Sobre a expectativa de reconquistar uma ex com comida ou Como preparar alcachofra

Quando provei alcachofra pela primeira vez eu já era adulta e morava em Paris. Nunca tinha visto esse vegetal em Natal, minha cidade de origem. Mas eu fui apresentada a coração de alcachofra em conserva, não a versão fresca. Embora eu tenha visto muitas alcachofras nos mercados parisienses, eu me sentia extremamente intimidada por ela. “Como preparar essa flor em casa?” eu me perguntava, mas não me dava o trabalho de perguntar a alguém que conhecesse a resposta. Durante anos me convenci, mais uma vez, sem nunca ter me dado o trabalho de verificar se minhas suspeitas tinham fundamento, que era extremamente complicado preparar aquilo em casa.

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Tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina, 2017

O quarto e o quinto tour Papacapim na Palestina aconteceram em fevereiro e março. Mais uma experiência transformadora, pras pessoas que participam do tour e pra mim mesma. As participantes terminam o tour meio sequeladas ou, como disse meu amigo Rogério, “acordadas”! Reviver, de novo e de novo, a montanha russa de emoções provocadas pelas atividades do tour e explicar, de novo e de novo, a injustiça e violações dos direitos humanos cometidas pela ocupação israelense na Palestina é doloroso pra mim. Claro que a dor que sentimos não pode nunca, nem de longe, ser comparada à dor vivida pelo povo palestino, mas não deixa de ser uma vivência difícil pra nós. Planejar esses tours exige meses de trabalho, muitas horas respondendo emails e tirando dúvidas de pessoas interessadas em participar, semanas coordenando as atividades com as pessoas palestinas que nos guiam e participam da programação… No final das contas acompanhar os grupos durante 11 dias é a menor parte do trabalho, mas é a parte que provoca um esgotamento físico e emocional que me obriga a ficar de cama por alguns dias depois de cada tour.

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Pudim de chocolate e tahina

Semanas atrás postei no IG a foto do pudim de chocolate e tahina que ando fazendo com frequência por aqui e, como sempre acontece quando tem chocolate envolvido, muitas pessoas pediram a receita. Ela é antiga (postei sete anos atrás), mas a novidade aqui é a tahina. Descobri recentemente que chocolate e tahina é uma das melhores combinações dos todos os tempos. Não sei por que demorei tanto pra juntar A mais B, já que anos atrás comi uma barra de chocolate amargo coberta com gergelim e achei divino! Só quando vi uma sorveteria vegana em Seattle fazendo sorvete de chocolate e tahina que me dei conta que deveria começar a colocar tahina em todas as minhas confecções achocolatadas.

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Guia Vegano Beirute

No início do ano passado fui morar em Beirute por três meses. Sempre tive vontade de visitar a cidade, conhecer as belezas do Líbano e provar a maravilhosa culinária libanesa na fonte. Aproveitei pra fazer um curso de Árabe escrito e foi uma experiência muito enriquecedora, em todos os sentidos. Já cheguei em Beirute decidida a fazer um Guia Vegano da cidade, pra compartilhar os tesouros gastronômicos que eu iria descobrir por lá. Levei um ano pra realizar o guia e hoje, pensando sobre o porquê disso, me dei conta que o fato de ainda não ter digerido completamente minha vivência em Beirute estava criando essa resistência. Quando me perguntam: “O que achou de Beirute?” nunca sei o que responder. A cidade é muito interessante, com lugares lindos e outros ainda carregados de cicatrizes da guerra civil, as pessoas são calorosas e simpáticas e a comida é a melhor parte de tudo, mas… Tem um “mas” gigante.

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Sobre amor

Escrevi no primeiro dia do ano que eu tinha casado e prometi falar mais sobre o assunto, e compartilhar fotos, em um outro post. Cá estou pra cumprir a promessa.

Quando criei esse blog, exatos sete anos atrás, eu queria compartilhar mais que receitas. Queria colocar pedaços da minha vida aqui pra mostrar que pessoas veganas não são muito diferente das outras e que não é nada esotérico ter um estilo de vida sem crueldade. Quase imediatamente senti a mesma responsabilidade com relação à outra comunidade da qual faço parte, a comunidade LGBTQ. Falar abertamente da minha orientação sexual aqui no blog é extremamente importante pra mim, pois nós, LGBTQs, precisamos de visibilidade. Se sentir representada na literatura, cinema, mídia, internet, política e todos os aspectos da vida civil importa e muito. Então gosto de pensar que o blog me dá a oportunidade, além de desmistificar a culinária vegetal, de fazer minha contribuição nesse sentido.

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Ainda dá tempo

Janeiro ainda não acabou e eu já dormi em dez camas diferentes esse mês. Dez! Mas é com muita felicidade que digo que essa décima cama será minha por três meses inteirinhos. Sei que parece pouco, mas quando você anda arrastando sua mala há mais de dois anos, três meses são suficientes pra te deixar feliz e sentindo que tem uma casa.

