Depois dos dias maravilhosos entre cariocas, cheguei em terras potiguares. Sinto que Natal ficou meio feinha depois da passagem pelo Rio, mas felizmente rever a família compensa a falta de charme da minha cidade. Por enquanto ainda estou chegando (vou chegando aos pouquinhos, espalhando meus pertences, dizendo “olá” aos familiares…), mas volto em breve com o guia vegano do Rio.
Continuar lendo “Chegando”Autor: papacapim
Encontro no Rio
Cá estou no Rio desde sexta à noite. Confesso que subestimei essa cidade. Quando me recuperar de tanta beleza, escreverei mais sobre o assunto (preparem-se pra um guia vegano do Rio). Por enquanto vou continuar degustando as maravilhas locais, comestíveis ou não. O convite pro encontro aqui ainda está de pé. Quem quiser trocar figurinha, ou receitinha, comigo pode aparecer no restaurante Vegana Chácara em Botafogo (Rua Hans Staden, 30) quinta-feira (28/06) a partir das 13h. Ainda não comi nesse lugar, mas almocei no Vegan Vegan, que é do mesmo dono, e me encantei com a comida. Se o cardápio da Chácara for tão bom quanto, vale a pena passar por lá.
Continuar lendo “Encontro no Rio”Convites
Preciso dizer duas coisas pra vocês. A primeira é a seguinte: façam essa receita! Não tenho palavras pra descrever a deliciosidade desse prato. Couve-flor assada já é divina, mas misturada com alcaparras, passas e coentro é de cair pra trás! Já fiz esse prato com cuscuz marroquino (sêmola de trigo), mas dessa vez queria tentar uma versão sem glúten. Eu usei couve-flor crua no lugar de sêmola de trigo nesse tabule com resultados extremamente satisfatórios, então resolvi fazer isso mais uma vez. A couve-flor ralada substitui o grão com inúmeras vantagens. Além de não ter glúten, é uma maneira interessante de comer menos carboidrato e mais legumes. A dupla dose de couve-flor (crua e assada) criou um sabor mais complexo. Passas e alcaparras podem parecer uma combinação infeliz, mas elas pontuam o prato com notas doces e salgadas deixando esse humilde legume tão mais interessante! E o coentro nasceu pra ser comido com couve-flor, garanto (nem pense em substituí-lo por outra erva). Façam esse prato o mais rápido possível, vocês não vão se arrepender. A menos que você não goste de couve-flor. Ou de alcaparras. Nesse caso não posso deixar de sentir pena de você, que não provará dessa delícia…
Continuar lendo “Convites”A melhor limonada do mundo: rosa e sem açúcar
Se você lê esse blog há algum tempo sabe que 1-Sucos de frutas, mesmo naturais, não entram na minha lista de alimentos saudáveis e por isso… 2-Eu quase nunca tomo sucos. Se você é novo por aqui leia esse post pra entender melhor o que acabei de dizer. Porém tem um suco que descobri na Palestina e que tomei bastante durante meus primeiros anos aqui: limonada com hortelã. Talvez o conceito não seja novo pra vocês, mas eu nunca tinha provado suco de limão com hortelã antes e fiquei encantada com o casamento perfeito de sabores. É uma bebida tradicional e extremamente popular nessa terra, pois a maioria da população palestina é muçulmana e pouca gente bebe álcool por aqui (só os palestinos cristãos, palestinos muçulmanos seculares e estrangeiros).
Continuar lendo “A melhor limonada do mundo: rosa e sem açúcar”Como fermentar legumes
Temos cerca de dez vezes mais bactérias no intestino do que células no corpo. Isso significa que passeamos pelo mundo com cem trilhões de bactérias dentro da barriga (um verdadeiro universo paralelo!) e devemos cuidar muito bem do nosso zoológico interior. Boa parte da nossa saúde depende da saúde de nossa flora intestinal (faria muito mais sentido charmar de “fauna intestinal”, não?). Por isso devemos cuidar das nossas bactérias ingerindo alimentos que as fortalecem. Comida boa pra nossa fauna intestinal é comida fermentada, que traz uma enxurrada de amiguinhas pra nossa população de bactérias (não se preocupe, ainda cabe mais aí dentro).
