em temperatura ambiente por alguns minutos pra derreter um pouquinho e as castanhas/amendoim/gergelim aderirem à superfície. Se conserva na geladeira, em recipiente fechado, por vários dias.

Creme gelado de jaca com tapioca

Ela é aquela fruta que não deixa indiferente: ou você ama, ou detesta. Eu acho uma das coisas mais maravilhosas que esse planeta nos dá. Carlinhos, um companheiro quilombola que conheci recentemente, na Bahia, me contou que quando era pequeno comia jaca com farinha no café da manhã, depois comia jaca com farinha no almoço e, por último, lanchava jaca à tarde mas dessa vez sem farinha. Já minha amiga Mari contou uma vez que, se tivesse poderes mágicos, faria a jaca desaparecer do mundo.

Se você pula no bloco das apaixonadas por jaca, eu tenho um mimo e tanto pras suas papilas. Se você detesta, feche esse janela e volte aqui daqui a alguns dias, quando terá uma receita mais palatável pro seu gosto. E se, por algum acaso, você for uma das raras pessoas que acha o sabor da jaca gostoso, mas não come porque a textura te dá aflição, ou medo de engasgo, sua relação com jaca vai mudar agora e garanto que vai bastar uma colherada desse creme pra você se encantar.

Veja que curioso. Há anos faço um creme de jaca bem simples, que inventei pra resolver dois problemas. O primeiro era dar cabo de uma jaca, fruta grande e generosa, sem desperdiçar nada. Na minha família somos poucas a gostarem de jaca e precisaríamos de alguns dias pra conseguir comer uma jaca inteira. Então passei a congelar a jaca (descaroçada) em porções pequenas, pra fazer vitamina ou creme. Isso sanou outro problema pra mim: jaca, embora dona do meu coração, é doce demais pro meu paladar. Eu como ela pura, mas só consigo comer alguns gominhos, justamente pelo excesso de doçura. Já a jaca congelada e batida com um pouco de leite vegetal (sempre uso o de coco caseiro), fica um pouco menos doce. Mas ainda é bastante doce pra mim e é aí que entra a receita de hoje.

Há tempos eu pensava em acrescentar algo mais pra diluir um pouco o arroubo de doçura da jaca madura, mas o quê? O sabor intenso da jaca faz com que ela seja uma fruta difícil de combinar com outros ingredientes, e eu queria manter a integridade do sabor dela, pois é isso que me faz amar tanto essa fruta.

Estou voltando de uma semana de militância no sul da Bahia, no assentamento Terra Vista. E lá aprendi várias receitas típicas que não vejo a hora de reproduzir em casa. Uma delas foi o cuscuz de tapioca. Ainda não testei, então só vou poder compartilhar a receita mais pra frente. Porém o ingrediente principal do cuscuz de tapioca, a farinha de tapioca baiana, me deu uma ideia. E se eu usasse essa farinha de tapioca no meu creme de jaca? Testei ontem e o resultado superou minhas expectativas.

Algumas linhas pra explicar esse ingrediente mágico, pois tem muita confusão com os nomes até mesmo de um estado pra outro dentro do Nordeste. A goma de mandioca (a fécula) é hidratada e usada pra fazer o que aqui no RN chamamos de “tapioca”. Ensinei a fazer tapioca, e a conservar a goma fresca, aqui. “Farinha de tapioca” também é feita à partir da goma da mandioca, mas ela é torrada (num tacho), o que a faz estourar levemente e ficar durinha. O processo de fabricação é o mesmo da “farinha de tapioca” que encontrei no Pará, só que a irmã nortista deve ficar mais tempo no fogo, pois o produto final é diferente: mais flocada, leve, como uma pipoca. Essa farinha da foto acima, que comprei na Bahia, era mais miúda e durinha, de textura diferente da “farinha de tapioca” do Norte. Enquanto a farinha de tapioca do Norte está pronta pro consumo (só colocar em cima do açaí e ser feliz), a farinha de tapioca baiana precisa ser hidratada no leite de coco quente antes da degustação.

