Na estrada

No início da semana deixei Bruxelas. Os dias que antecederam a partida foram preenchidos com despedidas: pessoas, lugares, os pertences que se acumularam durante o último ano… No ônibus que me levou embora fiz o balanço dos 13 meses que fiquei na cidade. Foram muitas oficinas de culinária veganas e palestinas (também 100% vegetais) e pela primeira vez na vida trabalhei como chef particular (pra uma família de onívoros!). E no emaranhado de pessoas incríveis e projetos interessantes que cruzaram o meu caminho esse ano teve:

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O truque da sopa

Sabiam que é possível fazer sopas cremosas sem nenhum tipo de creme (animal ou vegetal)? Uns tempos atrás aprendi esse truque e desde então utilizo regularmente nas sopas aqui em casa ou no trabalho. É bem simples, mas engenhoso. Essa técnica culinária tradicional usa manteiga, mas quando li sobre ela pensei imediatamente que talvez funcionasse com uma gordura de origem vegetal. E eu estava certa. Se você colocar sua sopa dentro do liquidificador, ligar o motor e acrescentar azeite (gordura) aos pouquinhos, ele vai se misturar com a sopa (água) e com o ar incorporado pelas hélices e isso vai criar uma emulsão. Voilà! Sopa cremosa (até a cor fica mais clara, como se você tivesse acrescentado creme) e com o delicioso e delicado sabor de azeite.

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Tour político/ativista/gastronômico(vegano) na Palestina

Queridos leitores,

Tenho um anúncio e tanto pra fazer hoje! Estão preparados? Lá vai. Estou planejando uma visita à Palestina do 4 ao 18 de Novembro e vou aproveitar pra fazer algo que sempre sonhei: guiar um pequeno grupo de brasileiros numa viagem política/ativista/gastronômica(vegana). Os objetivos dessa viagem são: encontrar palestinos e conferir as iniciativas de resistência não-violenta à ocupação israelense, mostrar solidariedade ao povo palestino, descobrir as belezas naturais dessa terra (que pouca gente conhece), a cultura e a deliciosa culinária palestina, que é altamente vegan-friendly. E, ao decidir visitar a Palestina, também vamos apoiar a economia local que sofre imensamente por causa da ocupação. Essa viagem será extremamente enriquecedora, algo realmente inesquecível e que tenho certeza que terá um impacto profundo na vida dos viajantes.

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Pra sonhar

Voltei uns dias atrás de mini férias no interior da França. É sempre uma delícia passear por lá, especialmente nessa época do ano, quando o verde está mais verde do que nunca. E as belezas do campo me fazem inevitavelmente querer morar no mato, plantar legumes e frutas, comer embaixo das árvores e ter um ritmo de vida mais tranquilo (mas com acesso à internet). Sei que tenho aquela imagem bucólica da vida no campo que só quem nasceu e cresceu em uma cidade grande (e depois foi morar em uma maior ainda) tem e que nem sempre corresponde à realidade. Mas de vez em quando gosto de sonhar com hortas, galinhas de estimação, casas rústicas e ouvir grilos depois do pôr do sol. Então queria dividir algumas fotos da viagem com vocês. Pra vocês sonharem comigo.

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Pesto de urtiga

Semana passada eu estava no interior da França, descansando e visitando a família francesa. Cozinhei coisas simples, porque nessa época do ano os vegetais são tão suculentos que eles não precisam de preparações nem temperos elaborados. E também porque estou aprendendo (finalmente!) que durante as férias é melhor passar menos tempo na cozinha e mais tempo com as pessoas que importam. Então fui visitar entes queridos e seus jardins luxuriantes. E numa dessas visitas me deparei com um imenso canteiro de urtigas. Fazia muito tempo que eu queria cozinhar urtigas (até então eu só tinha bebido o chá feito com a planta desidratada), então não hesitei um segundo: pedi luvas de jardinagem e um cesto à dona do jardim e comecei imediatamente a colheita. E porque gosto de viver perigosamente, eu estava calçada com minhas fieis Havaianas (escapei ilesa, mas não tentem fazer isso em casa).

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“O veganismo talvez seja a alimentação do futuro”- Entrevista com Samira Menezes

Estou atualmente no interior da França, passando alguns dias de férias com a família francesa. Quem me procurar essa semana vai me encontrar entre a cozinha e o imenso e delicioso jardim do meu sogro. Mas vou deixar vocês em boa companhia: tenho mais uma entrevista da série ‘Porque me tornei vegano’ pra dividir com vocês. Samira Menezes faz parte do meu grupo de ‘amigos virtuais’ e é uma flor. Ela é paulistana mas mora em Milão e ando torcendo pros nossos caminhos se cruzarem aqui no velho mundo. Samira é jornalista e tem um blog, o Miscelânea Milanesa, onde ela divide suas descobertas “culinárias, animalistas e mundanas”. Fiquei super feliz quando ela aceitou ser entrevistada aqui no blog, pois ela tem coisas interessantíssimas pra dividir conosco.