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1 de janeiro

Quem aí também está pensando “2016, seu infeliz das costas oca, já foi tarde!”? Ou alguma variação da frase com um insulto usado em seu dialeto. O ano foi difícil pra maior parte dos habitantes desse planeta, mas aqui do meu lado ele acabou de uma maneira linda.

Vim passar o natal com a família francesa e pela primeira vez em oito anos Anne e eu não fomos as únicas a ter uma ceia vegana. A irmã caçula de Anne se tornou vegetariana esse ano, depois de anos flertando com a ideia e se alimentando de maneira cada vez mais vegetal. Já no almoço do 25 de dezembro foram quatro pratos veganos! A outra irmã de Anne já não come mais animais terrestres e pediu pra se juntar à nos. Eu vejo pessoas irem cada vez mais na direção de uma alimentação mais vegetal em todos os lugares por onde passo.

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Cafés da manhã tropicais

Minha estada no Brasil, mistura de férias e trabalho, está chegando ao final. Ainda viajo mais um pouco por aqui, já que domingo que vem tem uma oficina-brunch-palestra em Fortaleza (mais informações aqui), mas pretendo passar os últimos dias antes de voltar pra Europa em casa, comendo toda a comida típica que passar pela minha frente. Continuar lendo “Cafés da manhã tropicais”

Em São Paulo

Passando rapidinho pra dividir uma coisas com vocês.  Cheguei em São Paulo alguns dias atrás e já fiz tanta coisa e encontrei tanta gente bacana que parece que estou aqui há semanas. Ontem teve a palestra sobre ativismo interseccional (direitos animais e humanos) no Encontro Vegano. Hoje visitei um assentamento do MST onde os agricultores praticam a agroecologia e visitei a Escola Nacional do MST, a Florestan Fernandes. Pretendo falar mais sobre isso tudo em breve, mas hoje só queria informar que vou fazer duas oficinas de culinária na cidade. Uma na quarta (23) no espaço Mun e a outra no domingo (27) no restaurante Broto de Primavera. A primeira será de inspiração europeia e será seguida de um jantar. A segunda trará receitas palestinas e será seguida de um almoço. Os dois eventos serão acompanhados de uma palestra/bate-papo. Todas as informações sobre as oficinas (horário, menu, preço e telefone pra reserva) estão aqui.  As vagas são limitadas, então pessoas interessadas devem telefonar pra reservar seu lugar o mais rapidamente possível.

E amanhã às 19h30 Anne vai participar desse evento de solidariedade ao povo palestino no restaurante (palestino!) Al Janiah. Vai ter uma roda de conversa e a exibição do documentário que ela fez sobre as famílias que perderam três membros ou mais no último bombardeio israelense em Gaza. O evento é gratuito e estão todas convidadas. Estarei lá traduzindo e comendo falafel  (melhor falafel do pedaço!!!). Mais informações sobre o evento (e endereço) na página FB do restaurante.

Praia vegana: guia de sobrevivência

Algumas semanas atrás passei uma semana na minha praia preferida do litoral potiguar. Anne e eu temos uma tradição. Sempre que ela vem ao Brasil nós visitamos a mesma praia, Baía Formosa, que descobrimos na primeira vez que ela veio aqui. É um lugar tranquilo que se mantém protegido do turismo de massa, o extremo oposto da vizinha, a internacionalmente famosa praia de Pipa. Nós não gostamos de lugares cheios de gente e com forte apelo comercial e Baía Formosa é um vilarejo de pescadores, cercado pela Mata Estrela (reserva de mata Atlântica), um lugar lindo e mais interessado em eco-turismo do que em balada.

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Muitos convites

Semana passada fiz uma pausa (merecida) no trabalho e passei alguns dias na praia. Estou preparando um guia de sobrevivência pra veganas na praia, pois esse sempre foi, pra mim, um dos lugares mais difíceis de se alimentar com comida 100% vegetal. Mas antes de tirar esse post do forno passei aqui rapidinho pra compartilhar minha agenda nos próximos dias e convidar vocês pra fazer coisas bacanas comigo.

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A única coisa a fazer

Eu tinha várias coisas pra contar. Fotos pra compartiilhar. Aconteceu tanta coisa bacana por aqui nas últimas semanas, mas aí ontem a PEC 241 foi aprovada no primeiro turno. Revolta e indignação entraram (mais uma vez) no menu e o resto foi temporariamente pro segundo plano. Num momento de desespero lembrei de Manuel Bandeira e pensei: “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”

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19 de setembro

Primeiramente, fora Temer. O fato de não ter sido uma surpresa não quer dizer que o golpe parlamentar me deixou menos revoltada. Compartilho agora o sentimento das pessoas ao meu redor: meu luto é verbo.

Segundamente: ainda estou em Pindorama. Fico por aqui, me revoltando, cozinhando e comendo tapioca, até dezembro. Vim passar uma chuva grande dessa vez e vocês me acharão em Natal, mas também em Recife e João Pessoa. E se bobear apareço pelo Sudeste e pelo Distrito Federal também.