Sobre a receita, a farinha de tapioca hidratada no leite de coco fresco misturada com a jaca batida (congelada) com mais um tiquinho de leite de coco é uma combinação tão deliciosa que acabou de entrar no meu top 3 de sobremesas preferidas. Aproveite que ainda é época de jaca e se farte! E além do sabor maravilhoso, essa sobremesa só usa 3 ingredientes e não tem açúcar (só o naturalmente presente na fruta).

PS Pesquisando rapidamente na internet antes de postar a minha receita aqui, o que faço quase sempre pra ver se outras pessoas tiveram a mesma ideia que eu, fiquei chocada ao descobrir que o que o pessoal chama de “creme de jaca” ou “mousse de jaca” sempre leva leite condensado! Jesus me abane! A danada já é doce de repunar, como dizemos na minha terra, e enfiam leite condensado nela? E ainda acrescentam creme de leite, porque fomos muito bem doutrinadas pra acreditar que laticínio em sobremesa nunca é demais. É, o colonialismo alimentar e o projeto de dominação das nossas sobremesas pela Nestlé seguem firmes e fortes.

Creme de jaca com tapioca

Se não encontrar farinha de tapioca (da usada na Bahia pra fazer mingau, cuscuz e bolo de caroço), substitua pelo sagu quebradinho que também é chamado de “tapioca”. Mas essa parte da receita, embora a deixe mais interessante e menos doce, não é essencial. Você pode fazer só o creme de jaca, que por si só já é uma delícia.

Jaca madura (idealmente jaca mole)

Leite de coco fresco (receita aqui – pode substituir por leite de castanha)

Farinha de tapioca (leia instruções e sugestão de substituição acima)

Resumo pra quem tem muita autonomia na cozinha e sabe trabalhar a farinha de tapioca: bata a jaca congelada com o mínimo de leite de coco possível e sirva imediatamente acompanhada (ou não) da farinha de tapioca hidratada no leite de coco, gelada pra não esquentar seu creme de jaca.

Instruções detalhadas: Abra a jaca madura, retire os gomos, descarte os caroços (ou cozinhe e coma) e congele a polpa, em porções pequenas. Fica mais fácil bater assim, então mesmo se estiver planejando fazer essa receita pra várias pessoas, congele porções pequenas. Espere a jaca congelar completamente antes de fazer o creme.

Aqueça um pouco de leite de coco (caseiro) ou leite de castanha, e quando estiver bem quente desligue o fogo e acrescente a farinha de tapioca. A proporção é, mais ou menos, 2 colheres de sopa (rasas) de farinha de tapioca pra 1/2 xícara de leite de coco. Usei medidas caseiras, não colher/xícara medidora. Vai parecer muito leite pra pouca farinha, mas lembre que ela vai hidratar e absorver o líquido. Cubra (com um prato ou papel filme) e deixe hidratar por meia hora, mexendo de vez em quando pra que não forme blocos sólidos no fundo. Se estiver usando sagu quebradinho (“tapioca”), ferva junto com o leite e deixe cozinhar um minuto antes de apagar o fogo, cobrir e deixar terminar de hidratar, sempre mexendo de vez em quando pra ficar homogêneo. Quando a farinha de tapioca (ou o sagu quebradinho) estiver completamente hidratado, a textura final deve ser cremosa. Acrescente mais leite, se for preciso. Transfira pra geladeira (vai continuar firmando no frio). Reserve.

Bata a jaca congelada com um pouquinho de leite de coco fresco, só o suficiente pra conseguir bater. Quanto menos leite você usar, mais encorpado vai ficar o seu creme, então use o mínimo possível. Se preciso, desligue o liquidificador e use uma espátula pra mexer a jaca antes de continuar batendo.

Sirva imediatamente, acompanhado do creme de farinha de tapioca gelado. Você pode intercalar as duas preparações no copo, como fiz na foto (e colocar os copos montados no congelador até a hora de servir), ou simplesmente colocar uma colherada da farinha de tapioca hidratada no meio da cuia com creme de jaca.