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Manter a serenidade diante de tanta crueldade e indiferença é um desafio, mas é necessário – Entrevista com Lobo Pasolini

Alguns meses depois de ter criado o Papacapim um blogueiro brasileiro deixou um comentário aqui dizendo que tinha achado o meu blog muito bom e que tinha linkado do dele. Fui conferir o blog dele e a mesma coisa aconteceu: gostei do blog dele e linkei do meu. O blog, de direitos animais, se chama ‘Lobo Repórter’ (adoro esse nome) e o blogueiro em questão é Lobo Pasolini. Isso foi em 2010 e desde então acompanho o trabalho dele e vez ou outra trocamos mensagens. Apesar de nunca tê-lo encontrado pessoalmente, gosto de pensar que ele é um amigo virtual. Criei até uma receita especialmente pro aniversário dele em 2012. Nós temos várias coisas em comum (como ser ‘homus-sexuais’, por exemplo:) e fiquei muito feliz quando ele aceitou fazer parte da série ‘Porque me tornei vegano”. É uma honra imensa pra mim receber Lobo Pasolini aqui.

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Guia Vegano – Amsterdã

Visitei Amsterdã pela primeira vez onze ou doze anos atrás e embora a viagem tenha sido muito agradável, com exceção de um episódio extremamente embaraçoso que envolveu um baseado (prefiro não comentar), não lembrava de quase nada da cidade. Um canal, uma bicicleta vermelha alugada, um quadro de Van Gogh e uma dúvida: eu visitei ou não visitei a casa de Anne Frank? E, curiosamente, minhas memórias gastronômicas dessa viagem são completamente inexistentes. Tenho certeza que me alimentei durante os dias que estive por lá, mas tirando um enorme queijo gouda com cominho, não lembro do que passou pela minha boca (teve o infame baseado, mas já combinamos que é melhor não comentar episódios embaraçosos do passado). Na época eu ainda era onívora e meu interesse por comida, embora presente desde sempre, não era tão aguçado quando ele é hoje.

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As duas últimas semanas

Semana passada eu estava em Amsterdã, comendo toda a comida vegana que consegui colocar no estômago. Semana retrasada eu trabalhei sem parar e cozinhei em vários lugares diferentes. Fiz um churrasco 100% vegano (o meu primeiro!) e preparei um jantar em um caminhão-cozinha. E alimentei muitas, muitas bocas. Na verdade eu nunca tinha alimentado tantas bocas de uma vez só. Aqui vão algumas fotos das duas últimas semanas.

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Quando a saudade aperta

No último post eu disse que apesar de não ter planejado, acabei virando a rainha do makluba (veg). Meu relacionamento com ele começou em 2007, quando cheguei na Palestina. Descobri que era o prato nacional por ali e sempre que era convidada pra comer na casa de alguém, lá estava ele na mesa. Depois fui trabalhar no projeto de mulheres no campo de refugiados de Aida e aprendi, junto com os estrangeiros que participavam das aulas de culinária, a preparar o famoso prato. A versão tradicional é feita com frango, mas como muitos dos nossos ‘alunos’ eram vegetarianos/veganos, consegui convencer Islam (a coordenadora palestina do projeto e nossa cozinheira-mor) a preparar também uma versão 100% vegetal durante as aulas.

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Fui ali em Paris

Acabo de voltar de quatro dias em Paris. Uma das melhores coisas de ter voltado a morar na Europa é poder pegar um ônibus ou um trem e em duas horas estar em outro país. Dessa vez fui dar aulas de culinária palestina e preparar um jantar pra acompanhar a exposição de uma noite que Anne fez por lá. Eu sei, não faz muito sentido ter aulas de culinária palestina com uma brasileira, mas acabei virando a rainha do hummus e do makluba. Claro que todas as minhas aulas são veganas, mas isso nunca foi um problema. A culinária palestina é extremamente vegan-friendly e é fácil veganizar os pratos que geralmente usam animais. Quando eu morava em Belém minha vizinha, Violete, era uma palestina cristã ortodoxa e durante a quaresma ela seguia (como os outros cristãos ortodoxos) um regime completamente vegano. Violete e outros amigos palestinos cristãos me ensinaram as versões veganas dos pratos mais tradicionais e como passei anos trabalhando num projeto de culinária no campo de refugiados de Aida pude acumular bastante conhecimento sobre o assunto. Mas se alguém tivesse me dito alguns anos atrás, quando fui morar na terra santa, que um dia eu daria aulas de culinária palestina eu teria dado uma gargalhada. Pois é, a vida é cheia de surpresas (felizmente).