Continuar lendo “Como fermentar legumes”Sinto que preciso de férias
Recuperei um pouco da energia gasta durante a maratona culinária da semana passada, mas como trabalho nos sábados (dia de aula de culinária no campo de refugiados) só tenho uma folga por semana, no domingo, e nunca parece suficiente. Sinto que preciso de férias. Mais precisamente de uma rede, uma água de coco, um cachorro embaixo da rede (ajuda muito a relaxar) e vários dias de ócio. Adoro a Palestina, no momento não gostaria de morar em nenhum outro lugar do mundo, mas pra manter a sanidade mental é preciso sair daqui de vez em quando. Por isso daqui a um pouco mais de uma semana vou bater asas novamente.
Continuar lendo “Sinto que preciso de férias”17 pratos em 3 dias
Foi isso que fiz essa semana. Eu já falei em algum post que tenho uma vizinha américo-palestina que visita o país duas vezes por ano pra fazer shows (ela faz “stand-up comedy”) e que sempre me contrata pra preparar todas as suas refeições durante a estada. Ela está aqui no momento, mas dessa vez está hospedada em Ramalla (cidade no norte da Cisjordânia) por isso tive que preparar todas as suas refeições de uma vez. Coloquei a comida em marmitas de alumínio e ela congelou tudo pra ir comendo aos poucos. Maysoon adora os pratos que invento e a coisa que mais gosto na minha profissão, se é que posso me considerar uma profissional da cozinha, é encher a barriga das pessoas de alegria, mas que trabalheira danada! Ainda não consegui dar cabo da louça suja e mesmo depois de uma boa noite de sono e três canecas de café me sinto completamente esgotada. Além do trabalho intenso e das intermináveis horas em pé, a maratona culinária contou com a participação de dois blocos de tofu podres que empestaram a casa durante dias, uma batata malcheirosa supurante que se escondeu embaixo da cesta de frutas e me vez achar que tinha um rato morto na cozinha, até eu descobrir a origem do bodum, gatos pulando na pia em busca de comida e derrubando minhas preparações no chão, algumas micro varizes e muito mau humor. Sobrevivi, mas não aconselho ninguém a aceitar uma missão dessas.
Continuar lendo “17 pratos em 3 dias”Biscoitos de aveia, tahina e passas
Depois de mais de quatro anos de veganismo eu não sinto falta de (quase) nenhum produto de origem animal. Mas de vez em quando me sinto tentada a quebrar meu veganismo não por sentir desejo de comer algo não vegano, mas por pura preguiça. Explico. Por mais que eu adore cozinhar, às vezes gostaria de comer algo que não tenha sido preparado por mim. Isso me pouparia o trabalho, a limpeza da cozinha, a lavagem de louça… Nesses momentos já me aconteceu de entrar em uma mercearia, ver um biscoito escocês ou um sorvete americano que eu adorava quando era onívora e sentir a tentação de comprá-los. Existem versões veganas desses itens por aqui, mas a qualidade é tão pobre, e a lista de produtos químicos tão longa, que nunca tenho vontade de comê-los. Geralmente saio correndo da mercearia pra não ter que escutar a briga do anjinho do ombro direito com o diabinho do ombro esquerdo. Felizmente assim que coloco os pés fora da mercearia me dou conta que o que me empurrava pra aquele biscoito não era a vontade de comê-lo (dificilmente algo industrializado, mesmo vegano, agrada o meu paladar), mas sim a preguiça de cozinhar.
Continuar lendo “Biscoitos de aveia, tahina e passas”Mais um livro e um arroz verde
Faz tempo que meus amigos francófonos e minha família francesa pedem pra eu fazer a versão em Francês do Papacapim. Ainda não consegui arrumar tempo pra isso e, sinceramente, acho que não acontecerá tão cedo, mas queria muito que eles tivessem acesso às minhas receitas. Então durante as últimas semanas, quando não tinha ninguém olhando, traduzi quarenta e três receitas que apareceram aqui no blog e criei um e-book em Francês. Fiz uma seleção de receitas fáceis de preparar e que foram aprovadas por onívoros, afinal o grupo francófono citado acima é composto exclusivamente de onívoros. O nome do e-book é Plaisir Végétal e se vocês também têm amigos que falam a língua de Molière, ficaria muito grata se recomendassem meu livro pra eles. Estou vendendo Plaisir Végétal no mesmo esquema do Guia do Herbívoro Feliz, ou seja, cada um escolhe o quanto quer pagar por ele.
Continuar lendo “Mais um livro e um arroz verde”Histórias palestinas: Khoulud Ayyad

Continuando a série “Histórias palestinas”, gostaria de apresentar uma amiga minha muito querida.