Nut…ela descolonizada

Aqui onde eu moro consigo encontrar tudo que preciso e gosto de comer: vegetais frescos, todas as leguminosas imagináveis, arroz, macarrão integral, tofu feito aqui perto, leites vegetais prontos… Tem até vários produtos ultraprocessados em versões vegetais , mas esses eu nunca trago pra casa. Além de fazer isso por razões de saúde (entenda aqui) e de paladar (não gosto), nos raros dias em que me bate a vontade de comer um doce, eu sou obrigada a inventar algo com o que tem na cozinha. E isso sempre estimulou muito a minha criatividade. Fico pensando no número de receitas que eu não teria criado se tivesse sempre um pacotinho de biscoitos ou um pote de pasta de chocolate açucarada ao alcance da mão.

Semana passada bateu uma imensa vontade de comer pão com algo doce por cima. Carboidrato com carboidrato, porque sim. E acabei inventando um lanche muito gostoso, que eu já repeti várias vezes desde então. Anne também adorou então pensei que, apesar de ser de uma simplicidade extrema e que talvez vocês já façam isso aí na cozinha de vocês há tempos, valia a pena compartilhar aqui.

A “receita” é uma pasta de amendoim e cacau que, pra mim, é muito melhor que vocês sabem o que. Mas confesso que nunca gostei daquele negócio. Acho enjoativo e doce pra muito além do meu limite. E também prefiro amendoim do que avelã (embora goste dela também). Como o amendoim e o cacau são nossos (entenda: são nativos da região conhecida como América do Sul), acho que essa deveria ser nossa pasta de chocolate oficial. Uma nutela descolonizada, porque além de tudo não tem leite (nem animal, nem vegetal, porque não precisa).

Gosto de fazer essa pasta 100% amarga, pra comer de colher no final da tarde, ou tarde da noite. Mas no dia que deu vontade de comer algo doce com pão, eu lembrei da geleia de amora que uma camarada do coletivo me deu de presente (amoras colhidas e transformadas em geléia por ela e o pai) e espalhei as duas, uma camada da pasta e outra da geleia, no pão. A geleia feita pela minha amiga não tem o arroubo de açúcar das geleias industrializadas, então a combinação ficou doce no ponto pra mim e a mistura de sabores é sublime! Se tiver uma geleia saborosa aí na sua cozinha, de uma fruta que você acha que combina com chocolate, não deixe de experimentar. (Nesse caso, posso sugerir não adoçar sua pasta pra não ficar enjoativo?)

Espero que vocês testem essa pasta maravilhosa , que decidi chamar de “amendolau” (porque é mais prático…e engraçado), em casa. Simples, rápida de fazer, barata, descolonizada e deliciosa. O que mais pedir?

Amendolau (pasta de amendoim e cacau)

Eu faço essa pasta somente com a manteiga de amendoim pura, cacau 100% e sal, porque gosto do meu chocolate totalmente amargo. Como assim mesmo ou, nos dias que tenho vontade de algo doce, misturo com geleia na hora de comer. Mas como sei que praticamente todo mundo prefere sabores doces, vou passar a receita adoçada com melado. Você pode usar outro xarope pra adoçar, como bordo, agave ou arroz. Ou simplesmente usar manteiga de amendoim adoçada (mais um pouco de melado, se quiser bem doce). Se eu estivesse no meu Nordeste, testaria uma versão com melado de caju.

Manteiga de amendoim (pura ou adoçada – leia as explicações acima)

Melado de cana (se estiver usando manteiga de amendoim pura)

Cacau em pó (100%, sem açúcar )

Sal

Misture (com uma colher, se estiver fazendo uma quantidade pequena, ou no liquidificador, se fizer uma quantidade maior) a manteiga de amendoim com cacau, melado de cana e uma pitada de sal. As quantidades vão depender do seu gosto: se quiser mais forte em chocolate, capriche no cacau. Se quiser mais doce, coloque mais melado… Se estiver usando manteiga de amendoim adoçada, vá com calma no melado (talvez nem precise). Vá juntando água aos pouquinhos até ficar com uma textura cremosa, mas ainda densa (veja foto abaixo). Deguste imediatamente.

Pode ser conservada na geladeira por alguns dias. A pasta vai ficar mais firme e mais densa, mas o sabor é o mesmo.