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Minha melhor amiga (e uma sobremesa)

Vocês, pessoas, vocês… Eu tenho os leitores mais maravilhosos dessa internet. Nem sei como agradecer os comentários que vocês deixaram no meu último post. Eu li todos (duas vezes), me emocionei, chorei, fiquei profundamente tocada, me senti uma rockstar e agradeci as estrelas por ter tanta gente boa na minha vida. Recebam meus agradecimentos sinceros e meus abraços virtuais (estou abraçando cada um de vocês mentalmente agora. Sentiu um calorzinho ao redor dos ombros? Sou eu.)

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O silêncio por aqui

Sou dessas pessoas que adoram dividir os momentos felizes, mas que preferem sofrer quietinhas num canto, sem testemunhas por perto. Sempre pensei que a razão desse meu comportamento era poupar os outros de preocupações desnecessárias, mas depois de muito meditar sobre a questão percebi que tem uma parte de orgulho também. Prefiro segurar as pontas sozinha porque se o frio dado é sempre proporcional à espessura do cobertor, eu não tenho razão pra reclamar. Continuo sem vocação pra reclamar, mas decidi parar de fingir que esse negócio de sofrer não é pra mim.

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Cara de pau, ousadia, cogumelos e o gato que trabalha comigo

Poucos dias depois de ter chegado em Bruxelas aconteceu um evento de alimentação orgânica-alternativa-ecológica na cidade. No panfleto que explicava quais projetos e organizações estariam presentes, descobri que tinha um grupo de jovens belgas produzindo cogumelo em borra de café. Achei a ideia inusitada e imediatamente fiquei com vontade de saber mais sobre o projeto, que se chama Permafungi. Mas no meio da multidão que apareceu pra participar do evento acabei não encontrando o stand deles e nunca mais pensei no assunto.

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A pessoa mais popular do churrasco

Viagens são sempre um desafio pra quem quer se alimentar bem, ainda mais se você for vegano(a). Tento comer frutas e vegetais frescos durante minhas viagens, mas nem sempre é possível e muitas vezes passo dias e dias comendo pão com hummus, porque são as únicas opções vegetais disponíveis. Apesar de ter degustado alguns pratos deliciosos durante minha última viagem pra Paris, quando voltei pra casa só conseguia pensar em sopa. Muita, muita sopa. Então fiz um sopão com os vegetais que consegui encontrar naquele dia, mais lentilhas verdes, e criei exatamente o tipo de prato que o meu corpo pede pra voltar a se sentir bem. Mas, como a foto acima indica, esse posto não é sobre sopa.

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Saladas, sementes e criatividade

Eu estava pensando com os meus botões essa semana sobre o quanto o meu repertório de saladas é vasto e interessante. Antes de abraçar uma alimentação totalmente vegetal salada pra mim significava alface, pepino e tomate, regados com azeite e, se eu estivesse me sentindo particularmente gourmet, umas gotinhas de vinagre balsâmico. Hoje sou capaz de fazer saladas originais e surpreendentes com quase todos os ingredientes que passam pela minha frente.

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“O que você viu uma vez não pode voltar a ser invisível” – Depoimento da ativista israelense Haidi Motola

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No início do mês Anne foi convidada pra participar de uma conferência em Marseille (sul da França), no dia internacional da mulher. O evento foi organizado pelas ‘Femmes en Noir’ de Marseille, um grupo criado em solidariedade com o movimento ‘Women in Black‘, formado por mulheres israelenses que lutam há 26 anos contra a ocupação israelense nos territórios palestinos. Se você nunca ouviu falar desse movimento, vale a pena visitar o website. E não deixem de ver também a foto-reportagem feita por Activestills (o coletivo de fotógrafos do qual Anne faz parte).

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Altamente subversivo

Descobri uma coisa maravilhosa, mas acho que quando eu descrever o que é vocês vão querer fechar a janela e ler outro blog. Mas lá vai. Brócolis confit. Traduzindo: brócolis cozinhado com azeite e alho durante uma hora, até ficar tão macio que você pode espalhar sobre uma fatia de pão como se fosse um patê.

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A arte de reciclar restos

repolho, cenoura, cebola

Já abriu a geladeira e encontrou vários restos de comida, mas nenhum em quantidade suficiente pra se transformar em uma refeição? Se isso nunca aconteceu na sua cozinha, provavelmente você é do tipo que joga restos de almoço e jantar fora (ou do tipo que nunca cozinha em casa). Pare com isso imediatamente! Aquilo que sobrou na panela não é o resto da sua última refeição, é o começo da próxima.

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