Khoulud Ayyad tem 32 anos e mora no campo de refugiados de Aida, na região de Belém, com seu marido Ayman e quatro filhos. Sua família é de Ras Abu Ammar, um vilarejo que fica a 14 quilômetros de Jerusalém. Os 719 habitantes de Ras Abu Ammar foram expulsos pelas tropas do recém-criado estado de Israel no dia 21 de outubro de 1948 e o vilarejo foi completamente destruído. Conheci Khoulud em um centro cultural no campo de Aida assim que me mudei pra cá. Trabalhamos um tempo juntas e logo nos tornamos amigas. Ela é uma das pessoas mais fortes que já encontrei e sua história merece ser contada.
Continuar lendo “Histórias palestinas: Khoulud Ayyad”Soja: os mitos, o excesso e o tofu
Tempos atrás, em um dos jantares que preparei no meu restaurante ocasional, uma convidada japonesa comentou que nunca come o tofu local, pois ele é horrível (na verdade ela disse “seboso”). Felizmente não estava servindo tofu naquela noite (compro o meu em uma loja de produtos orgânicos em Jerusalém então imaginem o constrangimento!), mas fiquei pensando que o tofu do Japão deve ser uma coisa do outro mundo. Se já acho bom esse que compro aqui, imagine o original! Continuar lendo “Soja: os mitos, o excesso e o tofu”
Resolvi fazer uma exceção
Não publico muitas receitas de entradas (saladas ou sopas) porque no dia a dia prefiro preparar pratos completos. É mais prático, rápido e suja menos louça. Só faço saladas leves pra acompanhar pratos mais pesados, como minha lasanha preferida ou gratin dauphinois, e essas saladas são tão simples que não são exatamente uma receita. Geralmente rasgo uma grande quantidade de alface ou outra folha, tempero com azeite e um pouquinho de vinagre e pronto. Nem sal eu coloco. Mas hoje vez fiz uma saladinha bem fresquinha (não no sentido literal) e ficou tão boa que resolvi fazer uma exceção.
Continuar lendo “Resolvi fazer uma exceção”A polenta e os gatos
Quando eu era criança Lila, minha irmã mais velha, gostava de fazer quarenta pra gente jantar. Quarenta é um prato à base de fubá, mas diferente do cuscuz que costumamos comer no Nordeste. O cuscuz é cozinhado no vapor, enquanto que quarenta é feito misturando o fubá com água e cozinhando em uma panela, mexendo sempre. Depois de cozido, Lila despejava a mistura em uma forma de bolo, daquelas com um furo no meio, e deixava amornar. Então era só desenformar e degustar fatias grossas do quarenta. Nunca vi ninguém preparar esse prato fora da minha família e depois que minha irmã saiu de casa* nunca mais comi quarenta. Ele virou uma memória empoeirada na gaveta dos sabores que fizeram parte minha infância (junto com, entre outros, uma fruta do sertão chamada “pêlo” que só comi uma vez quando tinha uns oito anos e desde então nunca mais vi). Até o dia que descobri polenta.
Continuar lendo “A polenta e os gatos”Fibras: porque comer e onde encontrar
Eu não sei vocês, mas muitos dos meus parentes e amigos têm prisão de ventre. Outro dia eu estava conversando com minha amiga Samira, que sofre de prisão de ventre crônica, tentando convencê-la a comer mais fibras. Ela respondeu que não tem jeito, ela prefere arroz e pão branco. Eu já tive conversas desse tipo várias vezes. Muita gente acredita que a única maneira de aumentar a quantidade de fibras de dieta é consumindo cereais integrais e produtos (industrializados) feitos com cereais integrais. Por isso há tempos que venho ruminado esse post, pra ajudar as pessoas a entender melhor de onde vem as fibras e como se livrar da danada da prisão de ventre. Mas comecemos pelo começo. Continuar lendo “Fibras: porque comer e onde encontrar”
Tudo sobre missô

Naquele post onde expliquei a anatomia de uma salada, algumas pessoas comentaram que não têm intimidade nenhuma com missô. Acho esse um ingrediente tão interessante e versátil que preciso dividir o pouco que sei com vocês.