O bolo dos meus sonhos

Meu problema com bolos é que, na maioria das vezes, quando coloco um pedaço na boca, minhas papilas detectam um engrolado de farinha de trigo, açúcar e óleo (o que realmente eles são) e não consigo achar isso gostoso. Sei que essa é uma das minhas muitas opiniões impopulares mas bolos não entram na categoria “comida” pra mim. É guloseima, e tudo bem comer guloseimas… se elas te trazem prazer. O negócio é que essa guloseima aí não me traz prazer. 

Veja que, no meu trabalho, eu já defendi a posição de que tentar fazer bolos “saudáveis” é meio absurdo. Bolo é só pra ser gostoso, mesmo, e apreciado com moderação. “Saudável” é um prato de feijão com arroz e couve. Já coloquei abobrinha em um bolo, delicioso, por sinal! Mas não fiz isso pra deixar o danado mais saudável. Se trata de uma receita interessante pra aproveitar um excesso de abobrinha que tenha na geladeira e a textura do bolo realmente é melhorada pelo acréscimo desse vegetal. 

Então não acho que eu deva fazer o esforço de desenvolver bolos “saudáveis” e “nutritivos” pra que se tornem interessantes pra mim. Eu simplesmente deixo os bolos pra quem gosta deles e vou bater meu prato de feijão e comer frutas frescas, feliz da vida. Mais uma vez: não porque fruta é saudável mas porque troco qualquer sobremesa por fruta.

E falando em fruta, os únicos bolos tradicionais (entenda: que usam uma mistura de farinha de trigo, açúcar e óleo) que eu gosto, embora um pedaço pequeno seja o suficiente pra me deixar satisfeita, são o bolo de laranja e, principalmente, o de maracujá que minha irmã Lu e eu fazemos. 

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O povo da paçoquita

Não era a minha intenção. Eu só queria testar uma ideia. Levar um agrado comestível pro grupo de apoio entre militantes que acabamos de criar aqui. Preparar um lanchinho pras crianças que frequentam a oficina do domingo, organizada pelo meu coletivo. Mas sabe o que aconteceu? Descobri algo que talvez, talvez mude sua vida. 

Aconteceu assim. Eu estava lendo um blog de comida que sigo há mais de uma década e achei uma receita de biscoito de amendoim. Ela me intrigou. A receita usa ovo e no próprio texto a autora explica que dá pra substituí-lo por uma mistura de linhaça triturada e água (ela até chama isso de “ovo de linhaça”). Decidi fazer a receita sem tentar substituir o ovo, por duas razões.

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Bolo de chocolate intenso

Eu ia falar sobre os eventos das últimas semanas, que me mantiveram afastadas desse blog… Mas aí pensei que seria melhor oferecer um bolo de chocolate. Eu sou aquela amiga que, quando passa um tempo ausente, prepara um bolo pra se desculpar. E como faz umas semanas que quero compartilhar essa receita com vocês, ó, toma um bolinho aqui:)

A origem desse bolo precisa ser explicada. Nigella Lawson, uma autora de livros de culinária inglesa, é famosa por usar quilos de manteiga e litros de creme de leite nas suas receitas, além de pedaços de animais em quase tudo que faz. Está a muitas léguas de ser uma pessoa antiespecista. Mas ela tem algumas (pouquíssimas) receitas vegetais e o “dark and sumptuous chocolate cake” é uma delas. Um dia vou contar por que adoro Nigella, apesar da sua obsessão em cozinhar animais, mas é história pra outro dia.

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Dá certo de qualquer jeito

Sabe como eu sempre digo que comida de panela é de Humanas e comida de forno (bolo, torta, biscoito) é de Exatas? Ou seja, que pra fazer comida de panela não precisa medir ingredientes com precisão, enquanto comida de forno exige mais rigor, caso contrário não dá certo (quem já fez bolo solado sabe do que estou falando). Esses biscoitos vieram jogar na minha cara que isso nem sempre é verdade. 

