Defendendo a Palestina: libertando o povo, a terra e os animais

Eu conheci Ahmad Safi, um dos fundadores da Palestinian Animal League (PAL – Liga Animal Palestina), em 2015. Sou uma grande admiradora do trabalho que a PAL, a primeira Organização de Proteção aos Animais atuando dentro dos Territórios Palestinos Ocupados, está fazendo e tinha vontade de entrevistar Ahmad desde então. No final de abril deste ano, finalmente marcamos uma data e nos encontramos na hora do almoço no Sudfeh, o primeiro restaurante vegano/vegetariano da Palestina, localizada na Universidade Al Quds, em Abu Dis.

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“Estou disposto a fazer a minha parte”

O último tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina aconteceu em março desse ano. Assim como durante o tour de fevereiro, vivemos momentos difíceis, chocantes e revoltantes. Também vivemos momentos cheios de emoção, onde a humanidade e força das pessoas que encontramos nos tocou profundamente. Pela quinta vez pude ver as pessoas que participaram da viagem passarem pelas mesmas etapas que eu passei quando cheguei pela primeira vez na Palestina, 10 anos atrás. Surpresa, indignação, lágrimas, revolta, impotência, dor. Sempre que acompanho um grupo nessa montanha russa de emoções chega um momento em que me pergunto por que faço isso com essas pessoas tão bacanas que vieram de tão longe pra estar ali comigo. Mas elas nunca deixam de me lembrar a razão que me fez decidir fazer esse trabalho. Eu tenho uma responsabilidade moral em divulgar a realidade cruel da colonização e ocupação militar israelense na Palestina. Elas estão ali porque decidiram mostrar solidariedade ao povo palestino e se juntar às pessoas que lutam por justiça, a condição primeira pra se obter paz.

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Tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina, 2017

O quarto e o quinto tour Papacapim na Palestina aconteceram em fevereiro e março. Mais uma experiência transformadora, pras pessoas que participam do tour e pra mim mesma. As participantes terminam o tour meio sequeladas ou, como disse meu amigo Rogério, “acordadas”! Reviver, de novo e de novo, a montanha russa de emoções provocadas pelas atividades do tour e explicar, de novo e de novo, a injustiça e violações dos direitos humanos cometidas pela ocupação israelense na Palestina é doloroso pra mim. Claro que a dor que sentimos não pode nunca, nem de longe, ser comparada à dor vivida pelo povo palestino, mas não deixa de ser uma vivência difícil pra nós. Planejar esses tours exige meses de trabalho, muitas horas respondendo emails e tirando dúvidas de pessoas interessadas em participar, semanas coordenando as atividades com as pessoas palestinas que nos guiam e participam da programação… No final das contas acompanhar os grupos durante 11 dias é a menor parte do trabalho, mas é a parte que provoca um esgotamento físico e emocional que me obriga a ficar de cama por alguns dias depois de cada tour.

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Ainda dá tempo

Janeiro ainda não acabou e eu já dormi em dez camas diferentes esse mês. Dez! Mas é com muita felicidade que digo que essa décima cama será minha por três meses inteirinhos. Sei que parece pouco, mas quando você anda arrastando sua mala há mais de dois anos, três meses são suficientes pra te deixar feliz e sentindo que tem uma casa.

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Tour Papacapim na Palestina – 2017

Eu disse que não teria outro, porém seguindo o ditado francês que diz que “só os idiotas não mudam de ideia” vim aqui anunciar oficialmente que vai ter mais um tour político-ativista-gastronômico-vegano na Palestina ano que vem. Na verdade dois. O primeiro acontecerá em fevereiro e o segundo em março. Dessa vez estou avisando com bastante antecedência porque muitas pessoas queriam participar dos tours em 2014 e 2015, mas não viram o anúncio a tempo e não conseguiram se juntar ao grupo. Dessa vez vocês têm um ano pra organizar a viagem (pedir férias, procurar as passagens mais baratas etc.).

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O segundo tour na Palestina (de 2015)

Faz exatamente um mês que passei aqui pelo blog. A causa da ausência foi o trabalho na Palestina (quem me segue no Instagram acompanhou toda a aventura). Esse foi o terceiro Tour Papacapim na Palestina que organizei e, como sempre, gostaria de dividir com vocês alguns dos momentos que passamos juntos. As fotos foram feitas por mim, mas principalmente por Carol e Marcelo e mostram um pouco do que vivemos durante as duas semanas do tour. Talvez as imagens pareçam um pouco confusas pra quem olha de fora e não conhece muita coisa sobre a Palestina, mas elas traduzem bem o espírito dessa viagem.