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21 de agosto

Tem um gato dormindo colado a mim, dois cachorros aos meus pés e uma mama, a minha, fazendo palavras cruzadas do meu lado. As duas humanas estão esperando a fornada que pão de queijo vegano que está no forno ficar pronta pra devorar tudo com café. E enquanto minha mãe me pede pela terceira vez hoje pra verificar se a espinhela dela caiu (só quem é do interior do Nordeste conhece essa doença misteriosa e o método extremamente científico pra diagnostica-la. E a cura, claro) penso: “Que delícia estar em casa.”

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Ninguém precisa saber

Fazia anos, muitos anos que eu não sentia isso: dor de barriga porque comi um bolo quente. Acho que a última vez deve ter sido uns 25 anos atrás.

Estou no interior da França agora e acontece que meus sobrinhos franco-alemães me pediam há dias pra eu fazer um bolo vegano com eles. Os meninos, que têm 10, 7 e 4 anos, acham fascinante eu ser chef e mais ainda eu ser chef vegana. Eles querem cozinhar comigo o tempo todo e sempre que entro na cozinha um dos três aparece (às vezes os três ao mesmo tempo) perguntando se pode fazer alguma coisa pra me ajudar. Fiz massa à carbonara com Ben, milk-shake de morango e amendoim e, no dia seguinte, de banana com chocolate com Noé, essa salada e arroz “chinês” com Léo, rabanada salgada com os três…

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Berlim

Algumas semanas atrás eu fui visitar Anne em Berlim, onde ela está morando atualmente. Eu estive na cidade alguns anos atrás, também durante o verão, e adorei. Até escrevi um Guia Vegano da cidade. As opções veganas aumentaram ainda mais desde a primeira vez que estive lá e o guia merece uma segunda parte. Berlim é sem dúvida a capital vegana da Europa. É incrível ver como veganismo é algo comum e bem aceito por lá. Comi em vários restaurantes veganos, mas também em restaurantes tradicionais, pois é comum ter opções veganas em praticamente todos os lugares. Você pode sair pra comer com suas amigas onívoras e ter a certeza que vão encontrar facilmente um lugar que vai deixar a barriga de todo mundo satisfeita.

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Agradecendo com risoto

Já faz mais de um mês que, passando por cima de um medo gigantesco, publiquei a carta que escrevi pro meu irmão aqui no blog e, imediatamente depois, desliguei o computador, apaguei as luzes e me escondi embaixo da coberta. Naquela noite tive febre e vários pesadelos. Acordei com o corpo moído, os olhos inchados e um vazio em algum lugar do meu corpo que não consegui identificar. Precisei de algumas horas pra ter coragem de entrar aqui. Li os comentários de vocês dentro do ônibus e à medida que meus olhos percorriam as palavras deixadas aqui eles se enchiam de lágrimas.

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Carta pro meu irmão

Da última vez que estive em casa você começou a se aborrecer sempre que eu falava em feminismo. Convencido de que no Brasil as mulheres têm exatamente os mesmos direitos e oportunidades que os homens, você me explicou que ser mulher não me impedia de fazer nada e não implicava nenhuma dificuldade extra no que eu quisesse ser na vida. “Pare de levar tudo pro lado do feminismo!” você dizia, extremamente irritado.

Quando a ONU publicou o último relatório sobre os dados atuais de violência contra a mulher no mundo contei pra você o que tinha passado o dia repetindo pros outros: uma em cada três mulheres foi vítima de agressão física ou sexual da parte de um homem. Você me olhou sério e disse : “Não é verdade. Eu não conheço nenhuma mulher que tenha sofrido violência de um homem. Você não conhece nenhuma. Você mesma nunca foi vítima desse tipo de violência.”

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Em Londres e algumas historietas

Deixei Beirute duas semanas atrás, passei uns dias em Paris e já estou confortavelmente instalada no meu novo lar (provisório, como é o costume) em Londres. Fico aqui até o início de julho, trabalhando no mesmo lugar onde trabalhei ano passado. Vim aqui só dar sinal de vida e tirar a teia de aranha do meu bloguito. Mas já que cheguei, vou aproveitar pra contar umas coisinhas miúdas que aconteceram nos últimos dias, pra distrair vocês do fato que hoje não tem receita.

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É assim que vou lembrar

Esse é o meu último mês em Beirute e já comecei a fazer listas do que quero fazer antes de ir embora. Três meses aqui é pouco pra penetrar nas camadas mais profundas da cidade. Tenho a impressão que até agora só consegui arranhar um pouquinho a superfície. Então decidi parar de tentar dar um sentido pra esse emaranhado de fios, culturas, contradições e desigualdades e vou passar as próximas semanas só admirando, absorvendo e gravando na memória cada momento e cada esquina. E aqui vão algumas imagens da cidade pra vocês verem um pouco do que estou vivendo. Não são fotos trabalhadas e fiz todas com o telefone (com excessão de duas fotos feitas por Anne), mas é assim que vou lembrar de Beirute.

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