Era uma bela tarde de primavera no Hemisfério Norte e os passarinhos cantavam no meu jardim. Bateu um desejo de biscoito, pra acompanhar o chá da tarde. Eu tinha poucos ingredientes na dispensa e resolvi, ousadia suprema, não seguir receita nenhuma e misturar o que fui encontrando pelo caminho, deixando a textura da mistura guiar as proporções. Poucos minutos depois eu tinha um punhado de biscoitos quentinhos e deliciosos. Repeti a experiência várias vezes nos últimos meses, sempre decidida a não medir nada e mudando um pouco os ingredientes a cada fornada, e todas as vezes fui recompensada com biscoitos saborosos. 

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Creme de tapioca e coco com abacaxi caramelizado

É verdade que na cozinha as coisas mais simples podem ser as mais difíceis de fazer. Tapioca, por exemplo, é uma delas. Depois que você aprende, se torna a coisa mais natural do mundo, mas até chegar nesse ponto você vai precisar suar um pouco. Repare que se a receita for extremamente simples (no caso da tapioca, com apenas um ingrediente), cada detalhe faz diferença. Nessa categoria de receitas, é mais sobre técnica. E prática é tudo que você precisa pra dominar a técnica. Infelizmente essa parte (a prática) não pode ser terceirizada.

Já a receita de hoje faz parte de uma categoria diferente. Sim, leva tapioca. Não a comida de café da manhã à base de goma fresca (ou polvilho hidratado) e feita na frigideira, mas sim os pequenos grãos irregulares de polvilho que também chamamos de “tapioca” (veja a foto mais abaixo). E também tem uma lista de ingredientes enxuta, com apenas três elementos (no máximo 4). Mas a parte complicada dessa receita foi encontrar as proporções exatas e o modo de preparo pra atingir a textura que eu procurava. E a boa notícia é que quem fez a parte difícil desse trabalho foi essa que te escreve, logo você não terá que fazer esforço nenhum.

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O mousse que deu errado, mas deu certo

Confesso que nunca fui fã de mousse, nem nos meus tempos pré veganismo. Mesmo assim postei uma receita de mousse aqui muitas luas atrás, muito boa, porque sei que tem gente que adora essa sobremesa. Então quando a moda de fazer mousse com aquafaba (água do cozimento do grão de bico) chegou eu nem me empolguei pra testar.

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O bolo de laranja de Lu

Quando eu era adolescente minha irmã caçula, que tem dois anos e meio a menos que eu, começou a fazer bolo. Depois de alguns (poucos) bolos ruins, ela ficou craque na arte da confeitaria caseira e passou a ser a boleira oficial da família. Lu tem a mão boa pra bolo e sempre gostou de doces, então era uma atividade perfeita pra ela. Anos depois ela resolveu levar a paixão a sério, fez um curso de confeitaria em uma escola de gastronomia em Natal e passou a fazer sobremesas mais sofisticadas nas reuniões familiares.

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Pudim de chocolate e tahina

Semanas atrás postei no IG a foto do pudim de chocolate e tahina que ando fazendo com frequência por aqui e, como sempre acontece quando tem chocolate envolvido, muitas pessoas pediram a receita. Ela é antiga (postei sete anos atrás), mas a novidade aqui é a tahina. Descobri recentemente que chocolate e tahina é uma das melhores combinações dos todos os tempos. Não sei por que demorei tanto pra juntar A mais B, já que anos atrás comi uma barra de chocolate amargo coberta com gergelim e achei divino! Só quando vi uma sorveteria vegana em Seattle fazendo sorvete de chocolate e tahina que me dei conta que deveria começar a colocar tahina em todas as minhas confecções achocolatadas.

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Ninguém precisa saber

Fazia anos, muitos anos que eu não sentia isso: dor de barriga porque comi um bolo quente. Acho que a última vez deve ter sido uns 25 anos atrás.

