O mousse que deu errado, mas deu certo

Confesso que nunca fui fã de mousse, nem nos meus tempos pré veganismo. Mesmo assim postei uma receita de mousse aqui muitas luas atrás, muito boa, porque sei que tem gente que adora essa sobremesa. Então quando a moda de fazer mousse com aquafaba (água do cozimento do grão de bico) chegou eu nem me empolguei pra testar.

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A quiche que realmente era quiche

Eu tenho receitas de quiche deliciosas, que estão aqui no blog desde 2011. Tem uma de abobrinha e tomate seco e uma de cogumelo e sálvia e ambas fazem muito sucesso por onde passam. Mas veja, embora eu adore as duas, se eu for bem honesta elas são tortas salgadas, não quiches. A base do recheio delas é tofu, o que apesar de muito saboroso produz um resultado com textura bem diferente do que se espera de uma quiche. Isso é um problema? Nunca foi!

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“Veganismo é um ato de solidariedade com animais não-humanos”

Muitas luas atrás eu comecei uma série de entrevistas com pessoas veganas. Recentemente resolvi dar continuidade à série, mas com versões mais curtas, publicadas no meu perfil no Instagram. Também decidi que iria entrevistar (por enquanto) apenas pessoas não-brasileiras, pra mostrar as cores do movimento vegano no exterior. O veganismo liberal das ONGs e celebridades de Instagram acaba dando uma ideia falsa do veganismo e eu queria mostrar como o movimento é diverso e construído por pessoas que entendem o veganismo como uma extensão lógica da luta anti-opressão. Existe um esforço em propagar o mito de que fora do Brasil o movimento vegano é homogêneo e todo liberal. Nos países onde morei (França, Palestina, Inglaterra, Alemanha, Líbano e Bélgica) pude constatar que isso não podia estar mais longe da realidade. Então pensei em trazer as vozes de algumas militantes antiespecistas do exterior pra que vocês vejam por si mesmas.

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Sobre racialização e as armadilhas coloniais

Dia 4/07 aconteceu a Parada Política do Orgulho LGBT+ em Paris. A Parada política existe justamente pra protestar contra a Parada oficial, patrocinada por bancos e cartões de crédito, que transformou esse dia tão importante, onde ocupamos as ruas pra honrar a memória das que lutaram antes de nós e continuamos a luta por direitos LGBT+, em uma festa despolitizada pra celebrar o pink money.

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Fiz uma campanha de financiamento coletivo – e cozinhei feijão

Outro dia uma moça me enviou uma mensagem pelo Instagram dizendo “Acompanho você desde os 11 anos, quando virei vegetariana. Estou com 21 anos agora e vegana há 5 anos.” Além da alegria proporcionada por esse momento Xuxa, me emocionei em saber que tem pessoas que acompanham meu trabalho há dez anos. Quanta honra!

Sim, esse blog completou 10 anos em fevereiro. Já contei como tudo começou?

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A peste de Camus, o teste Bechdel e o que isso tem a ver com todo o resto

Adoro ler e apesar de não dedicar o tempo que gostaria à leitura durante o dia, dou cabo de uma modesta pilha de livros mensalmente, pois só consigo dormir depois de ler por pelo menos uma hora na cama. A pessoa que estiver dividindo a cama comigo que lute pra dormir com o barulho das páginas sendo viradas (bem discretamente, juro).

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Sobre leite condensado, queijo e o que o veganismo tem a ver com isso

Dias atrás eu estava comendo as primeiras cerejas do ano e lembrei de um causo que aconteceu comigo há mais de 15 anos. Isso me fez refletir sobre algumas coisas, que se juntaram à uma reflexão que nasceu quando eu trabalhava numa queijaria vegetal em Berlim e passava meus dias entre bactérias e leveduras. (Comida também alimenta o pensamento.)

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A fórmula da farofa + a farofa de cenoura da minha família

Uma etapa essencial pra quem quer aprender a cozinhar (se você vier desse território colonizado conhecido como Brasil) é saber fazer farofa. Extremamente simples, mas que faz toda a diferença na vida da cidadã, ela alegra o prato e é a melhor amiga do feijão. Aliás, deixa eu contar uma das minhas opiniões mais impopulares: não gosto de arroz. Por isso prefiro casar meu feijão com farofa e ignorar o pobre arroz, o que nunca deixa de provocar surpresa nas vizinhas de mesa. Farofa, como dia minha amiga Maria Helena, é a argamassa da vitória!

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Caldo da caridade, uma releitura

É comum ouvir reclamações do feijão macaça (fradinho), pois o bichinho dá caldo ralo. Eu cresci comendo esse feijão e até hoje meu tio planta ele lá no Sertão. O que parece problema é na verdade uma bênção. Quando eu era menina minha mãe cozinhava esse feijão, depois jogava uns temperos na panela e oferecia o caldo puro, no copo, pra acalmar o estômago que roncava antes da hora do almoço. Era o lanche das 11h. Ela aprendeu isso com a mãe, que fazia render ao máximo o pouco de comida que tinha.

