Os tesouros do Alecrim

Aqui em Natal tem um bairro que concentra 40% do comércio varejista da cidade e que, justamente por isso, é extremamente caótico: o Alecrim. É a maior muvuca da cidade e um passeio naquele caos, embaixo do sol quente, que aqui na minha terra insiste em brilhar o ano inteiro, é garantia de voltar pra casa com dor de cabeça. Mas apesar disso gosto demais do Alecrim. Uma das razões é porque nesse bairro tem uma feira que acontece há mais de 90 anos, todos os sábados, a mais popular de Natal. Também tem uma loja de retalhos onde, depois de enfrentar os ácaros e mergulhar nas pequenas montanhas de tecidos, encontro verdadeiros tesouros. Na última vez que estive lá voltei com uma cortina de linho linda que está agora esperando pra ser transformada em calça pela minha irmã.

Na mesma rua da feira, a Av. Presidente Quaresma (que nós, natalenses, chamamos de Av. 1), tem minha loja preferida de todas. É uma mercearia que vende feijões, cereais e castanhas a preços muito mais interessantes do que nos supermercados. Sempre que estou em Natal vou lá e faço meu estoque de soja em grãos, castanha de caju e do Pará e arroz vermelho. Passo o ano inteiro desejando esse último. Não gosto muito de arroz, nem branco nem integral, mas arroz da terra pra mim é algo totalmente diferente. Aqui no Rio Grande do Norte preparamos arroz da terra, que é chamado de “arroz vermelho” em outros estados, com leite de vaca. Era um dos meus pratos preferidos antes de me tornar vegana. Pensei em substituir o leite animal por leite de coco e, já que eu estava alterando a receita tradicional, juntei uma pimentinha de cheiro, coentro e castanha de caju. Provei meu arroz adulterado e achei muito bom, mas pensei que além de mim ninguém em casa ia gostar. Arroz da terra no leite de vaca é algo tão típico e querido por aqui que imaginei que mexer na receita original seria visto como um sacrilégio. Qual não foi minha surpresa quando a família disse que meu arroz estava uma delícia!

No mesmo almoço mexi em outra iguaria regional: banana da terra frita. Comi banana da terra assada pela primeira vez em um restaurante carioca e dei um grande tapa na testa por não ter pensado nisso antes. Adoro banana da terra e detesto fritura, mas continuava comendo porque achava que não dava pra preparar de outra maneira (nunca gostei dela cozida). Problema resolvido!

*As duas primeiras fotos foram feitas por Anne Paq.

Arroz da terra com coco e castanha

Usei leite de coco industrializado, porque não tinha leite de coco fresco. Como acho o sabor da versão industrializada muito mais intenso, usei somente duas xícaras e completei com água. Se estivesse usando coco fresco, que é bem mais delicado, tentaria cozinhar só com o leite de coco, sem água (aumentando a quantidade, claro).

2x de arroz da terra (vermelho)

1cs de azeite

1 cebola picada

2-4 dentes de alho picados/amassados

2x de leite de coco

1 pimenta de cheiro picada (ou outra pimenta que não arda, como a biquinho)

Um punhado de coentro picado

1 punhado de castanha de caju, cortada grosseiramente

sal a gosto

Aqueça o azeite e doure a cebola. Junte o alho e refogue mais alguns segundos. Acrescente o arroz e refogue mais um pouco. Junte o leite de coco, sal a gosto e 3x de água. Cozinhe em fogo baixo, mexendo de vez em quando. Se o líquido secar antes do arroz ficar cozido, junte mais água. Quando o arroz estiver bem macio e tão cremoso quanto um risoto, junte a pimenta de cheiro e o coentro. Prove e corrija o sal, se necessário. Sirva polvilhado com a castanha de caju e mais coentro.

Banana da terra assada

Corte bananas da terra maduras no sentido do comprimento, sem retirar a casca. Disponha as bananas fatiadas, com a casca pra baixo, em uma travessa que vá ao forno e asse em fogo alto até ficar macia e ligeiramente dourada. Sirva imediatamente.

19 comentários em “Os tesouros do Alecrim

  1. Pirei quando vi a foto da mercearia ! Adoro arroz vermelho e feijão cavalo… Em São Paulo não temos nenhum dos dois. O arroz que chamam de vermelho e que apareceu por aqui há pouco tempo não é esse do Norte que cozinha com leite. O daqui mais parece um arroz integral.
    Tenho feito algumas receitas do seu livro e gostando bastante.
    Beijo
    Maria Helena

    1. Nessa mercearia tem arroz da terra integral e semi integral (até agora só cozinhei com o segundo). Fico muito feliz por você estar gostando das receitas do meu livro, Maria Helena:-)

  2. Sandra querida,

    O prato está lindo, é o tipo de comidinha que gosto…
    Tenho procurado o arroz vermelho por aqui e não consigo encontrar;
    Outro dia, em uma venda na minha região onde encontro assim, à granel, cereais, o dono de lá disse que ia ver se conseguia para mim. Mas acho que ele só queria mesmo me consolar. Talvez se eu fosse à uns comércios atacadistas que ficam no centro da cidade até encontrasse, mas o solzinho daí é o mesmo que brilha aqui e, quando penso em ir ao centro da cidade que não fica nada perto da minha casa e enfrentar aquele trânsito de gente e de carros… uma hora dessas criarei coragem.

    A-M-O banana da terra assada!!! é uma das formas que tento driblar a minha imensa paixão por coisas doces. Com canela? adoro!
    Sabe Sandra, em certo tempo eu também partia no comprimento parra assar, depois passei a pô-las inteiras, sem partir, o resultado é uma banana menos seca por dentro.

    Um dia teremos o prazer de degustar muitas iguarias juntas, tenho certeza disso!

    Namasté *)

    1. Huuuuum! Preciso provar essa sua banana, assada inteira e com canela! Sempre como banana da terra acompanhando pratos salgados, pois adoro o contraste doce-salgado, mas fiquei curiosa pra experimentar a versão doce. Torço pra um dia ter o prazer de provar suas iguarias:-)

  3. Nunca experimentei arroz vermelho, acho que vou procurar 🙂 Já vi banana da terra, mas nunca comprei porque costumo comprar da Madeira (Portuguesa), agora já tenho um pretexto 😉 E já agora, podes-me dizer qual a temperatura a que as colocas-te no forno?
    Beijinho

  4. Oi! Moro no Ceará e a família do meu companheiro é do RN. Sempre pedimos q mandem arroz da terra pra gente e fiquei mto contente de encontrar esta receita! Adorei! E olhe, pensei aqui com meus botões que já que arroz é com côco, nao seria o caso de caber aí invés do azeite, o óleo de cocô mesmo, não? ele tem a proeza q nenhum dos outros óleos tem q é a de não virar gordura saturada qdo aquecido. além do preço acho q mta gente deve nao usar pq ele interfere mto no sabor das coisas. tudo com gosto de côco. côco é bom demais, mas deve enjoar e tb q graça tem tudo o mesmo gostinho. mas enfim, acho uma tristeza por exemplo fazer um refogado de couve e/ou espinafre e usar qq outro óleo, ou manteiga pq aí a gordura saturada pesa mto e aí comecei a usar o óleo de côco nesta preparação e ficou demais. ficou especial. vê q q vc acha. se nao achar legal me fala tb! abraço e mto agradecida por tanto conhecimento compartilhado. tou viajando no seu blog. parabéns!

Deixe uma resposta