Estou no interior da França agora e acontece que meus sobrinhos franco-alemães me pediam há dias pra eu fazer um bolo vegano com eles. Os meninos, que têm 10, 7 e 4 anos, acham fascinante eu ser chef e mais ainda eu ser chef vegana. Eles querem cozinhar comigo o tempo todo e sempre que entro na cozinha um dos três aparece (às vezes os três ao mesmo tempo) perguntando se pode fazer alguma coisa pra me ajudar. Fiz massa à carbonara com Ben, milk-shake de morango e amendoim e, no dia seguinte, de banana com chocolate com Noé, essa salada e arroz “chinês” com Léo, rabanada salgada com os três…

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Alguém pra se indignar também

Deixei a Palestina, que voltou a ser o meu lar (mas dessa vez só por três meses), há pouco mais de uma semana. Vim passar o final do ano na França e preparar os últimos detalhes da próxima etapa. Depois de visitar a família e seus micróbios (nessa época do ano quase todo mundo fica adoentado) acordei resfriada, com as ideias meio moles e o corpo em câmera lenta. Anne acendeu a lareira pra me aquecer o corpo e alegrar o coração, colocou Djavan pra tocar e sentou pra trabalhar do meu lado. Estou escrevendo essas linhas no conforto de uma sala duplamente aquecida, com vista pro opulento jardim de um hectare que cerca a casa e com a barriga cheia da deliciosa baguete com sementes que meu sogro trouxe pro nosso café da manhã.

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Creme trufado de chocolate

Muitas luas atrás eu postei a receita da sobremesa que mudou a minha vida. Até hoje é a receita que mais recebe visitas  aqui no blog (junto com meu omelete vegano). Eu ainda acho meu creme voluptuoso de chocolate e laranja uma sobremesa absolutamente perfeita, que mora no top 3 das minhas sobremesas preferidas. Sempre que tenho todos os ingredientes à disposição não perco a oportunidade de fazê-la. Mas esse é exatamente o único problema da minha sobremesa perfeita: ter os ingredientes à  disposição. Eu criei esse creme quando morava na Palestina, onde tâmaras do tipo medjool, tão macias que se desfazem sob a menor pressão dos seus dedos, abundam. Onde é produzido um dos melhores tahines do mundo e onde amêndoas deliciosas são vendidas na feira.

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Trufas de chocolate (e não, eu não me ofendo)

Semana passada uma leitora deixou o seguinte comentário aqui no blog: “Receitas ótimas, mas pra quem tem pressa e pouco tempo, a leitura extensa não ajuda! Algo mais pratico seria muito melhor!! No meu caso, com bebê, fica difícil ler quase uma página inteira pra pegar uma receita que deveria ser simples e acessível. Dica: Coloque a receita de uma vez e os comentários, o modo de fazer, os testes, etc, etc, à parte.”

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Minha melhor amiga (e uma sobremesa)

Vocês, pessoas, vocês… Eu tenho os leitores mais maravilhosos dessa internet. Nem sei como agradecer os comentários que vocês deixaram no meu último post. Eu li todos (duas vezes), me emocionei, chorei, fiquei profundamente tocada, me senti uma rockstar e agradeci as estrelas por ter tanta gente boa na minha vida. Recebam meus agradecimentos sinceros e meus abraços virtuais (estou abraçando cada um de vocês mentalmente agora. Sentiu um calorzinho ao redor dos ombros? Sou eu.)

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Abacaxi flambado com calda de chocolate

Eu acabo de me dar conta que a última vez que postei uma receita de sobremesa aqui foi dez meses atrás. Não foi qualquer sobremesa, foi A sobremesa e até hoje ainda não consegui criar outra receita doce tão espetacular. Teve o meu cheesecake de maçã e caramelo salgado, outra criação fantástica de 2013, mas a receita é complicada e ainda está em obras.

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Melancia

As primeiras melancias do ano apareceram na feira algumas semanas atrás e desde então tem sempre uma na minha geladeira. Acho melancia perfeita como ela é, mas de tanto dar de cara com essa fruta (sempre que abro a geladeira, o que acontece dezenas de vezes por dia), acabei tendo umas ideias. Por exemplo, descobri que ao juntar um pouquinho de hortelã picada e um fio de suco de limão sobre cubos de melancia, a fruta ganha um sabor todo especial e se torna uma sobremesa ainda mais refrescante. A inspiração veio da minha limonada rosa (se você ainda não experimentou aqui vai um conselho: prepare essa delícia assim que as melancias aparecerem na sua cidade) e acabei criando a versão sólida dessa receita. Mas minha vontade de inovar não parou por aí.

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