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E lutaremos em seu nome

Em 1977 o cineasta Polanski confessou, num tribunal dos EUA, ter estuprado uma menina de 13 anos. Condenado, ele fugiu do país antes de ser preso e nunca mais voltou. Desde então outras 11 mulheres o acusaram de estupro. Semana passada aconteceu a cerimônia dos Césars, a maior premiação do cinema francês. Polanski estava concorrendo a 12 prêmios, incluindo melhor diretor e melhor filme. 12 mulheres estupradas e 12 nomeações pro homem que as estuprou. “É preciso separar o homem do artista”, vomitavam os perpetradores da cultura do estupro. “Se seu padeiro estuprasse 12 mulheres, incluindo crianças, você separaria o homem do padeiro?”, “Quando uma mulher é estuprada não importa a profissão do estuprador nem se ele a pratica com talento” respondiam as mulheres. Os guardiães do patriarcado tinham sido particularmente cruéis dessa vez. Concorrendo ao prêmio de melhor atriz, pelo filme “Retrato da jovem em chamas” (que concorria ao prêmio de melhor filme, junto com o filme de Polanski), estava Adèle Haenel, que no final do ano passado levou ao público o fato de ter sido agredida sexualmente por um cineasta dos 13 aos 15 anos. Ela, que declarou: “Premiar Polanski é cuspir na cara das vítimas”, foi à cerimônia dos Césars junto com a equipe do filme “Retrato…”, feito por uma cineasta, com uma equipe quase exclusiva de mulheres, contando a história de duas mulheres que se amam. Esse filme me fez soluçar no cinema e todas nós torcíamos pra que ele e sua diretora levassem o prêmio. Mas o cinema francês, cúmplice, fiel aos seus amigos homens, mesmo os que cometem crimes de pedofilia, não deu o prêmio a “Retrato…”, nem à sua atriz principal. Era preciso punir Adèle por ter ousado sair do silêncio. Por ter levantado a voz e criticado esse clube do Bolinha sexista que é a indústria do cinema. Mas a punição não foi suficiente: era preciso “cuspir na cara das vítimas”. E assim Polanski ganhou o prêmio de melhor diretor. Nesse momento Adèle e a equipe de “Retrato…” se levantaram e saíram da sala. Embaixo do vestido de gala, a indignação. “Que vergonha! Palmas pra pedofilia!” ela repetia enquanto juntava o gesto à palavra.

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Quem dita as regras do veganismo?

Uns meses atrás publiquei uma série de stories no meu Instagram (os jovens não leem mais blogs, infelizmente) sobre a tendência dentro do movimento vegano de eleger algumas vozes como mais legítimas pra “definir o que é vegano” do que outras e considerar a posição de grandes ONGs internacionais como “oficial”, classificando as visões diferentes como “opinião pessoal”.

É um debate que precisa ser feito, então vim trazer a conversa pra esse espaço também.

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Fermente seu grãomelete

O texto poderia ter só essa frase, mas vou desenvolver a ideia, caso você precise ser convencida.

Lembram do meu grãomelete, o omelete à base de grão de bico? Lembram que fiz uma versão atualizada com farinha de grão de bico? Pois vim atualizar essa receita novamente e tenho ótimas razões pra isso.

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Por um veganismo que promove autonomia alimentar

Ano passado a chef Paola Carosella causou um grande alvoroço dentro da comunidade vegana por causa da reação dela (via Twitter) depois de ter provado um hambúrguer vegetal que imita a textura e o sabor de carne animal. Acho oportuno abrir espaço pra discutir as declarações dela, pois acredito que podemos extrair algumas lições importantes do ocorrido.

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Grão na chapa

Gosto de pensar que sou uma pessoa modesta. Recebo elogios de bom grado, mas não saio por aí “contando vantagem”, como a gente diz na minha terra (se você precisa de tradução, essa expressão significa “fazendo elogios, não merecidos, a si mesma”). Mas de vez em quando eu desenvolvo uma receita que me faz inchar de orgulho. Mais ainda quando não se trata de uma receita propriamente dita, o que envolve vários ingredientes, muitos testes e muita louça pra lavar antes de chegar na versão final, a que compartilho aqui no blog. Isso é um trabalho que necessita criatividade, obviamente, mas é o resultado de 90% de transpiração e 10% de inspiração, como dizem que disse Einstein. Agora, quando a “receita” em questão é uma ideia que brotou na minha cabeça, puf!, que necessita apenas 2 ingredientes e que deu certo de primeira, aí eu não consigo conter o entusiasmo (se você estivesse do meu lado nesse momento me veria dando um discreto beijinho no ombro).

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Farofa rica

Em setembro confessei aqui no blog a minha recente história de amor com a farofa e compartilhei a receita da minha farofa mais popular.

Mas isso não é exatamente verdade. Sim, minha farofa de banana e couve é extremamente popular na minha família, mas um dia fiz uma versão ligeiramente modificada dessa receita e o sucesso foi ainda maior. Chamei essa obra-prima comestível de “farofa rica”.

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Como comecei a cozinhar

Escrevi meu primeiro caderno de receitas com onze anos, mas comecei a cozinhar bem antes disso. Minha mãe, que nunca gostou de cozinhar, nos encorajou a fazer nossa própria comida desde muito cedo. As receitas do caderno eram de apenas um tipo: recheios pra colocar dentro do pão ou tapioca, todos variações de ovo mexido. Lembro que a única receita que não envolvia ovo era ‘pão frito’: pão em cubinhos, frito em muita, muita margarina. Embora não tivesse entrado no caderno, meu repertório da época também incluía bolachas cozinhadas no leite, papa de aveia com canela, vitamina de banana com achocolatado e, em um momento onde eu me senti particularmente gourmet, patê de salsicha e cebola crua, criado em colaboração com uma prima. 

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Caros camaradas,

Temos, geralmente, tendência a exagerar nossa força e nossa fraqueza: assim, durante tempos revolucionários, parece-nos que a menor de nossas ações deve ter conseqüências incalculáveis ​​e, por outro lado, em certos momentos de marasmo, toda a nossa vida, embora inteiramente dedicada ao trabalho, parece-nos infrutífera e inútil, e acreditamos que somos levados pelo vento da reação.

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