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Sobre humanidade

Foi uma viagem muito especial, tocante e fora do comum que fizemos em outubro. A Palestina é um território ocupado (por Israel, desde 1967) e quem vem pra cá tem que conviver com checkpoints (barragens militares israelenses na fronteira e, principalmente, dentro dos territórios palestinos) que ditam quanto tempo levará cada um dos seus deslocamentos, soldados israelenses pesadamente armados que decidem pra onde as pessoas podem, ou não, ir e violações dos direitos humanos tão gigantescas e escancaradas que você vai ter vontade de colocar as mãos na cabeça e gritar: “Por que ninguém está fazendo nada pra impedir isso?”. Revolta e indignação são os dois sentimentos que colam em você logo na chegada e te acompanham durante toda a viagem. Pelo menos uma vez por dia você sentirá uma dolorosa sensação de impotência percorrer o seu corpo inteiro. E quando o monstro da injustiça aparecer ali na sua frente seus olhos se encherão de lágrimas. Se você for como eu, você vai chorar com frequência.

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A colheita de azeitonas durante o tour

Continuando o relato do Tour Papacapim na Palestina de outubro, dessa vez teve uma atividade que não fez parte da programação do ano passado: colher azeitonas. Outubro é a época da colheita de azeitonas aqui na Palestina e é, na minha opinião, o melhor mês pra estar aqui. Eu não sabia nada sobre o cultivo de azeitonas nem sobre a produção de azeite até ter me mudado pra cá, em 2008. Fiquei encantada quando descobri a parte fundamental que a oliveira tem na cultura e na vida dos palestinos. Talvez o mais impressionante pra mim foi descobrir que não existem ‘cultivadores de azeitonas’. Como oliveiras precisam de pouquíssimo cuidado e só recebem água da chuva, os ‘donos’ das oliveiras têm todos uma profissão, que eles exercem durante as outras cinquenta semanas do ano. Durante duas semanas, no início ou no final do mês (de acordo com o amadurecimento das azeitonas), professores, médicos, pedreiros, advogados, estudantes, psicólogos, sociólogos, eletricistas, cozinheiros… todos largam temporariamente suas ocupações e vão pro campo. A família inteira, muitas vezes três gerações juntas, participa da colheita. Uma parte das azeitonas será marinada durante várias semanas e elas serão degustadas acompanhando o café da manhã típico daqui. Mas a maior parte delas vai ser prensada e virará azeite, que aparece na mesa familiar durante o ano inteiro.

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A parte comestível do tour

O primeiro tour Papacapim na Palestina de 2015 acabou faz uma semana. Sei que muita gente está esperando pra saber os detalhes, e ver as fotos, da viagem, mas é tanta informação que vou precisar fazer alguns posts pra conseguir mostrar tudo. E, como fiz ano passado, vou começar com a parte mais agradável e simples de contar: comida.

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Tour político/ativista/gastronômico (vegano) na Palestina 2015

Lembram do tour Papacapim na Palestina que aconteceu em novembro? Se você é novo no blog, aqui vai um resumo breve. Ano passado decidi colocar em prática uma ideia antiga: guiar um grupo de brasileiros na Palestina, pra compartilhar um pouco da vivência incrível que tive naquela terra durante os cinco anos em que chamei a Terra Santa de lar. Foram duas semanas intensas, recheadas de momentos especiais e encontros inesquecíveis. Esses posts mostram um pouco do que vivemos por lá, com  relatos dos participantes  e muitas fotos:

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Tour Papacapim na Palestina – parte 2

Um dia, quando morava na Palestina, tive uma ideia louca: levar um grupo de brasileiros pra lá e dividir com eles um pouco do que vi, vivi e presenciei naquelas terras. A luta por justiça, a criatividade na maneira de resistir a ocupação militar israelense, a dignidade do povo, mas também as paisagens, a comida, os sorrisos… A ideia de um tour político-gastronômico-ativista morou no meu peito durante alguns anos, mas eu sempre pensava: “Quem seria louco ou louca o suficiente pra ir até a Palestina fazer um tour desses com a minha pessoa?”.

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Tour Papacapim na Palestina – parte 1

Não é fácil descrever tudo que aconteceu durante o tour político-gastronômico/vegan-ativista que organizei na Palestina em Novembro. Ainda estou pensando em como dividir essa experiência, tão intensa, emocionante e repleta de momentos impossíveis de traduzir em palavras, com vocês. Então a primeira parte, gastronômica-turística, será visual. Essas foram algumas (só algumas) das coisas que degustamos e visitamos durante as duas semanas que durou a viagem.

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“Eu me recuso a agir de maneira violenta”- entrevista com a ativista israelense Sahar Vardi

Sahar Vardi
Em uma conferência com objetores de consciência israelenses na cidade palestina de Beit Sahour (Sahar está no centro).

Depois de ter publicado a história de três amigos palestinos aqui no blog (vocês podem ler os relatos aqui, aqui e aqui), gostaria de escrever sobre uma amiga israelense. Durante minhas palestras e conversas sobre a Palestina escutei algumas vezes coisas do tipo “Ah, mas você escolheu ficar do lado dos Palestinos”, como se as informações que eu repasso fossem tendenciosas (sempre respondo que escolhi o meu lado, sim: os diretos humanos). Mas é por isso que hoje eu gostaria de dar a palavra a uma israelense. Sahar é uma das pessoas mais engajadas e interessantes que conheço e nessa entrevista ela fala sobre ativismo, a militarização da sociedade israelense (e suas consequências na população) e como ela imagina o futuro da região. Fiz essa entrevista ano passado e ela foi publicada originalmente na Revista Fórum de novembro.