Missô (ou miso) é uma pasta naturalmente fermentada, feita a partir de grãos de soja cozinhados, sal e às vezes cevada. Embora seja produzido/consumido em diversos lugares da Ásia, o missô mais comum (e famoso) é o japonês. A conscistencia pode ser lisa ou granulada e a cor varia de amerelo claro até marrom escuro. Missô pode ter um sabor suave e pouco salgado ou forte e muito salgado. Ele é interessante do ponto de vista nutricional, pois tem proteínas completas, vitaminas e bactérias do bem que protegem a flora intestinal e facilitam a digestão (como toda comida naturalmente fermentada). Mas o que mais me interessa no missô é o seu intenso sabor que realça qualquer prato, graças à alta concentração de substâncias umami. Se você não conhece o quinto gosto, chamado de umami, é só clicar aqui. Eu espero.
Continuar lendo “Tudo sobre missô”Duas semanas
Durante meus anos de universitária em Paris eu levava uma vida tão corrida que ao escutar o despertador tocar de manhã eu só desejava uma coisa: mandar a faculdade e o trabalho sem graça pras cucuias, me mudar pra um sítio em algum lugar remoto e passar o resto dos meus dias criando galinhas. Essa vontade estranha de criar galinhas não durou muito, mas o sentimento de estar vivendo a vida errada e querer mudar radicalmente de vida me acompanhou durante bastante tempo. Continuar lendo “Duas semanas”
Leguminosas e as suas vantagens
Meu amor por feijão já foi declarado nos quatro cantos desse blog. Ele entra na lista das minhas cinco comidas preferidas e sempre me traz reconforto, o que só entende quem mora longe das terras tupiniquins há muitos anos. Mas além do sabor, que adoro, o que me atrai nos feijões e leguminosas em geral é o valor nutricional desse grupo de alimentos. Alguns dias atrás uma leitora (oi, Fernanda!) deixou um comentário interessante em um post onde eu dizia que feijão é pra mim o melhor substituto da carne. Ela escreveu: “Ano passado eu assisti à uma palestra do Dr Eric (Slywitch) no Ibirapuera onde ele mostrou, por uma série de estudos e gráficos, que o melhor substituto para carne realmente são os feijões, especialmente por suas qualidades/quantidades de proteínas biodisponíveis e ferro.” O Dr Slywitch é responsável por boa parte dos meus conhecimentos em nutrição vegana (se um dia eu tiver a honra de encontrá-lo pessoalmente preciso cozinhar um jantar pra ele como forma de agradecimento) e ele confirmou o que eu já tinha descoberto de maneira intuitiva.
Continuar lendo “Leguminosas e as suas vantagens”Mais do mesmo
Vocês pediram e aqui vai mais uma receita de salada-refeição. Acredito que salada é o tipo de prato que não precisa de receita. A gente vai misturando os ingredientes que encontramos na geladeira e o resultado, mesmo se às vezes não é nada espetacular, é sempre satisfatório. Decidi publicar mais uma das minhas saladas-refeição simplesmente pra servir de inspiração e pra mostrar, mais uma vez, como usar a fórmula que dei duas semanas atrás. Dessa vez fiz uma porção dupla, pois preparei esse prato em um dos raros dias em que tenho companhia pro almoço.
Continuar lendo “Mais do mesmo”Histórias palestinas: Mustafa e Mohamad Alafandi

Alguns leitores pediram pra eu falar mais sobre a minha vida aqui na Palestina, mas sempre fico receosa quando se trata de misturar comida vegetal e conflito no Oriente Médio. Como abordar a questão sem causar indigestão nos meus leitores? Decidi então mudar o foco: ao invés de falar sobre minha experiência aqui ou o que aprendi sobre o conflito, prefiro escrever uma série de posts contando a história de alguns palestinos. Estatísticas, acordos, convenções, relatórios, nada disso traduz o que significa viver nos territórios palestinos ocupados. Mas talvez se eu apresentar pra vocês alguns dos meus amigos mais próximos, vocês terão uma ideia mais precisa da situação atual nessa terra tão castigada, mas, ao mesmo tempo, tão cativante.
Continuar lendo “Histórias palestinas: Mustafa e Mohamad Alafandi”Legumes do mar
Muito obrigada pelos comentários sobre o meu último post. Se depender de mim o Papacapim vai comemorar muitos outros aniversários. Alguns de vocês sugeriram que eu falasse mais sobre minha vida aqui na Palestina (pretendo fazer isso em breve) e uma leitora (opa, Yoko!) teve uma ótima ideia: escrever um post sobre restaurantes veganos aí no Brasil e pedir que os leitores dividam seus endereços preferidos. Pretendo escrever sobre isso na minha próxima viagem ao Brasil (em breve), mas se eu esquecer, por favor, me cutuquem novamente.
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