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Zaaki*

livro projeto

No início desse mês o livro de receitas palestinas que eu criei pra arrecadar fundos pro projeto de mulheres no campo de refugiados de Aida ficou (enfim!) pronto. Além de ensinar a fazer 15 receitas tradicionais, o livro explica a situação dos refugiados palestinos e conta a história do projeto. Ele é o fruto de três árduos meses de trabalho e quando o segurei nas mãos pela primeira vez senti uma mistura de alegria e alívio. Nunca imaginei que fazer um livro (sozinha) fosse tão penoso: entre recolher as receitas, fotografar os pratos, escrever os textos e fazer o design/layout, quase perco o juízo. Mas agora que ele está aqui olhando pra mim, estou extremamente feliz por ter controlado a vontade de desistir e ter ido até o final. (Clique nas imagens pra aumenta-las.)

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Abraço

abraço

O muro construído por Israel na Cisjordânia mutila ainda mais as terras palestinas, isola cidades e seus habitantes e priva agricultores de seus campos. Ele foi julgado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça em 2004, mas continua avançando. O muro de segregação, como é chamado pelos defensores dos direitos humanos, é onipresente aqui em Belém. É difícil esquecer os crimes cometidos pela ocupação israelense quando nos deparamos com esse ‘lembrete’ de concreto de 8 metros de altura cada vez que levantamos o nariz.

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Histórias palestinas: Tareq Jawabrah

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Conheci Tareq na ONG palestina onde eu trabalhei durante meus dois primeiros anos aqui. Ele participava do grupo de teatro e me ajudou a organizar atividades físicas pros meus “alunos” uma vez por semana e a montar uma peça com as crianças do grupo, ensinando a importância de escovar os dentes. Nossa amizade foi crescendo com o tempo e também me tornei muito próxima da esposa dele, Sara. Ele é professor de tecnologia em uma escola secundária, ela é tradutora e juntos eles formam um dos poucos casais que conheço aqui que desafiaram a tradição e se casaram por amor (geralmente os casamentos são organizados pelas famílias).

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Da azeitona ao azeite: como é feito o azeite de oliva

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Depois da colheita, os palestinos levam as azeitonas pra prensa o mais rapidamente possível. Idealmente, as azeitonas devem ser prensadas nas 24 horas que seguem a colheita, mas por ter poucas prensas na região de Belém, as azeitonas acabam esperando um pouco mais. O centro da produção de azeite palestino fica em Nablus, no norte, e lá tem mais prensas do que aqui. Porém, o azeite de Belém e das duas cidades vizinhas (Beit Jala e Beit Sahour) tem fama de ser o melhor de toda a Palestina. Meu amigo Tawfic explicou que essa região tem um micro clima perfeito pra produção de azeitonas e por isso o sabor do azeite daqui é superior. Eu posso confirmar: o azeite de Tawfic é o melhor que já provei na vida! Ele tem uma nota verde intensa, com um gosto de mato depois da chuva (nunca comi mato depois da chuva, mas tenho certeza que o gosto é idêntico ao cheiro), mas ao mesmo tempo é aveludado e tão cremoso que chega a ser (pasmem!) amanteigado. É difícil descrever um sabor tão complexo, só mesmo provando pra entender.

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Colheita de azeitonas na Palestina

colheita

Entre os meses de outubro e novembro é época de colher azeitonas na Palestina. Essa é uma das atividades mais antigas aqui. Muitas oliveiras são centenárias e algumas têm mais de mil anos. A mais antiga (talvez a oliveira mais velha do mundo) fica no vilarejo de Al Walaja, pertinho de Belém, e tem entre 4000 e 5000 anos ! (Infelizmente essa árvore está ameaçada pelo muro de separação que Israel está construindo ao redor de Al Walaja.)

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As últimas semanas

Hoje é o segundo dia desde que o cessar-fogo começou em Gaza (vejam as fotos do último dia de ataques e da festa quando a trégua começou no blog de Anne) e as coisas estão voltando aos poucos ao normal aqui do outro lado dos territórios palestinos. Alguns dias atrás Belém estava fervendo e várias pessoas do campo de refugiados de Aida, onde trabalho, foram presas pelo exército ocupante. Mas, como disse, a situação se acalmou bastante.

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Notícias

Nos últimos dias recebi mensagens de leitores (comentários aqui no blog, e-mails e recados na página facebook do Papacapim) perguntando como eu estava e como andava a situação aqui na Palestina. A última semana foi intensa, muito intensa. Longas horas de trabalho passadas realizando o novo projeto do grupo de mulheres no campo de refugiados (prometo contar mais em breve). Tive problemas tecnológicos : faz uma semana que o computador pifou e fui obrigada a reduzir drasticamente minhas atividades « internéticas ». E teve o ataque de Israel na faixa de Gaza.

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